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1 EXPLORANDO AS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

1.1 O QUE É ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO?

1.1.1 Peculiaridade das terminologias: o que as palavras dizem?

Um longo caminho foi percorrido até chegar à atual terminologia adotada nos documentos oficiais brasileiros. Inicialmente, no Brasil, os estudos direcionados a este público foi evidenciado por meio da psicóloga russa Helena Antipoff, que inicialmente utilizou termos como educação dos supranormais e em seguida consolidou o termo bem-dotado. (GUENTHER, 2010)

Outro marco deixado por Helena Antipoff foi à utilização da expressão

excepcional, utilizada, de modo geral, para designar toda e qualquer pessoa com

necessidades especiais que diferem do grupo. Localizada pela primeira vez na Lei 4.024/61, artigos 88 e 89 (BRASIL, 1961).

Com a mudança no cenário educacional e avanços nos estudos, as terminologias presentes nos documentos oficiais foram sendo alteradas. Empregou- se superdotados e talentosos na Lei 5.692/71, artigo 9 (BRASIL, 1971);

superdotados e habilidade superior, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDBEN 9.394/96, artigo 59, Item II e IV (BRASIL, 1996); altas habilidades

/superdotação, na Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (BRASIL, 2008, p. 15); e altas habilidades ou superdotação no Decreto n 7.611 de 17 de Novembro de 2011, artigo 1 (BRASIL, 2011) e Lei 12.796 de 4 de março de 2013, que altera a LDB 9.394/96, artigo 4, Item III, artigo 58, artigo 59 e artigo 60. (BRASIL, 2013)

Ao decorrer do tempo alguns termos surgiram e foram empregados como sinônimos de altas habilidades ou superdotação, contudo não o são e geram conflitos de ideias e compreensão, perpetuando um olhar estereotipado e estigmatizante. Os mais comuns e que merecem maior atenção são: gênio, precoce e prodígio.

Assim, os termos geralmente empregados para designar, a pessoa com AH/SD, remetem a conceitos e características divergentes, sendo eles: “gênio”, “precoce” e “prodígio”. Cupertino (2008) esclarece que “a habilidade superior, a superdotação, a precocidade, o prodígio e a genialidade são gradações de um mesmo fenômeno.” (p.24) Desta forma evidencia o pertencimento ao mesmo fenômeno, mas não remetem ao mesmo significado, e assim não podem ser considerados e utilizados como sinônimos.

A utilização dos termos distintos como sinônimos é uma ação praticada com a visão do senso comum, na construção estereotipada do sujeito com altas habilidades/superdotação (AH/SD), que necessitam da compreensão da temática e de suas necessidades educacionais especiais, o que fica prejudicado pela visão errônea das características de desenvolvimento e aprendizagem da pessoa.

Para Fleith (2007) a terminologia da genialidade é recomendada “para descrever apenas os indivíduos que deixaram um legado à humanidade, pelas suas contribuições originais e de grande valor.” (p.16).

Virgolim (2007) destaca que a precocidade é “alguma habilidade específica prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento” (p.23) e traz a luz de teóricos que uma criança precoce pode vir a ser uma criança com altas habilidades/superdotação, sendo necessário o acompanhamento do seu desenvolvimento, aprendizagem e criatividade. Assim, uma criança com altas habilidades/superdotação, não seria, necessariamente, uma criança precoce. Já em relação ao termo “prodígio” a autora ressalta que o mesmo “é utilizado para designar a criança precoce que apresenta um alto desempenho, ao nível de um profissional adulto, em algum campo cognitivo específico” (p.24)

No que se refere às terminologias adotadas, provenientes da presença em documentos normativos e norteadores das ações, de modo geral, destaca-se o questionamento realizado por Guenther (2010) quando afirma que há um cenário de termos confusos, onde as indefinições são provenientes de traduções equivocadas e falta de consenso no conceito acerca da inteligência. Com isto, afirma que diante da peculiaridade do cenário brasileiro, as palavras confundem. (GUENTHER, 2012)

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Pereira (2010) discorre que não é raro o uso de vários termos no Brasil, muitas vezes sem que haja uma ponderação epistemológica, afirmando ainda que essa variedade terminológica remete a três fatores que são visivelmente distintos, apontando o problema com a tradução de termos originários de outros idiomas, pluralidade teórica e o uso alienado e inadequado dos termos.

Os termos “superdotação” e “superdotado” são questionados, e até mesmo criticados, por alguns estudiosos da área, uma vez que, segundo Guenther (2006) o prefixo “super” possui uma carga de significados e remete a uma idéia de

desempenho extraordinário e domínio dos conteúdos desenvolvidos. Fleith (2007), por sua vez, ressalta que o termo contribui para uma ênfase no genótipo, caracterizado como “um dote que o indivíduo já traria ao nascimento e que se realizaria, independentemente das condições ambientais.” (p.19) Desconsiderando a influência do ambiente e descaracterizando a necessidade de estimulação e de ambientes favoráveis.

A expressão “Altas Habilidades” também é questionada por Guenther (2012), que apresenta argumentos sólidos para caracterizar a sua utilização inapropriada. Assim, destaca que “habilidades (em inglês, skills) se refere a resultado de algo aprendido intencionalmente, em geral um desempenho no campo físico, estendido a operações mentais” (p.10) e que ao incluir o termo “altas” descaracterizou o sentido de habilidades e configurou uma tradução equivocada de high ability, que significaria alta capacidade, ou seja, alto poder de aprender.

Desta maneira, Guenther (2012), prioriza o termo Capacidade, destacando que tais capacidades podem ser naturais ou adquiridas, sendo elas, respectivamente, a Dotação e Talento. Acreditando, então, que tais terminologias são as mais adequadas, pertinentes e com referencial teórico consistente para justificar a utilização.

Para Guenther capacidade “refere-se ao poder físico ou mental de “fazer alguma coisa”, ou seja, aprender e agir” (2010, p.3) Enquanto a dotação “indica presença de notável capacidade natural em pelo menos um domínio” (2012, p.4) e o

talento remete “a capacidade desenvolvida e expressa em algum tipo de

desempenho superior, conhecimento aprendido, habilidades treinadas sistematicamente.” (2012, p.7)

Deste modo, tem-se claramente a distinção de defesa e utilização de termos e independente das terminologias adotadas, tais estudantes possuem o direito de terem suas necessidades educacionais especiais assistidas de modo a estimular e desenvolver os seus potenciais e talentos, proporcionado por meio de um ensino diversificado e um ambiente desafiador.

1.2 DA IDENTIFICAÇÃO AO ATENDIMENTO DOS ESTUDANTES COM ALTAS