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2 METODOLOGIA

3.5 Análise

3.5.3 Sobre apontamentos complementares

Outras questões foram apontadas e merecem análise. Com relação ao projeto que vai para o canteiro foi sugerida a apropriação de formatos cuja implementação já está ocorrendo em outros empreendimentos da Companhia:

[...] é necessário um projeto de execução de obra e não o projeto executivo que ninguém lê [...] tamanho A3 [...] capa dura [...] material que suporta chuvisco [...] com indicação dos conceitos, projetos padrões [...] aquelas informações que realmente são necessárias em campo para se tomar uma decisão de modificação. (Glacy Maria Gonçalves)

Além disso, são considerados necessários:

[...] um book da obra [...] não é nem o - as built - que normalmente só apresenta caminhamentos [...] é o registro do processo de alteração e os elementos que subsidiaram esta decisão [...] acho que é necessário elaborar um Termo de referencia para elaborar o as built. (Glacy Maria Gonçalves)

Outras questões podem ser apreendidas a partir das indicações de temas para pesquisa.

Perante tanta energia necessária para o trabalho na sua implementação e seus resultados, todos os entrevistados refletem sobre o quanto vale a pena urbaniza e que resultado traz para a cidade, para o empreendedor e para a população.

Pode-se incorporar outros questionamentos: quantas cidades têm-se dentro de uma mesma cidade: as áreas formais (com e sem regularidade urbanística), as áreas informais (sem atendimento público ou com atendimento precário) e as áreas urbanizadas e em urbanização, onde atendendo a diferentes critérios e graus de urbanização são consideradas urbanizadas.

A partir destas colocações pode-se ainda inferir outras questões: diante de uma enorme e diferenciada demanda, qual a chance de uma favela urbanizada, com um grau mínimo de serviços, receber novos investimentos para que atinja outro patamar e como orientar a priorização de áreas para os Programas.

Verificou-se através da experiência do Uruguai que lá são priorizadas as áreas que possuem maior infra-estrutura já implantada. Entende-se que com menores investimentos por área é possível atender a mais áreas e conseqüentemente um maior número de população beneficiada.

Também as favelas causam medo em muitas pessoas, pois se acredita na possibilidade de ela abrigar (ou facilitar o esconderijo) traficantes e criminosos, apresentando muitas vezes um aspecto hostil.

Se mesmo os técnicos adaptados a estes lugares e serventes desses processos, precisam de “permissão para entrar”, de “interlocutores sociais” para efetuar a comunicação e, de orientação para saber “aonde se pode ir”, então, como se garante a permeabilidade nesta cidade constituída por diferentes setores e por uma consolidação que não integra nem de fato nem de direito?

O caminho apontado na literatura orienta a inclusão da população na discussão dos empreendimentos. Há formatos em que esta participação ocorre de forma mais sistêmica, por meio do Orçamento Participativo, por exemplo, outros de forma mais localizada, tais como: fóruns de discussão, assessorias técnicas, comissões de representantes.

Percebe-se nas entrevistas que a participação da população, mesmo em reuniões quadra-a-quadra ou fóruns de apresentação, pode ter abrangências diferenciadas e efetiva participação menos inclusiva que aquela divulgada:

“[...] maquiar esta participação é fácil, o difícil é conduzi-la efetivamente”. (Valéria Sanches)

“[...] no Guia Operacional do Programa (Uruguai) é necessário um Fórum apresentando os Projetos e a sua aprovação em ata, com no mínimo 70% da população”. (Luis Antonio Marcon Pires)

Encontrando alguns depoimentos76,1Maricato, Calazans e Fingermann (1983) apresentam suas atividades junto à população e aos movimentos populares, demonstrando a existência de dificuldades no exercício de suas funções, nos órgãos institucionais e no campo.

Ressaltam: “[...] o trabalho todo sempre foi feito em finais de semana [...] algumas dificuldades características ainda terão que ser superadas: a participação dos profissionais é uma delas [...]”.

No caso estudado verifica-se condição semelhante. Apesar dos resultados atingidos no paisagismo na praça da Lamartine, é visível a energia requerida aos técnicos na ação coletiva:

Tivemos de ficar mendigando areia [...] fizemos um mutirão no sábado, foi legal, mas temos também nossos afazeres pessoais [...] é difícil cativar técnicos de outras áreas além da área social [...] 1º, o azulejo que compraram para o mosaico era branco (previsão de projetos), depois trouxeram outros, coloridos, apagados, não entendiam a proposta paisagística [...] depois de pronto é fácil falar que ficou bom, mas deveria haver maior cooperação, tudo isso deveria estar assimilado entre os técnicos. (Valéria Sanches)

É necessário integrar verbas, atividades e envolvimento entre os agentes. Denaldi (2003) salienta haver dependência de recursos federais e estaduais e também, dificuldades em gastá-lo, por estes órgãos, quer perante a baixa capacidade em contrapartida, quer em capacitação do corpo técnico de profissionais das prefeituras etc.

É perceptível dentre os entrevistados que, ao final da execução, enxergam o resultado de tudo o que foi planejado e o que se conseguiu atingir. Daí então questionam-se sobre o que poderia ter sido previsto. Algum amadurecimento aconteceu. Portanto, é necessária a retroalimentação do processo, levando as experiências ao seu aprimoramento e permitindo aos técnicos algum ganho inicial.

[...] olha, você não imagina como emocionou a todos na inauguração do Conjunto e da praça, na Lamartine, o depoimento de um morador agradecendo pela praça e nos explicando que quando brigava com a esposa ele não tinha aonde ir para esfriar a cabeça e que agora, com a praça, era possível jogar com os amigos [...] improvisaram alguma iluminação e até regavam as plantas. (José Luis de Lucca)

761Revista Espaço e Debates n. 8 – Depoimentos: Formação e prática profissional do arquiteto – três

[...] a população, no dia da inauguração, respondia que a praça era a melhor coisa, o esgoto também, mas nesta praça as crianças poderiam brincar muito. (Maria Teresa T. Montenegro)

[...] a praça nem estava contratada, foi uma iniciativa de obras [...] mesmo com tantos equívocos foram eles que tiveram a iniciativa [...] também pavimentaram algumas ruas para a sua inauguração. (Maria Teresa T. Montenegro)

Apesar de se perceber um interesse na inauguração, a qual contou com a participação do governador, o depoimento de gerente de obras (1º depoimento acima) foi muito emotivo e demonstra que talvez faltem atividades para a integração entre os técnicos, entre os técnicos e a população, assim como, para o trabalho multidisciplinar.