2. A COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 2.4 PENALIDADES POR INSUFICIÊNCIA DE COBERTURA CONTRATUAL A Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, prevê no caput do art. 2º que “as concessionárias, as permissionárias e as autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional – SIN deverão garantir o atendimento à totalidade de seu mercado”. O Decreto nº 5.163, de 2004, que regulamentou tal dispositivo por meio do art. 2º, estabelece: (...) os agentes de distribuição deverão garantir, a partir de 1º de janeiro de 2005, o atendimento a cem por cento de seus mercados de energia e potência por intermédio de contratos registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE e, quando for o caso, aprovados, homologados ou registrados pela ANEEL.(Grifo meu) Esse Decreto ainda dispõe em seu art. 3º que: As obrigações de que tratam os incisos do caput do art. 2º serão aferidas mensalmente pela CCEE e, no caso de seu descumprimento, os agentes ficarão sujeitos à aplicação de penalidades, conforme o previsto na convenção, nas regras e nos procedimentos de comercialização. (Grifo meu) Destaca-se que a necessidade de atendimento a cem por cento de seu mercado não é prerrogativa apenas dos agentes de distribuição, mas também dos agentes vendedores e dos consumidores livres. Os agentes vendedores devem garantir suas vendas com lastros formados por garantias físicas de usinas e por contratos de compra de energia elétrica. Já os consumidores livres devem possuir contratos de compra para suprir a totalidade de suas cargas. De acordo com as Regras de Comercialização de Energia Elétrica, Versão 2010, a apuração de lastro de venda de energia para os agentes vendedores é realizada mensalmente considerando os recursos (garantia física + contratos de compra) e os requisitos (contratos de venda) dos últimos doze meses. A apuração da insuficiência de cobertura contratual dos consumidores livres e especiais também é realizada com base nos recursos (contratos de compra) e nos requisitos (consumo) dos últimos doze meses. Assim, tanto para os agentes vendedores quanto para os consumidores livres utiliza-se uma média móvel considerando os últimos doze meses. Já a apuração da insuficiência de cobertura contratual dos agentes de distribuição considera os recursos (contratos de compra de energia) e requisitos (consumos) dos últimos doze meses do ano civil. Essa apuração em especial, somente é realizada no mês de janeiro do ano subseqüente. A não comprovação de cobertura do consumo, para os agentes de consumo, ou do lastro, para os agentes vendedores, os sujeita ao pagamento de penalidades. A verificação do lastro e da insuficiência de cobertura contratual tem previsão desde 1998, com a emissão da Resolução n.º 249. No entanto, somente após a publicação das Resoluções n.º 91/2003 e 352/2003 é que a sistemática de apuração e aplicação foi instituída. A Figura 5 apresenta um histórico de regulamentos que dizem respeito ao processo de apuração e aplicação de penalidade, juntamente com as características básicas do processo. Tabela 2– Histórico de regulamentos relativos à penalidade Limite Contratação e Lastro para Venda de Energia Penalidade Período de Apuração Legislação 85% de Limite de contratação com consumidor final 100% de lastro de venda até ago/2003 1,15VN – Preço MCP Trimestral (últimos 12 meses) Resolução ANEEL n° 249/1998 - - 95% de Limite de contratação com consumidor final 100% de lastro de venda set/2003 a dez/2004 Máx (PMAE;VN) Mensal Decreto n° 4.562/2002 Resoluções ANEEL n°91/2003 e n° 352/2003 100% A partir de jan/2005 Máx (PLD;VR) Mensal(* ) (últimos 12 meses) Decreto n° 5.163/2004 Resolução ANEEL n.° 109/2004 (*) No caso dos agentes de distribuição, apura-se em Janeiro de cada ano considerando os últimos 12 meses (ano civil) Tendo em vista que o foco deste trabalho é o estudo do desempenho dos agentes de distribuição, faz-se necessário o aprofundamento do cálculo da insuficiência de cobertura contratual e da penalidade atribuída a esses agentes. A equação (2-2) define o nível de contratação dos agentes de distribuição “d”, no ano de apuração “a”: í _ çã , = ∑ , ∑ , (2-2) Onde: m = índice que representa os meses de janeiro a dezembro do ano de apuração “a”; a = ano de apuração; Contratosd,m = representa o somatório de todos os montantes de energia contratados líquidos da distribuidora “d”, no mês “m”; Requisitod,m= representa a consumo líquido na CCEE da distribuidora “d”, no mês “m”, que contempla o mercado cativo + perdas técnicas e comerciais + perdas na rede básica (linhas de transmissão); A equação (2-3) determina o valor da penalidade a ser paga pelo agente de distribuição “d”, referente ao ano de apuração “a”, sem as interferências do resultado do MCSD Ex-post e da inclusão das exposições involuntárias. _0 , = 0; ∑ , − ∑ , ∗ ( _ ; ) (2-3) Onde: Penalidade_0d,a = Valor da penalidade calculada não ajustada, do agente de distribuição “d”, no ano de apuração “a”; e PLD_DISa = PLD médio ponderado pela carga mensal dos últimos 12 meses, calculado para fins de definição do preço das penalidades aplicáveis aos agentes de distribuição. Já a equação (2-4) determina o valor da penalidade contemplando o ajuste dos volumes de energia de exposições involuntárias e dos volumes de energia recebidos do processamento do MCSD Ex-post. _1 , = 0; ∑ , − ∑ , ∗ ( _ ; ) (2-4) Onde: Penalidade_1d,a = Valor da penalidade calculada com ajuste dos volumes de energia de exposições involuntárias e dos volumes de energia recebidos do processamento do MCSD Ex-post, do agente de distribuição “d”, no ano de apuração “a”. , = , + _ , + _ _ , (2-5) Onde: Exp_Invd,m = volume de energia elétrica em MWh reconhecido pela ANEEL a título de exposição involuntária; e MCSD_Ex_postd,m = volume de energia elétrica em MWh recebido no processamento do MCSD Ex-post, para fins exclusivamente de mitigação das penalidades dos agentes de distribuição. Como pode ser constatado na equação (2-4), além dos volumes contratados de energia elétrica são consideradas como recursos para fins de comprovação de 100% de contratação as exposições involuntárias reconhecidas pela ANEEL e a energia recebida mediante o processamento do MCSD Ex-post, ferramentas disponíveis para os agentes de distribuição mitigarem as penalidades. Os valores de exposição involuntária resultam de compras frustradas nos leilões de energia, bem como de outras exposições que os agentes de distribuição venham a ter sem que tenham sido decorrentes da sua gestão. Esses valores de exposição involuntária devem ser reconhecidos pela ANEEL, mediante ato administrativo específico. No documento Análise do desempenho dos agentes de distribuição diante das regras de contratação de energia elétrica instituídas pelo modelo do setor elétrico (páginas 33-37)