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2. COMO PENSAR?

2.1 Como pensar, segundo Tiburi

2.1.1 Como pensar o pensamento?

Tiburi defende que a filosofia como um pensamento em ação; uma busca pela verdade através do conceito. A filósofa afirma que “a filosofia é “pensar o pensar, mas pensar para ir além dele. Pensar o pensar para deixar de pensar? Não, mas para atingir sua ordem mais funda.” (TIBURI, 2008. p. 165). A busca da filosofia, segundo Tiburi, seria portanto a busca pelo mais profundo pensamento, por aquilo que ainda não foi descoberto e que ainda pode ser vivido e acionado. A filosofia, neste sentido, é a possibilidade de reinvenção do mundo.

Tiburi entende o pensar como um fato lúdico. Assim como a atividade lúdica, a atividade do pensamento também é um movimento que tem como objetivo produzir prazer, quando de sua execução causa a descoberta, a imaginação, o divertimento do praticante. Neste processo é desenvolvido várias formas de pensamento. O lúdico passa a ser encarado como um ingrediente fundamental no processo para se pensar o pensamento e arriscar a pensar sobre algo, sobre si, sobre o mundo.

“Aquele que pensa, num primeiro momento, não visa a nada, apenas deixa acontecer. Mas quando entra em cena a atenção, não é a negação do lúdico que veio impor a dureza do trabalho, sim, o afundamento no lúdico que permite o devir do pensar. O lúdico não é apenas o jogo, a estratégia, a brincadeira, mas a tentativa, a busca, a possibilidade de ir por um lado ou outro, bem como a capacidade de representar, de teatralizar.” (TIBURI, 2008, p. 166).

A descoberta de métodos relativos ao pensar passam, portanto, pelo resgate e identificação do lugar do lúdico no pensamento. Dele surgem vários “pontos” por onde podemos iniciar outros processos de pensamento. Tiburi diz: “Pensar é saber pensar, mas saber pensar só ocorre quando uso o pensar para além dele mesmo, para além da autoconsciência, como algo que pode alcançar o que está fora do pensamento.” (TIBURI, 2008. p. 171). Quando usamos o pensamento não só para a nossa própria descoberta, ou para

descobrir algo que nos interessa, mas para a descoberta do outro e para o outro, estamos acionando a função do pensamento. O método para se pensar, neste sentido, faria do pensamento um método não egoísta. Por isso, destaca Tiburi que o pensar deve se desenvolver em conjunto. É no compartilhamento, na troca com o outro que descobrimos novas soluções, novos caminhos. Neste sentido, assim como a felicidade, aponta Tiburi, o pensamento é uma ação que se dá coletivamente.

Aqui poderíamos invocar a famosa frase da famosa canção “Wave”, de Tom Jobim (1967): “é impossível ser feliz sozinho”. O pensamento também não é “feliz” quando impedido de ter contato com outros pensamentos. O egoísmo, neste sentido, seria um anti- método reflexivo, pois impediria o contato com o outro através do pensamento. Se construímos métodos de pensamento a partir da troca, a falta dela resultaria na falta do mesmo. Pensar o pensamento seria, portanto, um resgate da coletividade, da solidariedade. Pensar é ser solidário ao pensamento do outro para que se possa construir um novo pensamento a partir desse encontro.

Tiburi acredita na filosofia como construção de pontes, ligando o início de um pensamento ao que se deseja encontrar como resposta. Entendendo o pensamento como a travessia, a ponte seria o método. E como construir essa ponte? A autora diz: “Para construir uma boa ponte é preciso conhecer os materiais, mas é necessário também um conhecimento prévio sobre a necessidade da ponte.” (TIBURI, 2008. p. 178). Qual é a necessidade da “ponte”? pergunta Tiburi. A ponte é necessária para ligar dois pontos, um lugar ao outro, além de possibilitar que as pessoas passem sobre ela e cheguem a um outro lugar. Este outro lugar não precisa ser um destino final, mas um novo lugar e uma nova experiência para se estar.

Entendendo a ponte como método, e o método como um exercício de pensamento, Tiburi propõe que a questão do pensar passe não somente pela questão sobre entender o que é pensar, mas como podemos pensar. Saber pensar implica, para a autora, a chance de podermos nos comunicar e, com isso, exercitar o pensamento de modo coletivo. Essa coletividade é base fundamental para aprendermos e ensinarmos a pensar. A necessidade do método está em saber como dar início ao pensamento, e dele obter experiências e aprendizados, ao longo da procura por uma resposta. Tiburi, nesse sentido, invoca a multiplicidade de pensamentos a partir da filosofia enquanto método. E diz:

“A filosofia pode realizar-se de muitos modos. O importante, o que primeiro precisamos saber, é que ela é a aventura do pensamento que não se deixa contentar com o mundo tal como ele está disponível a nós. Por isso, a filosofia é viagem, dirão tantos, mas, sobretudo, ela começa com o passeio, caminhar lúdico e sem pretensões em que o olhar simplesmente vê.” (TIBURI, 2008. p. 182).

A filosofia seria, nesse sentido, o estranhamento sobre o que se vê. E neste passeio que ela nos disponibiliza, podemos desenvolver um olhar mais curioso em direção à coisas que se apresentam diante de nós, com o desejo de ultrapassar o vazio das coisas, que nada mais seria que o encontro com algo que já é marcado por uma experiência única possível. O importante, portanto, passa a ser a tomada de consciência sobre esse encontro e, a partir dele, tomar a iniciativa de sair do nosso comodismo em direção à busca, e no caminho mesmo que encontremos obstáculos, fazermos deles uma experiência rica e de aprendizado.

Tiburi complementa dizendo que “só vendo e ouvindo é que nos tornaremos indivíduos capazes de pensar de modo mais intenso, porque então teremos sentido” (TIBURI, 2008, p. 184). Entende-se, diante dessa afirmação, que a filosofia para a autora é uma espécie de caminho, e é preciso mais que olhar para buscar o seu destino, é preciso também ouvir, a nós mesmos, e ao outro. Uma troca. O exercício de ouvir seria importante para que sejamos capazes de imaginar, e da imaginação possibilitar nascimentos de novos pensamentos. O ouvir também nos ensina a nos doar e atentar às coisas. Segundo Tiburi, este é um método indispensável para aqueles que tem dificuldades de perceber e se relacionar com o mundo. Ver e imaginar, ouvir e se atentar seriam considerados elementos indispensáveis para se pensar.