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Conforme MIRADOR (1998), página 69, Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife-PE em 19 de setembro de 1921. Bacharel em direito, exerceu por pouco tempo a profissão de advogado. Dirigiu o Serviço de Extensão Universitária da Universidade Federal de Pernambuco e participou da fundação de círculos populares de cultura por todo o Brasil. Em 1961, sob o patrocínio do bispo católico D. Hélder Câmara, criou o movimento de educação de base e, simultaneamente, elaborou o método Paulo Freire de alfabetização.

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As campanhas de erradicação do analfabetismo levadas a cabo no Brasil durante as décadas de 1950 e 1960, tiveram como fundamento o método criado por Paulo Freire para a alfabetização de adultos. Centrado no desenvolvimento do pensamento crítico, em idéias de interesse social e político e no uso de um número reduzido de palavras, o método baseia-se na realidade do alfabetizando e utiliza vocábulos que lhe são familiares, como "enxada" para o lavrador e "torno" para o operário.

O ministro da Educação do governo João Goulart convocou-o para comandar, em janeiro de 1964, o Programa Nacional de Alfabetização. O golpe militar de março do mesmo ano impediu a realização do projeto e Freire esteve preso por setenta dias, acusado de subversão. Posto em liberdade, viveu cinco anos no Chile. Em 1969, foi consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e catedrático na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Em 1971, em Genebra, Suíça, tornou-se consultor especial do setor de educação do Conselho Mundial de Igrejas e criou o Instituto de Ação Cultural, que atuou em diversos países africanos. Durante o exílio, recebeu prêmios internacionais e tornou-se o teórico brasileiro mais traduzido no exterior. Regressou ao Brasil em 1980, depois da anistia.

Sua obra mais conhecida é Pedagogia do oprimido (1969), cuja tese central sustenta que o pedagogo deve libertar o homem das alienações a que a consciência dominadora o submete. O primeiro passo nessa direção é a alfabetização, entendida como aproximação crítica da realidade por meio da linguagem. Paulo Freire morreu em São Paulo-SP em dois de maio de 1997.

Existem vastas referências sobre este pensador e suas obras. Escolheu-se uma pequena obra (FREIRE, 2000), de sua autoria, para se obter alguns aspectos e pistas do seu modo de pensar e ser, de suas crenças na sociedade e no ser humano.

Logo no início do livro ele já manifesta sua indignação com a situação dos “condenados da Terra”, os excluídos espalhados pelo mundo todo. Condena fortemente atitudes como ações terroristas, mas defende com vigor o que chama de ética universal do ser humano, ou seja, a ética que condena o cinismo de discursos do tipo “não adianta tentar salvar as crianças do Terceiro Mundo acometidas por doenças como diarréia aguda, pois somente se estaria prolongando uma vida destinada à miséria e ao sofrimento”. A ética que condena a exploração da força de trabalho do ser humano, que condena o acusar por “ouvir dizer”, que condena falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e indefeso, soterrar

o sonho e a utopia, prometer sabendo que não cumprirá a promessa, testemunhar mentirosamente, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal. E conclama aos educadores que vivam está ética, pratiquem, testemunhem perante o educando. O preparo científico do educador deve coincidir com a retidão ética.

Critica o que chama de ideologia fatalista, imobilizante que, segundo ele, anima o discurso neoliberal, tentando convencer a todos que nada se pode contra a realidade social: “a realidade é assim mesmo, que podemos fazer?”.

Coloca que, entre os saberes fundamentais à prática educativo-crítica ou progressista, o formando nestas práticas deve se convencer que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Afirma que não há docência sem discência. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Considera não válido o ensino que não resulta em um aprendizado onde o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou refazer o ensinado. A tarefa docente não é apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. O professor não pode ser um mero memorizador, “um repetidor cadenciado de frases e idéias”, mas deve ser um desafiador. Deve ler bastante, mas não é o suficiente. Deve saber relacionar suas leituras com a realidade que o cerca, com o que acontece no seu país, na sua cidade, no seu bairro. Deve pensar certo! E coloca: “E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiado certos das nossas certezas”.

O ser humano não deve ser apenas objeto da história, mas igualmente o seu sujeito. Deve constatar não para se adaptar, mas para mudar. “O mundo não é. O mundo está sendo”. O aprendiz deve ser educado para ser agente ético destas mudanças. Deve ser curioso. Deve ser rebelde e revolucionário. Deve enfrentar os problemas do mundo para resolvê-los. Lutar para isso. Não pode se deixar domesticar. E o professor deve estar preparado para colaborar em todo este processo de aprendizagem. Deve estar preparado intelectualmente. Deve incentivar, não inibir o aprendiz. Deve ser seu parceiro na construção do conhecimento.

Neste relacionamento do educador com o aprendiz preocupa-se com a relação autoridade-liberdade, “sempre tensa e que gera disciplina como indisciplina”. O equilíbrio é necessário. Ambas possuem limites que não podem ser transgredidos. A ruptura deste equilíbrio em favor da autoridade leva ao autoritarismo. A ruptura em favor da liberdade leva à licenciosidade. Considera o autoritarismo e a licenciosidade formas indisciplinadas

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de comportamento que negam o que chama de vocação ontológica44 do ser humano. Considera que muitos professores estão cientificamente preparados, mas são “autoritários a toda prova”. “A incompetência profissional desqualifica a autoridade de professor”. E a autoridade docente “mandonista” destrói a criatividade do educando. A autonomia do educando se funda na sua responsabilidade, à medida que vai sendo assumida.

Sobre a pesquisa do professor, coloca o seguinte: “Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu modo de entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente a de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador”.

Em relação à ciência e à tecnologia, considera a sua negação “uma arrancada falsamente humanista”. Considera que não devem ser divinizadas nem diabolizadas, mas olhadas de forma “criticamente curiosa”. Alerta que o avanço da ciência e da tecnologia não pode legitimar uma “ordem” desordeira, onde as minorias “esbanjam e gozam” e as maiorias têm dificuldades para sobreviver, com justificativas do tipo “a realidade é assim mesmo” ou que a fome “é uma fatalidade do fim do século”, ou começo deste novo século. O progresso científico e tecnológico deve responder fundamentalmente aos interesses humanos, às necessidades da existência de homens e mulheres senão perdem toda a sua significação. Deve estar a serviço dos seres humanos, não do mercado, do lucro.

Lamenta que o caráter socializante da escola, de formação ou deformação, seja negligenciado, pois se mostra grande preocupação com o ensino dos conteúdos, este quase sempre entendido como transferência de saber. Não se trocam experiências e saberes obtidos de experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aulas das escolas, nos pátios dos recreios.

Alerta aos mestres que não adianta falar em democracia e liberdade e impor ao educando sua vontade arrogante. Isto somente serve para irritar o educando e “desmoralizar o discurso hipócrita do educador”.

44 Ontologia: parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma

Por fim critica a arrogância. Considera que nem a arrogância é sinal de competência e nem a competência é causa de arrogância. Coloca: “Não nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo em nada o seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente”.

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