• Nenhum resultado encontrado

Percepção de dificuldades a partir do período analisado

2 METODOLOGIA

4.2 Percepção de dificuldades a partir do período analisado

O tema urbanização de favelas possibilita a exploração de muitos assuntos. A multidisciplinaridade necessária para efetivar qualquer ação neste sentido amplia o leque de possibilidades. De forma análoga, amplia-se a complexidade de análise do assunto extrapolando a verificação das hipóteses.

Bueno (2000, p. 332) salienta a necessidade de uma integração projetiva: “Quero aqui destacar alguns aspectos que reforçam a necessidade, para o sucesso do processo de urbanização da favela, de uma prática projetual integrada, do diálogo entre vários profissionais na busca das melhores soluções”, continua: “a melhor solução urbanística será a que melhor atender essas necessidades. O urbanista deverá trabalhar em conjunto com os outros projetistas”.

Vale salientar que a autora reforça as necessidades de “pensar as soluções em conjunto”, porém acrescenta-se aqui que há necessidade de cuidar das equipes para este trabalho conjunto.

O maior desafio é sem dúvida a interação entre tantas disciplinas, o rompimento de rotinas de trabalhos compartimentados e a construção de relações de troca e de busca por melhores resultados. Isto requer maior segurança profissional, fruto de maior capacitação, mas também de “cuidados necessários”, abordados tanto por Boff (1999), quanto por Morin (2002).

Na entrevista com a área social envolvida nos trabalhos de urbanização foi presente a citação de “necessidade de compreensão de outras dimensões do

trabalho”, além da necessidade de “reconhecimento e respeito na aplicação prática”. Mas, na prática, efetivamente, a ação multidisciplinar se inviabiliza perante as dificuldades de conciliar tantas disciplinas, prazos e valores contratuais, restringindo- se frente às rotinas diárias e sucumbindo um trabalho necessariamente mais cuidadoso.

Morin (2002, p. 41) cita as conseqüências da “hiperespecialização que impede tanto a percepção do global (que ela fragmenta em parcelas), quanto do essencial (que ela dissolve)”.

As ações e atividades se distribuem ao longo das etapas do processo e por entre a hierarquia estrutural dos empreendedores. Faz-se necessário, para se atingir as metas e os objetivos idealizados, buscar um equilíbrio horizontal, dentre as disciplinas envolvidas e vertical, dentre as esferas de decisão.

Verificou-se na implantação do EAT uma intensa guerra de conflitos. Ao perceber necessidades que se afloravam em campo prejudicando fortemente a implementação dos projetos, buscou-se iniciar processos de correção onde era possível. Houve resistência e pouca participação. Não bastou percebê-los, não havia uma diretriz formal para essa correção.

Também o desconhecimento entre as partes levou a se discutir o processo (de forma democrática e multidisciplinar) para então possibilitar ações corretivas. Verificou-se que nem todos tinham ciência das implicações de uma atividade em outra atividade ou de uma decisão em outra. Nem todos tinham apreensão do todo. Apesar dessa iniciativa não houve um fórum comum, não houve compromisso e várias propostas não tiveram sucesso.

A forma estrutural da organização se impõe por razões institucionais ou pessoais e a reorganização não se viabiliza sem o interesse de seus superiores. Não basta o projeto urbanístico, é necessário um projeto de implementação: uma estratégia de intervenção.

Morin (2002, p. 90) ainda apresenta as vantagens de elaboração da estratégia:

[...] a estratégia deve prevalecer sobre o programa. O programa estabelece uma seqüência de ações que devem ser executadas sem variação em um ambiente estável, mas se houver modificações das condições externas, bloqueia-se o programa. A estratégia, ao contrário, elabora um cenário de ação que examina as certezas e as incertezas da situação, as probabilidades, as improbabilidades [...] É na estratégia que se apresenta sempre de maneira singular, em função do contexto e em virtude do próprio desenvolvimento, o problema da dialógica entre fins e meios.

Ainda sob a óptica pragmática do “executar” e da “necessidade de fazer a obra girar”, apreendeu-se também, dentre os mesmos entrevistados, a necessidade de “promover uma intervenção mais ousada”, “possibilitar mais áreas institucionais”, “discutir um padrão de urbanização que realmente transforme” e “capacitar as pessoas para discutir seus espaços”, ou ainda “buscar formas de interagir o trabalho social e o trabalho urbanístico”. Portanto, este é o desafio, maior que o tecnológico, pois requer a atitude individual e em grupo, algo prioritário, uma vez estando “em campo” para promover a mudança.

“A compreensão do outro requer a consciência da complexidade humana”. (MORIN, 2002, p. 101)

Percebe-se que o resultado do trabalho é a somatória dos resultados parciais de cada etapa, não é rara uma fala frustrada ao final do empreendido: “será que vale a pena urbanizar frente a tanta energia necessária”, ou então “eu trabalho enxugando gelo”.

Pode-se também levantar a questão: Por que, apesar de tantos esforços, a precariedade se renova antes mesmo que a obra termine? Certamente faltou algum trabalho, quer com a população, quer com seus técnicos empreendedores.

Das diferentes dificuldades percebidas identifica-se a necessidade de aprimoramentos e de reflexões sobre as outras etapas do processo.

Também é possível perceber a complexidade das micro-soluções internas a cada etapa e seu reflexo na implementação do empreendimento. A inclusão paralela de sub-programas complementares: educação ambiental, prevenção (incêndios) ou programas de geração de renda etc, são ao mesmo tempo bem-vindos, possibilitando a agregação de valores e a otimização da energia impulsiva do

“construir”, mas também se constituem em entraves ou “nós” dada a ampliação de uma complexidade já inerente ao processo.

Percebeu-se a necessidade de tratamento dos produtos requeridos para a urbanização de favelas, desde o conteúdo das informações do projeto até a forma de comunicação das informações e os formatos adequados para sua utilização em campo.

Também verifica-se a necessidade de adequações dos trâmites para contratação dos produtos e serviços. Tudo se agrega ao desenho de implementação que define as etapas e atividades, assim como os responsáveis pela produção e aprovação desses produtos e serviços contratados.

A conclusão final sobre o período analisado conduz à necessidade de melhoria do processo: projeto, licitação e obras, sugerindo a inclusão de uma etapa para a condução desse período; tanto quanto, melhoria relativa ao fluxo de informação, requerendo a inclusão de outros profissionais, das áreas de administração, psicologia e pedagogia, pois somente a soluções da engenharia não são suficientes para melhores resultados.

O esquema a seguir (figura 4.1), apresenta os resultados desta pesquisa e as necessidades básicas percebidas para seu tratamento no período analisado, assim como as necessidades básicas num nível geral expandindo seu tratamento para as demais etapas do processo.

CONCEPÇÃO

PROJETOS

LICITAÇÃO

EXECUÇÃO

REPASSE OU

OUTORGAS

USO

OPERAÇÃO

PERÍODO DE ANÁLISE

ADEQUAÇÃO DO PROCESSO

ADEQUAÇÃO DE FORMATOS PARA O

CAMPO

PROJETO DE EXECUÇÃO DE OBRA

ADEQUAÇÃO DO ESCOPO DO ATO

ADEQUAÇÃO DOS CONTRATOS E

AVALIAR COMPLEXIDADE ENVOLVIDA E AJUSTAR COMPROMISSOS AVALIAR METAS MAIS ARROJADAS

INSERIR DE RESULTADOS PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO FLUXO DO PROCESSO AVALIAÇÃO MELHORAR A BASE E DETALHAMENTO

ANTECIPAR FACILIDADES / EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO E OPERADORES

ACOMPANHAR, ANALISAR E APROVAR O “AS BUILT”

MELHORAR PROCEDIMENTOS E INTERFACES DA PESQUISA APONTAMENTOS COMPLEMENTARES NECESSIDADES: MELHORIA DO PROCESSO: PROJETO, LICITAÇÕES E MELHORIA DO PROCESSO: FLUXO DE INFORMAÇÃO SUGESTÃO: INSERIR ETAPA DE PREPARAÇÃO DE EXECUÇÃO DA OBRA Avaliar adaptações: PEO - PREPARAÇÃO DE EXECUÇÃO DA OBRA

Figura 4.1 - Resultados da pesquisa 19