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Parte II: Revisão Bibliográfica e Referências

6 Caracterização do Idoso Hoje

6.1 Premissas e restrições

Arquitetura é a arte de construir para atender os desejos das pessoas1, que são conflitantes e, portanto, conciliados pelos programas dos projetos. Todo espaço deve ser cuidadosamente planejado, e os arquitetos têm desenvolvido soluções que, juntamente com os avanços tecnológicos, proporcionam condições para a constante busca desse ideal. Recentemente, na década de 60, iniciaram-se estudos sobre as barreiras arquitetônicas e o aperfeiçoamento do desenho dos espaços que contemplem a melhor acessibilidade, através de um desenho universal2. Os princípios básicos que o norteiam dizem respeito à adequação dos espaços a pessoas de diversos padrões antropométricos, reduzindo esforços desnecessários e considerando a diminuição da capacidade visual e auditiva, através de soluções específicas. Assim sendo, um projeto arquitetônico deve ser elaborado considerando-se todos os componentes como um sistema complexo e inter- relacionado. Há muitos estudos voltados à terceira idade, mas, apesar disso, nenhum deles aprofundando as necessidades do idoso em sua moradia, quando nem sempre os edifícios estão preparados para recebê-los adequadamente.

Chamam-se idosas as pessoas que compõem o grupo de indivíduos com mais de 60 anos, classificado como de terceira idade. Em função da expectativa de vida tornar-se mais comum a partir dos 90 anos, criou-se o segmento da quarta idade, estimando-se que

1 GUEDES, Joaquim. Conceitos apresentados no processo de orientação, maio/2005. 2 PETERS, Izaura. Projetando para Todos, 1999.

em 2050 cheguemos a viver 130 anos. Os idosos que representavam apenas 3,2% da população geral de 1900 e 4,7% em 1960 poderão atingir 13,8% no ano de 2025, estimando-se que a população de 25 anos será igual a de 60 anos. No período de 1960 a 2025, espera-se que o crescimento da população idosa seja de 917% enquanto que o ritmo de aumento da população total deverá cair para 250%. Em 2001 tínhamos aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60 anos e projeções indicam que seremos o sexto país do mundo em número de idosos no ano de 2020, com aproximadamente 32 milhões de indivíduos.3

“Em 2025, seremos o sexto país com a maior população idosa do mundo. (...) A imagem da velhice no país, freqüentemente associada a perdas, doenças e filas no INSS, está dando espaço, ainda que de forma tímida, a iniciativas do governo e de entidades para a criação de clubes, associações, cursos e serviços para a terceira idade. Os idosos hoje procuram exercer mais a sua cidadania. E estão crescendo em número”.4

É importante determinar a escala das percepções, dos julgamentos, e do comportamento dessas pessoas das quais nós estamos tratando. Uma pessoa idosa que se torne frágil ou se incapacite pode residir normalmente em uma unidade habitacional dependendo de sua instalação. Há plena convicção de que é desejável que essas pessoas residam em suas próprias casas tanto tempo quanto possível, porém é preciso que as moradias sejam concebidas para acomodar a potencialidade declinante do idoso.

“O processo de envelhecimento da população brasileira acontece sob uma conjuntura sócio-demográfica que, além das conseqüências imediatas e indiretas das variações nos níveis e padrões das variáveis demográficas e aqueles outros elementos considerados até o momento, aponta por um enfraquecimento da base familiar como suporte na velhice; a erosão da base contributiva para os programas de previdência social, em razão da ampla fração populacional alijada do mercado de trabalho, seja pelo desemprego ou sub-emprego e a fragilidade de mecanismos institucionais de transferência de renda em favor dos mais pobres. Neste sentido, as mudanças nos arranjos familiares, envolvendo desde uma redução no número de parentes até a

3 TAVARES, Almir. Projeto Lar dos Idosos. 4 ABRAMCZYK, Júlio. A Saúde e a Mídia.

constituição dos domicílios dos idosos, ao lado das tensões entre o suporte familiar e as fragilizadas formas institucionais de suporte à velhice, por uma política neoliberal que coloca em segundo plano as políticas sociais, juntamente com os fenômenos apontados, têm que ser considerados no diagnóstico e na formulação de políticas, projetos e ações que visam o bem estar da população idosa brasileira e a sua futura qualidade de vida.”5

Geralmente percebemos os idosos com os quais convivemos, e os tornamos referência, o que pode acarretar uma visão extremamente distorcida e um obstáculo à objetividade, desenvolvendo um conceito equivocado de que a maioria dessas pessoas se tornará senil ou dependente. A menos que esta polarização seja removida, a discussão sobre o tema, incluindo o projeto concreto da moradia, não evoluirá. Assim, foram feitas análises específicas, na tentativa de esclarecer características das pessoas idosas usando potencialidades básicas da vida diária. Fez-se um exame para nortear os problemas das moradias atuais como forma de esclarecer os aspectos que devem ser considerados ao projetá-las. Uma alternativa rara, mas satisfatória, deveria ser projetar para cada caso em particular e assim incorporar seus termos e circunstâncias. Isto indicaria que a população idosa já estaria sendo previamente bem cuidada, mas tal tratamento pessoal é impossível. Porém, essa demanda já requer moradias com projeto padrão flexível, solução melhor do que usá-las convenientemente sem qualquer modificação significativa.

Os guias convencionais de projeto para moradias especializadas foram estabelecidos particularmente para residentes com deficiências, mais do que para as necessidades de pessoas idosas, exceto a NBR 9050, revisada e reeditada em outubro de 2004. A informação é escassa a respeito do que é indispensável às pessoas idosas com nenhuma limitação particular e que simplesmente estão envelhecendo lentamente. Em conseqüência, pensa-se que mesmo quando essas pessoas se tornam frágeis enquanto envelhecem, poderão manter sua autonomia. É irreal esperar sua potencialidade do braço ser suficiente para controlar uma cadeira de rodas manual quando a força dos membros inferiores declina consideravelmente, assim como é também impensável para uma pessoa idosa a operação de certas atividades somente com a força da parte superior do corpo.

5 MOREIRA, Morvan de Mello – Envelhecimento da População Brasileira: Aspectos Gerais.

Exceto ao sair, as pessoas idosas mais provavelmente viverão dentro de uma moradia usando corrimãos ou andadores para a sustentação tanto quanto possível. Deve-se avaliar a idéia de excluir equipamentos fundamentais da moradia com a expectativa de que a ajuda e o cuidado serão fornecidos especialmente por membros da família. Este papel se opõe também à opinião de que todas as moradias devem ser construídas de modo que as grandes cadeiras de roda possam ser acomodadas. É ao menos impróprio colocar pessoas regulares e pessoas idosas com inabilidades na mesma categoria para a discussão. Para dar um exemplo, as rampas projetadas para uma cadeira de rodas podem ser perigosas, em especial ao descer, para as pessoas idosas com o caminhar declinando, que confiam em corrimãos ou em bengalas. 6

É possível desenvolver uma tecnologia para melhorar ambientes residenciais em uma sociedade do envelhecimento, concebendo um projeto detalhado desde a definição dos usuários até a manutenção do edifício, passando por materiais empregados e mobiliário. Os diversos tipos de pesquisa revelaram os dados que fornecem indícios às soluções e a discussão de um projeto desejável de moradia deve ser baseada na conveniência e na segurança dos residentes, através do exame daqueles dados.