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Peptídeos antimicrobianos e sua participação em outras doenças

Uma variedade de doenças da pele humana, como psoríase e dermatite atópica,têm demonstrado expressão ou síntese anormal de peptídeos antimicrobianos (Izadpanah, Gallo67, 2005). Alguns fatores físicos podem facilitar a colonização de S. aureus em casos de dermatite atópica, incluindo a ruptura do extrato córneo, reduzido teor de lipídios da pele, pH mais alcalino da superfície da pele e aumento na deposição de fibronectina e fibrinogênio. No entanto, os pacientes com psoríase ou dermatite atópica, têm a função de barreira da pele alterada. Porém, pacientes que são psoríaticos são mais resistentes a infecções de pele do que pacientes saudáveis. Cerca de 30% dos pacientes que apresentam dermatite atópica dispõem de infecções bacterianas e viróticas na pele, comparados a apenas 7% de pacientes com psoríase (Grice et al.53, 1975).

A suscetibilidade de pacientes com dermatite atópica para infecções foi elucidada por Ong et al.100 (2002), quando descobriram que esses indivíduos apresentavam produções de LL-37 e hBD 2 suprimidas durante a inflamação. Foram avaliadas as expressões das proteínas LL-37 e hBD 2 em amostras de biópsias realizadas da pele de pacientes com psoríase, pacientes com dermatite atópica e pacientes saudáveis. Em todas as análises realizadas foram encontradas abundante presença tanto de LL-37 como de hBD 2 na epiderme

de todos os paciente que apresentavam psoríase. Ao contrário de pacientes com dermatite atópica, que apresentaram baixas evidências desses peptídeos, tanto em lesões cutâneas agudas como crônicas. A combinação de LL-37 e hBD 2 apresentou uma atividade antimicrobiana sinergética, efetivamente matando S. aureus. Nomura et al.98 (2003) também compararam lesões cutâneas de paciente tanto com psoríase como com dermatite atópica e confirmaram as altas concentrações de peptídeos no filtrado inflamatório de pacientes psoríaticos, e em pacientes com dermatite atópica baixa expressão de catelicidina e hBD 2.

A pele de pacientes com psoríase responde da mesma forma como qualquer outro paciente saudável a inflamações, sintetizando maior quantidade de peptídeos antimicrobianos, mas a pele de pacientes com dermatite atópica não. Essa incapacidade em sintetizar peptídeos antimicrobianos pode ser motivada pela supressão causada pelas citocinas para Th2, as quais apresentam-se em altos níveis na dermatite atópica, já que os queratinócitos em cultura parecem perder a habilidade de aumentar a expressão de hBD 2 quando expostos a IL-4 ou IL-13.

Além do mais, os peptídeos que são normalmente expressos nos queratinócitos pela inflamação apresentam uma relevante atividade antimicrobiana contra S. aureus, vírus herpes simples e vírus vaccinia (Howell et al.66, 2004). Como esses organismos são particularmente patogênicos para pacientes com dermatite atópica, a deficiência de LL-37 e hBD 2 nos pacientes que possuem menor resistência a infecções dessa origem, mostra que a ausência de peptídeos pode explicar a susceptibilidade desses pacientes com dermatite atópica à infecções. Além de sua atividade antimicrobiana, pode-se ressaltar a atividade antiviral dos peptídeos antimicrobianos. Tanto a HNP1 como a hBDs 2, 3 e a LL-37 apresentam atividade antiviral contra o vírus da Imunodeficiência (HIV-1) (Chang et al.32, 2005; Seidel et al.117, 2010; Barlow et al.9, 2014). A hBD 3 interage com importantes glicoproteínas presentes no HIV-1, como a gp120, durante a infecção e ambos, tanto a hBD 2 como a hBD 3, promovem uma supressão da quimiocina C-X-C, ligante do receptor 4 envolvido no processo de infecção do HIV-1 (Seidel et al.117, 2010).

Barlow et al.9 (2014) envidenciaram a proteção celular causada pela LL-37 contra a ação do HIV-1 in vitro, além de sua capacidade de suprimir a atividade de transcrição reversa do HIV-1. Porém, ainda existem várias controversas em relação à expressão de defensinas e a infecção por HIV. A partir de um estudo coorte, Hardwick et al.57 (2012) avaliaram pacientes portadores do HIV-1. Altos níveis de hBD foram encontrados, contudo esses níveis não resultaram em baixa carga viral e não melhoraram a resposta imunológica dos pacientes. Na verdade, o inverso foi observado sugerindo que as propriedades imunomodulatórias das

defensinas podem ser subvertidas durante a infecção do HIV-1. Uma explicação para esse resultado aparentemente paradoxal foi que essas altas concentrações de hBD podem ter promovido um aumento no recrutamento de células que expressam o CCR6, os quais são altamente tolerantes à infecção por HIV-1, amplificando assim o foco de infecção de HIV-1.

Além da sua atividade contra o HIV-1, a HNP 1 também apresentou uma relevante atividade antiviral contra o adenovírus, sorotipo 5, sendo capaz de ligar-se ao capsídeo desse vírus (Smith, Nemerow120, 2008). Hazrati et al.58 (2006) também enfatizaram a atividade antiviral das HNP 1-3 só que no combate ao vírus herpes simples-1, por intermédio de sua ligação à glicoproteína B. Assim como sua capacidade em inibir a replicação do vírus Influenza A, apontada por Salvatore et al.114 (2007). Também foi identificada propriedade da LL-37 contra o vírus Influenza A, ligando-se à membrana até o rompimento (Tripathi et al.130, 2013).

Alguns estudos avaliaram a presença de peptídeos em pacientes portadores da síndrome de Sjögren, uma doença auto-imune de causa desconhecida que afeta as glândulas lacrimais e salivares causando secura nos olhos e boca (Peluso et al.105, 2007). A alta incidência tanto de cárie quanto de doença periodontal nesses pacientes pode ocorrer em virtude da redução dos níveis de peptídeos antimicrobianos na cavidade oral. Em algumas terapias, como o uso de pilocarpina para auxiliar na normalização do fluxo salivar, pode regularizar a concentração dessas proteínas (Peluso et al.105, 2007).

Peluso et al.105 (2007) investigaram o efeito da pilocarpina sobre os peptídeos salivares e no perfil das proteínas em pacientes portadores da síndrome de Sjögren. Após análise, foi encontrado que, previamente à administração de pilocarpina, as amostras de pacientes com síndrome de Sjögren apresentavam baixos ou até mesmo níveis indetectáveis de proteínas salivares. Após administração de pilocarpina, houve um aumento na expressão de cerca de 30% das proteínas, atingindo valores similares aos observados no grupo de pacientes saudáveis. A pilocarpina praticamente restabeleceu os níveis de proteínas no pacientes com síndrome de Sjögren. Foram detectados altos níveis de HNP 1 e de hBD 2 na saliva de pacientes que apresentavam a síndrome de Sjögren, bem como foi notada uma correlação entre a presença desses peptídeos e a presença de inflamação oral nesses indivíduos.

Kawasaki et al.70 (2003) também relataram uma significante expressão gênica de hBD 2 em células do tecido epitelial de pacientes portadores da síndrome de Sjögren. Esses resultados enfatizam que a hBD 2 pode ser considerada um indicador de inflamação presente nos pacientes portadores da síndrome de Sjögren, podendo resultar em altos níveis de citocinas como IL-1, IL-6 e TNF-α (Fox et al.49, 1994; Tishler et al.128, 1999).

Nos mamíferos, em resposta a uma infecção, diferentes peptídeos antimicrobianos são sintetizados simultaneamente. Mesmo com o seu amplo espectro, cada peptídeo possui sua especificidade, direcionada a determinados fungos, vírus e bactérias positivas ou gram-negativas. A ausência de um peptídeo não será imediatamente letal mas pode manifestar um defeito característico na resposta antimicrobiana.

3 PROPOSIÇÃO

Os objetivos deste estudo foram:

 Investigar a influência do tabagismo sobre os níveis dos peptídeos antimicrobianos, HNP 1-3 e LL-37, no fluido crevicular gengival de pacientes com periodontite crônica.

4 MATERIAL E MÉTODO

O protocolo deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP sob o número CAAE 01394712.5.0000.5416 (Anexo A).

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