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Período pós Ministério (p.M.)

Pode-se considerar que, através do percurso iniciado no Período a.M., as maiores influências em relação às políticas públicas deram-se a partir da criação do Ministério da Cultura, que foi, sobretudo, um avanço para o Estado, e, principalmente, para um país que via o setor cultural dependente de outro Ministério. Essa indagação parte por identificar, no próprio percurso, uma escala evolutiva para o setor cultural, especialmente para a classe artística.

O período de José Sarney (1985-1990) na presidência tornou-se importante para inovar os procedimentos da área cultural, pois uma de suas primeiras ações foi sancionar a Lei n. 7.50537, conhecida como Lei Sarney. Este seria o primeiro grande passo para a aproximação do governo da classe artística no que diz respeito ao fomento, pois, através dessa lei ampliou-se a possibilidade de subvenção para os profissionais da área artística. Com isso, as empresas patrocinadoras se beneficiariam através do abatimento no Imposto de Renda (IR), enquanto que os artistas teriam que captar esse recurso junto às empresas após a aprovação de um projeto na lei. Contudo, a lei não durou muito, mas implantou nos empresários a ideia de vincular a marca a um “bem cultural”, ou seja, a arte tornar-se-ia propaganda da empresa (OLIVIERI, 2004, p. 71-72).

O mandato de Fernando Collor de Mello (1990-1992) modificou o panorama iniciado por Sarney. Primeiro, transformando o ministério em secretaria, segundo por extinguir uma série de entidades administrativas, decisão que atingiu duramente a área de cultura. Devido a

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Art. 1º. O contribuinte do imposto de renda poderá abater da renda bruta, ou deduzir com despesa operacional, o valor das doações, patrocínios e investimentos inclusive despesas e contribuições necessárias à sua efetivação, realizada através ou a favor de pessoa jurídica de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, cadastrada no Ministério da Cultura, na forma desta Lei (BRASIL, 2 de julho de 1986). (Cf.: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7505.htm> Acessado em 15 de agosto de 2013).

isso, houve a revogação da Lei Sarney, juntamente com todos os demais incentivos fiscais federais ligados à área da cultura.

Apesar de todo o transtorno dado a esse mandato (os diversos impasses políticos e muitas controvérsias que desestruturaram o setor cultural atingindo diretamente grande parte dos artistas), um novo quadro instaurou-se sobre a égide da cultura, pois “entre março de 1990 a março 1991, a chefia da Secretaria de Cultura ficou a cargo de Ipojuca Pontes, que, de março de 1991 a outubro de 1992, foi seguido por Sérgio Paulo Rouanet – um intelectual com maior sensibilidade para as questões culturais que seu antecessor” (CALABRE, 2009, p. 111). Assim, o atual responsável, “por intermédio da Lei n. 8.313/91, instaurou o Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), conhecido como Lei Rouanet38” (CUNHA, 2007, p. 66).

A Lei Rouanet despertou um novo impulso para as produções artísticas culturais, mesmo com dificuldades iniciais de um programa de fomento. Apesar das inúmeras alterações nesses vinte e dois anos de existência, é um programa que ainda se encontra em atividades no âmbito federal.

Não há dúvidas de que, após esse período de embate entre Estado e artistas, novas melhorias foram se originando no ramo cultural. Apesar das leis de incentivo à cultura ainda não serem a solução para todos os problemas, elas tornaram-se uma pequena possibilidade para esse vasto campo, que envolve diferentes classes, tanto a artística, quanto a econômica e, com toda certeza, o mercado e o Estado. Portanto, inicia-se uma ligação que envolve o “artista + Estado = subvenção”. A equação aqui expressa pode identificar algumas variações que certificam um outro desdobramento: “artista + Estado = ?”, uma interrogação, pois nunca foi e ainda não é recorrente o artista se beneficiar de recursos provenientes do Estado. Independente, da “?”, reconhece-se uma possibilidade do artista tentar, já que no passado essa variante tornava-se inábil pois o mecenato era concedido através de outras vias, como o patrocínio.

Além disso, instaura-se uma abrangência com o mercado, buscando como solução o aprimoramento da democracia brasileira e o crescimento da economia nacional através dessas atividades iniciais do governo com o incentivo de produções artísticas. Diante dessa equação, para João Carlos Couto “o processo ficou mais complicado e mais difícil, mas abriu um novo e considerável leque de oportunidades. Começava a ser possível pensar em projetos que antes

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A Lei Rouanet adotou procedimentos similares ao da lei de incentivo fiscal à cultura do município de São Paulo, conhecida como Lei Mendonça. A lei n°10.932 de 30 de dezembro de 1990, foi regulamentada em 17 de abril de 1991 instituindo incentivo fiscal à cultura para a cidade de São Paulo (OLIVIERI, 2004, p. 80).

ficariam na gaveta. Começava, em muitos casos, ser possível planejar” (COUTO, 2013, entrevista).

Diante dessa situação, mediante às leis e a todo o meio de subvenção, depara-se com duas vertentes: primeiro, os artistas se beneficiam; segundo, tornam-se dependentes de “editais” e “patrocínios” para produzir. Em função dessa situação, a produção cultural encontra-se condicionada aos meios federais, estaduais e municipais, tal como às empresas. Além disso, existiam aqueles que pleiteavam e concorriam a editais e nem sempre eram atendidos em suas solicitações.

Em vista disso, os artistas e os grupos, em sua maioria, ao ganharem um edital, necessitariam de uma empresa para patrocinar a produção do espetáculo, já que, em determinadas situações, o patrocínio é concedido mediante uma troca, uma vez que há o investimento nos artistas; no entanto, sua imagem é investida como forma de propagandear as empresas investidoras – enquanto um patrocina, o outro divulga a empresa. São procedimentos com os quais os artistas deparam-se para encontrar possibilidades de subsistência. Alguns se sentem vendidos e optam por trilhar alternativas que não se enquadram nessas ações políticas; outros, por possuírem uma visibilidade televisiva em massa, aproveitam a fama para beneficiar-se, e, também, promover a marca.

Todavia, é a partir da busca por uma estabilidade econômica, que o próprio sistema atraiu a iniciativa privada para aliar esforços da administração pública no desenvolvimento cultural e de seu mercado, alavancando uma ampliação que se diferencia de inúmeros países do mundo. Um dos inúmeros desafios a serem enfrentados é o “de descobrir os meios de chegar a ele [ao mercado cultural]” (WEFFORT, 1998, p. 23). Embora reconheça que a finalidade da cultura não é o mercado, mas a formação de uma identidade cultural, em suas palavras Weffort não deixa de salientar que a nossa “identidade” é essencial para o amplo mercado produtor e consumidor de cultura, inclusive com a necessidade de exportar o que produzimos. Além disso, vale lembrar que “a cultura é também um investimento e que, como tal, cria empregos e oportunidades de lucro” (WEFFORT, 1998, p. 25).

A situação faz com que tal ação seja responsável por gerar programas que estimulem à exportação de bens culturais. Apesar dos inúmeros avanços por todo o Brasil, principalmente com a descentralização da arte, apenas uma fonte de fomento ainda não é suficiente para promover uma ação de subsistência dos artistas.

Na realidade, o que acontece é que, se um grupo aprova um projeto com recurso para um determinado ano, o artista não poderá realizar o trabalho com a devida tranquilidade

durante o referido ano porque já necessitará trabalhar na criação de outro projeto que possa ser aprovado no ano seguinte.

O artista, em função da sua necessidade, torna-se também um “projetista”, pois, dentre tantas funções atuais da arte, uma delas consiste na criação de projetos, pela gana de querer continuar com um espetáculo, na busca de recursos que garantam a continuidade do trabalho, da subsistência do grupo. Alguns possuem essas características de delinear o trabalho da cena e da produção; mas outros artistas se viram na necessidade de encontrar um profissional que possa preencher essa lacuna.

É nessa vereda que a figura do produtor cultural torna-se cada vez mais presente: em meio aos trabalhos realizados por grupos, por teatros, por encenadores e atores. Mas a função não é apenas de um administrador, mas de um idealizador.

Enquanto a vida artística vem se consolidando no Brasil, sobretudo a partir da década de 1970, a figura do produtor passa a ser encontrada, em alguns grupos, incumbindo-se da parte logística de modo a evitar que o artista seja o responsável também por essa tarefa.

Além disso, o produtor, em meio ao processo de consolidação das leis de incentivo à cultura, foi o agente que se capacitou nessa “nova” forma de conseguir recursos financeiros, pois ao produtor não cabe apenas contribuir com as atividades técnicas do espetáculo, mas também com a pré-produção, a produção e a pós-produção, de maneira que suas funções alavanquem possibilidades de atribuir recursos ao campo artístico, desde a aprovação de um projeto à realização do mesmo, e assim, a permanência desse ciclo.