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5.3 Por Outros Caminhos

5.3.2 Pela comunidade escolar

Defendemos que a mudança começa quando cada um muda a atitude perante o mundo. Pela multiplicidade de ações envolvidas num projeto amplo de enfrentamento da violência praticada contra a escola, a participação da família é estruturante na multiplicação das ações para além do universo doméstico, envolvendo vizinhos e moradores da comunidade local.

A justificativa para a construção desse caminho é encontrada na contribuição de Candau, Lucinda e Nascimento (2001, p. 98) ao afirmarem que:

Para enfrentarmos uma cultura da violência, é necessário promover, em todos os âmbitos da vida individual, familiar, grupal e social, uma cultura dos direitos humanos. Somente assim acreditamos ser possível construir uma sociabilidade que tenha seu fundamento na afirmação cotidiana da dignidade de toda pessoa humana.

Para tanto, é necessário desenvolver um trabalho de diálogo e envolvimento das famílias com as ações da escola, para além da participação compulsória em reuniões de pais ou palestras esporádicas, num continuum da violência de diálogo, de escuta atenta, para reverter a situação de descrença que se instaurou na comunidade:

O ponto negativo seria pouca participação dos pais na escola seria ponto chave para melhorar. Coloco que a violência contra a escola é responsabilidade das famílias. Neste aspecto, o poder público tem pouco a fazer [...] Não vejo mudança, só se tiver milagre muito grande. (Conselheiro

3)

Tudo gira em torno da escola, é um porto seguro, eles acham que tudo vai ser legal e tudo vai dar certo; quando acontece algo errado com a escola, aí vai atrás procurar saber o que aconteceu; alunos que já estudaram tem respeito pela escola, confiam na escola. (Conselheiro 10)

Na tentativa de desenvolver esse diálogo, precisamos acreditar que esse trabalho é possível, pela educação, em parceria com as famílias e comunidade como um todo; precisamos resgatar a confiança no trabalho alegre e viável; “precisamos de uma educação que valorize a organização coletiva, que contribua para a construção da autonomia e para o desenvolvimento intelectual, para que se conquiste uma sociedade democrática”. (REBELO, 2011, p.115)

A união, lá dentro da escola, quando quer fazer alguma coisa ali dentro, que se reúne, aí a coisa acontece, com todo mundo, com a união dos pais. Teve várias coisas ali, que foi a força do grupo, como aquela quadra, a creche, a reforma do telhado. (Conselheiro 16)

Já que não tem do Poder Público, acho que quem está nos arredores deveria, sei lá, dar uma força, porque tem mesmo reclamação de vandalismo na escola, e é uma pena. A escola é tão boa, cuidam bem do interior da escola, a gente vê tudo organizado, o pessoal do Conselho tenta arrumar e o pessoal dos arredores deveria dar uma força. Se ver, denunciar, chamar a Guarda [...] Ou, sei lá, vim também, viu que estão detonando a escola, vamos lá, vamos juntar a força da comunidade. A gente também pode fazer, não com violência, mas vir aqui e pedir para a pessoa parar de fazer e dar uma orientação nesse sentido. (Conselheiro 9)

A comunidade e, em especial, a família, nesse contexto social em que a violência se apresenta com diferentes couraças, é afetada e também precisa ser trabalhada para superar as situações que as oprimem, que causam a exclusão. Os reflexos são sentidos na relação que essas pessoas estabelecem consigo, com o outro e com o mundo. Uma dessas couraças é a exclusão escolar.

Um dos fatores apontados como a causa da exclusão escolar é a situação socioeconômica das famílias que obriga, desde cedo, adolescentes e jovens a ingressarem no mundo de trabalho para completar a renda familiar. Outro é a incapacidade da escola em manter estes alunos, no seu interior, até que completem pelo menos, o Ensino Fundamental. Há um processo de seleção e discriminação que exclui aqueles que não estão em condições de competir com os demais, pois os padrões estabelecidos para esta competição não levam em consideração as diferenças socioeconômico- culturais dos alunos. (POSSANI, 2007, p.36)

Evidencia-se a importância da atuação do Poder Público para que medidas sociais de proteção à família sejam implantadas, no intuito de fortalecer o grupo familiar e, pautados nesse princípio, ampliar o envolvimento da comunidade, com ações no binômio escola-família, num trabalho conjunto e colaborativo, pelo fim da violência contra a escola:

Há também famílias que dependem do Bolsa Família [...]. A maior parte das famílias não tem aquele formato antigo de família mantida por pai, mãe... Isso você percebe que está cada vez menor, esse tipo de família, lá. Você percebe famílias formadas por avó, às vezes, uma tia, ou tio, mora junto; às vezes, a mãe tem um filho de um relacionamento, mas entra em outro relacionamento e tem outros filhos e há casos de famílias que são de filhos de vários pais diferentes, então, o bairro mudou, mudou muito e o que se percebe é que as mães têm ido trabalhar porque elas rompem o relacionamento, o marido não sustenta mais a casa; ela tem que sair para trabalhar, os filhos ficam sozinhos, ou com um vizinho, ou, então, ficam com a avó, então, se vê uma família totalmente diferente do que se via antigamente e elas vão se virando como podem. (Conselheiro 6)

Já os meninos da mesma idade [do meu filho] foram criados sem estudar. Hoje em dia, não conseguem empregos, vivem sem regras, largados, isso na minha maneira de pensar. Muitos entram no mundo das drogas e eu conheço muita gente que entra nesse mundo porque os pais não aconselham seus filhos. Para enfrentar esses problemas sociais, a raiz é a família e não é conselho tutelar que vai resolver problemas, quando filho começa a dar trabalho. Se não corrigir desde cedo... é sim a família. A família é a base e é preciso começar tudo de novo. (Conselheiro 3)