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As resoluções da I Conferência de Ministros e Diretores de Educação dos países das três Américas, realizada no ano de 1943, em Havana, teve grande influência no governo brasileiro, tanto que, segundo Fonseca apud Cunha (2002), fez com que o ministério da educação buscasse assistência técnica estrangeira para o ensino industrial brasileiro. Acontecia nesse período o desenvolvimento da escola SENAI, que conquistava hegemonia no campo do ensino profissional com a metodologia desenvolvida no CFESP, e ao mesmo tempo o Ministério de Educação empreendia reforço do ensino escolar no mesmo campo.

Por consequência desse esforço, o ministro Gustavo Capanema iniciou gestões com a Inter-American Foundation (IAF), órgão vinculado ao governo norte-americano, formalizando a assistência técnica pretendida, firmando, em 1946, convênio entre o MEC e a IAF. Esse convênio previa a instalação da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI) para a atuação na implantação do programa de cooperação, cujo superintendente seria o titular da Diretoria do Ensino Industrial. A principal forma de atuação da CBAI foi a de promover reuniões de diretores das escolas industriais e escolas técnicas, principalmente da rede federal, e de também promover aperfeiçoamento de professores no Brasil e nos EUA. Proporcionou também traduções de livros técnicos na área de ensino e administração de escolas profissionais, além de produzir boletins destinados à divulgação de notícias referentes a esse setor, adicionando informações de caráter técnico e administrativo.

No tocante à pedagogia do ensino industrial, a CBAI introduziu o método Training With Industry (TWI), propagando-se de São Paulo a todo o País, sendo que o SENAI atuou como vetor de eficiência nesse conceito. Em 1957 foi instalado em Curitiba o Centro de Pesquisas e Treinamento de Professores, para a formação docente para o ensino industrial, e mais tarde integrou-se à Escola Técnica Federal e ao CEFET do Paraná. Porém, em 1962, a CBAI foi extinta e seu acervo e seus encargos foram assumidos por um grupo executivo de ensino industrial, criado pelo Decreto 53.041/62.

O treinamento baseado na pedagogia TWI foi criado nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e tinha como principal objetivo o treinamento rápido de trabalhadores para a indústria bélica, no Brasil. O TWI teve aplicação generalizada através do Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra (PIPMO), criado em 1963 no governo de João Goulart pelo Decreto Lei número 53.324/63, que durou quase duas décadas. Mesmo com a economia em recessão, esse treinamento foi intensificado deliberadamente nos primeiros anos dos regimes militares. Em 1964, através da Portaria Ministerial 46/64, baixada dois meses antes do golpe de Estado, estabeleceram-se as normas que regulamentavam o programa, dados seus objetivos:

 Especializar, treinar e aperfeiçoar o pessoal empregado na indústria;  Habilitar novos profissionais para a indústria;

 Preparar pessoal docente, técnico e administrativo para o ensino industrial, bem como instrutores e encarregados de treinamento de pessoal na indústria.

Segundo Bryan (2008), os programas de treinamento TWI tinham por objetivo a elaboração de métodos de adestramento rápido da força de trabalho para a indústria, sobretudo para a formação de contingente de trabalhadores que anteriormente não exerciam atividades industriais. Para tanto, elaboravam-se cursos que operacionalizavam os elementos fundamentais da organização taylorista para formar trabalhadores qualificados a exercer a função de supervisores de produção e de instrutores dos operários recém-incorporados às atividades industriais.

Um dos passos deste programa TWI, segundo Bryan (2008), consistia em promover a divisão do trabalho e suas operações industriais para que estas pudessem ser ensinadas por etapas para cada operação industrial. Identificavam-se os pontos-chave para cada fase da atividade

industrial a ser executada e após a explanação do instrutor era proposto ao aluno efetuar a divisão de uma determinada tarefa e demonstrar a todo o grupo de alunos o seu modo de execução, seguindo os quatro pontos deste programa de treinamento:

1-Preparar o aprendiz, pondo-o à vontade, despertando seu interesse pelo trabalho e pondo-o em posição correta; 2-Apresente o trabalho, demonstrando a execução de uma fase por vez, insistindo nos pontos chaves e dosando o conteúdo ensinado; 3 Faça o aprendiz executar o trabalho, solicitando que explique cada ponto chave, questionado-o até ter certeza de que ele executará a tarefa; 4- Acompanhe o progresso do aprendiz, assegurando-lhe que poderá contar com o auxílio do supervisor quando necessitar. (BRYAN, 2008, p. 103)

A execução do programa era feita pelo treinamento desenvolvido nas próprias empresas ou indústrias, por meio de cursos intensivos ou regulares em escolas técnicas e escolas industriais das redes federais e estaduais, pelo centro de formação profissional do SENAI. O âmbito de atuação do programa foi ampliado para todos os setores da economia pelo Decreto Lei n. 70.882/64, vinculando-o ao Departamento de Ensino Médio do MEC, com recursos oriundos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação. Em 1974, o PIPMO teve sua vinculação transferida para o Ministério do Trabalho, o que provavelmente fora sugestão do SENAI e SENAC, que participavam das comissões criadas pelo Ministério da Educação.

O programa de treinamento ministrado pelos convênios PIPMO, segundo Cunha (2005), era voltado para o mero adestramento imediato dos trabalhadores, realizado numa fração de tempo empregado determinado por ela e embarcando um conteúdo muito reduzido. É interessante destacar que esse programa de treinamento era executado pelas instituições existentes de educação profissional, incluindo nesse leque as Escolas Técnicas Federais e o SENAI. Concluíram os cursos do PIPMO mais de 2,6 milhões de trabalhadores e o ano de maior atuação foi no biênio 1976 e 1977, quando o número de trabalhadores que concluíram os cursos chegava a quase um milhão de pessoas.

A partir de 1975 o programa passa a intensificar suas atividades, passando a se concentrar quase que exclusivamente na preparação de mão-de-obra para os projetos governamentais de grande porte. Quando esses projetos foram encerrados ou a crise econômica fez com que o Governo Federal os suspendesse ou os desacelerasse, o PIPMO perdeu a razão de ser e foi extinto, pelo Decreto 87795/1982. Seus patrimônio e funcionários tiveram de ser transferidos para o recém-criado: Serviço Nacional de Formação Profissional Rural (SENAR).