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Parte II: Revisão Bibliográfica e Referências

7 Dispositivos e Próteses Ambientais

7.2 Percepção ambiental

Ao considerarmos o alojamento desse público, pensamos em estruturas que ofereçam serviços de hospitalidade. O antigo conceito de que hospitalidade implicava basicamente em oferecer serviços corretos, considerando atendimento pessoal, higiene e alimentação, passou a ser ampliado a partir do momento em que os espaços internos demonstravam, também, preocupação com o prazer estético. Assim, cores e texturas passaram a ser característica coadjuvante nos elementos efêmeros, possibilitando novos arranjos e, conseqüentemente, constantes renovações. É sempre agradável morar num empreendimento que pareça novo, pois a idéia de “primeiro uso” faz com que nos sintamos valorizados e permite a apropriação do espaço com atmosfera residencial. Desse modo podem ser explorados todos os aspectos psicodinâmicos do ambiente, através das sensações espaciais provocadas pela composição nos cinco sentidos do usuário.

Fig. 1: Apartamentos do residencial português Origens apresentam cuidado com a composição, permitindo um resultado estético agradável e com fácil manutenção.

Conforto é a sensação de estar em harmonia física e emocional com o ambiente, considerando-se os estímulos advindos das condições de clima, de desenho de equipamentos, de sons, de texturas e de cores, considerando sempre a relação do indivíduo carregado de experiências, que define sua condição cultural. Para cada indivíduo, particularmente, haverá uma condição diferente de conforto, de acordo com o

seu equilíbrio orgânico e psicológico. Portanto, tal como a arte que estimula a mente, o conforto estimula o corpo, positiva ou negativamente. Segundo Schmid (2005):

“Uma tentativa pacificadora de classificação associaria conforto à satisfação do

corpo, e a arte à satisfação da mente. Esta aparente simplicidade encobriria o fato de ambos os valores coexistirem na arquitetura, principalmente na arquitetura residencial, e não parecerem ingredientes independentes: da continuidade entre estes valores há muitos indícios. (...) no seu nível de transcendência, o conforto se torna prazer, e se torna difícil separar um prazer físico de um prazer estético.”12

A psicologia e a arquitetura têm buscado, em estudos recentes, quais as relações sensoriais dos indivíduos inseridos em espaços, quer sejam particulares, quer sejam públicos. Criou-se uma matéria já denominada Psicologia Ambiental e que desenvolve pesquisas sobre a percepção sensorial, analisando-se o bem-estar do usuário nesses espaços.

“A psicologia ambiental examina a inter-relação entre ambientes e o comportamento humano. O termo ambiente é geralmente definido para incluir tudo o que é natural no planeta tais como cenários sociais, ambientes construídos, ambientes de aprendizagem e informacionais.”13

Sabe-se que os estímulos provocados por cores, texturas, sons, odores e sabores podem trazer a quem os experimenta as mais diversas sensações, que são codificadas de acordo com suas experiências anteriores, além da cultura adquirida no meio familiar e social. Existe, então, a determinação de preferências que estabelecerão os aspectos de conforto ambiental, equacionados de acordo com as características de cada indivíduo, considerando-se faixa etária, padrão sócio-econômico, origem étnica e cultural, dados antropométricos e de saúde, enfim, códigos que tornam cada pessoa um ser único e capaz de perceber de modo único.

12 SCHMID, Aloísio L.. A Idéia de Conforto – reflexões sobre o ambiente construído. P. 58. 13 De Young, R. Environmental Psychology. 1999

Mas há motivos que transformam essa equação fundamental: situações traumáticas, alterações emocionais, submissão na convivência social. E esse pode ser o ponto que resuma, atualmente, o surgimento de diversas novas doenças associadas ao medo gerado pela violência urbana, oprimindo a liberdade de expressão, acelerando a passagem por percursos agressivos e impedindo experiências satisfatórias de percepção do espaço das cidades. Esse desafio aos governantes municipais provocou a revisão dos conceitos e, associados a entidades que se reuniram para discutir a cidade, passaram a pensá-la estimulante, mas não despersonalizada, revitalizando praças e ruas através de dispositivos e sistemas de sinalização mais condizentes com as expectativas dos cidadãos contemporâneos e de acordo com as características regionais, num resgate de cultura para manutenção das especificidades. O conceito de shopping center transfere-se para a cidade, mas a segurança ainda representa um elemento inibidor aos passeios descontraídos, pois calçadas estreitas, em ruas de alto fluxo, iluminação inadequada e falta de policiamento acabam por reduzir o prazer da experiência do passear.

Fig. 2 – Calçadas projetadas podem apresentar dispositivos seguros para quaisquer situações.

Caminhar é um dos exercícios mais recomendados para todas as faixas etárias, e se essa ação de caminhar for associada a exercícios mentais de leitura em vitrines, conversas com amigos, alimentação saudável e outros motivos, fará com que as pessoas

com tempo livre o ocupem de modo sadio e proveitoso, ampliando seu prazer na convivência social.

Como analisar essa situação da virada do século XXI e compreendê-la nesse novo contexto demográfico? Considerando o aumento da longevidade, causado pela melhoria da saúde através dos avanços da medicina, a capacidade física das pessoas também melhorou, o que estimula ainda mais a busca por atividades que preencham o tempo livre e determinem um complemento de experiências que dêem sentido à vida das pessoas. Assim como o turista que se afasta do seu contexto social e assume atitudes completamente opostas, tais como usar roupas muito diferentes (até ridículas), participa de programas que não aceitaria normalmente e, aparentemente, muda sua personalidade, as pessoas que deixam uma rotina profissional de muitos anos, e mesmo as que convivem diretamente com elas, necessitam relaxar quanto às cobranças impostas para que seja mantido um nome, uma atitude, um status quo. Espaços concebidos a partir da variedade de necessidades que esses indivíduos trazem consigo podem atender a esse anseio por bem-estar.

A partir de estudos elaborados a respeito das características de vida, dos acidentes mais freqüentes e dos dados antropométricos dos indivíduos idosos, passaremos a considerar questões espaciais, abordando aspectos relacionados à localização, aos espaços coletivos e análise dos espaços internos. Assim, analisar diferentes situações de espaço certamente trará informações importantes quanto às condições recomendáveis para cada atividade, ou mesmo, à fusão delas, quando pensamos em usuários específicos, tais como os idosos. Quanto à acessibilidade, atender a esses requisitos de modo a garantir segurança e conforto é uma prioridade que já faz parte incontestável de qualquer análise espacial quanto a recomendações de projeto arquitetônico.

“A importância de adequar os espaços a todas as pessoas vem sendo gradativamente absorvida pelos responsáveis pela criação de espaços, objetos e

produtos. Esse conjunto de ações faz parte de um processo visto como um caminho sem volta.”14

O Desenho Universal atenderá as exigências que garantam a inclusão física de quaisquer indivíduos nesses espaços projetados, mas certamente não garantirá a interação, já que depende de outras questões de matriz cultural, sempre de acordo com o público alvo a quem se destina o empreendimento.