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Paul Poiret: a introdução do nosso personagem histórico e seus primeiros anos de

1. Capítulo I: A Belle Époque

1.5. Paul Poiret: a introdução do nosso personagem histórico e seus primeiros anos de

Foi necessário fazer esse panorama da Belle Époque para que pudéssemos encontrar o personagem histórico principal desta pesquisa: Paul Poiret (imagem 7), pois o sujeito está “situado no contexto socio-histórico de uma comunidade, num tempo e espaço concretos” (FIGARO org., 2015, p.26), além de que, como já foi citado na introdução, o estudo do indivíduo, não necessariamente o “herói”, pode mostrar como os acontecimentos ao redor o afetam direta e indiretamente.

Poiret foi um grande costureiro da época e influenciou vários de seus colegas de profissão com suas criações exóticas e, em certos casos, “revolucionárias”, contribuindo para definir as formas que representariam a Belle Époque principalmente em seus últimos quatro anos. Para compreender um pouco mais sobre a sua figura e sua vida anos mais tarde, é necessário também fazer uma pequena sondagem de como foi sua infância e adolescência, para

Imagem 7: Fotografia mais famosa de Poiret (c. 1913).

se tentar entender o que o teria motivado a ponto de se interessar precocemente por arte e moda. Para isso, toma-se como referência inicial principalmente a sua autobiografia: King of Fashion: the autobiography of Paul Poiret (2009).

Esta autobiografia foi publicada originalmente em 1931, e é a versão em língua inglesa do livro En habillant l’époque, de 1930. Como se pode perceber, os títulos em inglês e francês são totalmente diferentes, talvez porque foi nos Estados Unidos que Poiret ficou famoso ao ponto de ser apelidado de “king of fashion” (rei da moda). De qualquer forma, os eventos narrados não foram escritos de forma linear e em vários momentos Poiret expressa suas opiniões e sentimentos sobre algumas situações, tornando essa autobiografia uma fonte importante para compreender os detalhes sobre este indivíduo e os acontecimentos ao seu redor.

Paul Poiret nasceu no dia 20 de abril de 1879. Já na primeira frase do primeiro capítulo (Juventude), o autor afirma “eu sou um parisiense de Paris” (2009, p. 01). Assim, já é possível perceber que o livro é narrado em primeira pessoa – como é comum em autobiografias – e também que Poiret, através desse enunciado, busca já se firmar como sujeito autor e narrador ao assumir o lugar da fala. Ao mesmo tempo, também se insere num tempo e espaço, levando- se em conta que a publicação data de 1931. Porém, é bem provável que ele esteja se colocando como um parisiense da Paris da Belle Époque, pois ele nasceu em meio a ela, atingiu seu auge nela e após o seu término e a vinda da é que guerra que ele foi à falência poucos anos depois.

Poiret tem uma tendência a colocar vários fatos de sua infância como bases para aquilo que ele gostaria e seria mais tarde. Diz que suas primeiras palavras foram “Lápis e papel” (2009, p. 01) e que costumava organizar pequenas festas para a sua família. Ele afirma: “eu não reconto essas coisas para enaltecer minha escolha de prazeres, mas porque é curioso me ver já naquela época interessado nas coisas que mais tarde seriam objetos de minhas pesquisas e paixões” (2009, p. 05).

A já citada Exposição Universal, que marcou a época e a cidade, também fez parte da infância de Poiret (imagem 8). Ele descreve a de 1889, quando tinha 10 anos e seu pai comprou entradas especiais, além de ter acompanhado de perto a construção da Torre Eiffel:

Eu estava extasiado de alegria. Nos ombros de meu pai, eu olhei para as fantásticas revelações da fonte luminosa, e fui incapaz de tirar meus olhos dela, assim como até hoje sou incapaz de esquecer essa memória. Às vezes me pergunto se meu gosto pelas cores surgiu ou não naquela noite, entre a fantasmagoria de rosas, verdes e violetas.

A Exposição revelou para mim outras maravilhas imprevistas: as aplicações da eletricidade, o gramofone, etc. Eu quis conhecer Edson, ou escrever para ele para agradecê-lo e pessoalmente parabeniza-lo pelo que ele estava dando para a Humanidade [...]. Parecia para mim que todos os segredos da vida tinham se revelado simultaneamente, satisfazendo minhas curiosidades. Que dias adoráveis! (POIRET, 2009, p. 05).

Com isso, Poiret chama a atenção mais uma vez a como esses acontecimentos na infância o influenciaram. É interessante ressaltar que foi por volta do fim do século XIX e começo do século XX que Freud formula suas teorias sobre infância, traumas e como esses acontecimentos marcantes se refletem na fase adulta. Portanto, Poiret estava se adequando ao pensamento de seu tempo.

Sua família não era pobre, mas ele tinha três irmãs e, aos 12 anos, mudou de escola e conheceu outras crianças de classe superior e que se diferenciavam pelas cores e cortes de roupas. Porém, ele faz um esforço para mostrar que não era menos valioso ou com menos bom gosto e educação que os outros: “eu era basicamente um dândi, e mesmo que eu esquecesse de tomar banho às vezes, jamais esquecia de trocar meu colarinho” (2009, p.06). Ao usar a palavra “dândi”, Poiret se coloca como aquele que tem bom gosto e refinamento, mas que não pertence à nobreza, possivelmente querendo elevar e construir uma imagem de si mesmo.

Imagem 8: Poiret com 9 anos.

Depois da fase escolar, o pai de Poiret o colocou para ser aprendiz de um fabricante de guarda-chuva. Segundo ele, seu pai disse a esse fabricante: “Escute, esse é um garoto que tem muito amor próprio. Ele pode facilmente se tornar extremamente orgulhoso; nós devemos tirar isso dele, eu quero que ele aprenda tudo desde o início” (2009, p. 09). Porém, Poiret se ufana de dizer “meu orgulho está inteiro até hoje” (2009, p. 10).

Ele via os dias na casa de guarda-chuvas como martirizantes, pois as tarefas mais degradantes lhe eram reservadas e ainda suspeitava que o dono do lugar secretamente invejava- o. Mas essa experiência o fez aprender a costurar que, combinado com a sua vontade de sair daquele lugar, o fez tentar desenhar roupas novamente, seu passatempo de criança. Ele reuniu alguns pedaços de tecidos de guarda-chuva para tentar fazer suas p´rprias criações e passou pelas principais Maisons da época, as casas de alta-costura, vendendo seus rascunhos, até que o costureiro Doucet recomendou que ele “parasse de deixar seus ovos em todas as cestas” (2009, p.11) e o convidou para trabalhar exclusivamente para ele. A partir daí, inicia-se a carreira de Poiret no mundo da moda e da alta-costura.

Após as análises e enunciações ao longo deste capítulo, pode-se dizer que as Exposições Universais foram o ápice do século XIX e a de 1900 foi também o da Belle Époque francesa, fechando o século anterior e abrindo um novo cheio de oportunidades – mesmo que a Primeira Guerra Mundial estivesse na esquina, sem contar que desvelaram oara o jovem Poiret o mundo da arte e da técnica. Elas inspiraram e encantaram pessoas, e abriram espaço para produtos diferentes da indústria, como as artes e a Moda. Esta já tinha um grande público consumidor entre as mulheres, e a Alta Costura se tornava também uma forma de arte. Assim, fecha-se este capítulo para dar passagem ao próximo, onde serão abordados temas como arte, Art Nouveau e moda na Belle Époque francesa antes de se passar para o objetivo mais específico desta dissertação: a emblemática construção de Paul Poiret no mundo da alta-costura francesa, que acabaria por influenciar outros costureiros.