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Vimos uma condição para a paracompacidade de produtos caixa enume- ráveis de espaços compactos sob a Hipótese do Contínuo. Agora veremos algumas condições sob hipóteses mais fracas.

Podemos então trabalhar com cardais intermediários entre ℵ0 e c, os quais

se tornam trivialmente iguais a c sob a Hipótese do Contínuo. É comum referir a tais cardinais por pequenos cardinais. Neste texto, trabalharemos com dois desses cardinais.

Definição 3.3.1. Sejam f, g : ω −→ ω. Dizemos que: • f ≤∗ g se {n ∈ ω : f (n) > g(n)} é finito;

Definição 3.3.2. Seja W ⊂ ωω uma família de funções de ω em ω. Dizemos que W é:

• ilimitada se ∀f ∈ ωω, ∃g ∈ W, g 6≤f (caso contrário, W é dita limi-

tada);

• dominante (sobre ωω) se ∀f ∈ ωω, ∃g ∈ W, f ≤g.

Com esses conceitos definimos dois cardinais: • b = min {|W | : W é ilimitado} e

• d = min {|W | : W é dominante}

Outro conceito importante para a aritmética cardinal que usaremos é o das escalas.

Definição 3.3.3. Uma λ-escala é uma sequência {fα ∈ ωω : α < λ} domi-

nante e estritamente crescente considerando a ordem ≤∗.

Apresentamos então algumas propriedades dos cardinais b e d: Proposição 3.3.4.

1. ℵ1 ≤ b ≤ d ≤ c.

2. b é um cardinal regular.

3. b = d se e somente se existe uma b-escala.

Demonstração. 1. Como d representa uma cardinalidade de um subcon- junto de ωω, temos que d ≤ |ωω| = 2ℵ0 = c. Além disso, pela de-

finição temos que toda família dominante é ilimitada, logo b ≤ d. Por fim, vamos mostrar que nenhuma família enumerável é ilimitada, e portanto ℵ1 ≤ b. Para isso, vamos usar o argumento da diago-

nal. Seja {rn : n ∈ ω} ⊂ ωω. Definimos então s : ω −→ ω dada

por s(i) = P

n<irn(i). Assim, temos ∀n ∈ ω, rn ≤ ∗

s, e portanto {rn : n ∈ ω} é uma família limitada, como queríamos.

2. Seja {rα ∈ ωω : α < b} uma família ilimitada. Vamos construir recur-

sivamente uma família {sα ∈ ωω : α < b} ilimitada bem ordenada pela

ordem ≤∗ e de cumprimento b. Começamos com s0 = r0. Dado α < b,

supomos rβ construído para todo β < α. Como a família (rβ + sβ)β<α

tem comprimento α < b, tal família é limitada, portanto podemos es- colher sαcomo a função que limita tal família. Concluída a construção,

temos que o fato de (rα)α<b ser ilimitada garante que (sα)α<b também o

seja. Qualquer subconjunto cofinal de S = {sα : α < b} também será

ilimitado, portanto precisa ter cardinalidade b, logo cf(b) = cf(S) = b 3. Se existe uma b-escala, esta é uma família dominante de tamanho b,

logo pelo item 1 temos b = d. Por outro lado, se b = d, então existe uma família dominante de tamanho b, a partir da qual podemos construir uma b escala usando a recursão da demonstração do item 2.

Não trabalharemos com o Axioma de Martin (MA) neste texto, porém é um resultado conhecido que MA implica b = c (para este e outros resultados sobre MA, consultar [Jec03]). Note que a proposição 3.3.4 possui a seguinte consequência direta: b = c implica que c é regular e que existe uma c-escala. Por sua vez, a hipótese de que existe uma c-escala e c é regular implica que d = c. No entanto a reciproca não é verdadeira, uma vez que d = c não implica necessariamente a existência de alguma λ-escala, pois d = c junto com a inexistência de uma c-escala é consistente com ZFC [Hec74].

Teorema 3.3.5. Se Xi é primeiro-enumerável para todo i ∈ ω, então ∇i∈ωXi

é um Pb-espaço.

Demonstração. Seja q(p) ∈ ∇i∈ωXi. Sejam κ < b um ordinal e Uα =

q Q

i∈ωU α

i  uma vizinhança aberta básica de q(p) para cada α < k. Va-

mos mostrar que T

α<κU

α é vizinhança de q(p).

Fixemos para cada n ∈ ω uma base local Vij : j ∈ ω de pi ∈ Xi

tal que ∀j ∈ ω, Vij+1 ⊂ Vij. Para cada α < κ, podemos construir uma função fα : ω −→ ω tal que para cada i ∈ ω temos V

fα(i)

i ⊂ U α

i . Assim,

temos para cada α < κ que qQ

i∈ωV fα(i)

i



W = {fα : α < κ} ⊂ ωω . Como |W | = κ < b, temos que a família W

de funções não é dominante. Então existe uma função g : ω −→ ω tal que ∀f ∈ W, f ≤∗ g. Assim, temos que q(p) ∈ qQ

i∈ωV g(i) i  ⊂ T α<κU α, pois

para cada α < κ, vale n

i : Vig(i)6⊂ Uα i

o

⊂ {i : fα(i) < g(i)} ,

o qual é finito, o que conclui a demonstração.

Corolário 3.3.6. Se b = c, Xi é compacto, Hausdorff e primeiro enumerável

para todo i ∈ ω, então i∈ωXi é paracompacto.

Demonstração. Como cada Xi é compacto Hausdorff e primeiro enumerável,

pelo Teorema de Arhangelskii (Teorema 1.2.21), temos que w(Xi) ≤ |Xi| ≤

2ℵ0 = c. Note que

L (∇i∈ωXi) ≤ w (∇i∈ωXi) = w (i∈ωXi) ≤

Y

i∈ω

w(Xi) ≤ cω = c

Aplicando o teorema 3.3.5 junto com o lema 1.2.28, obtemos que ∇i∈ωXi é

paracompacto. Concluímos aplicando o nabla lema (teorema 3.1.5).

Podemos reduzir a hipótese do resultado anterior para d = c. A demons- tração, por Judith Roitman [Roi79] utiliza a seguinte propriedade do cardinal d (a versão que usaremos está em [Wil84], mas é equivalente à de Roitman): Lema 3.3.7. Sejam W ⊂ ωω e A ⊂ [ω]ω tais que |A| + |W | < d. Então para

cada f ∈ W e cada A ∈ A, existe uma função g : ω −→ ω tal que o conjunto {n ∈ A : f (n) < g(n)} é infinito.

Demonstração. Para cada par (f, A) ∈ W × A, definimos a função fA ∈ ωω

dada por fA(n) =

Pkn

i=0f (i) para cada n ∈ ω, onde kn= min {j ∈ A : n < j}.

Definindo WA = {fA : f ∈ W, A ∈ A}, como |WA| < d, podemos en-

contrar uma g ∈ ωω crescente tal que g 6≤f

A para todo fA ∈ WA. Como

para cada n ∈ ω temos que n ≤ i ≤ kn e fA(n) < g(n) implicam que

Teorema 3.3.8. Se d = c , Xi é Lindelöff, regular e primeiro-enumerável

para todo i ∈ ω, então ∇i∈ωXi é ultraparacompacto.

Demonstração. Inicialmente, da mesma maneira que no corolário 3.3.6, te- mos que |Xi| ≤ c para cada i ∈ ω, do que concluímos que |∇i∈ωXi| ≤ c.

Portanto podemos escrever ∇i∈ωXi = {xα : α < c}. Além disso, como cada

Xi é primeiro enumerável, para cada xi ∈ Xi temos uma base local decres-

cente {vxi,n : n ∈ ω}. Dada um ponto x = (xi)i∈ω ∈ i∈ωXi e uma função

f : ω −→ ω qualquer, denotaremos ux,f = ∇i∈ωvxi,f (i). Note que esta notação

tem a seguinte propriedade: dados x, y ∈ ∇i∈ωXi e f, g : ω −→ ω, temos:

i ∈ ω : vxi,f (i)∩ vyi,g(i) = ∅

≥ ℵ0 ⇐⇒ ux,f∩ uy,g = ∅

Seja U uma cobertura aberta de ∇i∈ωXi. Vamos construir um refinamento

U0 = {Uα : α < c} de U dois-a-dois disjunto (a menos de repetição). Como

∇i∈ωXi é regular e P-espaço, escolhendo V ∈ U tal que x0 ∈ V , podemos

construir uma sequência estritamente crescente (pela ordem termo a termo, como definida na observação 4.1.4 {f0,n∈ ωω : n ∈ ω} tal que

T

n∈ωux0,f0,n

seja um aberto fechado contido em V . Definimos U0 =

T

n∈ωux0,f0,n.

Para algum α < c, suponhamos Uβ já construído para todo β < α. Se

xα ∈

S

β<αUβ, definimos Uα = Uβ, para algum β < α tal que xα ∈ Uβ.

Suponhamos agora o contrário. Para cada β < α, como Uβ é fechado e

∇i∈ωXi é regular, podemos encontrar uma função gβ : ω −→ ω tal que

Uβ∩uxα,gβ = ∅. Como a sequência (fβ,n)n∈ω é crescente para β < α, podemos

encontrar um natural nβ tal que uxα,gβ ∩ uxβ,fβ,nβ = ∅. Pela propriedade que

citamos da notação utilizada, temos que o conjunto Aβ =

n

i ∈ ω : v(xα)i,gβ(i)∩ v(xβ)i,fβ,nβ(i) = ∅

o

seja infinito. Pelo lema 3.3.7 junto com a hipótese que d = c, podemos encontrar uma função h : ω −→ ω tal que para cada β < α o conjunto {j ∈ Aβ : gβ(j) < h(j)} é infinito. Pela notação utilizada, temos que uxα,h∩

Uβ = ∅ para cada β < α. Escolhemos então V ∈ U tal que xα ∈ V e

de funções {hn∈ ωω : n ∈ ω} tal que h0 = h e U =

T

n∈ωuxα,hn ⊂ V seja um

aberto-fechado. Definimos então Uα = U e assim concluímos a construção

por indução.

Corolário 3.3.9. Se d = c , Xi é compacto, regular e primeiro-enumerável

para todo i ∈ ω, então i∈ωXi é paracompacto.

No caso intermediário b = d, o seguinte teorema de van Douwen [vD80] nos mostra que uma hipótese suficiente para obter a paracompacidade de produtos caixa enumerável é a metrizabilidade e compacidade dos fatores. Teorema 3.3.10. O produto caixa de uma quantidade enumerável de espaços metrizáveis compactos é paracompacto se b = d.

Este teorema é uma simples consequência do seguinte lema, demonstrado, por exemplo, por Roitman em [Roi11]:

Lema 3.3.11. Suponha b = d. Então o produto nabla enumerável de espaços metrizáveis compactos é b-metrizável.

Demonstração. Pelo item 3 da proposição 3.3.4, existe uma família {fα∈ ωω : α < b}

a qual é uma b-escala. Para cada q(x) ∈ ∇i∈ωXi e cada α < b, definimos

uq(x),α= \ n∈ω ∇i∈ωBi  xi, 1 2(n+fα(i)) 

onde Bi(xi, r) é a bola de centro xi e raio r em Xi. Temos então que Bq(x) =

uq(x),α : α < b é a base local de q(x) a qual testemunha que ∇i∈ωXi é um

espaço b-metrizável.

Continuando com os teoremas sobre a paracompacidade de produtos caixa utilizando hipóteses sobre pequenos cardinais, apresentamos um teorema de Scott Williams [Wil84], originalmente demonstrado através de uniformidades. No entanto, seguiremos a demonstração de Judith Roitman em [Roi11], a qual utiliza submodelos elementares. Ambas as demonstrações se baseiam em construir uma base para ∇i∈ωXi que testemunhe a ω1-metrizabilidade de

Teorema 3.3.12. Suponha d = ℵ1. Se Xi é um espaço compacto Hausdorff

com w(Xi) ≤ ℵ1 para cada i ∈ ω, então i∈ωXi é paracompacto.

Demonstração. Vamos mostrar que ∇i∈ωXi é ω1-metrizável, de maneira que

os teoremas 3.1.5 e 1.2.31 completam a demonstração.

Primeiramente, usamos a hipótese w(Xi) ≤ ℵ1 para selecionar uma base

Ci enumerável para cada i ∈ ω. Vamos construir, para cada i ∈ ω, uma

sequência crescente (Ci,α)α<ω1 de subconjuntos enumeráveis de Ci. Construi-

remos tal sequência de maneira que para cada α < ω1, Ci,α seja base de um

subespaço Xi,α ⊂ Xi, de maneira que Xi =Sα<ω1Xi,α.

Para construir (Ci,α)α<ω1, vamos usar o conceito de submodelos elemen-

tares. Primeiramente, consideramos H(ω2) a coleção de todos os conjuntos

cujo fecho transitivo possui cardinalidade menor que ω2. Pelo Teorema de

Löwenheim–Skolem, podemos construir (Mα)α<ω1 uma sequência contínua

crescente de submodelos elementares enumeráveis de H(ω2), de maneira que

∀i ∈ ω, Ci ∈

S

α<ω1Mα. Definimos então Ci,α= Ci∩ Mα.

Para cada Ci,α, definimos Xi,α =S Ci,α. Como (Ci,α)α<ω1 é uma sequência

crescente, (Xi,α)α<ω1 também o é. Ci ∈

S

α<ω1Mα garante que

S

α<ω1Xi,α = Xi.

Como Ci,αé uma base enumerável para Xi,α, temos que Xi,α é metrizável,

pelo Teorema da metrização de Urysohn (veja, por exemplo, [Eng89]). Como supomos d = b = ℵ1, pelo lema 3.3.11, temos que ∇i∈ωXi,α é ω1-metrizável

para cada α ∈ ω1. Podemos então construir para cada ponto x ∈ ∇i∈ωXi,α

uma base Bα(x) = {U (x)γ,α : γ < ω1} satisfazendo as condições da defini-

ção 1.2.30.

Para cada ponto x ∈ ∇i∈ωXi, podemos então definir a base local

B(x) = ( U (x)α = \ β,γ<α U (x)γ,β : Uγ,β ∈ Bβ(x), α < ω1 ) .

Como ∇i∈ωXi é P-espaço (lema 3.1.4), temos que os elementos de B(x) são

abertos. As propriedades de cada Bα(x) garantem que B(x) testemunhe que

Os resultados anteriores possuem em comum a hipótese de os fatores se- rem paracompactos. O seguinte resultado, por Lawrence em [Law88], mostra que é possível obter resultados semelhantes sem precisar que os fatores sejam paracompactos.

Teorema 3.3.13 (Lawrence). Supondo b = d ou d = c, se Xi é um espaço

metrizável enumerável, então i∈ωXi é ultraparacompacto.

A ideia da prova deste teorema consiste em usar a hipótese para ordenar o produto nabla de maneira a formar uma árvore, a qual nos auxilie a refinar uma cobertura aberta do produto caixa. Para tanto, Lawrence formulou a Hipótese da Ordem (OH), a qual consiste na existência de tal ordenação do produto nabla. Sua prova consistiu então em duas etapas: mostrar que b = d ou d = c implicam em OH, e mostrar que OH implica que i∈ωXi

é ultraparacompacto. Utilizaremos, contudo, uma versão modificada desta demonstração, feita por Roitman em [Roi11], a qual utiliza a mesma ideia. Definição 3.3.14 (Hipótese da Ordem). Seja Xi um espaço métrico enume-

rável para cada i ∈ ω. A Hipótese da Ordem (OH) é a seguinte afirmação: existe uma ordem parcial  sobre ∇i∈ωXi satisfazendo:

• (∇i∈ωXi, ) é uma árvore de altura ≤ d;

• S

p↑ ⊂ i∈ωXi é aberto para cada p ∈ ∇i∈ωXi.

Como a OH e os teoremas que a envolvem não consideram a topologia do produto nabla ∇i∈ωXi, podemos utilizar ao invés um conjunto Y ⊂ X

=∗-transversal, isto é, constituído precisamente por 1 representante de cada classe de equivalência da relação =∗.

Lema 3.3.15. b = d implica OH.

Demonstração. Começaremos pelo caso b = d. Como cada Xi é enumerável,

podemos ordenar Xi com a ordem de ω e i∈ωXi com a ordem ≤∗. Pela

proposição 3.3.4(item 3), temos uma b-escala (hα)α<b em i∈ωXi.

Para cada α < b, definimos a função γα : ω −→ R+ definida por

A partir de cada γα, vamos construir, para cada α < b, uma espécie de

quasi-métrica1 δα : (i∈ωXi× i∈ωXi) −→ (R+)ω definida por:

(δα(x, y))i = δα,i(xi, yi) =

dn(xi, yi)

γα(i)

A partir dessa sequência, definimos para cada x ∈ i∈ωXi e cada α < b

o conjunto

ux,α= {y ∈ i∈ωXi : a sequência δα(x, y) converge para 0} .

Como (hα)α<b é uma b-escala, podemos definir αx para cada x ∈i∈ωXi

como o menor α < b tal que x ≤∗ hα. Definimos ux = ux,αx, e a partir

de tais conjuntos, construiremos a ordem  sobre ∇i∈ωXi, de maneira que

ux =

S

q(x)↑. Para tanto, definimos a ordem parcial  em ∇i∈ωXi por:

q(x)  q(y) ⇐⇒ ux ⊃ uy

Para verificar que (∇i∈ωXi, ) satisfaz OH, mostraremos que esta cons-

trução possui as seguintes propriedades:

I) se x, y ∈ i∈ωXi são tais que x =∗ y, então para cada α < b temos

ux,α= uy,α (consequentemente q(x) ⊂ ux,α para todo α < b);

II) se αx, αy ≤ α e q(x) 6= q(y), então ux,α∩ uy,α = ∅;

III) se αx< αy, então ou ux ⊃ uy ou ux∩ uy = ∅.

Para verificar (I), dados x =∗ y, temos que existe n0 ∈ ω tal que xi = yi para

todo i > n0. Logo, dado z ∈i∈ωXi, temos que (δα(x, z))i = (δα(y, z))i para

todo i > n0.

Para verificar (II), sejam αx, αy ≤ α com q(x) 6= q(y). Para todo

n ∈ ω, temos xn, yn < hα(n). Portanto temos dn(xn, yn) ≥ γα(n), e assim

δα(x, y)n ≥ 1. A desigualdade triangular garante que ux,α∩ uy,α = ∅.

Para verificar (III), note que fixado x ∈i∈ωXi, temos ux,α⊃ ux,β sempre

que α < β. O mesmo ocorre para y fixado. Portanto ou uy,αx = ux,αx ou

uy,αx ∩ ux,αx = ∅.

Vamos agora verificar que (∇i∈ωXi, ) satisfaz a Hipótese da Ordem. A

propriedade (I) garante que a relação  está bem definida. As propriedades reflexiva e transitiva são satisfeitas por  devido a ⊃ também satisfazê-las. Já a propriedade antissimétrica é consequência de (II). Juntos, os itens (II) e (III) mostram que (∇i∈ωXi, ) é uma árvore, e que αx é altura de q(x). Isto

garante também que a altura de (∇i∈ωXi, ) é menor ou igual a b.

Por fim, basta verificar que para qualquer x ∈i∈ωXi, ux é aberto. Seja

y ∈ ux. Para cada i ∈ ω, definimos i = (δαx(x, y))i e Vi = Bδαx,i(yi, i).

Vamos mostrar que V = Q

i∈ωVi ⊂ ux. Seja z ∈ V . Para cada i ∈ ω, pela

desigualdade triangular, temos:

(δαx(x, z))i ≤ (δαx(x, y))i+ (δαx(y, z))i ≤ 2i

Como y ∈ ux, temos que a sequência (2i)i∈ω converge para 0, e portanto

z ∈ ux como gostaríamos.

Lema 3.3.16. A hipótese da ordem (OH) implica que o produto enumerável de espaços metrizáveis enumeráveis é paracompacto.

Originalmente, Lawrence demonstrou tal resultado refinando cuidadosa- mente uma cobertura dei∈ωXi em cada nível da árvore obtida por OH. No

entanto, posteriormente Wingers demonstra em [Win94] a seguinte generali- zação do teorema 3.3.13.

Teorema 3.3.17 (Wingers). Suponha d = c. Seja Xium espaço σ-compacto,

zero dimensional, primeiro enumerável com |Xi| ≤ c para cada i ∈ ω. Então

i∈ωXi é ultraparacompacto.

Além de cobrir o teorema 3.3.13 para o caso d = c, a demonstração de Wingers nos fornece um método mais simples para demonstrar o lema 3.3.16. Contudo, precisaremos de alguns outros resultados de [Win94].

Lema 3.3.18. Seja Xi um espaço primeiro enumerável para cada i ∈ ω.

Dada uma família U = {Uα : α < β} de caixas fechadas de i∈ωXi, com

β < d, temos que o conjunto S {S q(U ) : U ∈ U } é fechado.

Demonstração. Seja x ∈ i∈ωXi \S {S q(U ) : U ∈ U }. Fixamos α < β e

definimos Sα = {i ∈ ω : xi 6∈ (Uα)i}. Note que Sα é infinito. Construímos

então uma vizinhança aberta Vα = Qi∈ω(Vα)i de x definida por (Vα)i =

Xi\ (Uα)i para i ∈ Sα e (Vα)i = (Uα)i caso contrário.

Para cada i ∈ ω, seja {Bi,j : j ∈ ω} uma base local decrescente para x0.

Para cada α < β, definimos uma função fα : ω −→ ω dada por fα(i) =

min {j ∈ ω : Bi,j ⊂ (Vα)i}. Pelo lema 3.3.7, podemos construir uma função

g : ω −→ ω tal que o conjunto {i ∈ Sα : fα(i) ≤ g(i)} seja infinito para cada

α < β. Definimos a vizinhança V = Q

i∈ωBi,g(i) de x. Para cada α < β,

como o conjunto {i ∈ ω : Vi∩ (Uα)i} é infinito, temos que V ∩S q(Uα) = ∅,

como gostaríamos.

Definição 3.3.19. Seja U =Uα =

Q

i∈ωUα,i : ∀i ∈ ω, Uα,i⊂ Xi e α < β

uma família qualquer de caixas (não necessariamente abertas) de i∈IXi.

• Definimos U (x, n) = {U ∈ U : ∀i ≥ n, xi ∈ Ui} e U (x) =Sn∈ωU (x, n)

• Dizemos que U é uma família simples se para todo x ∈ i∈ωXi e todo

n ∈ ω temos

U (x, n) é infinito =⇒ {y ∈ i∈ωXi : ∀i ≥ n, yi = xi} ⊂

[ U • Dizemos que U é uma família afunilada2 se β = ω e para todo j ∈

ω, ∀i ≥ j, Uj+1,i = Uj,i

• Dadas duas caixas U e V em i∈ωXi, dizemos que U e V são forte-

mente disjuntas se {i ∈ ω : Ui ∩ Vi = ∅} for infinito.

Lema 3.3.20. Seja U uma família simples de caixas fechadas em i∈ωXi,

onde Xi é primeiro enumerável para todo i ∈ ω. Se |U | < d, então S U é

fechado.

Demonstração. Seja x ∈i∈ωXi\S U . Vamos construir uma vizinhança V

de x satisfazendo as seguintes propriedades: (i) ∀i ∈ ω, ∀U ∈ U (x, i + 1) \ U (x, i), Vi∩ Ui = ∅

(ii) V é fortemente disjunto de cada elemento de U \ U (x).

Como U é simples, pela contra-positiva da definição de família simples, temos que U (x, i) é finito para todo i ∈ ω. Fixado i ∈ ω, podemos então escolher uma vizinhança aberta Vi0 de xi tal que para cada U ∈ U (x, i + 1) \

U (x, i) tenhamos V0

i ∩ Ui = ∅, pois tais U são finitos e satisfazem xi 6∈ Ui.

Note que pela definição de U (x), temos x 6∈S {S q(U ) : U ∈ U \ U (x)}. Tal conjunto é fechado (lema 3.3.18), logo podemos escolher uma vizinhança básica aberta V00 de x tal que V00∩S {S q(U ) : U ∈ U \ U (x)} = ∅. Temos que V00 é fortemente disjunto de cada U ∈ U \ U (x). De fato, suponha que V00 não seja fortemente disjunto de algum U ∈ U \ U (x). Dado p ∈ V00 tal que pi ∈ Vi00∩ Ui para todo i > n, para algum n ∈ ω, temos que q(p) ∈ q(U ),

logo p ∈S q(U ), o que é um absurdo.

Temos então que V = V0 ∩ V00 é uma vizinhança de x que satisfaz

(i) e (ii). Como x 6∈ S U , temos U (x, 0) = ∅, de maneira que U (x) = S

i∈ω(U (x, i + 1) \ U (x, i)). Por (i), temos que V ∩S U (x) = ∅, enquanto

que por (ii) temos que V ∩S(U \ U (x)) = ∅. Assim, V ∩ S U = ∅, como gostaríamos.

Temos agora ferramentas suficientes para demonstrar o lema 3.3.16. Demonstração do lema 3.3.16. Suponhamos OH. Sejam Xienumerável e me-

trizável para cada i ∈ ω, a ordem sobre ∇i∈ωXi obtida por OH e up =

{q ∈ ∇i∈ωXi : p  q}. Seja W uma cobertura aberta de i∈ωXi. Como cada

Xi é metrizável e enumerável, temos em particular que Xi é regular e pri-

meiro enumerável, e portanto zero dimensional (proposição 1.2.8). Portanto i∈ωXi é zero dimensional. Podemos também escrever Xi = {mi,j : j ∈ ω}.

Vamos construir um refinamento {Vy,n,l : y ∈ ∇i∈ωXi, n ∈ ω, l < f (l)} de

paralelamente uma função ilimitada ky : ω −→ ω para cada y ∈ ∇i∈ωXi.

Definimos Vy,n = Sl<f (l)Vy,n,l e Vy = {Vy,n : n ∈ ω} e vamos escolher um

representantey ∈ y. Queremos que, para cada y ∈ ∇b i∈ωXi, nossa construção

satisfaça as seguintes propriedades:

A. Vy =S {Vz : z ≺ y} é uma família simples.

B. se Vy 6= ∅, então Vy é uma família simples e afunilada.

C. se S Vy 6= ∅, então y ⊂S Vy

D. se Vy 6= ∅, entãoy ∈ Cb y,n = Q

i<n{mi,j : j ≤ ky(n)} × Qi≥n{mi,j} ⊂

Vy,n⊂S uy.

E. ∀n ∈ ω, ky(n) ≥ n.

F. Para quaisquer z ∈ ∇i∈ωXi e n ∈ ω tais que z  y e Vn,z ∩ Vn,y 6= ∅,

temos kz(n) < ky(n).

G. se Vy 6= ∅, entãoy 6∈b S Vy.

H. Se Vy 6= ∅, então ∀i ∈ ω, ∀U ∈ Vy(y, i + 1) \ Vb y(by, i), (Vy,0)i∩ Ui = ∅ I. Se Vy 6= ∅, então Vy,0 é fortemente disjunto dos elementos de Vy\ Vy(y).b

Sejam n ∈ ω e y ∈ ∇i∈ωXi cuja altura é 0. Fixemos by ∈ i∈ωXi um representante da classe y. Definimos ky(n) = j(by, n) + n para cada n ∈ ω, onde j(x, l) é o número natural tal que xl= mj(x,l).

Vamos construir Vy,n satisfazendo D. Para n = 0, como temos Cy,0= {by}, podemos escolher um aberto fechado básico V0 tal que y ∈ Vb 0 ⊂ W ∩S uy

para algum W ∈ W. Definimos assim Vy,0 = V0. Para n > 0, note que Cy,n

é finito. Então para cada c ∈ Cy,n, podemos escolher um aberto fechado

básico Vc tal que c ∈ Vc⊂ Wc∩S uy para algum Wc∈ W. Definimos então

Vy,n =  Q i<n S c∈Cy,n(Vc)i  × Q i≥nV 0 i.

Para cada n ∈ ω, como Cy,n é compacto, podemos escolher finitos pontos

cl ∈ Cy,n, com l < f (n) para algum f (l) < ω, de maneira que Vy,n ⊂

S

l<f (n)Vcl. Definimos então Vy,n,l =

Q

i<n(Vc)i × Qi≥n(Vc)i∩ V 0

temos Vy,n,l ∈ Wcl ∈ W e Vy,n =

S

l<f (l)Vy,n,l. De fato, por um lado já temos

que Vy,n ⊃ Sl<f (n)Vy,n,l, uma vez que ∀i ∈ ω, ∀l < f (l), (Vy,n,l)i ⊂ (Vy,n)i.

Por outro lado, seja x ∈ Vy,n. Como {Vcl : l < f (n)} cobre Vy,n, temos que

existe x ∈ Vcl para algum l < f (n). Como ∀i ≥ n, xi ∈ V

0, temos que

x ∈ Vy,n,l, como gostaríamos.

Temos que a família Vy = {Vy,n : n ∈ ω} é afunilada e satisfaz y =

S

n∈ωCy,n ⊂ Vy. Temos também que a mesma é simples. De fato, sejam

p ∈ i∈ωXi e m ∈ ω, e suponha Vy(p, m) infinito. Seja q ∈ i∈ωXi tal que

∀i ≥ m, qi = pi. Definimos a = max {j(q, i) : i < m}. Como ky é ilimitado,

podemos encontrar b ∈ ω tal que ky(b) > a. Em seguida, como supomos

Vy(p, m) infinito, existe algum c > b tal que Vy,c ∈ Vy(p, m). Temos que

q ∈ C(y, c) ⊂S Vy, e , portanto, Vy é de fato simples.

Agora fixemos y ∈ ∇i∈ωXi cuja altura é 0 < α < d. Suponha kz e Vz

construídos para cada z ≺ y. O próximo passo na construção é puramente técnico e não acrescenta muito conceitualmente, de modo que o omitiremos. Detalhes da construção passo a passo estão na demonstração do Lema 13 em [Win94]. As condições G,H e I são utilizadas somente nesta afirmação. Afirmação. Podemos construir uma função ky : ω −→ ω satisfazendo as

condições E e F.

Com ky construído, vamos escolher by. Se y ⊂ S

z≺y(S Vy), podemos

definir f (n) = 1 e Vy,n,0 = ∅ para todo n ∈ ω e escolher y ∈ y um re-b presentante qualquer. Caso contrário, escolhemos um representante y ∈ yb tal que y 6∈b S

z≺y(S Vy). Podemos construir, portanto, do mesmo modo

que na demonstração do lema 3.3.20, um aberto fechado básico V tal que b

y ∈ V ⊂ W ∩ S (uy), para algum W ∈ W, de modo que V é forte-

mente disjunto de nU ∈S

z≺yVy : ∀n ∈ ω, ∃i ≥ n, xi 6∈ Ui

o

. Definimos en- tão Vy,0,0 = V e f (0) = 1, de maneira que Vy,0 = V . De tal forma, temos

satisfeitas as condições H e I. Para n > 0, construímos Vy,n e Vy,n,l como

anteriormente.

Novamente temos as condições B até D satisfeitas. Vamos mostrar agora que a propriedade F implica a propriedade A.

J = {j ∈ ω : ∃z ≺ y, Vz,j ∈ Vy(p, n)}. Seja q ∈ i∈ωXi tal que ∀i ≥ n, qi =

pi. Como anteriormente, definimos a = max {j(q, i) : i < m}. O objetivo é

encontrar algum V ∈ Vy tal que q ∈ V . Dividimos então a demonstração em

3 casos:

1. Suponha J infinito. Podemos encontrar j ∈ J tal que j > a. Seja z ≺ y tal que Vz,j ∈ Vy(p, n). Pela condição E, temos que kz(j) ≥ j > a.

Temos então que q ∈ Vz,j, como gostaríamos.

2. Suponha J finito. Como supomos Vy(p, n) infinito, pelo princípio da

casa dos pombos, existe algum j0 ∈ J para o qual existem infinitos

z ≺ y tais que Vz,j0 ∈ Vy(p, n). Suponhamos j0 ≥ n. Denotemos

Z = {z ≺ y : Vz,j0 ∈ Vy(p, n)}. Seja r ∈ i∈ωXi dado por ri = mi,0

para i < n e ri = pi para i ≥ n. Note que, para todo z ∈ Z, temos

r ∈ Cz,j0 ⊂ Vz,j0, logo

T

z∈ZVz,j0 6= ∅. Pela condição F, temos que

a sequência (kz(j0))z∈Z ordenada por ≺ é crescente. Logo, podemos

encontrar z ∈ Z tal que kz(j0) > a. Temos então que q ∈ Vz,j0, como

gostaríamos.

3. Suponhamos J finito e j0 < n. Pela condição B, para cada z ∈ Z, temos

que Vz é afunilada. Portanto, temos que ∀i ≥ n, (Vz,n)i = (Vz,j0)i,

de maneira que xi ∈ (Vz,n)i. Desta maneira, Vz,n ∈ Vy(p, n) para

infinitos z ≺ y. Assim, podemos proceder como no item anterior, apenas substituindo j0 por n, e encontrar z ≺ y tal que q ∈ Vz,n, como

gostaríamos.

Vamos então construir um refinamento U aberto dois a dois disjunto de W. Definimos os elementos de U por

Uy,n,l = Vy,n,l\ [ Vy ∪ [ i<n Vy,i∪ [ i<l Vy,n,i ! .

Como cada Vy cobre y, temos que tal refinamento de fato cobre i∈ωXi.

Note que a condição D garante que S Vy ⊂S uy, portanto y  q(x). Assim,

elemento de U ao qual x pertence é Vmin Ax. Por fim, o lema 3.3.20 garante

que cada Uy,n,l é aberto, completando a demonstração.

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