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Percentual de leitores por classe social

Outras características valorizadas nesse perfil da revista são: as conexões emocionais com que tocam as leitoras, principalmente nas temáticas mais delicadas; as reportagens de serviço para orientações do dia-a-dia; as trocas de experiências que mostram histórias surpreendentes tanto das celebridades quanto de pessoas comuns; os acontecimentos do cenário cultural nacional e internacional; e também a apresentação de lançamentos de produtos originais e inspiradores.

Quanto ao conteúdo das publicações, a breve apresentação do Mídia Kit ressalta que as temáticas apresentadas acima são aglutinadas em seis categorias que definem em síntese a publicação e a proposta de Claudia: inspiração, de modo que a troca de ideias é o motor das transformações; moda, priorizando o consumo inteligente; beleza e saúde, ajudando as mulheres a fazerem escolhas; empreendedorismo e liderança, já que não há discussão mais atual que a equidade de gênero; relacionamentos e família, de modo a se sentir menos pressionada e comunicar-se melhor; e casa, comida e bebida, com receitas para ocasiões especiais e decorações inspiradores.

Quanto ao universo online, a primeira aposta da Editora Abril no comércio digital de suas publicações foi o Portal Iba, em março de 2012, vendendo jornais, livros e revistas online. Dois anos depois, a plataforma foi reformulada, oferecendo assinaturas mensais de quatros exemplares de revistas da editora, transformando-se no Iba Clube. Com acesso por meio de dispositivos móveis ou pela página da internet em computadores e notebooks, nossa pesquisa iniciou-se nessa plataforma, que sofreu outra alteração em outubro de 2016, mudando novamente o nome e tornando-se o atual Go Read. Essa versão manteve as principais características da última plataforma com o diferencial de não mais precisar escolher os títulos favoritos, pois o acesso do assinante tornou-se ilimitado a mais de 100 revistas da editora e de parceiras. Dessa forma, abriu-se uma um importante portal de investigação sobre esse tão sedutor suporte midiático, a revista.

Para compreendermos o conteúdo desses veículos na atualidade, precisamos ficar atentos às novas configurações cotidianas, resultado da intensificação dos processos capitalistas e industriais que começaram no século XX, como já falamos, e que se perpetuaram, desdobrando-se para as novas possibilidades tecnológicas e sociais.

Dentre as mutações socioculturais, muita ênfase tem sido colocada na ruptura na maneira pela qual é construída a identidade feminina, bem como a relação entre os sexos, resultantes da transformação sem precedentes no modo de socialização e de individualização do feminino, que levou a uma

generalização do princípio de livre governo de si, a uma nova economia dos poderes femininos (LIPOVETSKY, 2000, p. 231).

A concepção de mulher, no século XXI, é diferente da que tínhamos na década de 1960, período de grandes rupturas na sociedade. Lipovetsky (2000) fala sobre o surgimento de um novo perfil de mulher nas últimas décadas, a qual denomina de terceira mulher: mais livre; assumindo o controle do seu corpo sem abrir mão da feminilidade; inserida em projetos individuais como estudos e trabalho; e rompendo com a reclusão doméstica que prevalecia em meados do século passado.

Desvitalização do ideal da mulher no lar, legitimidade dos estudos e do trabalho femininos, direito de voto, “descasamentos”, liberdade sexual, controle da procriação: manifestações do acesso das mulheres à inteira disposição dessas em todas as esferas da existência, dispositivos que constroem o modelo da “terceira mulher” (LIPOVETSKY, 2000, p. 236).

É importante pensarmos que é essa a constituição da nova mulher a qual a revista se refere, à medida que acompanha os processos da sociedade. É importante também que nossa análise consiga ver além das adaptações que dizem respeito aos novos processos cotidianos, de modo a conseguirmos estabelecer as afinidades - continuidades ou descontinuidades - dentro da linha seguida pela revista.

Outra característica marcante nesse contexto atual é a interação da revista impressa com o mundo digital. Desde junho de 2016, utilizando o celular ou tablet é possível visualizar conteúdos que complementam as matérias, muitos deles exclusivos e produzidos pela equipe de redação. Para ter acesso basta baixar o aplicativo gratuitamente e apontar a câmara do dispositivo móvel para as páginas marcadas com o símbolo de Mobile View. Essa não é apenas uma inovação na revista, mas na editora, envolvendo as demais publicações. Em Claudia, cerca de três ou quatro páginas possuem essa extensão digital que figuram trailer de filmes, galeria de fotos, depoimentos do entrevistado, vídeos das receitas e comentários das editoras. Essa adaptação é ainda mais interessante se pensamos nos números divulgados pelo próprio Mídia

Kit, em que 56% das leitoras acessam a internet pelo celular. É a revista, um veículo tão antigo,

se adaptando as configurações dos novos tempos.

Além disso, o conteúdo veiculado por Claudia nos dias atuais perpassa as edições impressa e digital mensais e encontra suporte no site e nas redes sociais para atualizações diárias, abrindo espaço para um novo tipo de jornalismo que aglutina as características da atemporalidade típica das revistas, com a velocidade, que constitui a internet. Então, além das adaptações digitais correspondentes ao conteúdo da edição, essas plataformas se atualizam de

acordo com acontecimentos momentâneos e se pautam bastante nas discussões que movimentam o universo digital. Mas não se limitam a isso, o site também produz conteúdo próprio bem rente ao estilo da revista com ideias para decorar, cuidados de beleza, universo das celebridades e dicas de carreira.

O site esteve vinculado, até final de 2016, com o material produzido por outras nove marcas femininas da editora, formando o M de Mulher, agregando um conteúdo diverso direcionado as mulheres. Em novembro entraram no ar novas plataformas, sites específicos para cada publicação, oferendo uma experiência condizente com a identidade da marca específica, de modo a aproximar ainda mais a leitora da revista. Assim o M de Mulher continua com a mesma proposta, aglutinando o conteúdo produzido pelas outras plataformas, direcionando para os sites, mas também produzindo conteúdo próprio como uma nova marca da editora. Segundo notícia divulgada pela Abril, a migração também teve o objetivo de melhorar a performance da publicidade11.

Segundo a última pesquisa lançada pela editora, em março de 2017, o público leitor do site constitui-se 100% por mulheres, diferente do antigo perfil do M de Mulher, que apresentava um número de visitantes homens bem acima do percentual indicado na versão impressa. Apesar disso, as seções do site e da revista são bem parecidas, englobando moda, beleza, carreira, famosos, receitas, saúde, horóscopo e Claudia Coaching – pequenos tutoriais com dicas sobre assuntos diversos, que vão de beleza a cuidado com os filhos. Todas essas vertentes estão bem direcionadas ao público feminino e atividades que pautam o cotidiano das mulheres. Essa separação das marcas proposta pela editora talvez tenha realmente surtido um efeito significativo nesse sentido de direcionamento para o perfil de leitores da publicação.

O site também possui outro dado quanto ao perfil que releva uma ligeira diferenciação de público se comparado com o da versão revista. Grande parte das leitoras é mais jovem, quase 40% possuem entre 25 e 34 anos. Já o público com mais de 50 anos, que constituíam representatividade na revista, no site é bem reduzido. Como essas margens etárias fornecidas pela editora não convergem entre as duas plataformas (vide fig. 6), fica mais difícil uma comparação mais precisa. Mas é possível perceber que há sim uma diferença nesses públicos e implicitamente, uma diferenciação de conteúdo. Talvez esses números sejam também um reflexo do perfil dos assinantes das redes sociais, que são utilizadas para promover o site.

Segundo dados do estudo realizado pela Serasa Experian12 em 2013, a faixa etária mais relevante nas redes é justamente a de 25 a 34 anos.

Figura 6 - Gráfico do perfil das leitoras do site da revista Claudia quanto a idade. Fonte: Dados retirados do Publi.abril

As redes sociais, que englobam instagran, facebook e twitter, além de compartilharem produções do site também se desenvolvem dentro de cada plataforma, explorando os recursos que cada uma oferece. O conteúdo do twitter é o menos original e não tem a mesma desenvoltura das outras duas redes, limitando-se basicamente a repostagens, principalmente do

instagran. Como a característica principal da rede relaciona-se com notícias atualizadas

sintetizadas em poucos caracteres, a revista não tem tanta abertura para se apropriar desse espaço.

No facebook e no instagran, percebemos uma Claudia mais interativa e adaptada as possibilidades que cada uma dessas redes oferecem. É bem comum nesses dois meios (principalmente no facebook) a postagem de links que direcionem para o site, tratando de temáticas inéditas, que não se encontram na revista. As publicações que não se relacionam diretamente com o site (que são minoria) envolvem a produção de outras revistas da mesma editora e conteúdos do M de Mulher. Já no instagran, como a parte visual é a mais forte, Claudia compartilha postagens de famosos, lugares inspiradores e belas frases, mantendo com os

12 Disponível em: http://tectriadebrasil.com.br/blog/perfil-dos-brasileiros-nas-midias-sociais-analise-e-estrategia/

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