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Períodos inicial e de desenvolvimento: a infraestrutura e os serviços

3.2 Infraestrutura

3.2.1 Períodos inicial e de desenvolvimento: a infraestrutura e os serviços

Água

Com a criação da Povoação do Rio Grande de São Pedro, a água passou a ser captada de poços. O primeiro deles foi estabelecido em uma área próxima ao Forte Jesus-Maria-José, posteriormente denominada Praça do Poço, conforme mostrou o mapa da vila de 1829 (Figura 44). Assim como o forte, que garantia segurança à população civil e militar, a praça assegurava o direito à água, o que levou a população a estabelecer-se primeiramente no lado leste da área do atual Centro Histórico.

Após algum tempo, a água passou a ser coletada também da Lagoa das Noivas, situada no interior da Ilha dos Marinheiros, ao norte da península. Essa era considerada a melhor água da região (TORRES, 2008). Era adquirida pela população abastada, que podia pagar pelo seu transporte. A ilha também fornecia frutas e legumes à área urbana.

No início do século XIX, a Praça Tamandaré, a oeste do Centro Histórico, apresentava pontos alagadiços, que chegavam a provocar mortes por afogamento

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(TORRES, 2008). Esses locais também eram utilizados para o recolhimento de água. A partir da década de 1820, foram instalados poços no interior da praça. No mesmo ano, Saint-Hilaire comentou sobre os novos poços, afirmando que a água era de boa qualidade (1999).

O comerciante francês Nicolau Dreys (1990), que esteve estabelecido na Província de São Pedro entre 1818 e 1828, afirmou que a água utilizada na vila provinha de cacimbas, de poços sem fundos abertos nas areias. Possuíam paredes amparadas por pipas (barris) superpostas, e a água aparecia sempre a tão pouca profundidade que os aguadeiros costumavam extraí-la por meio de um coco embutido na ponta de um pau (DREYS, 1990).

O sistema construtivo dos poços parece ter sido aperfeiçoado, pois, segundo Relatório da Câmara de 1859, havia na cidade oito poços de alvenaria e dois de cantaria (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 1859). A água dos poços era levada até as residências pelos escravos, em baldes de madeira. A faixa da população que não tinha escravos, comprava a água dos aguadeiros (SILVEIRA, 2009). A água das cacimbas, nem sempre limpa e potável, como afirmava Dreys (1990), servia aos moradores que apresentavam menos recursos.

Águas servidas e matérias fecais

Assim como as canalizações de água, o percurso realizado até a execução de redes de esgoto foi extenso. Nos primórdios da área urbana do Centro Histórico a situação da higiene era precária. As casas não dispunham de banheiros e, em muitas delas eram erguidos nos pátios pequenos compartimentos de madeira, destinados a realização das necessidades fisiológicas, normalmente utilizados pelos escravos (SILVEIRA, 2009). Os proprietários das residências abastadas faziam suas necessidades e higiene em seus quartos, utilizando jarros, bacias e urinóis de louça. Depois de utilizadas, as águas dos banhos eram jogadas nos pátios e os dejetos recolhidos em barris (SANTOS, 2007).

Vários autores registraram a existência desses recipientes, onde eram depositadas as águas servidas e os materiais fecais, sob as escadas dos velhos sobrados Ao final de cada dia, os escravos incumbiam-se da retirada dos barris do

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interior dos estabelecimentos, despejando os detritos em córregos afastados ou no mar. Os galinheiros existentes nos quintais dos domicílios, as cocheiras presentes nas residências abastadas, somadas àquelas das empresas que alugavam cavalos e carruagens, contribuíam para a insalubridade das áreas urbanas (SANTOS, 2007).

Limpeza pública

Os Códigos de Posturas determinavam regras para o asseio das áreas urbanas, adotadas e fiscalizadas pelas Delegacias de Saúde Pública. O código do Rio Grande de 1829 incluiu normas para o cercamento de terrenos baldios com telas ou muros, a manutenção e a limpeza das calçadas, entre outras (SANTOS, 2007).

Em 1858, a Câmara julgou necessário o estabelecimento de veículos destinados à limpeza pública, a fim de que o serviço fosse melhor regulado (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 1858). No princípio de 1859 instituíram-se os respectivos veículos para a limpeza.

Iluminação

Antes do advento da luz elétrica, a claridade nos interiores das construções era obtida através da utilização de castiçais ou candelabros com velas de sebo, e lampiões de querosene. Nos espaços externos, eram utilizados tocheiros encharcados em líquidos inflamáveis, ou lampiões (Figura 72). Óleos de peixe e de baleia, assim como graxas derivadas de sementes, também foram utilizados como combustão durante esse período (SANTOS, 2007).

Em meados do século XIX, a cidade do Rio Grande demonstrou preocupação com a iluminação de suas principais vias. Conforme Relatório da Câmara de 1851, existiam na área urbana da cidade 120 lampiões, que eram insuficientes para garantir uma boa iluminação nas ruas (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 1851). Havia especial preocupação com a iluminação da Praça Xavier Ferreira, principal ponto de encontro da população. Nesse ano, foram solicitados 60 novos lampiões, mas somente dez anos depois foram concedidos 30 lampiões para a iluminação pública (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 1861).

114 Transporte urbano

Na cidade do Rio Grande, nos séculos XVIII e XIX, circulavam carros de propriedade privada, puxados por cavalos ou mulas. Entre eles estavam os cabriolés (carruagens pequenas de duas rodas), fahetons (carruagem com quatro rodas e assentos para seis pessoas) e as carroças (SANTOS, 2007). Esses veículos simbolizavam o privilégio econômico dos proprietários, sendo utilizados pelas classes abastadas.

A imagem a seguir (Figura 73) mostrou a presença de alguns desses veículos entre o Quartel General e a Praça Xavier Ferreira. Carruagens e carroças de aluguel encarregavam-se de transportar cargas e passageiros aos seus destinos. Eles tinham pontos fixos estratégicos de estacionamento, determinados pelos Códigos de Posturas. Eram solicitados para conduzir os habitantes aos bailes, às missas, ou às festas em casas de família.

Conforme afirmado anteriormente, as alternativas urbanísticas propostas para solucionar os problemas de salubridade das cidades industriais europeias tiveram início no século XIX. Chegaram ao Brasil não muito tempo depois. A vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro e a Abertura dos Portos, ambos em 1808,

Figura 72: Segundo prédio da Alfândega, edificado em 1852, com lampião na fachada

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possibilitaram a transformação das cidades brasileiras, assim como o fim do trabalho escravo e a chegada de novos imigrantes.

O Rio de Janeiro, capital do Reino desde 1763, passou a sofrer uma série de transformações a partir de 1808, pois era acanhada, sem rede de esgotos, coleta de lixo ou iluminação. O Jardim Botânico, a Academia de Belas Artes, o melhoramento dos caminhos a São Cristóvão, o bairro mais aristocrático da época, são resultados dessa presença da Corte portuguesa (BITTAR; MENDES; VERÍSSIMO, 2011). Por sua vez, a Abertura dos Portos permitiu a entrada de novos materiais e equipamentos, como balcões de ferro para os prédios e chafarizes para as praças.

Na populosa Cidade do Salvador de 1848, existiam chafarizes, sendo doze na Cidade Baixa e quinze na Cidade Alta, em péssimo estado de conservação (SILVEIRA, 2009). Dessa forma, foi possível perceber que, durante os seus primeiros 122 anos, ou seja, até 1859, Rio Grande não esteve em situação muito atrasada em relação às principais cidades da colônia.

Figura 73: Carroças e carruagens em frente ao Quartel General, primeiras décadas do século XX

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3.2.2 Período de melhorias e modernização: a infraestrutura e os serviços urbanos