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A comunicação comumente depende de vários fatores para estabelecer-se. Estes fatores, estão relacionados diretamente ao repertório de conhecimentos, experiências e valores dos participantes do processo comunicativo. A percepção é um desses fatores. Para falar sobre ela, serão utilizadas as seguintes referências: Bordenave (2002), Solomon e Ribeiro (2002), Aumont (2004) e Iida (2001).

Bordenave (2002) afirma que a comunicação necessita principalmente da percepção dos indivíduos envolvidos, além da influência essencial das habilidades perceptivas, que envolvem as capacidades físicas destes indivíduos que interferem no processo de percepção da informação repassada.

Para Solomon e Ribeiro (2002), a percepção está relacionada à seleção, organização e interpretação de sensações criadas por receptores sensoriais, como olhos, nariz, ouvidos, mãos, a estímulos básicos como luz, odores, sons, formas e texturas. A figura 1 apresenta uma visão global do processo perceptivo apontado por Solomon e Ribeiro (2002).

Figura 1: Visão geral do processo perceptivo Fonte: Solomon; Ribeiro 2002, pg 52

Para efeitos de estudo, esta pesquisa se restringe aos aspectos sensoriais relacionados à visão, uma vez que este sistema sensorial é o mais afetado e que possui papel determinante na percepção do objeto de estudo - a embalagem. Em termos de diferencial de projeto, pode-se trabalhar com outros sentidos humanos, porém estes recursos ainda não são muito explorados no projeto de embalagens, os quais limitam-se em sua maioria ao uso de recursos somente de ordem visual.

O processo de percepção visual depende principalmente da capacidade de visão, sendo que esta se relaciona com o funcionamento dos olhos, portanto a compreensão deste mecanismo humano se torna relevante.

Aumont (2004), bem como a Sociedade de assistência aos cegos (2005)5 definem este mecanismo e seu funcionamento como um globo de diâmetro próximo a dois centímetros e meio, revestido externamente por uma camada chamada esclerótica, que confere proteção e estruturação ao olho. A córnea, situada na parte frontal, garante maior possibilidade de convergência dos raios luminosos. Atrás da córnea, encontra-se a íris, músculo esfíncter comandado por reflexo que contém em seu centro uma abertura denominada pupila, que pode atingir de aproximadamente dois a oito milímetros de diâmetro, conforme a incidência de luz. A luz que atravessa a pupila passa ainda pelo cristalino, lente biconvexa de convergência variável, que tem como função focalizar o raio luminoso direcionando-o à retina, que é a camada que reveste internamente o olho.

Finalmente na retina, os impulsos luminosos recebidos do exterior - que ali chegam de forma invertida (em função da estrutura do cristalino) – são direcionados ao cérebro, sob a forma de impulsos elétricos através do nervo ótico. Ao chegar ao cérebro, esses impulsos elétricos são convertidos em sua posição correta e assim as pessoas enxergam o mundo em sua volta. As figuras 2 e 3 apresentam respectivamente, a estrutura do olho e o esquema do processo da visão.

Figura 2: Estrutura do globo ocular

Fonte: Sociedade de assistência aos cegos, 2005

Figura 3: Processo da visão Fonte: Companhia da Escola, 2006

Aumont (2004) expõe os vários elementos que constituem a percepção. São eles: Percepção da luz: está relacionada à reação dos olhos aos fluxos luminosos. Pode se manifestar por meio da visão fotópica, que corresponde a toda a gama de objetos iluminados pela luz diurna, acionando assim os cones que são responsáveis pela percepção das cores; e da visão escotópica, que compreende a visão noturna, predominando a ação dos bastonetes, que geram uma percepção acromática.

Percepção da cor: a percepção das cores é possibilitada pela atividade de três variedades de cones retinianos, sendo que cada um desses é sensível a um comprimento de onda diferente.

Percepção das bordas visuais: está relacionada com a fronteira entre duas superfícies de luminâncias diferenciadas. Sendo assim, o sistema visual humano está equipado com instrumentos capazes de reconhecer estas bordas e sua orientação, além de linhas, ângulos, segmentos, ou seja, percebem as unidades elementares que constituem os objetos e o espaço.

Percepção da interação entre luminosidade e bordas: compreende a capacidade do sistema visual de comparar a luminosidade e as bordas visuais de duas superfícies estabelecidas em um mesmo plano.

Aumont (2004, p31) ainda ressalta a interferência essencial dos fatores temporais na percepção. As três principais razões dessas interferências são:

1. A maioria dos estímulos visuais varia com a duração, ou se produz sucessivamente. 2. Nossos olhos estão em constante movimento, o que faz variar a informação recebida pelo cérebro. 3. A própria percepção não é um processo instantâneo; certos estágios da percepção são rápidos, outros muito lentos, mas o processamento da informação se faz sempre no tempo.

Com relação à variação dos fenômenos luminosos no tempo Aumont (2004) afirma que se deve considerar a adaptação a uma variação brutal de luminância; e o poder de separação temporal do olho, que permite a percepção de dois fenômenos luminosos não- síncronos.

Já com relação à movimentação, que é um item essencial no processo perceptivo, o autor mostra quatro movimentos principais: movimentos irregulares - que são movimentos rápidos dos olhos, aos pulos, em direção à nova posição; movimentos de perseguição - movimentos lentos dos olhos, para focalizá-los sobre o mesmo objeto móvel; movimentos compensatórios - que são movimentos dos olhos no sentido oposto aos movimentos da cabeça, para manter a fixação sobre um objeto; movimento a deriva – sem objeto determinado, demonstra a incapacidade do olho de se manter fixo, reconduz rapidamente o olho à posição de fixação.

E por fim exploram-se questões de resposta temporal do sistema visual. Existem dois tipos de respostas: a resposta lenta, que é o conjunto de efeitos de acumulação ou integração temporal; e a resposta rápida, que é o conjunto dos efeitos de reação à estímulos que variam rapidamente.

Com o entendimento sobre estes elementos, cercam-se todas as condicionantes que possibilitam a percepção de objetos cotidianos, construindo desta forma os componentes do percepto humano. Destaca-se aqui a existência de diferenças significativas de indivíduo para indivíduo. Diante destas características, a capacidade e o desempenho de tais fatores depende da boa configuração do mecanismo de visão, uma vez que distúrbios ou deficiências oculares podem afetar consideravelmente a visão e conseqüentemente a percepção para um sujeito que carrega consigo tais anomalias.

A estrutura visual é configurada de tal forma, que permite a detecção de grande parte dos elementos que circundam o contexto humano. Através dela, há a possibilidade de obterem-se e apreenderem-se as mais variadas figuras e situações que fazem parte do contexto humano. Porém, evidencia-se que, apesar de tais possibilidades, a visão depende essencialmente da emissão ou reflexão de luz incidente nos objetos visualizados.

Diante de tais exposições percebe-se a relevância de tal mecanismo no processo de percepção visual, ato este que certamente não seria possível sem a existência deste sistema complexo que permite a visualização dos objetos do mundo material.

Define-se então por meio deste repertório, o que compreende por esta parcela da percepção geral, intitulada percepção visual. “A percepção visual é o processamento, em etapas sucessivas, de uma informação que nos chega por intermédio da luz que entra em nossos olhos.” (AUMONT, 2004, p 22)

Este autor diferencia ainda neste processo de percepção visual, o olho, mecanismo facilitador; e o olhar, fator que define a intencionalidade e finalidade da visão, ou seja, é a dimensão humana desta visão. Para Aumont (2004) o olhar depende da atenção e da busca visual. A atenção visual pode ser dividida em central, entendida como a focalização sobre aspectos importantes do campo visual, compreendendo a um processo intitulado de pré- atentivo; e periférica, que se refere à atenção aos fenômenos novos na periferia do campo. Por sua vez a busca visual designa “o processo que consiste em encadear diversas fixações sucessivas sobre uma mesma cena visual, a fim de explorá-la em detalhe.” (AUMONT, 2004, p 60)

Estabelece-se então como ponto crucial para a percepção do contexto imagético que configura a sociedade humana, instrumentos de caráter fisiológico e não somente estes, como se verá a seguir, mais também o complemento advindo de anteparos de ordem psicológica, que auxiliam a organização e ordenação destes elementos percebidos. Retomando-se então às classes perceptivas apontadas por Solomon; Ribeiro (2002), dá-se enfoque para as etapas posteriores a percepção visual propriamente dita, de ordem fisiológica e expõem-se aqui as definições relacionadas a exposição, a atenção e a interpretação, aspectos estes mais subjetivos.

Solomon; Ribeiro (2002) definem que a exposição tem sua ocorrência quando um estímulo penetra na gama de receptores sensoriais de um indivíduo. Portanto, no sistema de consumo habitual, os consumidores se concentram em alguns estímulos pessoais de seus interesses, desconcentrando-se daquelas mensagens que fogem de suas intenções.

Ainda de acordo com Salomon e Ribeiro (2002, p 60) “a atenção refere-se ao grau em que a atividade de processamento é dedicada a um estímulo específico”. O consumidor deve selecionar os aspectos mais relevantes das informações repassadas, permitindo uma ação mais criteriosa de sua atenção, evidenciando desta maneira o que se chama de seleção perceptiva. A seleção de informações que deve ser realizada pelos indivíduos, devido

principalmente ao caos informacional estabelecido na sociedade atual, deve acontecer a partir de alguns fatores que corroboram para esta ação seletiva.

Com relação ao armazenamento das informações que se apresentam, Iida (2001), classifica a capacidade de memorização em dois tipos principais: memória verbal e memória espacial, compreendidas na memória de curta duração. A memória verbal é usada para armazenar informações lingüísticas como palavras e números. Já a memória espacial, armazena informações analógicas e pictóricas e tem propriedades visuais. Ambas são caracterizadas por perdas rápidas e capacidade limitada. As informações que possuem as duas propriedades, verbal e espacial, são mais facilmente retidas.

Se houver uma compatibilidade entre a memória de curta duração e a forma de apresentação da informação, o processamento desta será mais eficiente. As formas de apresentação das informações são classificadas em duas dimensões: a modalidade do estímulo, que pode ser auditiva ou visual e o formato ou código, que pode ser verbal e espacial, apresentando ainda algumas combinações entre si:

- auditivo-verbal: é a fala;

- auditivo-espacial: sons com a terceira dimensão, como a sonorização de ambientes;

- visual-verbal: textos impressos, como livros e jornais;

- visual-espacial: figuras, elementos análogos e pictóricos, como gráficos, cartazes, TV.

O objeto de estudo deste trabalho - a embalagem - possui esta perfeita adequação entre o tipo de memória aplicada e a forma de apresentação da informação, pois é constituída quase que em sua totalidade de elementos gráficos, que são melhor identificados e memorizados se apresentados de forma visual.

Após o entendimento do processo de percepção visual em toda sua amplitude, foca-se a seguir na referência sobre a imagem e seus aspectos característicos.

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