• Nenhum resultado encontrado

MULHERES FOTÓGRAFAS EM PORTUGAL (1844-1918)

19 Paulo Baptista, op cit p 30 20 Ibid.

inconfundível, Joshua Benoliel (1873-1932).

No final do século XIX, o fotógrafo Augusto Bobone (1851-1910) fundou a conhecida Galeria Salão Bobone, local de interesse cultural com a exibição de inúmeras exposições nas primeiras décadas do século XX.

Embora a proliferação de estúdios fotográficos fosse nacional, verifica-se uma centralização dos mesmos nas cidades de Lisboa e do Porto. Segundo a dissertação de mestrado de Luís Pavão, no período entre 1886 e 1914, a fotografia era um importante negócio em Lisboa, existindo 181 estúdios em actividade.21 As mulheres reveladas, no estudo em curso, encontravam-se quase em exclusivo na capital, o grande pólo de fotógrafos profissionais, no dealbar de Novecentos.

Fig. 7 Total de Estúdios Fotográficos em Lisboa e no Porto entre 1890 e 1915

Através da análise dos dados recolhidos, nos cerca de trinta anos consultados, dos Anuários Comerciais de Portugal, no período entre 1890 e 1918, podemos comparar as duas grandes metrópoles da actividade fotográfica em Portugal, Lisboa e Porto, embora com números distintos. Em Lisboa, no período referido, existia uma média anual de 45 estúdios activos, sendo que os 27 existentes em 1890, evoluíram para 64 em 1915. Estes negócios eram frequentemente trespassados entre fotógrafos, que ao longo de décadas mantinham casas fotográficas nos mesmos locais, mas com proprietários diferentes. Como refere Luís Pavão, a média dos estúdios em actividade rondava os cinco anos, contudo, alguns profissionais

21 Luís Pavão, Photography in Lisbon, Portugal (1886-1914). Thesis, Rochester: Rochester Institute of Technology, 1989, p. 17. 0 10 20 30 40 50 60 70 1890 1895 1900 1905 1910 1915

ficavam somente à frente do negócio durante um ano, enquanto outros por algumas décadas. No Porto, a segunda cidade mais importante, a nível de actividade fotográfica profissional em Portugal, a situação tinha contornos distintos. A média de estúdios existentes anualmente, no período estudado era cerca de dezasseis, um número bastante inferior ao da capital; em 1890 verificamos a presença de onze estúdios e em 1915, de vinte.

Embora existissem muito menos estúdios do que na capital, no Porto a actividade fotográfica comercial era muito mais estável, os mesmos fotógrafos, permaneciam nos mesmos locais, durante décadas, somente abandonando os respectivos ateliers, em caso de falecimento ou cessação de actividade laboral.

Nomes incontornáveis da fotografia no Porto, no final de Oitocentos, foram sem dúvida, o alemão Karl Emil Biel (1838-1915), e os portuenses Domingos Alvão (1872-1946) e Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931).

Para além das duas cidades mencionadas, dados sumários e provisórios, obtidos nos anuários consultados, indicam as cidades de Coimbra, Angra do Heroísmo, Figueira da Foz, Braga e Funchal, como as mais relevantes na fotografia nacional. Destacam-se o nome dos fotógrafos, Adriano da Silva e Sousa e Adriano Gomes Tinoco em Coimbra, José Gonçalves na Figueira da Foz, e Augusto Maria Camacho, no Funchal.

Com a consolidação dos negócios fotográficos nas principais cidades, a partir da década de setenta e até ao fim do século, assistimos a um progressivo estabelecimento de estúdios profissionais em pequenas cidades, estâncias balneares e termais. Alguns dos proprietários destes ateliers, tinham tido negócios nas cidades principais, ou haviam trabalhado como colaboradores de fotógrafos relevantes. Além do mais, a actividade exclusivamente sazonal tornou-se comum entre alguns fotógrafos urbanos, que anualmente abriam estúdios fotográficos temporários, acompanhando a afluência do público, aos locais de veraneio; Nuno Borges Araújo acrescenta:

“A disseminação regional de estúdios fotográficos continuou progressivamente até ao final do século, e algumas pequenas cidades provinciais só tiveram os primeiros estúdios permanentes no século seguinte.”22

Para melhor entendermos, a disparidade de números, entre estúdios dirigidos por homens ou por mulheres em Lisboa, no final de Oitocentos e início de Novecentos, basta verificarmos o gráfico abaixo, compilado a partir da análise de trinta anos do Anuário

Comercial de Portugal. Este gráfico, que exibe a disparidade entre homens e mulheres na

22 Tradução da autora. Nuno Borges de Araújo, “Portugal” in Encyclopedia of Nineteenth-Century Photography, vol. I A – I, Nova Iorque: Routledge, 2008, p. 1153.

fotografia, foi concebido exclusivamente para a capital, uma vez que era o grande pólo de fotógrafos profissionais no início de Novecentos. Os números no resto do país são meramente residuais, ainda que, todas as fotógrafas identificadas no decorrer da investigação, sejam referidas nos próximos sub-capítulos.

Dos 27 estúdios existentes na cidade em 1890, somente um era pertencente a uma mulher, Maria Eugenia Reya Campos. Em 1900, dos quarenta estúdios no activo, constatamos a presença de cinco mulheres; e quinze anos mais tarde, quatro mulheres, de um total de 64 estúdios lisboetas, totalizando uma média anual de, aproximadamente, três fotógrafas profissionais, no activo, nos anos estudados. Assim, podemos verificar que a tendência progressiva do número de estúdios, não gerou automaticamente, um número superior de mulheres fotógrafas, proprietárias ou à frente de um atelier fotográfico em Lisboa.

1.2 Fotógrafas Profissionais em Lisboa

Como referimos anteriormente, Madame Fritz chegou a Lisboa em Junho de 1844, fixando um estúdio temporário na Rua do Ferregial de Cima, na conhecida Casa do Isidro. Não se sabe exactamente quanto tempo permaneceu no país, mas de Novembro de 1844 a Dezembro de 1845 encontrava-se novamente em Espanha, desta vez na cidade de Valência,

Fig. 8 Disparidade de Género dos Estúdios em Lisboa entre 1890 e 1915

26 28 35 45 52 60 1 4 5 3 4 4 0 10 20 30 40 50 60 70 1890 1895 1900 1905 1910 1915

Estúdios de Lisboa dirigidos por Mulheres Estúdios de Lisboa dirigidos por Homens

inicialmente na Rua Torno de San Gregorio, Fonda del Cid, 3.º andar, quarto 25.

Tal como fizera em Espanha, ao chegar a Portugal, a fotógrafa anunciou a sua presença nos periódicos da época, neste caso n’A Revolução de Septembro, num anúncio bastante semelhante com o que publicara no país vizinho:

“MADAME FRITZ, ultimamente chegada de París a Lisboa, vindo por Hespanha, onde suas obras tiveram geral acceitação; tem a honra de annunciar ao publico d’esta capital, que tira retratos ao DAGUERREOTIPO, tanto faz que o sol esteja coberto, como descoberto, chova, ou não, coloridos e não coloridos, de todos os tamanhos, desde a sexta parte do tamanho natural até o mais minimo, podendo ser para medalha, alfinete, ou annel, não empregando mais de oito a dez segundos em os tirar: a similhança e a perfeição dos ditos retratos, são iguaes aos dos mais celebres chymicos e retratistas de França e Alemanha, devendo isto aos instrumentos e pratica que tem a dita senhora: as pessoas que queiram honra-la, terão a bondade de se dirigirem á rua do Ferregial de Cima n.º 31, casa do Isidro. Preços: – os de tamanho regular 2$400 rs., e coloridos 3$360.”23

Alegadamente, e de acordo com quase todos os investigadores actuais, após um hiato de dez anos, retornou com a sua família a Portugal e fundou estúdios permanentes, em Lisboa e no Porto. No entanto, resta por determinar se, os estúdios de Fritz, nessas duas cidades, pertencem a Madame Fritz, ou se eles passaram de uma geração para a próxima, como a linha temporal parece sugerir. Ao longo de toda a pesquisa não houve um único documento conclusivo, de que a Madame Fritz que retornou a Portugal, com a família, nos anos cinquenta, fosse a mesma que passara pelo país, num breve período, nos anos quarenta.

Fig. 9 Selo Atelier Fritz, Lisboa, s.d. Colecção da Autora24

Fig. 10 Selo Atelier Fritz, Lisboa, s.d. Colecção LUPA

23

in A Revolução de Septembro, n.º 963, 15 de Junho de 1844, p. 4.

24 Não havendo qualquer retrato conhecido do fotógrafo Joachim Friedrich Martin Fritz, existe a forte