• Nenhum resultado encontrado

É o nome dado a uma das peças mais importantes que são utilizadas no momento de emoldurar sua pintura ou outro tipo de obra. Existem duas funções práticas: a primeira é realizar a transição harmônica entre a obra e a moldura e o ambiente, já a segunda é garantir a segurança da imagem, já que o paspatur geralmente possui uma espessura maior (em média 1,5 mm) que garante um espaço entre a obra e o vidro, evitando que a mesma possa aderir nesse vidro e se estrague. Fonte: Amo pintar56.

Assim como o passpatur é responsável pela transição entre a moldura e a pintura tanto para fins estéticos como para fins de proteção, a transição entre a teoria e a prática também deve ser feita de forma harmoniosa e cuidadosa. A teoria de aprendizagem baseada na língua trazida pela LSF chamou a atenção para a necessidade de desenvolver uma proposta pedagógica para dar conta de implementar essa teoria na prática. Os pressupostos da LSF fizeram com que a teoria atraísse a atenção.

Em 1979, uma conferência organizada por Halliday, na Universidade de Sydney, reuniu um grupo de educadores interessados na linguagem e um grupo de linguistas interessados na educação. Foi graças a essa conferência que Martin, Rothery e Halliday passaram a trabalhar em conjunto. De acordo com Rose e Martin (2012), esse encontro levou à primeira fase da pesquisa sobre letramento da Escola de Sydney.

Filiados à LSF de Halliday e influenciados pela teoria sociológica de Bernstein (1990) e por uma série de estudos em grande escala sobre as práticas de letramento escolar, os pesquisadores da, assim conhecida, Escola de Sydney (MARTIN 2000, 2006; MARTIN e ROSE 2005), desenvolveram, desde 1980, vários projetos, em escolas australianas, com o intuito de compreender as causas dos baixos resultados apresentadas pelos estudantes na produção de textos e assim poder intervir auxiliando na solução do problema. O contexto social

55 No original: Becoming literate means reflecting consciously on your language. (HALLIDAY, 2012, p.138). 56 https://www.amopintar.com. Acessado em 14 mai. 2018.

australiano apresentava-se desafiador nos anos 80. Disparidade de classes fazia com que as crianças pobres, os aborígenes, não conseguissem ler e escrever na escola primária.

A primeira providência a se tomar para resolver a situação foi aplicar uma abordagem de língua no contexto social que os professores pudessem usar para planejar e realizar suas lições sobre escrita e avaliar o progresso de seus alunos. Sem uma abordagem como essa, as atividades pedagógicas dependiam apenas, conforme Rose e Martin (2012), de um conhecimento intuitivo do professor acerca da língua, e a escrita dos alunos dependia de seus - ainda mais limitados - recursos intuitivos. O propósito era, portanto, trazer a natureza linguística da escrita dos alunos para o nível da consciência, para tornar o ensino da língua explícito. Para isso, era necessário encontrar uma forma de construir o conhecimento de professores e alunos acerca da língua.

Assim, ao longo de suas pesquisas, com base na LSF a qual se filia, a Escola de Sydney foi desenvolvendo modelos pedagógicos assumindo, conforme Rose e Martin (2012), que os textos que os alunos escreviam eram feitos de significados, e, portanto, a escolha por uma abordagem de análise de seus significados seguia a perspectiva semântico-discursiva, ou seja, de que os significados se desdobram através e ao longo do texto. De tal forma, os pressupostos teóricos da LSF, ao apresentarem a estreita relação entre texto, contexto e os indivíduos que utilizam essas relações ao interagir, influenciaram os estudos de gênero textual dos pesquisadores da Escola de Sydney, e sua pesquisa passou a ser conhecida como a Pedagogia de Gênero textual (PG).

O ensino de gênero textual, de acordo com essa pedagogia, envolve ensinar explicitamente como os textos são gramaticalmente padronizados, porém a gramática é integrada à exploração de textos e contextos, em vez de ser ensinada como um componente isolado. Isso faz com que os alunos não apenas vejam como as escolhas de gramática e vocabulário criam significados, mas, conforme Hyland (2007), entendam como a própria linguagem funciona, adquirindo uma maneira de falar sobre a linguagem e seu papel nos textos. A abordagem ao gênero do texto da forma em que é praticada na PG se torna muito benéfica, conforme Hyland (2007), especialmente para o ensino da escrita uma vez que ela alia propriedades formais e funcionais e evidencia as fortes associações entre elas. Isto facilita, de acordo com Bhatia (1993), o reconhecimento dos alunos de como e porque recursos linguísticos são empregados para conseguir determinados efeitos retóricos. Ao analisar esses recursos linguísticos constitutivos de um gênero textual, como ocorre na PG, os alunos conseguem identificar um padrão comum a cada gênero textual e utilizar esse conhecimento na sua escrita.

Em síntese, pode-se dizer, segundo Rose (2011), que a perspectiva linguística funcional sobre a análise de gênero textual coloca a abordagem ao texto praticada pela Escola de Sydney em uma posição de destaque. No que concerne aos modelos linguísticos, a perspectiva da PG é social e não cognitiva, sua análise de contextos sociais é semiótico-social em vez de etnográfico, e é projetada ao longo de múltiplas dimensões como uma teoria estratificada, metafuncional, multimodal do texto no contexto social. Seus objetivos sociais são intervencionistas, focados na redistribuição dos recursos semióticos através da educação.

Conforme Hyland (2007), a base teórica da LSF de Halliday e da teoria sociocultural de aprendizagem de Vygotsky (1978) que embasam a PG fazem dela a abordagem mais claramente articulada para o ensino do gênero textual, tanto da perspectiva teórica quanto pedagógica. Isto é porque, conforme Eggins (2004), a abordagem de Gênero textual empregada pela Escola de Sydney tem como objetivo construir não apenas uma teoria, mas também instrumentos de análise a fim de investigar a linguagem como um processo social, que permitem desenvolver descrições sistemáticas, específicas e, ao mesmo tempo, abrangentes dos padrões linguísticos.

Em virtude da concepção de gênero textual praticada pela PG que surge dentro da moldura linguística da LSF, os gêneros textuais tendem a ser caracterizados em consonância com a teoria, como padrões retóricos amplos, sendo chamados de gêneros textuais elementares que se combinam para formar gêneros textuais macro e cotidianos mais complexos (MARTIN, 1992). Assim, um gênero textual elementar, como um procedimento pode ser encontrado em gêneros textuais macro, como relatórios de laboratório, manuais de instruções e receitas, enquanto um gênero textual macro como um editorial de jornal pode ser composto de vários gêneros textuais elementares, como uma exposição, uma discussão, e um Refutação. Diferentes frames teóricos concebem esses gêneros textuais de formas variadas.

Seguindo na analogia da pintura, o gênero textual, enquanto padrão retórico que é, funciona como a tela sobre a qual a obra é pintada. Existem diversos tipos e tamanhos de tela com características próprias, feitas de materiais variados atendendo a propósitos distintos. Do mesmo modo, os gêneros textuais são muitos e, para fins de recorte e, em função de uma demanda específica advinda de uma realidade de trabalho, optou-se nesta pesquisa por um gênero textual - ou uma tela - em especial que será abordado na próxima seção.

2.6 A TELA: O GÊNERO TEXTUAL EMOLDURADO PELA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-