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2. PREMATURIDADE E AMAMENTAÇÃO

2.1. AMAMENTAÇÃO DE RECÉM-NASCIDOS PRÉ-TERMO NA UNIDADE DE

2.1.2. Período da Amamentação

Observa-se, de um modo geral, uma incidência ainda mais baixa na amamentação ao peito nos prematuros.

Não há consenso na literatura sobre o momento adequado de se iniciar a amamentação ao peito. Os diferentes indicadores tradicionais utilizados são a estabilidade fisiológica, peso superior ou igual a 1500gr, IG igual ou superior que 34 semanas e a capacidade de ingerir todo o volume prescrito. No entanto, ao ponderar apenas o peso, a idade gestacional e/ou a habilidade de sucção na tetina, corre-se o risco de retardar a ida ao peito. O ideal seria levar em conta outros critérios, tais como: critérios comportamentais como acordar antes da toma de leite evidenciando

sinais de fome, como o choro e irritabilidade difícil de acalmar, o sugar na sonda gástrica, o facto de o bebé permanecer longos períodos acordado, apresentar reflexo de procura durante o contacto pele a pele, sucção na chupeta e finalmente a estabilidade cardio-respiratória. A principal dificuldade na alimentação do RNPT é o desenvolvimento da sucção, deglutição, motilidade e esvaziamento gástrico. Uma sucção/deglutição coordenada não se evidencia senão com 32-34SG (Klaus & Fanaroff, 1995). Alguns RNs com 32SG já apresentam condições clínicas favoráveis para a amamentação ao peito, demonstrando estabilidade cardio-respiratória, organização neurocomportamental, padrão de sucção/deglutição e respiração eficazes. Outros com 35SG não apresentam ainda condições favoráveis à amamentação. Cada RNPT é único pelo que a avaliação da adequação dos reflexos e a capacidade de amamentar ao peito passa por uma observação criteriosa e pela decisão em conjunto dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros). Para além disso, os RNPTs ao iniciarem a amamentação ao peito não precisam necessariamente de apresentar um padrão de sucção igual ao RN de termo mas, precisam apenas de apresentar características que garantam uma sucção eficiente, como: movimento de língua e mandíbula, ritmo e coordenação entre a sucção, deglutição e respiração (Neiva, 2003). O RN de termo e saudável apresenta, durante a sucção nutritiva, bom ritmo de sucção, onde a respiração é interpolada entre as deglutições. No RNPT podem ocorrer alterações entre os reflexos e a respiração ocasionando bradipnéia e/ou apnéia e posteriormente taquipnéia compensatória. Ou seja, neste momento o importante é recorrer-se ao bom senso profissional, ponderando a coordenação dos reflexos e a estabilidade respiratória do RN. Esta realidade fisiológica faz com que muitas vezes os profissionais retardem o início da sucção directa ao peito. No entanto, estudos realizados por diferentes investigadores demonstraram que a amamentação ao peito é mais fisiológica que a alimentação por tetina, observando-se igualmente que a oxigenação durante a amamentação se mantém mais estável, comparativamente à alimentação por tetina, em que na maioria destes casos a pO2 diminuía de forma significativa (Stine, 1990; Bier & Cols,

1997; Meir, 1988, citados por Tamez & Silva, 2002).

Infelizmente, constata-se que a transição da alimentação por gavagem para via oral é baseada mais nas rotinas dos variados serviços do que na observação e no conhecimento do desenvolvimento do RNPT (Nascimento & Issler, 2004, p.167). Mais uma vez os profissionais têm uma tarefa a desempenhar neste momento. É

importante conhecer-se bem o RNPT, para depois se tomarem decisões acertadas, sem correr o risco de agravar o estado clínico do mesmo.

A conduta relacionada com a amamentação de RNPTs é diferente da conduta com RNs prematuros ou de termo que apresentam patologias específicas que interferem com esta prática. Neiva (2003), aponta como patologias específicas: as neuropatias, síndromes, fenda do palato com ou sem lábio leporino, malformações cardíacas, renais entre outras.

Quanto à frequência, o bebé deve ser alimentado quando acorda com fome, ou seja em regime livre, não deve ser imposto um regime rígido.

A OMS e a UNICEF (1995), referenciaram que a quantidade de leite que os seios produzem depende parcialmente de quanto o bebé suga e de quanto leite ele deglute. Fazendo com que, quanto mais o bebé mama mais leite é produzido (Galvão, 2005). Segundo a mesma autora, a lactação é regulada por um processo de oferta e de procura, em que a procura do bebé regula a oferta.

Os profissionais devem encorajar este regime pois as evidências científicas demonstram que o mesmo diminui a perda de peso inicial e favorece a recuperação mais rápida do peso de nascimento. Para além disso promove uma descida do leite mais rápida, aumenta a duração do AM, estabiliza os níveis de glicose do RN, diminui a incidência de hiperbilirrubinémia e previne o ingurgitamento mamário (Giugliani, 2000, p. 242).

O tempo de permanência em cada mama não deve ser pré-estabelecido. Na perspectiva de Giugliani “…a habilidade do bebé em esvaziar a mama varia entre as crianças e numa mesma criança pode variar ao longo do dia dependendo das circunstâncias”. A maior parte dos bebés de termo mamam 90% do que precisam em 4 minutos. Outros, incluindo os RNPT, prolongam mais as mamadas, chegando aos 30 minutos ou mais (2000, p. 242).

O primeiro leite da mamada é mais rico em água e lactose, à medida que a mamada prossegue o leite vai tendo cada vez mais gordura. Por isto mesmo, preconiza-se que o bebé esvazie uma mama e beneficie de todos estes constituintes ao longo da mamada. O bebé necessita tanto do leite do início como do fim para um crescimento e desenvolvimento equilibrado. Só se o bebé continuar com fome, mesmo depois de esvaziar a primeira mama, é que se lhe é oferecida a segunda mama, facto que raramente acontece nos RNPTs durante um internamento na UCI (Levy & Bértolo, 2008).

Como curiosidade, no tempo das “amas de leite” essas mulheres eram obrigadas a alimentar em primeiro os filhos dos patrões e só depois podiam amamentar os seus filhos, fazendo com que os seus filhos recebessem apenas o leite do fim da mamada. Consequentemente, recebiam toda a gordura fazendo-os aumentar de peso e por isso, essas mulheres eram castigadas porque os seus filhos cresciam mais que os filhos dos patrões (Levy & Bértolo, 2008).

Nos RNPTs, mais especificamente nos de baixo peso, a utilização de LM pode ser insuficiente para suprir as necessidades nutricionais destes (Feferbaum et al., 2003). Por isso, actualmente nas UCI recorre-se ao uso de aditivos no LM. Estes não apresentam contra-indicações ou efeitos colaterais, pois preservam as virtudes do LM. São utilizados na alimentação de RNPTs de muito baixo peso, após a segunda semana e já com a ingestão de “volumes superiores a 100 ou a 150ml/kg/dia” (Feferbaum et al., 2003, p.321). Devemos explicar aos pais que o LM aditivado promove “(…) um crescimento adequado com índices bioquímicos dentro dos níveis de normalidade” (Falcão & Mataloun, 2003, p. 280).

Existem outros modos de oferecer o leite ao RN. O uso da alimentação por copo demonstrou vantagens em relação ao biberão. Quando o RN já desenvolveu a coordenação dos reflexos, ele consegue regular melhor o volume de leite ingerido e o sabor do leite na boca estimula a libertação das lipases linguais na digestão das gorduras. No caso dos bebés já se encontrarem a mamar ao peito, o uso do copo para oferecer suplemento ao prematuro tem sido preconizado pela OMS (Neiva, 2003).

Apesar destas evidências científicas, observa-se pouco sucesso na amamentação ao peito entre mães de RNPTs. O desmame do peito ocorre antes da alta do RNPT da Unidade neonatal. Muitas vezes, até têm alta sem experimentar ir ao peito, passando da alimentação por sonda para o aleitamento por tetina e é assim que é alimentado em casa. Apesar de desejável amamentar ao peito os RNs nas UCIs, não se pode deixar de incentivar e apoiar outras formas de nutrir, como o aleitamento por tetina. O AM deve ser sempre incentivado, independentemente da metodologia escolhida, pelas vantagens inquestionáveis do LM.

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