• Nenhum resultado encontrado

4. RESULTADOS

5.2 Percepção do desempenho organizacional

Quanto ao desempenho organizacional, o número médio de pacientes por profissional de enfermagem por turno foi de 9,68. Há evidências de que um menor número de pacientes por enfermeiro pode contribuir para melhores resultados para os pacientes (10,94,96). Verificou-se em doze países da Europa que a média de pacientes por enfermeiro variou entre 3,7 (Noruega) até 10,2 (Espanha). Outra investigação identificou uma média de 11,4 pacientes por enfermeiro (93), e um estudo brasileiro em unidades de terapia intensiva encontrou valor médio de 9,1 pacientes por enfermeiro (86) mostrando que não há ainda uma definição internacional a respeito de um número seguro de pacientes que devam ser cuidados por um único enfermeiro (97).

Nesta investigação optou-se por considerar as informações obtidas entre enfermeiros e técnicos de enfermagem pois ambas categorias atuam no cuidado direto a pacientes nas instituições de saúde brasileiras. Valores médios de pacientes por profissional em equipes compostas por enfermeiros e profissionais de enfermagem com menor grau de formação variaram entre 3,3 (Noruega) a 10,5 (Alemanha) (89) em uma investigação que envolveu treze países diferentes.

Deve ser levado em consideração o fato de que unidades diferentes se destinam ao cuidado de pacientes com demandas assistenciais distintas e, nesse sentido, é recomendado pelo Conselho Federal de Enfermagem o uso do sistema de classificação de pacientes e de horas de Enfermagem para determinar o quantitativo necessário de profissionais da equipe de enfermagem para assegurar assistência de qualidade e segura (98).

As instituições de saúde têm enfrentado desafios contínuos diante da necessidade de reduzir os custos assistenciais e ao mesmo tempo oferecer uma assistência de qualidade e segura. Existe uma tendência no corte de custos de forma rápida a partir da redução dos profissionais da equipe de enfermagem, considerando que melhorar a eficiência dos cuidados é mais difícil de se alcançar em curto prazo. A redução do número de leitos e do tempo de permanência nos hospitais têm sido associada a um aumento na complexidade dos cuidados aos pacientes. Dessa forma, a combinação entre uma força de trabalho reduzida e pouco qualificada implica em preocupação quanto à piora na qualidade da assistência de enfermagem (94).

Na percepção dos participantes, a adequação de recursos humanos e adequação de recursos materiais, tecnológicos e estrutura física foram considerados adequados, apesar de terem recebido uma pontuação próxima da média e terem sido os aspectos com menor pontuação dentre as variáveis investigadas. Há relação interdependente entre o número adequado de profissionais da equipe de enfermagem e o ambiente da prática, sendo que uma equipe de enfermagem quantitativamente adequada em ambientes favoráveis pode ter um impacto mais significativo nos resultados dos pacientes (51), incluindo taxa de mortalidade relacionada e eventos cirúrgicos (94). De maneira oposta, quando a equipe de enfermagem está em númeor insuficiente podem ocorrer danos à qualidade dos cuidados prestados, erros de medicação e eventos adversos aos pacientes (87).

Em outras investigações, a adequação de recursos humanos e materiais foi associada a menores níveis de exaustão emocional (52,99), percepção favorável de segurança do paciente (100), maior satisfação no trabalho e melhor percepção quanto a qualidade do cuidado prestado (50,52).

Os profissionais de enfermagem nesse estudo demonstraram uma tendência positiva quanto a permanecer no emprego e na profissão nos próximos 12 meses, a qual também foi observada em outra investigação realizada com enfermeiros de terapia intensiva no estado de São Paulo (86). Uma possível explicação para esse dado reside na idade média dos participantes (37,43 anos). Profissionais de enfermagem com idade menor que 35 anos apresentam maior intenção de deixar o emprego (50,101). Após os 35 anos de idade os profissionais vivenciam a maturidade profissional, ou seja, estão profissionalmente qualificados e são capazes de desenvolver plenamente suas capacidades cognitivas e técnicas. Nesta fase se inserem definitivamente no mercado de trabalho, tomando suas decisões fundamentadas no raciocínio lógico atento às tendências do mercado de trabalho (92). Soma-se ainda o fato de que pouco mais da metade dos participantes deste estudo possuía vínculo do tipo estatutário, o que confere estabilidade no emprego e, muitas vezes, oportunidade de ascensão na carreira e crescimento profissional.

A intenção de deixar o emprego tem sido amplamente investigada internacionalmente, sendo que nos Estados Unidos foi identificada intenção de deixar a profissão entre 14% dos participantes em um estudo multicêntrico. De forma oposta, valores maiores foram verificados entre profissionais de enfermagem da Alemanha e Finlândia, dentre os quais 49% relataram intenção de deixar a profissão (89).

A crescente preocupação com a intenção de deixar o emprego e a profissão deve-se ao quantitativo insuficiente de profissionais de enfermagem para atender às necessidades da

população em diferentes países ao redor do mundo, o que pode colocar em risco a segurança dos pacientes e a qualidade dos cuidados de enfermagem (52). Além disso, altas taxas de rotatividade entre os profissionais de enfermagem implicam custos financeiros e de tempo relacionados à capacitação dos profissionais recém-admitidos e possível perda na transmissão de conhecimento entre profissionais experientes e novatos (102). Apesar da escassez de profissionais de enfermagem ainda não ser um problema no Brasil, acredita-se que esse é um tema relevante considerando-se o envelhecimento populacional, o aumento nas demandas de cuidados entre os indivíduos e os recursos limitados para financiamento dos sistemas de saúde, implicando em desafios crescentes para os profissionais de enfermagem.

Corroborando dados de outras realidades (88,97) os profissionais de enfermagem, em média, recomendariam a instituição onde trabalham para um familiar e para um colega como um bom local de trabalho. Além disso, a maioria avaliou a qualidade do cuidado na instituição como boa ou muito boa; e sentem-se confiantes ou muito confiantes na capacidade de gerenciamento do cuidado pelos pacientes ou responsáveis após a alta hospitalar (88). Os profissionais de enfermagem que desenvolvem suas atividades em ambientes com características favoráveis referem melhor qualidade do cuidado oferecido (50), sentem mais confiança na capacidade de pacientes ou responsáveis em gerenciarem o cuidado após a alta hospitalar, bem como são mais propensos a recomendar o hospital onde atuam para um familiar (10).

A qualidade do cuidado prestado foi avaliada como boa ou muito boa pela maioria dos profissionais participantes desta investigação. Esse valor foi superior ao verificado em países europeus e nos Estados Unidos (71,89). Em relação à confiança na capacidade dos pacientes/familiares de gerenciar o cuidado após a alta hospitalar, a maioria informou estar confiante ou muito confiante, sendo a proporção de profissionais que fizeram essa afirmativa maior que em outras investigações (88,89).

Documentos relacionados