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1.1 O Desenvolvimento do Lazer no Brasil: Volta Redonda dentro do contexto nacional

1.1.1 O lazer no período industrial-fordista

O período industrial-fordista é caracterizado como um modelo industrial de expansão

econômica e progresso tecnológico baseado na produção e no consumo de massa, na crescente divisão do trabalho em todos os níveis da atividade econômica, na extensa mecanização e no uso de máquinas e do trabalho não qualificado. Tratou-se de uma racionalização da produção capitalista baseada em inovações técnicas e organizacionais articuladas. O crescimento econômico mundial após a Segunda Guerra Mundial foi profundamente marcado pelo estilo fordista do gerenciamento da produção e do trabalho.

De acordo com Silva (1994), o desenvolvimento do fordismo no Brasil apresentou estilos distintos, em correspondência ao regime político e às políticas econômicas dominantes em períodos diferentes. Assim, a fase inicial de desenvolvimento industrial e gerencial se dá primeiramente no regime do governo Vargas, levando a formas consideradas paternalistas de relação entre o capital, o trabalho e o Estado. Dentro desse contexto, presencia-se no Brasil um projeto nacional-desenvolvimentista fundamentado na substituição de importações e caracterizado pelo populismo político.

Com isso, a implantação da CSN foi vital para uma indústria de base vinculada ao padrão de acumulação da época, em que a peça mais importante desse modelo foi a intervenção do Estado. Assim, o desenvolvimento do município ocorreu através do planejamento do Estado, apresentando Volta Redonda como modelo e símbolo da ideologia nacionalista de Getúlio Vargas. A política social do governo era espacializar, através dos desenhos e dos equipamentos urbanos, o homem novo que se pretendia forjar, agora educado para o trabalho disciplinarizado, com base no respeito às hierarquias. As atividades e os equipamentos de lazer deveriam refletir esse novo homem. Com isso, a difusão de atividades físicas e culturais entre os trabalhadores foi privilegiada.

O incentivo às atividades físicas e culturais, por um lado, ajudou na construção de uma identidade coletiva e subjetiva através de uma indústria de entretenimento de massa. Por outro, procurou recuperar e aumentar a capacidade de produzir do trabalhador. Para a sociedade moderno-industrial de caráter fordista, o lazer era visto como um recurso para condicionar os corpos e mentes às exigências da nova civilização mecanizada, que estariam em sintonia com os princípios e valores morais que regiam esse modelo de sociedade. Por isso, a análise dos estudos do lazer no Brasil durante esse período é imprescindível para compreender o lazer em Volta Redonda, nos dias atuais. E, para alcançar esse objetivo, analisaremos dois dos principais aspectos do lazer no período industrial-fordista, um de caráter funcionalista e outro a partir das influências dos estudos marxistas no país.

Num primeiro momento, as discussões de lazer no Brasil ocorrem sob a influência de estudos considerados funcionalistas, tendo como referência autores como Joffre Dumazedier e Stanley Parker. As contribuições foram importantes para uma discussão sobre epistemológica, para a conceitualização de lazer em seu contexto cultural, para as relações entre o lazer e outras esferas da vida e sobre o planejamento e as políticas de lazer.

Num segundo momento, outros debates no período industrial-fordista ocorrem sob influência das teorias marxistas, com destaque para as discussões de Lílian de Aragão Bastos do Valle e Maria Isabel Leme Faleiros. As autoras debatem a existência de uma unidade muito particular entre o “tempo do trabalho” o tempo do “não trabalho”, em que o lazer é encarado como um momento necessário à reposição e reprodução da força de trabalho.

Ambas criticam a falta de historicidade e operacionalidade do conceito de lazer na perspectiva funcionalista utilitarista, mas não avançam na compreensão dos aspectos relativos ao lazer, prendendo-se em alguns momentos à dicotomia necessidade/satisfação.

O sociólogo Joffre Dumazedier, durante as décadas de 1960 e 1970, promoveu uma série de trabalhos e palestras a convite do Sesc de São Paulo e teve seus livros traduzidos e amplamente divulgados no país. Dois de seus principais livros – Sociologia Empírica do Lazer (1979) e Lazer e Cultura Popular (1973) – foram, como já dissemos, referências para o estudo sobre o assunto no Brasil, influenciando um grande número de autores e discutindo de forma abrangente os significados do lazer. Assim, o lazer passou a ser entendido numa perspectiva mais ampla4. A despeito de contestações e polêmicas teóricas, suas obras são de fundamental importância para a compreensão do tema.

Dentro da mesma linha de raciocínio, temos Stanley Parker, com a obra Sociologia do lazer (1976), que traz contribuições importantes sobre epistemologia, a conceitualização de lazer no contexto cultural, as relações entre este e outras esferas da vida social, sobre planejamento e políticas de lazer. O contato com as obras de Stanley Parker aconteceu na medida em que as discussões sobre lazer ganharam impulso no país. É a partir desses dois autores que se torna possível discutir mais especificamente as perspectivas de lazer e suas contribuições para a temática.

Dumazedier (1979) considera que o lazer constituiu-se numa realidade banal para alguns intelectuais, não estando atrelado ao pensamento que orienta a reflexão destes,

4 Até as décadas de 1960 e 1970 o lazer era visto como recreação e sua compreensão limitava-se à questão lúdica com publicações sobre brincadeiras, jogos entre outros.

pensando a sociedade sem essa esfera de vida. Com isso, o autor aponta a existência de uma limitação teórica dos esquemas que apresentam análises da realidade sem considerar o fenômeno do lazer e, partir daí, busca entende-lo como elemento central da cultura vivida por milhões de trabalhadores, possuindo para o autor “[...] relações sutis e profundas com todos os grandes problemas oriundos do trabalho, da família e da política”. (DUMAZEDIER, 1979, p.

19-20).

Parker (1976) aponta as divergências sobre o que pode ser considerado lazer e as diferenças em cada sociedade ao longo do tempo e, assim como Dumazedier, acredita que o

entendimento do lazer só é possível após o surgimento da sociedade industrial, pois ele tende a exibir as mesmas feições e relações sociais do mundo do trabalho industrial.

A partir da análise de vários autores, Dumazedier (1979) considera que existem ideologias dominantes na sociedade e que, para compreender o sentido do lazer, é necessário desvendar o que há por trás dessas ideologias. Diante da diminuição da jornada de trabalho e o consequente aumento do tempo do não trabalho, que parte das horas desse tempo veio a ser ocupada efetivamente pelo lazer? – questiona. Já Parker (1976) coloca que qualquer coisa ou atividade pode ser considerada lazer desde que seja contrária aos compromissos profissionais, levando, com essa definição, a uma confusão nos estudos sobre o tema, fazendo surgir divergências no que pode ser considerado como tal.

Assim, Dumazedier (1973, 1979) considera que, numa sociedade marcada pelo tempo livre, haverá uma tendência ao um aumento global do tempo do não-trabalho. Entretanto, esse aumento não será para todos, pois para um grupo de trabalhadores terá de haver, na verdade, um aumento na jornada de trabalho – mas, para a maioria, o aumento seria do tempo livre. A produção do tempo livre, em que se oferece o lazer, é o resultado de um progresso da produtividade devido à aplicação das descobertas técnico-científicas. Assim, o lazer resulta desse progresso, que libera uma parcela do tempo do trabalho profissional e doméstico.

Também a regressão do controle social das instituições básicas da sociedade (familiares, socioespirituais e sociopolíticas) permite ocupar o tempo liberado com as atividades do lazer – que não anula os condicionantes sociais e econômicos, mas há uma liberdade de escolha dentro desse tempo de lazer, mesmo que limitada muitas vezes.

Entretanto, o lazer, de acordo com Dumazedier e Parker, possui algumas funções importantes para a vida humana, por exemplo, a de recuperar as pessoas para que elas possam se refazer e compensar os desgastes originados nas atividades obrigatórias. Dessa forma, se por um lado o trabalho cansa, fadiga, aliena, por outro o lazer recupera, descansa, compensa.

Assim o lazer é visto por eles somente no seu aspecto compensatório, não vislumbrando outras possibilidades de análise - por exemplo, como fruto de uma sociedade complexa e contraditória, típica do sistema capitalista de produção.

Nesse sistema foi criada uma indústria dos lazeres, com filmes, espetáculos musicais, mídias audiovisuais, enfim, um conjunto de atividades de entretenimento com a finalidade de aliviar o trabalhador das tarefas profissionais – isso em detrimento do tempo disponível, com a liberdade que ele teria para realizar as atividades de lazer que gostaria. Com a multiplicação das técnicas de comunicação de massa (imprensa, cinema, rádio, televisão etc.) e o desenvolvimento de associações e grupos, passou-se a um conjunto de atividades que procuravam satisfazer as predileções, os caprichos e paixões individuais, contribuindo para o aumento do lazer em proporções incomparavelmente maiores em relação a décadas anteriores do que as máquinas na fábrica conseguiram diminuir, em termos de tempo livre, a jornada de trabalho. Dito de outro modo, mais apelo aos prazeres do tempo livre enquanto que ele, contraditoriamente, não diminuiu proporcionalmente na mesma intensidade em relação ao tempo ocupado pelo trabalho.

Nas reflexões realizadas por Parker (1976), se lazer fosse simplesmente tempo livre, poderia ser definido de modo objetivo, e se aceitaria como tal aquilo que as pessoas fazem nesse tempo. Outro ponto que está relacionado ao tempo livre é ter dinheiro disponível para aproveitá-lo. O autor coloca que o crescimento do lazer está ligado ao crescimento econômico e ao desenvolvimento da sociedade industrial, que propiciou a compreensão do lazer em novas bases.

Marcellino (2002) estabelece a crítica ao tempo livre argumentando que do ponto de vista histórico nenhum tempo pode ser entendido como livre de coações ou normas de conduta social. Assim, concordamos com o autor e propomos neste trabalho falar mais acertadamente em tempo disponível ou tempo do não trabalho. Dumazedier (1979) e Parker (1976), mesmo referindo-se ao tempo liberado das obrigações como livre, discutem em suas obras que sempre haverá os condicionamentos sociais e econômicos, mas que dentro do tempo de lazer há certa liberdade de escolha.

No século XX, o lazer acabou se firmando como um valor e esta ideia foi incorporada a partir do momento em que o modelo capitalista de produção percebeu que o lazer poderia ser aliado ao trabalho, construindo uma indústria de lazeres (DUMAZEDIER, 1979). As horas livres dos trabalhadores foram consideradas como repouso com o objetivo de reposição, ou manutenção, da força de trabalho. No contexto em que escreve, o autor entende que o repouso

foi substituído por um conjunto composto pelas mais diversas atividades não ligadas às necessidades ou obrigações, como deveres sociais ou familiares, por exemplo. De acordo com o autor, essas ideias emergentes contrariavam o pensamento clássico de Marx – para quem o trabalho é a essência do homem – e de Weber - que dizia que o trabalho justificaria o ganho e que toda atividade inútil à sociedade é uma atividade menor.

Discutir lazer para Dumazedier (1973) é refleti-lo como um setor que exerce consequências sobre o trabalho, a família e a cultura. Para o autor, duas condições prévias na vida social tiveram de ocorrer a fim de que o lazer se tornasse possível para a maioria dos trabalhadores:

a) as atividades em sociedade não são mais regradas em sua totalidade por obrigações rituais impostas pela comunidade. Pelo menos uma parte dessas atividades escapa aos ritos coletivos, especialmente trabalho e lazer. Este último depende da livre escolha dos indivíduos, ainda que os determinismos sociais5 se exerçam evidentemente sobre esta liberdade.

b) o trabalho profissional destacou-se das outras atividades; possui um limite arbitrário, não regulado pela natureza. Sua organização é específica, de modo que o tempo livre é bem nitidamente separado ou separável dele.

Estas duas condições coexistem apenas nas sociedades industriais e pós-industriais, não sendo o conceito de lazer aplicável aos contextos das sociedades arcaicas ou pré-industriais. Nestas sociedades, o trabalho e o jogo estão integrados às festas pelas quais os homens participam do mundo dos ancestrais, possuindo significados da mesma natureza da vida em comunidade. A partir desse entendimento, o lazer é um conceito anacrônico se referido ao mundo anterior a sociedade moderna. O trabalho inscreve-se nos ciclos naturais das estações e dos dias. Entre o trabalho e o repouso, o corte não é nítido. Esses ciclos naturais são marcados por domingos e festas, cortados por pausas, cantos, jogos e cerimônias.

O domingo pertence ao culto. As festas constituem o inverso ou a negação da vida cotidiana.

Os festejos são indissociáveis das cerimônias, estando então ligados ao culto, e não ao lazer.

A ociosidade dos filósofos da antiga Grécia ou dos fidalgos do século XVI não pode, portanto

5 De acordo com Dumazedier (1973), determinismos sociais são os condicionantes existentes na sociedade (obrigações rituais, festas religiosas, influência das tradições etc.) que limitam a livre escolha do indivíduo em relação ao lazer. Entretanto, podemos considerar que, na sociedade capitalista de produção, o lazer está num contexto de “consumo” que também limita as possibilidades de lazer dos indivíduos, aspecto não levado em conta pelo autor. Essa questão será tratada na discussão do lazer com influências marxistas que será vista a seguir.

, ser chamada lazer, pois ela não se define em relação ao trabalho, não sendo complemento ou compensação.

Para Parker (1976), nas sociedades tradicionais não havia períodos de lazer claramente definidos, e qualquer atividade podia ganhar aspecto recreativo. O lazer e o trabalho eram muito integrados, não sendo possível separar as atividades econômicas, ritualísticas, religiosas e de lazer de forma nítida como na sociedade moderna – seja em âmbito temporal ou espacial.

Tomando como exemplo a Inglaterra, ele aponta que o trabalho constituía parte essencial da vida cotidiana e o lazer não era um período separado do dia. O trabalho e o lazer estavam entrelaçados, mas quando o trabalho e o local de exercício deste passaram a ser mais específicos, o segundo passou a ser mais exigido enquanto direito. No entanto, Parker considera que algumas sociedades pré-industriais, como a grega e a romana, fazem uma distinção entre trabalho e lazer bastante próxima da concepção moderna, diferenciando nesse aspecto dos estudos de Dumazedier.

Assim, Parker (1976) coloca que o lazer é um produto da sociedade industrial e a redução das horas de trabalho acompanhou o desenvolvimento de novas formas de lazer típicas da estrutura social das sociedades modernas. A partir disso, o autor discute o lazer enquanto uma categoria social dentro das sociedades modernas, nas quais ele pode ser entendido como um concorrente ao trabalho em consequência da maior liberdade individual.

O lazer industrial é outra fonte de valores éticos, para além daqueles fundamentados na produção e no trabalho. Dentro das sociedades industriais, devem-se esperar influências sociais mais fortes do que as individuais, no que se refere ao lazer; este é praticado pelas pessoas e, dentro dessa concepção, apresenta atividades cada vez mais próximas – sendo as semelhanças maiores do que as diferenças existentes entre elas. Entretanto, Parker considera complicado definir até onde o lazer na sociedade industrial é produto desta. Assim, para ele, a difusão do que é considerado lazer na vida rural das sociedades modernas é um sinal de que o trabalho nesse meio está se organizando segundo a lógica do trabalho industrial, isto é, que a vida rural está permeada pelos modelos de vida urbana.

Dumazedier (1973, 1979) considera que algumas questões precisam ser discutidas antes do lazer. A primeira delas seria o aumento da duração do tempo livre. O autor faz essa afirmação baseando-se em trabalhos publicados nos EUA e na França nas décadas de 1960 e 1970, apontando para uma diminuição de horas e semanas de trabalho. Assim, através desses estudos, o autor indaga se é possível falar de uma evolução em favor do tempo livre. Alguns autores colocam que há um aumento global das horas de trabalho em relação às horas do

tempo livre; mas muitos desses não levaram em consideração o aumento da expectativa de vida e o crescimento demográfico da população. Isso porque, ao mesmo tempo em que há um aumento global do trabalho, há também um aumento da duração do tempo livre, já que há mais pessoas envolvidas na realização do trabalho como um todo. Desse modo, para a maioria dos trabalhadores, haverá um aumento do tempo livre por mais que alguns vejam o trabalho como a primeira necessidade do homem.

A segunda questão diz respeito à utilização do tempo liberado pelo trabalho profissional para um segundo trabalho (um bico), com a finalidade de aumentar o rendimento.

A partir de análises mais críticas de vários estudos, o autor coloca que o número de trabalhadores que procuraram ou procurariam um segundo trabalho seria em torno de 25%, ou seja, um quarto dos trabalhadores está disposto a utilizar seu tempo liberado do trabalho para outras atividades remuneratórias. Outras pesquisas nos Estados Unidos e na França mostram que a maioria dos trabalhadores de todas as categorias passou a investir seu tempo liberado em atividade fora do trabalho, principalmente no que se considera lazer. E, entre os trabalhadores em cargos executivos, são encontradas as maiores jornadas de trabalho, mas também são aqueles que, por possuírem maior renda, têm maior capacidade de praticar inúmeras atividades de lazer.

A terceira questão para Dumazedier (1979) se relaciona à ocupação do tempo liberado pela redução do trabalho profissional com “atividades familiares”, seja por parte dos trabalhadores ou das trabalhadoras. Muitos sustentam essa tese e colocam que o lazer seria um conceito menos útil e que o mais importante seria a “função recreativa da família”. De fato, o tempo liberado do trabalho profissional foi ocupado amplamente por atividades familiares.

Pesquisas em países socialistas e nos Estados Unidos mostraram que o aumento do tempo liberado pelo trabalhador contribuiu para que se aumentasse o tempo em obrigações domésticas e familiares, principalmente no que tange às mulheres. Houve um aumento do trabalho doméstico, mas é necessário fazer uma distinção entre o que realmente é um trabalho doméstico e o que não pode ser considerado como tal. Com a mecanização, o progresso e o advento da modernidade, grande parte das atividades domésticas obrigatórias diminuiu ou deixou de existir. Todo este tempo ganho do trabalho doméstico é uma forma de tempo liberado que pode aumentar, levando em consideração todas as desigualdades e ambiguidades, em tempo de lazer, para as mulheres.

Na quarta questão, o autor questiona se as atividades socioespirituais e sociopolíticas – que estão incluídas no tempo livre – seriam consideradas lazer. Em relação às últimas, ele

considera o tempo livre favoreceu o engajamento em atividades políticas, sobretudo para grupos menores e marginais. Porém, na maioria das sociedades industriais avançadas, em todas as classes sociais, o tempo liberado não é convertido em ações políticas, mas sim em atividades de lazer. Não há como, nestas sociedades, o poder político instituído (na figura do Estado, por exemplo) se apropriar do lazer, e as tentativas que existiram fracassaram. Já em relação às atividades socioespirituais, o autor coloca que não há trabalhos sobre isso, mas que em todas as sociedades industriais avançadas, para a grande maioria da população, a extensão do tempo livre é acompanhada de uma regressão do tempo dedicado às atividades controladas pelas autoridades religiosas. Mesmo onde a prática religiosa é particularmente forte, a taxa de participação regular apresentava diminuição.

Nesse sentido, sobre a redução da jornada de trabalho, o autor conclui:

[...] nossa primeira análise do resultado das pesquisas permitiu-nos afirmar que o tempo liberado pela redução do trabalho profissional foi ocupado, sobretudo, para uma minoria, por um trabalho remunerado suplementar, por tarefas doméstico-familiais, por atividades de engajamento espirituais e sociopolíticas; mas para a maior parte dos trabalhadores não há menor dúvida de que são sobretudo as atividades de lazer as que mais aumentaram (DUMAZEDIER, 1979, p. 54).

Assim, o lazer seria toda atividade que se opõe ao trabalho profissional, ao trabalho suplementar (bico), ao trabalho doméstico, às atividades de manutenção (refeições e higiene pessoal), às ritualísticas ou ligadas ao cerimonial (visitas, reuniões, questões políticas e religiosas) e às ligadas aos estudos. Em suma, o lazer era definido por oposição ao conjunto das necessidades e obrigações da vida cotidiana. Com isso, o lazer assumiu três funções: de descanso (resposta à fadiga), de divertimento, recreação e entretenimento (também em resposta à fadiga) e de desenvolvimento (novas formas de aprendizagem). Dumazedier (1979, p. 34) define lazer como:

Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para

Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para

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