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A abordagem da temática da Pedagogia da Alternância é suscitada desde seu histórico, como em Camacho (2008) que salienta que seu surgimento se deu na França na década de 1930, a qual teve como sustentáculo a possibilidade de estudos para as crianças do campo. Quanto a forma de organização dessa Pedagogia, Oliveira (2015) apresenta sua estruturação composta pelo tempo-escola e pelo tempo-comunidade possibilitando que os conhecimentos produzidos no tempo escola, vivido pelas experiências em grupos e sob orientação de equipes de educadores sejam materializados, na prática, no seu tempo-comunidade, período de socialização do conhecimento com os familiares.

A Pedagogia da Alternância comparece nos trabalhos a partir da compreensão que se tem das relações do espaço rural brasileiro, pela Geografia Agrária, considerando que parcela significativa da população rural usufrutuária da educação no campo são aquelas ligadas direta ou indiretamente a pequenas ou médias propriedades, ou seja, de classes sociais inseridas parcialmente, ou como pode e é de necessidade do capital, no capitalismo. Essas populações têm como uma de suas características principais o uso do trabalho familiar, que inclui crianças e jovens, sobretudo, dentre as pequenas propriedades.

Dessa situação objetiva, sobretudo em relação aos pequenos proprietários, tem-se como resultado grande índice de abandono escolar nos períodos de plantio e colheita. As Casas Família Rural (CFR), as Escolas Família Agrícolas (EFA), bem como os Movimentos Sociais são as organizações postulantes dessas propostas que, no Brasil, surge na forma combinativa entre as relações de: a) conciliar a educação, no período escolar com as atividades produtivas, liberando força de trabalho sem os ônus educacional e, b) como alternativa de melhor interação entre a educação escolar, relacionada a comunidade e a

74 família, possibilitando maior interação entre os agentes educacionais. Esta perspectiva ainda carrega consigo questões interessantes, como aquelas tocadas pelos movimentos sociais, que buscam articular e aplicar os conhecimentos produzidos no espaço escolar no ambiente familiar do aluno, contribuindo com a dinâmica de sua unidade produtiva.

Nesse sentido, as Escolas Família Agrícola e as Casas Família Rural compõe um conjunto de análises que tem como eixo central a Pedagogia da Alternância, tema estruturante como forma de construir uma alternativa de educação para o campo que permita à juventude rural permanecer nesse espaço. Esta alternativa é baseada em uma proposta de educação

diferenciada da educação formal institucionalizada tanto nas cidades quanto no campo brasileiro, onde se considera o contexto cultural, as experiências de vida e a sabedoria dos trabalhadores rurais.

Nos trabalhos que versam sobre esse tema, a função social da educação é colocada em tela quando da constatação de que esta é uma dimensão social, centrado segundo as determinações do Estado, com vias à reprodução do capital. Esta concepção é fundamental no discurso dessas organizações (EFA e CFR) que se propõe a empenhar, segundo os trabalhos analisados, uma proposta de educação contra-hegemônica, contudo, de fundamento teórico eclético, que vão desde autores marxistas como Marx, Gramsci e Saviani (em menor constância), à educação popular encabeçadas por Paulo Freire, Carlos Brandão, Roseli Caldart e Miguel Arroyo, com maior evidência e embasamento dentre os trabalhos.

Esse ecletismo teórico, associado as práticas de trabalho agrícolas, constitui em uma proposta de educação que tende mais a reprodução dos trabalhadores rurais como força de trabalho “qualificada”, seja para a sua oferta no mercado de trabalho, caso da agricultura patronal, seja na reprodução da propriedade privada do pequeno produtor rural. Têm-se, logo, na análise, quando adotado uma perspectiva de transformação social de caráter marxista, uma dinâmica de reprodução do capital, já que não se toca em questões elementares como a eliminação da divisão do trabalho, bem como da superação da propriedade privada capitalista.

Ainda é perceptível que parte das pesquisas buscam inserir o debate da relação entre trabalho e educação, colocando o trabalho como centralidade entre o processo social e educacional. Denota-se, assim, a articulação desta relação como possibilidade de superação da condição de empobrecimento do trabalhador rural. A formação profissional, desde o trabalho, é um marco dessas experiências, que associa – em tese – a educação formal no campo aos

75 processos de trabalho, que – deveria – culminar com a práxis educativa na relação de aprendizado teórico no tempo-escola e prático no tempo-comunidade. Em via de regra, essa práxis está associada às relações circunscritas de trabalho com a produção rural, num sentido muito estreito de uma formação omnilateral, ou como sugere Zimmermann (2014), com a constituição de elementos para a formação omnilateral dos jovens envolvidos nesse processo.

Contudo, o discurso de maior propulsão dentre as pesquisas estão ligadas ao fortalecimento da agricultura familiar e camponesa, nas formas de atender as especificidades da juventude no campo e a educação profissional aliada à práticas agrícolas e pecuárias. Nesse sentido, Jesus (2010) reconhece os limites da atuação das entidades escolares, quando de suas atuações isoladas, sozinhas, no desenvolvimento do campo, se fazendo necessário o envolvimento de outras instâncias sociais que deem conta de assistir aos agricultores no processo produtivo e no mantenimento na propriedade.

Parte das pesquisas tecem críticas à formação dos professores/monitores envolvidos nos processos da Pedagogia da Alternância já que muitos não passam por formações apropriadas ao seu desenvolvimento. O regime de trabalho é outro entrave abordado entre os trabalhos, uma vez que os professores/monitores são, em geral contratados, ocasionando, por alguns períodos ausência desses facilitadores no processo ensino-aprendizagem.

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