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Perceções dos docentes face à inclusão de alunos com

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2. Perspetivas dos professores sobre a inclusão dos alunos

2.3. Perceções dos docentes face à inclusão de alunos com

O último tema que resultou da nossa análise de conteúdo às entrevistas prende-se com as perceções dos docentes sobre a inclusão de alunos com MD nas salas de ensino regular. Começamos por descrever aspetos relacionados com: i) as vantagens da inclusão, ii) as dificuldades sentidas, iii) como as ultrapassar e por último iv) as necessidades de formação.

2.3.1. Vantagens da inclusão

As três docentes entrevistadas foram unânimes em afirmar que a inclusão é vantajosa no sentido em que facilita a socialização, promovendo o contato entre os alunos com e sem NEE. Disseram também que facilita as aprendizagens das alunas com MD. Afirmaram ainda que a inclusão promove valores de cooperação, solidariedade e tolerância nos alunos sem NEE.

Transcrevemos alguns excertos que ilustram estas ideias:

“…acho que é positivo para estes alunos a sua inclusão nas turmas de ensino regular, principalmente ao nível da socialização e também ao nível das aprendizagens.” (DH)

“…a partilha de experiências entre os diversos alunos com e sem deficiências é benéfico para todos. As alunas com multideficiência ao serem integradas na turma, podem fazer algumas aprendizagens, ao interagir com os pares em ambientes naturais e vão beneficiar sobretudo ao nível da socialização. Por outro lado, a presença destas alunas na turma é também muito importante para todos, pois permite o desenvolvimento de sentimentos como a ajuda, a cooperação, a partilha, a tolerância e a solidariedade.” (DS)

“…esta aluna beneficia com a integração na turma, principalmente a nível da socialização,…” (DT)

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2.3.2. Dificuldades inerentes à inclusão

À questão do estudo sobre as dificuldades sentidas pelos docentes para incluir alunos com MD nas suas turmas, duas docentes afirmam ser a comunicação com as alunas, um dos grandes problemas. O facto de estas alunas não conseguirem expressar-se e comunicar da mesma forma que os alunos sem NEE, é um dos maiores desafios que declararam enfrentar. Da mesma forma, afirmaram sentir dificuldade em articular o currículo da turma com o currículo específico individual das alunas. Ligada a esta, outra dificuldade referida prende-se com a criação de atividades e estratégias que respondam às necessidades das alunas, bem como a promoção de interações entre as alunas e os pares.

Uma docente emprega ainda no seu discurso a palavra “insegurança”, para descrever o que sente face à presença destas alunas na sua sala de aula e este sentimento relaciona-se em parte, com a imprevisibilidade das reações das alunas, perante as atividades propostas.

A mesma docente menciona ainda a falta de recursos humanos, referindo-se especificamente à falta de assistentes operacionais a tempo inteiro na sala de aula, provocando este facto alguma perturbação na sala.

A falta de condições nas salas de aula para incluir estas alunas, é citada por uma docente, referindo-se especificamente à falta de meios facilitadores de comunicação. Em seguida transcrevemos excertos do discurso das docentes que ilustram estes dados:

“Uma das dificuldades é não ter uma auxiliar a tempo inteiro na minha sala, porque a aluna precisa de uma pessoa para fazer tudo, ela distrai-se facilmente e é preciso estar sempre a chamar-lhe a atenção, precisa de ir acompanhada à casa de banho, se o material cai no chão alguém tem de apanhar e isso provoca alguma perturbação na sala.” (DH)

“É um grande desafio porque nós todos os dias estamos sem saber como a aluna vai reagir às nossas propostas e é sempre uma incógnita a forma como o trabalho vai correr.” (DH)

“…Preocupava-me o aspeto dos objetivos a trabalhar com ela,…” (DH)

“…A minha preocupação foi criar condições para fazer a inclusão das alunas na turma, o melhor possível. As maiores dificuldades que senti foram, criar estratégias e atividades que fossem ao encontro dos interesses e necessidades destas alunas.” (DS)

55 “…A minha principal preocupação foi estabelecer condições para a inclusão da aluna na turma e as grandes dificuldades foram no sentido de como estabelecer comunicação entre a turma e a aluna.” (DT)

2.3.3. Como ultrapassar essas dificuldades

Perante um discurso de dificuldades e desafios inerentes ao processo de inclusão, entendemos importante questionar as docentes sobre como essas dificuldades poderiam ser ultrapassadas ou minimizadas. As docentes afirmam por um lado, a necessidade de manter, e em algumas situações aumentar os recursos humanos e materiais, e por outro lado investir em atividades que se adeqúem às necessidades e interesses das alunas.

Os excertos que se seguem refletem as perceções das docentes sobre estas questões:

“No meu caso facilitava muito se tivesse uma auxiliar a tempo inteiro na minha sala.” (DH)

“Vou esclarecendo as dúvidas com a colega da educação especial, ela dá-me algumas dicas para trabalhar com a aluna.” (DH)

“Tento minimizar as dificuldades procurando atividades que estejam de acordo com o programa e que possam de alguma forma ir de encontro às necessidade e interesses destas alunas.” (DS)

“ …tenho procurado saber mais da problemática de cada uma das alunas junto dos Encarregados de Educação, da professora de Educação Especial, de todos os técnicos envolvidos e procuro informações na Net.” (DS)

“Relacionar mais o programa comum, com atividades compatíveis com a aluna.” (DT)

“Troco opiniões com a professora da educação especial e procuro informações na Net.” (DT)

2.3.4. Necessidades de formação

As dificuldades e as dúvidas sentidas pelos docentes do ensino regular no processo de inclusão de alunos com MD nas suas salas de aula, estão também em grande parte relacionadas com a falta de experiência e de conhecimentos sobre a problemática, e com as práticas a desenvolver. Por esse motivo a questão da

56 formação, quer em educação especial quer em multideficiência foi um dos temas que emergiu nas entrevistas realizadas.

Com efeito, como tivemos previamente oportunidade de analisar aquando a caraterização das docentes que participaram no nosso estudo, verificámos que estas não possuem qualquer tipo de formação em educação especial e em multideficiência em particular, o que segundo as mesmas condiciona substancialmente as suas práticas pedagógicas. Consideram ainda, que sentem necessidade de realizar formação na área da multideficiência, para melhorarem o seu desempenho pedagógico com estas alunas, como podemos confirmar nas suas citações:

“Sinto necessidade de fazer formação na área da multideficiência, para trabalhar melhor com este tipo de problemáticas.” (DH)

“Necessito de mais formação nesta área para poder estar mais à vontade para trabalhar com este tipo de crianças…” (DS)

“Sinto que preciso de mais formação nesta área, nomeadamente ao nível de meios de comunicação alternativos.” (DT)

Colocada a questão às docentes se tinham conhecimento de como procurar a formação que achavam necessária, todas responderam afirmativamente, o que face à constatação acima referida, podemos inferir que se realizaram progressos no que diz respeito à oferta de formação na área da educação especial.