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Peças de informações particulares

3.2 Instrumentos de Investigação

3.2.6 Peças de informações particulares

qualquer repartição pública, ou órgão federal, estadual, municipal, distrital ou territorial, expedir notificações. Enfim, como diz a Constituição, a Comissão Parlamentar de Inquérito terá poderes de investigação tão grandes quanto os poderes das autoridades judiciais, exceto o de julgar.

Demóstenes Torres (2009, p. 41) lembra que o Supremo Tribunal Federal limita os poderes das Comissões sob o entendimento de que não podem formular acusações e nem punir delitos. Lembra, ainda, que no Mandado de Segurança 23455-DF, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as Comissões Parlamentares de Inquérito não podem decretar o bloqueio de bens, prisões preventivas e buscas e apreensões de documentos de pessoas físicas ou jurídicas sem ordem judicial. Já no HC 71039-RJ entendeu-se que a prisão que for decretada pelo presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito extravasa os limites impostos pela lei.

Como exposto, embora existindo previsão expressa de que as Comissões Parlamentares de Inquérito possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais (artigo 58, § 3º da Constituição Federal), há o entendimento de que seus poderes não são plenos.

Segundo José Frederico Marques (2000, p. 157) ―trata-se, no caso, de notitia criminis informativa, que se assemelha a verdadeira investigação realizada por órgãos não estatais‖.

E sendo tais elementos probatórios suficientes para a propositura da ação penal, o Ministério Público dispensará o inquérito e oferecerá denúncia, pois o inquérito não é fase obrigatória da persecução penal, podendo ser dispensado caso o Parquet ou o ofendido já disponham de elementos suficientes (artigo 39, § 5º, do Código de Processo Penal).

4 O MINISTÉRIO PÚBLICO

Não há consenso quanto a real origem do Promotor de Justiça, todavia, constata-se que foi na França que surgiu uma figura com características semelhantes, principalmente após a Revolução Francesa.

Embora existisse na Europa figura com características semelhantes ao Promotor de Justiça, foi na França que se desenvolveu a figura e as funções do Ministério Público, mesmo porque da França se tem mais notícia de sua existência (MENDRONI, 2002, p. 52).

Em 25 de março de 1302, Felipe, o Belo, pela Ordonnance instituiu um corpo de funcionários incumbidos da tutela dos interesses do Estado. Eram incumbidos de denunciar e perseguir os criminosos.

Com o passar do tempo, foram editadas outras Ordonnances como a de Felipe IV, a de Carlos VIII, a de Luiz XII e a Ordonnance Criminelle de Luiz XIV, que serviu de alicerce ao Ministério Público acusatório, ampliando sua autonomia institucional e sendo considerada a grande codificação do processo penal da monarquia, traçando os rumos que o Ministério Público tomaria na legislação que se seguiria à Revolução Francesa (VALENCIO, 2005, p. 20).

Marcelo Batlouni Mendroni (2002, p. 52) diz que ―após a Revolução Francesa e em conseqüência dela criou-se, no ‗Code d‘ Instrución Criminelle‘ o que foi a figura do ‗Procureur de La Republique‘ com as características que permanecem até os dias de hoje‖.

O Procureur de La Republique, de acordo com o Code d’ Instrución Criminelle, era incumbido da investigação e persecução de todos os delitos os quais o conhecimento pertencesse aos Tribunais de Polícia ou às Cortes de Assassinatos.

Quanto às razões do surgimento do Ministério Público, o ilustre doutrinador (2002, p. 58) esclarece que por conta da evolução do sistema acusatório para adaptar-se à defesa do interesse público de combate à criminalidade, foi necessário entregar a um órgão público, diverso do poder Judiciário, o poder da persecução penal, para garantir efetividade e a devida imparcialidade do juiz.

A primeira norma brasileira a cuidar do Ministério Público foi o Código de Processo Penal do Império (1832), que em seu artigo 74 previa que a denúncia competia ao Promotor de Justiça ou a qualquer do povo.

Todavia, mesmo antes do Código de Processo Penal do Império, já existia a figura do Promotor de Justiça, pois como observa Valter Foleto Santin (2001, p. 187) ―A origem do Ministério Público brasileiro é comum à instituição portuguesa, passando pelas mesmas fases (Ordenações Afonsinas de 1446 ou 1447, Manuelinas de 1521 e Filipinas de 1603)‖.

Com a Lei 261 de 1841, surgiram os Promotores Públicos, que eram nomeados pelo Imperador ou pelos Presidentes das Províncias (artigo 22).

Na fase Republicana, o Ministério Público foi remodelado pelo Decreto 848 de 1890. Entretanto, seu verdadeiro Estatuto foi o Decreto 1030 de 1890 que previa em seu artigo 164, que o Ministério Público era o advogado da lei e fiscal de sua execução, procurador dos interesses gerais do Distrito Federal e o promotor da ação pública contra todas as violações do direito (SANTIN, 2001, p. 188).

A Constituição Imperial de 1824 não tratou do Ministério Público, enquanto que a Constituição de 1891 fez referência à escolha do Procurador Geral da República pelo Presidente da República entre os membros do Supremo Tribunal Federal.

A Constituição de 1934 inseriu o Ministério Público no capítulo intitulado ―Dos órgãos de cooperação nas atividades governamentais‖, na seção da organização federal, ao passo que a Constituição de 1937 fez referência ao Procurador Geral da Republica como chefe do Ministério Público Federal e a Constituição de 1946 previu a estabilidade dos seus membros e ingresso na carreira por concurso.

Além da estabilidade e previsão de ingresso na carreira por concurso, a Constituição de 1946 tratou sobre o Ministério Público em título especial, separado dos Poderes da República.

Já na Constituição de 1967, o Ministério Público passou a pertencer ao capítulo do Poder Judiciário e a ter as mesmas prerrogativas dos juízes na aposentadoria e o ingresso na carreira por concurso de provas e títulos.

Com a Emenda Constitucional 1 de 1969, o Ministério Público foi inserido no capítulo do Poder Executivo, sendo-lhe retirada as prerrogativas conferidas aos juízes.

A atual Constituição Federal elevou o Ministério Público à condição de instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, incumbido da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

De acordo com o Ministro Celso de Mello (2009, p. 29), com a reconstrução da ordem constitucional, surgiu um novo Ministério Público sob o signo da legitimidade democrática, sendo-lhe ampliadas as atribuições, dilatada a competência, reformulada sua fisionomia institucional, além de lhe serem conferidos os meios necessários ao desempenho de sua destinação constitucional.

Figurando em capítulo próprio, separado das normas que disciplinam os Poderes da República, a Constituição de 1988 delimitou sua estrutura nos artigos 127 a 130.

Segundo Celso Ribeiro Bastos (2010, p. 589):

Nenhuma das nossas Constituições pretéritas deu ao Ministério Público o tratamento extensivo de que goza na Constituição de 1988. E não é de minúcias de que se trata. Mas sim de revesti-lo de prerrogativas e competências inéditas nos passado.

No plano infraconstitucional, a Lei Complementar 75/93 dispõe sobre o Ministério Público Federal, enquanto que a Lei 8625/93 dispõe sobre as regras gerais sobre o Ministério Público Estadual, uma vez que cada Estado possui legislação própria regulamentando a instituição em razão das peculiaridades de cada ente federativo.

Antes vinculado aos Poderes da União, o Ministério Público, com a Constituição Federal de 1988, passou a ser conceituado como instituição permanente, e como tal, compete-lhe realizar algum fim no meio social, ou seja, defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Não se trata de um quarto poder, como defendido por alguns autores, pois se assim o fosse, o Constituinte Originário teria incluído o Ministério Público no artigo 2º, da Constituição Federal.

Dadas as peculiaridades de suas funções institucionais, também não há como enquadrá-lo em nenhum dos Poderes da União.

Nesse sentido, esclarece Eliane Regina Valêncio (2005, p. 45/46):

As funções institucionais do Ministério Público em nada se assemelham ao Poder Legislativo, pois não há atividade legiferante. Se ao Legislativo cabe a elaboração da lei, ao Ministério Público compete a fiscalização de seu cumprimento, pela via jurisdicional.

A tendência do homem médio é vincular a atuação do Parquet ao Poder Judiciário, devido à intensa atuação do Ministério Público nessa área. [...] A crítica que a doutrina faz a respeito é que as outras instituições inseridas no mesmo capítulo em nada se assemelham ao Ministério Público (Adocacia-Geral da União, Advocacia e Defensoria Pública).

A Constituição de 1969 posicionou o Ministério Público como integrante do Poder Executivo. Esta é a tendência majoritária da doutrina. Tal fato se dá pela natureza administrativa das principais funções exercidas pelo Ministério Público, quais sejam: defesa da ordem jurídica, dos interesses indisponíveis, difusos e coletivos, promoção da ação civil pública, zelo pelo respeito aos Poderes Públicos e pelos serviços de relevância pública aos direitos constitucionais. O artigo 85, II da Constituição Federal define como crime de responsabilidade do Presidente da República, os que atentem contra ‗o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos poderes constitucionais das unidades da federação‘. Pelo fato de o Ministério Público estar elencado juntamente com os demais poderes, a doutrina argumenta que, se fizesse parte do Poder Executivo, não estaria elencado no referido dispositivo, pois o Presidente da República é o chefe do Executivo.

Em que pesem os argumentos favoráveis e contrários à tese de ser o Ministério Público um quarto poder, certo é que deve ser garantida sua independência, a fim de ser exercida sua função essencial à justiça e à sociedade, independentemente de sua posição constitucional.