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PARTIDO DOS TRABALHADORES E REFORMA AGRÁRIA:ANTECEDENTES E ATUAÇÃO DO GOVERNO LULA

3 GOVERNO LULA E A REFORMA AGRÁRIA

3.2 PARTIDO DOS TRABALHADORES E REFORMA AGRÁRIA:ANTECEDENTES E ATUAÇÃO DO GOVERNO LULA

Nessa seção, vamos abordar o modo como a reforma agrária foi tratada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Antes, porém, vamos percorrer de forma concisa a trajetória do partido do presidente da República e do seu braço sindical, a CUT, bem como sua relação com a CONTAG.

Para tanto, tomemos como ponto de partida a declaração do coordenado estadual do MST-RR, senhor Ezequias David da Silva, concedida ao jornal Folha de Boa Vista durante a realização do Bloqueio da BR 174, que liga Boa Vista a Manaus, capital do Amazonas; trata-se de um ato público ocorrido para chamar a atenção das autoridades, especialmente, do superintendente do INCRA-RR, sobre a situação das famílias acampadas e assentadas em Roraima: “Este ano, o Incra não fez nada. Não conseguimos liberar nenhuma linha de crédito nova e isso causa uma revolta no homem do campo. Ouvimos as mesmas promessas de sempre, mas nada de concreto acontece” (MST..., 2007).

A denúncia permite constatar que a realidade das famílias assentadas, mesmo com um governo eleito “para um mandato popular”, não sofreu grandes mudanças em relação ao governo anterior.

As posições favoráveis à implementação de um efetivo programa agrário têm renovado o estoque de argumentos que sinalizam para o potencial transformador da democratização do campo, seja por meio da ampliação da condição de cidadania de uma vasta parcela da sociedade ainda hoje marginalizada, seja por meio do aumento do emprego e da renda rural, da redinamização de diversas regiões geográficas etc. (LEITE; ÁVILA, 2007a, p. 798).

Atualmente, a Superintendência do INCRA-RR, SR 25, é dirigida pelo vice- presidente do Partido dos Trabalhadores no estado de Roraima; porém esse fato não implicou grandes transformações na realidade das famílias assentadas nesse estado, como podemos perceber na fala do coordenador local do MST. Esse é um quadro que não difere daquilo que efetivamente existe nos demais assentamentos espalhados por todo Brasil. Destarte, as ações desenvolvidas pelo atual governo não conseguem atingir a maioria das famílias e nem cumprir as metas estabelecidas no II PNRA (OLIVEIRA, 2006), conforme veremos ao longo dessa seção.

A intenção, nesse passo, é compreender a trajetória do PT em relação ao debate da questão agrária. Desejamos entender como o discurso e a prática foi-se alterando, após

a derrota nas eleições de 1989, quando seu programa eleitoral firmava o compromisso com os movimentos sociais, sindicatos, trabalhadores rurais, sem-terra, camponeses, produtores familiares, entre outros, de realizar uma reforma agrária que efetivamente transformasse a realidade do campo e a estrutura fundiária do país. Até esse momento, o PT incluía em sua plataforma de lutas a Campanha Nacional Pela Reforma Agrária.

Porquanto, mesmo que essa perspectiva aparecesse no plano de governo de forma mais sutil, nos discursos de Lula a reforma agrária era uma compromisso com os sem- terra: uma das principais bandeiras de luta da campanha presidencial de 2002. Contudo esse compromisso foi-se desvanecendo, perdendo forças após 2003 e, tanto o novo presidente da República quanto os membros do partido, instalados na burocracia estatal, foram abandonando aos poucos as antigas bandeiras de luta e, concomitantemente, estabelecendo um caminho de aproximação justamente com aquilo que nos últimos anos, principalmente durante a campanha eleitoral, haviam criticado: o ideário do governo anterior.

A reforma agrária é indispensável para construção de uma sociedade mais justa e democrática. Visa, antes de mais nada, romper o monopólio da terra e lançar as bases de um novo padrão de desenvolvimento para a agricultura e toda a economia brasileira. Além disso, ela representa a possibilidade de incorporar à cidadania milhões de trabalhadores rurais, quebrando o poder exercido pelos grandes proprietários. É uma decisão política, tendo em vista uma redistribuição de terra, renda, poder e direitos (PROGRAMA..., 2005, p. 181).

Após a derrota na eleição para a presidência da República, em 1989, o Partido dos Trabalhadores iniciou um processo de mudanças na sua base de fundamentação política e ideológica, motivado não apenas pelo objetivo de disputar novas eleições, mas também por circunstâncias da conjuntura mundial, que refletia no Brasil. Assim, não só as transformações políticas do Leste europeu, com o fim do chamado “socialismo real”, mas sobretudo, a chegada das idéias neoliberais, que atingiram o país com uma década de atraso, permitiram que novos componentes fossem incorporados à vida política nacional e pelo próprio PT. Setores do sindicalismo, por exemplo, foram influenciados pelo neoliberalismo, o que implicou numa espécie de revisionismo das reivindicações trabalhistas e da luta por outras bandeiras democráticas:

(...) o horizonte de rupturas projetado no imaginário do novo sindicalismo sumiu de vista, exigindo a adoção de novos referenciais, um novo equilíbrio entre o que era imediato e o que era estrutural na agenda sindical. Como conseqüência, os órgãos de assessoria e os próprios dirigentes sindicais rurais passaram a falar em uma crise do sindicalismo. No caso do novo sindicalismo rural, essa leitura da situação por que passava o mundo do trabalho e o espaço rural brasileiro deram origem a

um processo de reflexão que acabou por levar a uma tentativa de atualização do projeto político-sindical da CUT para esse novo quadro de referências (FAVARETO, 2006, p. 36).

Segundo Favareto (2006) a organização camponesa no Brasil se deu de maneira distinta daquela surgida na Europa e também nos vizinhos da América Latina. Para esse autor, no Brasil houve uma aglutinação desse setor dentro do movimento sindical e não em associações ou cooperativas, como característico dos demais países. A partir da constituição da CONTAG, essa característica foi-se firmando e, posteriormente, com a criação da CUT, em 1983, e o fortalecimento do chamado novo sindicalismo, esta situação permaneceu.

Esse autor chama a atenção para a vinculação de camponeses não só com o movimento sindical, mas principalmente com uma central sindical herdeira de uma tradição socialista, junção que teria surgido especialmente durante o contato entre produtores rurais autônomos, camponeses e demais categorias do campo, com os trabalhadores urbanos, durante os embates com o regime militar nos anos 1970. Porém, essa não foi uma relação tranqüila, pois, em termos ideológicos, essas categorias do meio rural no embate com o sistema capitalista teriam um lugar de destino.

Embora essas duas organizações sindicais travassem determinados embates, fruto do momento da constituição da CUT, conseguiram estabelecer ao longo dos anos forte vinculação, especialmente por conta de suas bandeiras de lutas no campo: direitos dos trabalhadores rurais, reforma agrária e, mais recentemente, um projeto de desenvolvimento alternativo para o campo com base na agricultura familiar (FAVARETO, 2006).

Este autor também aponta que, desde o seu primeiro congresso, a CUT sempre contou com a presença de trabalhadores rurais, produtores rurais, camponeses, entre outras categorias representativas de formas de trabalho autônomo no campo, com uma atuação marcante dos produtores rurais de base familiar, pequenos proprietários, especialmente do Centro-Sul e da região da Transamazônica. Além disso, é destacado que durante o referido congresso foi aprovada a resolução que defendia uma reforma agrária, ampla, massiva e sob controle dos trabalhadores.

Conforme Favareto (2006), no terceiro congresso da CUT, de 1988, a presença de trabalhadores rurais foi mais reduzida do que nos dois anteriores; porém, nesse ano, foi criado o Departamento Rural, em substituição à Secretaria Rural, o que permitiu maior independência a esse segmento, uma vez que conseguiu estabelecer que seus rumos

seriam de responsabilidade dos seus próprios representantes. Esse segmento buscava a unidade na diferença e fazia oposição ao Estado e ao latifúndio.

Esse congresso também foi influenciado pelas transformações que se davam na conjuntura internacional, com os abalos nos países de socialismo burocrático do Leste da Europa, e na conjuntura nacional pois a primeira eleição presidencial após a ditadura militar estava próxima. Essas circunstâncias levaram a CUT a assumir uma postura de mediadora entre o capital/trabalho.

A Central Única dos Trabalhadores surgiu a partir do chamado novo sindicalismo. No entanto, com a expansão da sua atuação ao longo da década de 80 do século passado se viu impingida a aceitar em sua base as entidades vinculadas ao sindicalismo

oficial. Essa situação proporcionou uma burocratização da estrutura sindical ligada a CUT

que em, sua origem, foi muito criticada.

Atingida pelas mudanças ocorridas ao longo da década perdida e pela vitória de Collor sobre Lula, uma candidatura que representava os anseios populares por transformações sociais em curto prazo, a CUT buscou rever suas posições de outrora:

(...) o horizonte de rupturas projetado no imaginário do novo sindicalismo sumiu de vista, exigindo a adoção de novos referenciais, um novo equilíbrio entre o que era imediato e o que era estrutural na agenda sindical. Como conseqüência, os órgãos de assessoria e os próprios dirigentes sindicais rurais passaram a falar em uma crise do sindicalismo. No caso do novo sindicalismo rural, essa leitura da situação por que passava o mundo do trabalho e o espaço rural brasileiro deram origem a um processo de reflexão que acabou por levar a uma tentativa de atualização do projeto político-sindical da CUT para esse novo quadro de referências (FAVARETO, 2006, p. 36).

Favareto, com base em Medeiros (1997) e Favareto e Bittencourt (2000) aponta que por uma nova conjuntura, CUT e CONTAG tornaram-se mais próximas nos anos de 1990 e a Central abandonou as antigas bandeiras de luta assumindo “'um Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural, ancorado na expansão e fortalecimento da agricultura familiar', segmento que passa a ser considerado prioritário nessa nova estratégia para o meio rural que o sindicalismo se propõe a construir” (FAVARETO, 2006, p.38).

A última década do século passado levou não só alguns partidos políticos de esquerda a repensarem suas estratégias de poder, incluindo aí suas ideologias, como também, parte do movimento sindical e social que lutava por avanços estruturais na sociedade brasileira mudou suas bandeiras com a justificativa de adaptação aos novos

tempos e de busca de soluções inovadoras para enfrentar essa realidade, como destacou

A afirmação da agricultura familiar como público prioritário, segundo elemento da atualização do projeto sindical cutista no meio rural, sempre aparecia nos documentos sindicais associada a uma certa interpretação do papel do sindicalismo diante da situação agrícola e agrária do Brasil dos anos de 1990. Nessa análise, apareciam com ênfase dois argumentos: a necessidade de dar mais visibilidade e de tratar afirmativamente a diversidade de segmentos que compõem o rural, numa crítica à generalidade da categoria “trabalhador rural”, e a busca por um conteúdo mais propositivo, discutindo e propondo um projeto, e não medidas pontuais. (...). A partir desse diagnóstico, a porção rural da CUT afirmava ser sua prioridade a 'construção de um Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural' que teria por base o fortalecimento da agricultura familiar e a luta por uma ampla e massiva reforma agrária. Com isso os sindicalistas procuravam uma definição que sinalizasse um projeto mais amplo, de caráter menos reivindicatório e mais afirmativo, onde se buscava equacionar as demandas dos demais segmentos que compõem o rural – agricultores familiares, sem-terras, assalariados, aposentados etc. (FAVARETO, 2006, p. 39).

A CUT como uma organização de trabalhadores de âmbito nacional era composta, além de operários do meio urbano e de trabalhadores rurais, por produtores de base familiar; isso causava certa contradição na formação de sua diretoria, visto que muitos cargos de direção sindical eram ocupados por agricultores familiares, pequenos proprietários e não por trabalhadores rurais. Essa situação refletia, inclusive, na política da própria central, pois, em uma realidade de crise, de desemprego estrutural “a inversão nesse terreno foi tão forte que ao longo dos anos de 1990 passou a ser comum entre os sindicalistas citar a experiência de organização dos pequenos agricultores no interior da central como exemplo exitoso de como é possível trabalhar com outras dimensões do mundo do trabalho que não aquelas restritas à relação formal capital/trabalho” (FAVARETO, 2006, p .39).

Com a metamorfose sofrida pela CUT, ocorreu o distanciamento de alguns de seus parceiros históricos como a CPT e o MST, organizações e movimentos que ajudaram no estabelecimento da central ou surgiram na mesma época de sua constituição; por outro lado, a relação com a CONTAG, que no início foi bastante ríspida, passou a ser uma prioridade. Por conta dessa nova parceria e do “projeto alternativo de desenvolvimento rural os termos 'camponês' e 'trabalhador rural' praticamente desaparecem dos documentos sindicais” (FAVARETO, 2006, p. 40).

A partir desse conjunto de dados, podemos perceber que a mudança de postura do braço sindical do PT não ocorreu após as eleições de 2002: foi uma metamorfose gestada ao longo de pelo menos uma década. A percepção desse processo é muito útil para compreendermos a atuação do governo que essa central ajuda a sustentar.

ao analisar a atuação desse partido no governo, demonstra que as opções e caminhos escolhidos não representavam mudanças repentinas, como parecia para maioria dos petistas e de milhões de eleitores:

(...) é importante destacar uma idéia geral: ocorreu um processo político e social no Brasil ao longo dos anos 90 que resultou na implantação de uma nova hegemonia burguesa em nosso país, baseada no discurso e na prática do modelo capitalista neoliberal dependente. Colocado o problema dessa forma, a conversão do PT ao credo do livre mercado aparece como mais um episódio - ainda que sem dúvida um episódio de importância maior - nesse processo de implantação e consolidação da nova hegemonia burguesa. Essa hegemonia transcende o nível dos partidos políticos, já que age sobre as próprias classes sociais. É por isso que afirmamos que a conversão do PT não foi superficial e nem repentina (...) (BOITO JUNIOR., 2003, p. 4).

O PT tem em seus quadros muitos sindicalistas ou ex-sindicalistas e muitos desses são dirigentes do partido. Com a ascensão ao poder, em 2003, tornaram-se ministros, diretores, superintendentes, chefes e gerentes de vários órgãos públicos e, detendo o cargo supremo, a presidência da República, levaram para dentro do governo a visão do sindicalismo de resultados e do melhorismo (SAMPAIO JÚNIOR, 2005). Dessa forma, Boito Júnior (2003) nos mostra que a direção adotada pelo governo Lula não deveria suscitar grandes surpresas. Entretanto, também não podemos descartar o fato de que, durante a campanha de 2002, foram utilizadas antigas bandeiras de luta e que, talvez por isso, muitos eleitores ficaram com a sensação de terem sofrido um estelionato eleitoral.

Contudo, no que diz respeito à questão agrária, já na campanha presidencial de 2002, essas mudanças podiam ser percebidas no plano de governo apresentado pelo PT, principalmente na seção intitulada Programa Vida Digna no Campo: a reforma agrária já não era uma prioridade e o partido buscava apoio de outras camadas da sociedade:

(...) políticas para redução gradual e constante na taxa de juros reais; uma reforma tributária para desonerar a produção, a exportação e o consumo de produtos agrícolas e seus derivados, especialmente os componentes da cesta básica alimentar (...). No ambiente rural são desenvolvidas atividades econômicas primárias, secundárias e terciárias. A combinação desses setores mais políticas públicas articuladas levam a um tipo de crescimento econômico muito dinâmico (...) para geração de empregos (...) (PROGRAMA...., 2005b, p. 211).

As preocupações do PT com o mundo rural estavam relacionadas com a geração de renda e empregos, desenvolvimento rural sustentável e solidário, fortalecimento da agricultura familiar, implantação de uma política nacional de reforma agrária, com a criação do plano nacional de reforma agrária, promoção e defesa da agricultura nacional,

construção de políticas territoriais de desenvolvimento sustentável, crédito rural, educação para o meio rural, políticas de promoção de uma nova matriz tecnológica, associativismo e cooperativismo, soberania alimentar, segurança alimentar, zoneamento agroecológico-econômico, política para o desenvolvimento regional, com atenção especial para o Semi-árido, Amazônia, Cerrado e Pantanal (PROGRAMA..., 2005).

Enquanto o programa da campanha de 1989 abordava claramente a questão agrária e a necessidade do rompimento com o poder do latifúndio, o programa de 2002 não chega a tocar no assunto; faz apenas uma rápida menção, quando afirma que a reforma agrária “é uma luta histórica e será uma prioridade do nosso governo”. Mas, na prática, a nota de abertura dessa seção nos faz entender que essa prioridade foi abandonada. O quadro de abandono em que se encontram muitos assentamentos rurais e a clara opção do governo federal pelo agronegócio para o desenvolvimento da agricultura brasileira fazem da frase acima mencionada uma vaga lembrança de antigos ideais. Como disse Oliveira (2006,): “Parece que todos que têm que fazer a reforma agrária no governo Lula, esqueceram-se do que é reforma agrária.”

Com a chegada ao poder em 2003, o Partido dos Trabalhadores teria a responsabilidade de responder aos anseios de uma população com sede por justiça social. Porém, devido aos compromissos de campanha, às articulações com setores da burguesia nacional e até mesmo com camadas arcaicas, as mudanças esperadas não aconteceram. Entre os setores populares surgiu e cresceu um sentimento de traição (BOITO JUNIOR, 2003).

Por outro lado, muitas lideranças de movimentos sociais foram chamadas para colaborar com o governo, assumindo cargos importantes na burocracia estatal. Esta situação trouxe uma novidade para o relacionamento dos movimentos sociais com o governo (FAVARETO, 2006).

(...)os agentes do meio sindical brasileiro foram progressivamente confrontados com a necessidade de formular não apenas a crítica e a reivindicação, mas também de colaborar mais ativamente na elaboração de políticas, de ocupar postos em instâncias do Estado, de mediar reivindicações clássicas e a geração de alternativas inovadoras de desenvolvimento para o espaço rural brasileiro. Pressionados, de um lado, pelas demandas sociais e, de outro, pelo Estado, esses agentes se depararam tanto com a necessidade de procurar estabelecer rupturas estruturais, papel tradicionalmente esperado desses sujeitos, como de fazer proposições tecnicamente competentes, realistas e plausíveis no horizonte de tempo imediato. Essa nova configuração de constrangimentos influenciou os debates no meio sindical e as práticas de seus agentes, entre elas a composição da 'agenda', a definição das bandeiras de luta e a escolha de segmentos sociais a serem privilegiados, impondo uma verdadeira redefinição no conteúdo do seu projeto político e, conseqüentemente, inaugurando uma nova etapa na história dos movimentos sociais rurais no Brasil (FAVARETO, 2006, p. 29).

Logo no início do mandato, o presidente Lula contava com o apoio dos setores populares que defenderam sua campanha eleitoral, mas nem por isso deixaram de efetuar suas mobilizações sociais, seja no campo ou na cidade. Nos cinco primeiros meses de governo, o planalto enfrentou uma série de ocupações de fazendas, animando os movimentos pela luta por uma reforma agrária. Por outro lado, os latifundiários começavam a se irritar com o governo com o receio que organizações como o MST realizassem a reforma agrária independente do Estado e do governo. (RURALISTA..., 2003)

Com essa pressão Lula chegou a solicitar aos movimentos sociais, especialmente ao MST, paciência e uma trégua nas agitações e ocupações, argumentando que um plano de reforma agrária não poderia sair de uma hora para outra e o fez utilizando suas famosas metáforas:

'Não adianta plantar seu feijãozinho e querer que ele nasça em dez dias. Não vai nascer. Vai ter de esperar 90 dias. Assim é a política. As coisas não acontecem no tempo que a gente quer. Elas acontecem no tempo que a gente prepara para elas acontecerem', disse Lula. (AMEAÇA..., 2003)

Contudo, a solução apresentada pelo governo Lula a reforma agrária não significou o rompimento com a política do governo anterior. O Banco da Terra foi substituído pelo programa Consolidação da Agricultura Familiar (CAF), os recursos foram ampliados, a agricultura familiar recebeu financiamentos maiores e houve um comprometimento da realização da reforma agrária por meio da desapropriação de terras, como pode ser visto no II Plano Nacional de Reforma Agrária. Assim, faz-se necessário verificar se realmente continuamos a ter uma política de reforma agrária focalizada e distributiva (PEREIRA, 2008; SAUER; PEREIRA, 2008).

Apesar das ações do atual governo suplantarem as ações do governo anterior em números de assentados e em recursos disponibilizados para reforma agrária e agricultura familiar, a pressão dos movimentos sociais continuou sendo fundamental para