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São inúmeras as narrativas que tentam representar o movimento gerado pelo ouro encontrado em Ouro Preto e arredores. Em geral dramáticas, retratam um caos epopeico, um cenário de lutas pela riqueza, pela sobrevivência, pelo poder. É possível imaginar, tendo como base imagens mais recentes, como as de Serra Pelada, no sudeste do estado do Pará, um movimento aparentemente desorganizado e, ao mesmo tempo, orientado para um mesmo objetivo.

Antonil, nos primeiros anos de século XVIII, descreveu desta maneira a paisagem construída a partir do movimento migratório para as minas, após os primeiros achados auríferos na região de Ouro Preto:

A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras, e a meterem-se por caminhos tão ásperos, como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número das pessoas, que atualmente lá estão. Contudo os que assistiram nelas nestes últimos anos por largo tempo, e as correram todas, dizem, que mais de trinta mil almas se ocupam, umas em catar, outras em mandar catar nos ribeiros do ouro; e outras em negociar, vendendo, e comprando o que se há mister não só para a vida, mas para o regalo, mais que nos portos do mar. Cada ano vem nas frotas quantidade de Portugueses, e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos, e sertões do Brasil vão brancos, pardos, e pretos, e muitos índios de que os Paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres; moços e velhos; pobres e ricos: nobres e plebeus, seculares, clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa. 433 Orville Derby, no final do século XIX, ao referir-se ao início do século XVIII, na região das minas, escreveu:

Uma vez começado o movimento imigratório, toda a fralda oriental da serra do Espinhaço, correspondente à bacia do rio Doce até a Santa Bárbara ao norte, ficou dentro de muitos poucos anos desbravada e cheia de centros ativos de mineração. Até o ano de 1704 parecem terem sido descobertos e povoados todos os distritos mais ricos desta encosta, que tomou o nome de Minas Gerais de Cataguazes para distinguir esta região mineira das vizinhas do rio das Velhas e de Caeté, que se desenvolveram quase simultaneamente como resultados indiretos das descobertas determinativas do

rush na vizinhança de Ouro Preto. Conforme Antonil, as descobertas na região de

Caeté foram anteriores às do rio das Velhas, ou de Sabará, e neste caso é de presumir que fossem feitas por mineiros de Ouro Preto passando para o oeste das cabeceiras do Santa Bárbara, ou talvez por baianos vindos do Norte. [...] Assim dentro dos primeiros dez ou quinze anos, depois do primeiro descobrimento efetivo, ficou conhecido e povoado, como por encanto, todo o vasto sertão que durante século e meio tinha sido percorrido pelas malogradas bandeiras em busca de prata e pedras preciosas.434 Miguel Costa Filho, em meados do século XX, ao imaginar a sequência de eventos ocorridos no início do século XVIII, escreveu:

O alvorecer da centúria seguinte encontra já em atividade os primeiros núcleos mineradores e formadas as primeiras povoações que se converteriam dentro em pouco em vilas e cidades famosas, aquém e além-mar. Difíceis tempos aqueles em que a febre do ouro era como uma epidemia contagiante, desviando-se das lavouras e outros serviços os braços negros que semeavam e colhiam. Antonil diz que nos primeiros tempos se acharam “não poucos mortos com uma espiga de milho na mão, sem terem outro sustento”. Vinha de fora toda a casta de gêneros consumidos pelas dezenas de milhares de pessoas, já estantes em Minas.435

433 ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Salvador: Progresso, 1955, p. 185.

434 DERBY, Orville. Os Primeiros Descobrimentos de Ouro em Minas Gerais. Revista do Instituto Histórico e

Geográfico de São Paulo, v. V, 1901, p. 275-277.

435 COSTA FILHO, Miguel. Engenhos de Minas Gerais. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro: IBGE, ano XX, nº.

Diogo de Vasconcelos usou o adjetivo “calamitoso” para caracterizar os anos de 1700 e 1701. A partir de Ouro Preto as dispersões continuaram, mais uma vez, segundo o autor, motivadas pela fome. O arraial dos Camargos seria estabelecido por Tomás, João e Fernando Lopes de Camargo a 5 léguas de Ouro Preto e 3 léguas de Marianaclxii. No mesmo caminho, a partir de Ouro Preto, seria estabelecido o arraial de Antônio Pereira Machado, inicialmente conhecido como arraial do Bonfim de Mato Dentro. Em outra direção, pelos lados da chegada de Antônio Dias, seriam estabelecidos os arraiais do “Campo”: Cachoeira, São Bartolomeu e Casa Branca, mais próximos de Ouro Preto.

A paisagem da mineração observada no território de Ouro Preto já estava configurada nos primeiros anos do século XVIII. Os núcleos de povoamento mais próximos aos arraiais que viriam formar Vila Rica, já estavam ocupados. Consequentemente as vias de acesso até esses lugares já estavam estabelecidas e recebendo fluxo regular e crescente de transeuntes e animais de carga, de montaria e para o corte. Novas mudanças tão drásticas viriam a acontecer somente no século seguinte com a introdução das estradas de ferro e o redirecionando dos fluxos. Povoados coadjuvantes ganhariam destaque e locais que viveram o auge das benesses do ouro, viveriam apenas da imagem de uma opulência pretérita.

Diogo de Vasconcelos trouxe informações valiosas sobre a organização inicial do espaço no entorno de Ouro Preto. Se inicialmente houve uma concentração em áreas específicas (Ouro Preto e Carmo), por exemplo, gerando rapidamente a escassez de recursos para sobrevivência, os novos arraiais seriam fixados com a manutenção de distância entre eles. Entre os anos de 1703 e 1705 uma “invasão” ocorreria na encosta superior da serra de Ouro Preto. De acordo com Vasconcelos, o ouro encontrava-se quase solto, o que fez com que o lugar recebesse o nome de Ouro Podreclxiii.

Enquanto isso a abertura do caminho novo, parecia não seguir conforme o previsto. Em 15 de novembro de 1701, Arthur de Sá foi indagado pelo rei sobre as condições de trafegabilidade do caminho. De acordo com Basílio de Magalhães, D. Álvaro da Silveira, em 7 de setembro de 1702, teria dito que “a estrada não se prestava a cavalgaduras, mas Garcia estava pondo todo o cuidado no acabamento dela e já havia plantado roças na Paraíba”436.

É possível inferir que Garcia Rodrigues tenha limpado minimamente o percurso, o suficiente para que animais de carga transitassem, mas sem melhorias. Com o incessante trânsito de pessoas e animais a picada ficou rapidamente intransitável. Garcia Rodriguesclxiv consumiu no trabalho quase todos os recursos financeiros que dispunha. As intervenções 436 MAGALHÃES, Basílio de. Expansão Geográfica do Brasil Colonial. Série Brasiliana. Vol. XLV. 2ª. ed. São

seguiriam pelo menos até 1704. A partir de 1704 “teve de se valer de dezoito escravos do seu cunhado Domingos Rodrigues da Fonseca Leme” 437.

Enquanto as vias pelo sul, principalmente pelo Rio de Janeiro, eram estruturadas, a via pelo norte já se mostrava “excessivamente” eficiente. Tanto que em 14 de maio de 1701, D. João de Lancastre escreveu a Arthur de Sá e Meneses, mandando suspender a comunicação entre as minas dos Cataguases e as minas de Caheté e Tocambira. A carta era incisiva:

Nesta altura tive ordem de sua Majestade que Deus guarde para que mandasse suspender a comunicação que havia pelo caminho que mandei (abrir) para as minas de Caheté e Tocambira, distritos desta capitania geral, por se entender poderiam resultar dela muitos inconvenientes a seu real serviço: e como V. S. me diz nas duas cartas que me escreveu do rio das Velhas em 30 de novembro do ano passado que remetia algumas pessoas que vieram para esta praça, e outras que foram aos currais desta Capitania que quintassem o ouro que traziam por entender que se ficariam assim evitando melhor os descaminhos que nele poderiam haver e que por falta de mantimento se haviam retirado muitos mineiros para a montaria para terem com que sustentar a sua gente, e outros para as suas casas para voltar em março assim pelos mantimentos que já deixavam plantados como pelo gado que haviam mandado buscar aos currais da Bahia e Pernambuco, o que será grande adjutório para se poderem lavra as ditas minas, com que nestes termos me é preciso saber de V. S. se teve alguma ordem de sua majestade sobre este particular, e resolução que determina seguir para que com mais acerto me saiba resolver em um negócio de tantas consequências, e de que podem seguir ou deixar de seguir outras utilidades a sua Real Fazenda.438 A carta fazia parte de um contexto maior, mais complexo. Os paulistas, descobridores das minas no sertão de Taubaté, entendiam que, de acordo com a carta régiaclxv de 18 de março de 1694, possuíam pleno domínio das descobertas. As modificações teriam inclusive estimulado as entradas no sertão de expedições particulares, sem apoio da Metrópole. Entretanto, a carta régia trazia a frase “mas deixareis dependente de minha [Sua Majestade] resolução o dar-se por certo e rica a mina para que então haja de ter efeito a mercê”439. Tal prerrogativa colocava em risco a exclusividade sobre as descobertas.

Os paulistas então propuseram que as datas fossem divididas, mas somente entre os próprios paulistas. A demanda acordada em uma junta, reunida em 19 de abril de 1700, na Câmara de São Paulo, deveria ser encaminhada ao governador Arthur de Sá e Meneses para que esse intermediasse junto ao rei. Entretanto isso não aconteceu e as datas continuaram a ser distribuídas. Ao mesmo tempo viu-se um esvaziamento das lavouras, das vilas e aldeias litorâneas, com o movimento migratório destinado às minas dos Cataguases. A tentativa de

437 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Bandeiras e bandeirantes de São Paulo. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 1940, p. 154.

438 DOCUMENTOS do Arquivo da Casa dos Contos (Minas Gerais). Relatório da Diretoria. Copiados e Anotados

por José Afonso Mendonça de Azevedo. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume LXV ca. 1943. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, p. 23.

cercear a circulação e a entrada no território das minas, veio em carta de 7 de fevereiro de 1701, enviada pelo rei. Em 9 de dezembro do mesmo ano outra carta “mandou que fechassem ao comércio os caminhos conducentes à Bahia”

clxvi

440. Interrompido o trânsito de pessoas, interrompia-se também o trânsito da carne .

De acordo com Diogo de Vasconcelos outro caminho, que passava pelo rio Piracicaba, aberto ainda no período em que Borba Gato ficou refugiado, se manteve transitado, estabelecendo a ligação com o litoral do Espírito Santo. Por essa via também se apressaram a seguir para as minas, os forasteiros. Então D. Álvaro da Silveira, sucessor de Arthur de Sá, oficiou em 16 de setembro de 1702, ao governador da Bahia, que “não consentisse partida por aquele caminho de forasteiros, os quais em verdade infestavam os sertões e tumultuariamente escalavam os novos ribeiros do Piracicaba, e de certas outras paragens ainda não manifestadas”441. As medidas não foram suficientes, tanto que, em 24 de setembro de 1704, novo ofício mandou que “fossem encarcerados todos os forasteiros, que se encontrassem no Distrito das Minas, e deportados os militares, que sem licença por aqui andassem”442.

Quanto mais vias de acesso, mais difícil seria o controle da circulaçãoclxvii. Na documentação referente ao período existem diversas referências a mandatos expedidos para autuação de “transgressores”443. Em outro documento se observa a expressão “vão incorrer na pena da proibição do caminho”444, ao referir-se ao transporte de gêneros proibidos pelo acesso vindo da Bahia. Um auto que merece destaque é o de Lucas de Andrade Pereira, em 1704. Nele há menção a uma abertura de caminho entre os rios das Velhas e Paraopeba, feita por Borba Gato, como também uma descrição de artigos transportados. A seguir alguns trechos são transcritos:

Aos dez dias do mês de junho do santo ano nestas minas do Rio das velhas onde assiste o tenente general Manoel de Borba Gatoclxviii e indo o dito tenente general com o

mineiro Antonio Borges de Faria a repartição dos descobrimentos de Paraopeba a escolha da data de sua majestade e indo explorando alguns serros com o dito mineiro fazendo uma picada pelo mato para poderem romper o dito General e [?] mineiro Antônio Borges. Com o comboio seguinte vindo pela estrada da Bahia e logo o dito tenente general fez apreensão no dito comboio na forma do regimento e ordens de sua Majestade e porque naquela ocasião não levava oficiais nomeou para meirinho desta diligência ao dito mineiro Antonio Borges de Faria para lhe ajudar a condução deste comboio que é o seguinte: três caxois [sic] de açúcar, um caxão [sic] de sabão, dois surrois [sic] de sal, dois baús, um baú com doce de mamão, um barrilinho [sic] de

440 VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 228. 441 VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 231. 442 VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 231-232. 443 DOCUMENTOS do Arquivo da Casa dos Contos (Minas Gerais). Relatório da Diretoria. Copiados e Anotados

por José Afonso Mendonça de Azevedo. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume LXV ca. 1943. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, p. 26-34.

444 DOCUMENTOS do Arquivo da Casa dos Contos (Minas Gerais). Relatório da Diretoria. Copiados e Anotados

por José Afonso Mendonça de Azevedo. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume LXV ca. 1943. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, p. 84.

passas, dois rolos de peça, quatro covados de baeta vermelha, dois covados de cochonilha, uma vestia e calça de chita, uma caqua [sic] de baeta branca de safata encarnada, uns calçóis de seda fina azul, três varas de bertanha, seis ceroulas de pano de linho, vinte cachimbos de fumo de .... seis baralhos de cartas, dois fornos de cobre, quatro cavalos, cinco negros.445

Somente em 1705, vencido pelas medidas parcamente implementadas de contenção da circulação e do povoamento, o rei “resolveu a questão derrogando as ordens proibitivas, e franqueando os caminhos”446. A tentativa de controle do território pelo controle das vias de circulação se mostraria infrutífero. Interrompido um acesso, abria-se outro.

A iniciativa do rei não agradou aos paulistas que se viam beneficiados pelo controle da circulação. Diogo de Vasconcelos detalhou com esmero o contexto social, político e econômico em que o conflito, prestes a ocorrer, se estabeleceu. Dentre suas considerações destaca-se a diminuição da produtividade do ouro de aluvião, a partir de 1705, sendo necessário o uso de técnicas que manejassem a água para minerar em terra firme. Como alguns forasteiros possuíam o lastro dos relacionamentos, inclusive além-mar, conseguiram se apropriar de terras mais ricas e regiões mais férteis.

O estopim do conflito teria sido o assassinato de um português reinol na região do rio das Mortes, no caminho para São Paulo. Os assassinos seriam paulistas, de acordo com a versão detalhada por Vasconcelos447. Os desdobramentos políticos da efervescência popular no Rio das Mortes resultaram na nomeação de Pedro de Morais Raposo para regente do distrito do Rio das Mortes e Francisco do Amaral Gurgel, para o das Minas. Enquanto isso, em Caeté, o conflito entre baianos, somados aos “forasteiros”, e paulistas se acirrava. Outra morte, como a ocorrida na região do Rio das Mortes, fez aumentar a tensão e, um boato sobre a intenção dos paulistas de acabarem com todos os forasteiros do distrito das Minas, fez com que tropas de diferentes lugares se aliassem a Manuel Nunes (nascido em Portugal), em Caeté, e o aclamassem Governador das Minas, em janeiro de 1708.

O controle das vias de circulação se mostraria mais uma vez importante no “teatro de guerra” que se configurava. Tal controle poderia impedir que tropas de paragens mais distantes se aliassem aos “revoltosos”, ou que esses fugissem. De acordo com Diogo de Vasconcelos, Manuel Nunes mandou um “troço de gente armada a rondar o caminho [caminho da Mata,

445 DOCUMENTOS do Arquivo da Casa dos Contos (Minas Gerais). Relatório da Diretoria. Copiados e Anotados

por José Afonso Mendonça de Azevedo. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume LXV ca. 1943. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, p. 84.

446 VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 232. 447

próximo a Sabará] de modo a impedir que fosse entulhado de árvores, e que nele levantassem redutos em lugares de emboscadas”448.

A “Batalha da Cachoeira”, ocorrida no arraial de mesmo nome, teria se iniciado com a notícia de que os paulistas controlavam o acesso entre Cachoeira do Campo e Ribeirão do Carmo. Cachoeira era “um ponto estratégico por excelência e tal que o Conde de Assumar em seu tempo, propôs que nesse arraial se erigisse uma fortaleza para dominar as três comarcas das Minas”449. Propôs ainda que ali fosse estabelecida a sede do governo da Capitania.

Diogo de Vasconcelos, ao narrar o percurso feito pelas tropas que apoiavam Manuel Nunes, vindas de Sabará em direção à Cachoeira, fez a seguinte descrição dos eventos e das vias de acesso utilizadas:

Os emboabas, partindo do Rio das Pedras, vieram ao Tijuco [atual Amarantina] e subiram a fio do ribeirão [atual Maracujá]. Os paulistas, porém, tinham abatido o mato, que bordejava as cascatas, que dão nome ao arraial, e daí pois impedidos voltearam os outros, quase sobre o caminho do Leite [atual Santo Antônio do Leite], por onde começaram a batalha. Toda a margem do rio foi coberta de trincheiras, e ainda no lugar hoje conhecido como Jardim, cavando-se existem vestígios.450

Em outro trecho, ao continuar sua descrição dos eventos que sucederam o conflito em Cachoeira do Campo e a vinda às Minas, do então Governador Dom Fernando Martins Mascarenhas, Diogo de Vasconcelos trouxe mais detalhes sobre o uso estratégico das vias de circulação durante os conflitos. Assim como, descreveu como o relevo teria sido utilizado a favor de Manuel Nunes, o que pode ser facilmente imaginado a partir das referências dadas pelo historiador mineiro.

Manuel Nunes mandou escultas a todos os pontos do caminho para virem de batida trazer-lhes as notícias do itinerário de D. Fernando, por ordem de no penúltimo pouso, em que ele pernoitasse, a qualquer hora partisse dali o espião e fizesse o sinal combinado, que era acender uma fogueira na Itatiaia [serra do Ouro Branco] e daí de cume em cume até Ouro Preto se faria outro tanto, para o que se haviam de monte em monte postado os agentes necessários. [...] Quando o governador, muito senhor de si, chegou à roça de João da Silva Costa, onde está hoje o arraial de Congonhas, partiu o esculca, e veio fazer sinal da Itatiaia. [...] Assim, apenas foi visto do Passa Dez o fogo no pico das Três Cruzes, em todos os arraiais da Serra ateou-se o clarão significativo. As trombetas soaram, e na manhã seguinte quatro mil homens se apresentaram ao ditador em ordem de marcha. Era ainda recente a estrada do Passa Dez ao Rodeio, apertada e coberta de matas até a borda dos campos da Boa Vista. Todo o dia e noite desfilou a gente. O Governador D. Fernando nesse dia vinha pousar no sítio das Congonhas a quatro léguas distante de Ouro Preto, sítio, que pessoalmente examinamos, e ficava no que hoje se chama Chiqueiro de Fora, com pouca ou sem diferença.451

448

VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 250.

449

VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 252.

450

VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, p. 253.

451

Apaziguados, em termos, os ânimos após a visita de Antônio de Albuquerque a Caeté, em 1709, no dia 9 de novembro do mesmo ano, a capitania do Rio de Janeiro era dividida, sendo criada a capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Em 8 de abril de 1711, Antônio de Albuquerque criou a vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo de Albuquerque, que teve seu nome encurtado, após aprovação do rei, em 14 de abril de 1712, para Vila de Nossa Senhora do Carmo452. A instalação da Vila Rica de Albuquerque se deu em 8 de julho de 1711, sendo

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