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Pensando como o MEC

No documento Revista Estudos nº 29 | ABMES (páginas 82-85)

De tudo quanto se acha explícito e implícito no Decreto n.º 3.860, percebem-se dimensões novas de comprovação da excelência do ensino, antes não mencionadas na legislação, especialmente:

• quanto aos cursos, no que se refere aos resultados do Exame Nacional de Cur- sos e no que tange à avaliação das Con- dições de Oferta.

A instituição e seus cursos são pois, agora, postos à análise do MEC para caracterizar a excelência do ensino. Nem só os cursos, mas também a instituição. Não basta, assim, os cursos de um centro obterem bons resultados no Exame Nacional de Cursos e bons conceitos na avaliação das Condições de Oferta, visto que o inciso II, do artigo 17 do novo Decreto exige outros elementos para além desses conceitos. Juntan- do todas as alíneas desse inciso II, pode-se dizer que são requeridos das instituições – não importando se- rem universidades, centros ou outras entidades educa- cionais – alguns novos requisitos, tais como:

• independência entre entidade mante- nedora e instituição mantida, seja pela “autonomia” da instituição mantida em relação à sua mantenedora seja pelo do- mínio, nos colegiados, de integrantes da instituição mantida (professores, alunos, funcionários e comunidade);

• existência de um plano de desenvolvi- mento institucional, devidamente auto- avaliado e corrigidos eventuais desvios de execução;

• sintonia da instituição mantida com as redes e sistemas de informação;

• adequação dos procedimentos de avali- ação da aprendizagem;

• programas e ações de integração social; • produção científica, tecnológica e cul-

tural;

• condições de trabalho docente (instala- ções e regime de contratação);

• qualificação docente (titulação).

Interessante notar que, no artigo 22, do Decreto n.º 3.860, considera-se que as universidades, assim reconhecidas antes da vigência da LDB, têm assegu- rado o prazo de oito anos para o cumprimento dos incisos II e III do artigo 52 da Lei. Sendo que os cen- tros universitários foram criados a partir da vigência da LDB, cabe considerar essa falta de isonomia apontada pelo Decreto. É dos centros universitários que se parece exigir mais do que das universidades criadas antes da LDB.

É importante também refletir, na tentativa de encontrar algo positivo no Decreto n.º 3.860, o fato de o mesmo colocar em condições de igualdade de aferição da qua- lidade dos cursos, o Provão e a avaliação das Condi- ções de Oferta. Menos mal, portanto. Será importante, todavia, que a mídia consiga transmitir este ponto à so- ciedade brasileira, ela que tem primado por dar ênfase aos resultados do ENC e silenciado em relação aos conceitos resultantes da Avaliação das Condições de Oferta.

A ninguém é lícito desconhecer o trabalho árduo, fe- cundo mesmo, das Comissões de Especialistas do MEC. Entretanto, alguns aspectos são dissonantes no esforço por elas realizado, como bem acentua Raulino Tramontin em trabalho apresentado na ABMES, em julho corrente, publicado nesta edição. Dele, tomo em- prestado observações dos procedimentos de algumas dessas Comissões:

• estabelecimento, a seu critério, de pa- drões mínimos de qualidade dos cursos. Algumas delas têm mudado com muita facilidade e freqüência tais padrões, bas- tando consulta sistemática à Internet; • aplicação de padrões de qualidade de

forma individualizada e carreirocêntrica, importando muito pouco a natureza da IES ( universidade, centro universitário ou outra modalidade organizacional); • desconhecimento do Parecer n.º 1.070/

2000 e/ou pouca aplicação de suas reco- mendações. Apesar de homologado pelo Senhor Ministro, esta norma apre- senta-se distorcida na prática ministerial; • exigência de pesquisa e produção cientí-

fica, extrapolando o que prevê a lei; • interpretação inadequada de itens espe-

cíficos da biblioteca – acervo bibliográfi- co, assinatura de periódicos e volume de livros por aluno matriculado;

• visão corporativa;

• descompasso do processo de avaliação entre as fases autorização e reconheci- mento de cursos;

• preenchimento burocrático dos formulá- rios de avaliação, desconsiderado-se es- forços empreendidos pela instituição educacional com um todo.

Desejo aqui expender um conceito muito pessoal em relação ao parecer da ilustre Conselheira Silke Weber* a respeito do inciso I, do artigo 52, da LDB, o qual passou a exigir três linhas de pesquisa e de produ- ção científica consolidadas e/ou três mestrados devi- damente credenciados pela Capes.

O parecer estimulou as instituições educacionais a im- plantarem mestrados acadêmicos tradicionais sem as condições para tal ou sem que tenham merecido me- lhor consideração por parte da Capes. Dia virá em que se poderão desenvolver no país mestrados de docência, visando a melhorar e aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem e, conseqüentemente, o traba- lhos da sala-de-aula. Dia virá em que a Capes conside- rará os esforços das instituições educacionais, da mes- ma forma como acolheu mestrados e doutorados reali- zados por sérias instituições de países do exterior, mos- trando, inclusive, soluções para a consolidação de estu- dos dos professores que cursaram mestrados naquelas instituições.

* Parecer CES-CNE n.º 533, de 8 de outubro de 1997 (www.mec.gov.br/cne) que deu origem à Resolução CES-CNE n.º 2, de 7 de abril de 1998. (www.abmes.org.br).

ções públicas e particulares; b) o sentido autoritário com que se pretende exigir a qualidade do ensino ou a excelência de parte das instituições particulares e, so- bremaneira; c) a declarada desconfiança com que são tratadas as instituições privadas de ensino superior. O parágrafo único do artigo 20 e o artigo 21, do Decre- to n.º 3.860 demonstram o tratamento diversificado entre instituições educacionais públicas e privadas. Por todo o teor do Decreto, percebe-se o tom intimidatório e autoritário de quem o formulou, visando a alcançar alguma instituição educacional para servir de ponte na mídia e para justificar ameaças anteriores. Im- plicitamente, quer o decreto alcançar uma instituição para puni-la exemplarmente. Esqueceu-se o caráter educativo, característica precípua da avaliação de quali- dade, preferindo-se o temor e a fórmula única de proce- dimento na avaliação das instituições educacionais. É tamanha a desconfiança de procedimentos em rela- ção às instituições particulares que se chega a exigir termo de compromisso por parte das mesmas, como se tudo o que fizessem não passasse de mero mascaramento ou engodo.

Pensando como o Mundo Empregador

No documento Revista Estudos nº 29 | ABMES (páginas 82-85)