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Período de desenvolvimento: as praças (1809-1858)

3.1 Espaços públicos

3.1.2 Período de desenvolvimento: as praças (1809-1858)

A primeira praça de que se obteve conhecimento na Vila do Rio Grande foi a Praça do Poço, que se localizava nas proximidades do Forte Jesus-Maria-José. A praça pôde ser observada no mapa de 1829. No entanto, o local não fez parte do recorte do Centro Histórico e, consequentemente, das análises deste trabalho.

Desde a elaboração da Carta-Régia de fundação da Vila do Rio Grande, em 1747, já havia instruções para a demarcação de uma praça junto a uma Igreja, conforme trecho da Carta de Aracati, anexada à do Rio Grande:

[...] Que quando a Igreja, que há naquele porto não possa servir à dita nova villa, demarque tão bem lugar para ela, ou em a praça, ou no sitio que entender mais adequado, e cômodo aos moradores, com atenção porém, a que deve ser capaz de receber os fregueses, posto que a villa cresça em povoação, e que quando a dita igreja fique na dita praça, há de, em o lugar, que para ela destinar, haver não só espaço para adro mas para alguma forma de praça ante a sua porta principal, que também destinará caminhos públicos para fontes, pedreiras e uso do rio: cuja margem deve dar espaço largo em atenção as enchentes dele, e que quando ordinariamente sejam grandes as suas inundações, será mais acertado destinar junto à dita margem o Rocio, ou logradouro público [...] (ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO apud OLIVEIRA, 2012, p.343).

As instruções da Carta-Régia podem ter sido utilizadas na criação da Praça do Poço, apesar de não se ter referência de um templo em frente a ela, até a construção da Capela da Conceição, em 1872. É também possível que tenha existido uma pequena praça dentro do Forte Jesus-Maria-José, que continha uma capela.

A Matriz de São Pedro foi edificada em 1755, na Rua Direita. Nos mapas pouco delineados do século XVIII e no detalhe da planta de 1829 (Figura 61), ainda não havia referências a uma praça em frente ao templo. Sabe-se que a área ao sul da matriz era ocupada por dunas de areia. Esse pode ter sido o motivo para a não demarcação de uma praça no local, sendo utilizada a própria Rua Gal. Bacelar como ponto de encontro dos fiéis.

A Praça Xavier Ferreira surgiu a partir de um espaço vazio inicial, nas proximidades da antiga Alfândega. Esse local permaneceu desocupado, servindo de apoio às atividades portuárias e alfandegárias desenvolvidas na vila. Segundo Saint-

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Hilaire, em 1820, havia uma área não construída de aproximadamente seiscentos passos, em direção à Laguna dos Patos, sem grandes atrativos, da qual se avistavam as ilhas (SAINT-HILAIRE, 1999). O espaço não edificado era a atual Praça Xavier Ferreira que, assim como o restante da vila, carecia de arborização.

A praça foi retratada no mapa de 1829 como Praça da Alfândega (Figura 58). Ao sul da praça, estava a Capela de São Francisco; ao norte, a Laguna que recebia os barcos; a leste, o trapiche e o prédio da Alfândega; e, a oeste, o Sobrado do Rasgado, propriedade que, em 1894, seria adquirida pela Intendência Municipal. Conforme foram surgindo novos espaços e prédios no século XIX, devido aos aterros que aumentaram a área próxima à Laguna, a praça foi sendo delimitada fisicamente.

Assim como visto antes, a Carta-Régia de fundação da Vila de Aracati determinou a demarcação de uma praça que não fosse pequena. Nela deveriam ser dispostos os edifícios públicos e o pelourinho. Apesar de a Praça Xavier ter recebido, após os sucessivos aterros, prédios como o da Intendência Municipal, da Câmara Municipal e do Quartel General, foi na Praça da Caridade (atual Praça Barão de São José do Norte) que o pelourinho foi implantado.

Figura 58: Detalhe da Planta da Villa do Rio Grande de São Pedro, 1829

Destaques da autora. Legenda: 1) Praça Xavier Ferreira, 2) Prédio e Trapiche da Alfândega, 3) Sobrado do Rasgado, 4) Catedral de São Pedro, 5) Capela de São Francisco.

Fonte: Acervo cartográfico da Biblioteca Rio-Grandense.

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A Praça da Caridade, em frente à Santa Casa de Misericórdia, estava, aproximadamente, 500 metros a sudoeste da Praça Xavier Ferreira. No trecho da Carta de Aracati exposto neste item, notou-se a observação de que a praça da igreja deveria situar-se o mais perto possível da margem do rio, evitando assim que possíveis inundações atingissem os edifícios próximos. Inicialmente, essa foi uma característica da Praça Xavier.

Em meados do século XIX, os vereadores mostraram preocupação com a arborização da praça. No ano de 1849, foram substituídas as árvores que haviam murchado na Rua Mal. Floriano e plantadas novas em outros pontos, como na Praça Xavier Ferreira (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 1849). O lugar passou a receber características de praça ajardinada.

Devido a sua localização, começou a ser utilizada pela população, embora alguns contratempos, como áreas alagadiças, tenham sido relatados na década de 1850. A situação foi descrita em diversos Relatórios da Câmara, como no de 1853. Nesse ano, a dita “parte mais frequentada e importante da cidade” tornava-se quase intransitável, por efeito das poças que surgiam (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 1853).

Uma outra praça identificada no mapa de 1829 foi a Praça de São Pedro, na Rua do Pito, próxima às dunas. Durante a pesquisa realizada, não foram encontrados relatos de autoridades ou viajantes sobre esse espaço. Torres (2008) afirmou que, em 1875, a Praça São Pedro recebeu uma estátua, sendo utilizada como ponto de captação de água. Da mesma forma, não foram encontradas evidências, entre 1755 e 1941, de qualquer tipo de largo na atual área do Centro Histórico.