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PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO

No documento Confusão : a dimensão do subdiagnóstico (páginas 127-135)

CAPÍTULO 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO

As respostas dos enfermeiros à questão colocada na entrevista foram sujeitas ao processo de Análise de conteúdo, tendo como base o modelo das categorias previamente utilizado na análise realizada à Documentação do Problema. No entanto, pelos conteúdos apresentados, utilizaram-se menos temas e, consequentemente, menos categorias e subcategorias.

Do total da análise, tendo em conta a Percepção do Enfermeiro, regista-se que foram identificados 131 conceitos associados à condição do doente confusos. Destes, 36,6% (n=48) referem-se ao tema “Status neurológico”, 32,8% (n=42) ao “Processo psicológico”, 15,4% (n=20) ao “Processo corporal”, 9,2% (n=12) ao “Comportamento” e os restantes 6,1% ao tema “Capacidade”.

TABELA 45 – ORGANIZAÇÃO DAS CATEGORIAS DA PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO

Tema Categoria Subcategorias

Unidade de registo

(exemplo) n %

Processo Psicológico

Cognição Confusão …períodos de alguma confusão. (35a)

32 24,4 Atenção Não entende tudo. Só ordens

simples. (74a)

4 3,1

Afasia Afásico. (277c) 3 2,3

Emoção Tristeza Humor depressivo. (457a) 2 1,5 Atitude Negação Quadro de negação ao

internamento. (35b)

2 1,5

Sub-total 43 32,8

Comportamento Comportamento interactivo

…e agressivo por falta de vontade. (70c) 12 9,2 Sub-total 12 9,2 Processo corporal Processo do sistema nervoso Actividade psicomotora

…com agitação psicomotora.

(85c) 12 9,2 Comportamento desorganizado …descoordenação motora. (113d) 4 3,1 Percepção …alucinações. (210a) 4 3,1

Sub-total 20 15,4

Status neurológico

Alerta Fixa o olhar… (266d) 1 0,7

Orientação …e desorientado

permanentemente. (58d)

38 29,0

Resposta …só reactivo a

estímulos dolorosos. (138a)

4 3,1

Sub-total 48 36,6

Capacidade Capacidade para comunicar

…discurso incoerente. (7b) 8 6,1

Total 131 100

Dentro das categorias/subcategorias organizadas mediante a Percepção do Enfermeiro, sobre a condição do doente confuso, regista-se que o foco “Orientação” é o que apresenta a maior referência ao nível das respostas, ou seja, 29,0% (n=38) da informação sobre o doente confuso recai neste foco, seguindo-se a categoria “Confusão” com 24,4% (n=32) do total da informação. Por sua vez, as dimensões semânticas que apresentaram menos referências são “Alerta”, “Tristeza” e “Negação”. De seguida, apresenta-se um gráfico que mostra as cinco categorias mais referenciadas na resposta do enfermeiro à questão – Que avaliação faz do estado mental do doente?

Orientação; 29% Confusão; 24,4% Comportamento interactivo; 9,2% psicomotora;Actividade 9,2% Capacidade comunicar; 6,1% Outros 20% % Categorias/Subcategorias

 PROCESSO PSICOLÓGICO

Pela análise à tabela 45 regista-se que ao “Processo psicológico” corresponde 32,8% do total da informação dada pelo enfermeiro sobre a condição do doente.

Por sua vez, dentro deste tema verifica-se que a subcategoria mais referida é a “Confusão” com 74,4% do total da informação.

Deste modo, regista-se que 28,8% (n=32) dos doentes foram descritos como estando mentalmente “Confusos” e 3,6% (n=4) como tendo alguma alteração no processo de “Atenção”. Apurou-se também que 2,7% (n=3) foram referenciados como tendo alguma perturbação da fala, mais especificamente na dimensão semântica “Afasia” e 1,8% (n=2) sentimentos de “Tristeza”. O Processo psicológico de “Negação” foi ainda referido em 1,8% (n=2) dos casos.

TABELA 46 – GRAU DE INFORMAÇÃO DO TEMA PROCESSO PSICOLÓGICO Categorias Unidade de registo

(Exemplo)

n %

Confusão Estado de confusão constante. (45a) 32 74,4 Atenção …não entende o que dizemos. (266e) 4 9,3

Afasia …porque tem disartria. (113c) 3 6,9

Tristeza …deprimido. (292c) 2 4,7

Negação Revolta…Não gosta de estar internada…

(288b)

2 4,7

Total 43 100

 COMPORTAMENTO

Neste estudo, regista-se ainda que 9,2% do total da informação dada na entrevista recai sobre o tema “Comportamento”, mais concretamente sobre a categoria “Comportamento interactivo”, pois aferiu-se que 10,8% (n=12) dos doentes foram caracterizados nesta dimensão.

TABELA 47 – GRAU DE INFORMAÇÃO NO TEMA COMPORTAMENTO

Categorias Unidade de registo

(Exemplo)

n %

Comportamento interactivo

…pouco colaborante. (70b)

…mas renitente aos cuidados. (110b)

12 100

Total 12 100

 PROCESSO CORPORAL

Ao tema “Processo corporal” verifica-se que corresponde 15,4% do total da informação dada pelo enfermeiro sobre a condição do doente confuso.

Neste tema, à categoria “Actividade psicomotora”, pertence 60% da informação dada pelo enfermeiro. Ou seja, regista-se que 10,8% (n=12), 3,6% (n=4) e outros 3,6% (n=4) dos doentes confusos da amostra foram reportados como tendo alguma perturbação da “Actividade psicomotora”, um “Comportamento desorganizado” e alguma alteração do seu processo de “Percepção”.

TABELA 48 –GRAU DE INFORMAÇÃO NO TEMA PROCESSO CORPORAL Subcategorias Unidade de registo

(Exemplo)

n %

Actividade psicomotora

Alterna períodos de prostração… (206a)

12 60

Comportamento desorganizado

Não responde às solicitações de forma totalmente coerente. (297c)

4 20

Percepção Tem alucinações auditivas (195c) 4 20

Total 20 100

 STATUS NEUROLÓGICO

36,6% da informação dada na entrevista do enfermeiro enquadra-se dentro do tema “Status neurológico”. Por sua vez, neste tema, 79,2% da informação recai na categoria “Orientação”, seguindo-se com 10,4% do total da informação a categoria “Consciência”.

TABELA 49 – GRAU DE INFORMAÇÃO NO TEMA STATUS NEUROLÓGICO Categorias Unidade de registo

(Exemplo)

n %

Alerta Fixa o olhar… (266d) 1 2,1

Consciência Oscila entre o semi-comatoso… (205a) 5 10,4 Orientação Não sabe bem onde está. (113b)

… não está orientada. (296b)

38 79,2

Resposta Apática,.. (55a) 4 8,3

Total 48 100

Assim, na avaliação do estado mental do doente confuso, no tema “Status neurológico” foram referidas descrições na dimensão semântica “Alerta”, “Consciência”, “Orientação” e “Resposta” em 1% (n=1), 4,5% (n=5), 34,2% (n=38) e 3,6% (n=4), respectivamente.

 CAPACIDADE

6,1% do total da informação dada pelo enfermeiro sobre a condição do doente, aquando da entrevista, recai sobre este tema, mais concretamente sobre a “Capacidade para comunicar”. Aferindo-se assim que 7,2% dos doentes tinham alguma referência nesta dimensão.

TABELA 50 –GRAU DE INFORMAÇÃO NO TEMA CAPACIDADE

Categorias Unidade de registo

(Exemplo)

n/111 %

Capacidade para comunicar

… mas por vezes existe desvio do discurso.

(7c)

8 100

Total 8 100

Tal como na Documentação do Problema, considera-se que existem indicadores clínicos determinantes na caracterização do doente confuso. Assim, pela informação extraída das respostas, determinou-se como descritor da confusão, a presença de indicadores clínicos que se enquadram dentro dos respectivos focos: “Confusão”,

“Atenção”, “Actividade Psicomotora”, “Comportamento desorganizado”, “Percepção”, “Alerta”, “Consciência”, “Orientação”, “Resposta”, “Comportamento interactivo” e “Capacidade para comunicar”. Desta forma, excluem-se os focos “Tristeza”, “Negação” e “Afasia” por se considerar que, por si só, não são suficientemente tradutores da condição do doente confuso.

A presença de qualquer um destes focos no discurso do enfermeiro foi considerada como tradutora da sua percepção quanto ao estado de confusão do doente. Por sua vez, a inexistência de qualquer um daqueles focos corresponde à falta de percepção deste estado.

Em termos da resposta dada pelos enfermeiros, constata-se que estes percepcionaram 69,4% dos doentes confusos. Registando-se assim que em 30,6% dos doentes a condição de confusão não foi percepcionada.

Em média, foi referenciado 1,1 foco por doente, com um desvio padrão de 1, em que o máximo de descritores implicou a utilização de 4 categorias/subcategorias e o mínimo presente foi de zero.

Tal como anteriormente, a abordagem inferencial foi aplicada após a análise descritiva com o objectivo de validar a hipótese:

 H5 – Os atributos do doente e atributos do episódio do internamento interferem

na Percepção do Enfermeiro, sobre a condição do doente confuso.

De acordo com os resultados expostos na tabela seguinte, infere-se que a média de Idade dos doentes é maior no grupo onde os enfermeiros percepcionaram a presença da confusão dos mesmos.

TABELA 51 – PERCEPÇÃO DO ENFERMEIROS: ESTATÍSTICA DOS GRUPOS Percepção do Enfermeiro Não Sim σ σ Idade (anos) 72,5 12,9 76,9 13,4 Internamento (dias) 11,3 13,2 12,6 16,8 Severidade confusão (NEECHAM) 21,3 2,8 14,8 6,7

No entanto, pela aplicação do teste t-Student, não se verifica uma diferença estatisticamente significativa para a média de Idade (t= -1,629 e p=0,106) e nem para o tempo médio de internamento (t= -0,413 e p= 0,680) entre os dois grupos de doentes. No que se refere à Severidade da confusão, evidencia-se a existência de uma diferença significativa (t=5,397 e p<0,001) entre os dois grupos de doentes. Logo, assume-se que a Percepção do Enfermeiro, sobre a confusão do doente, está significativamente relacionada com o grau de severidade da mesma.

TABELA 52–TESTE T-STUDENT – PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO COM A IDADE, DIAS DE INTERNAMENTO E A SEVERIDADE DA CONFUSÃO

Teste t-Student t df p-value Idade (anos) -1,629 109 0,106 Internamento (dias) -0,413 109 0,680 Severidade da confusão (NEECHAM) 5,397 109 0,001

Com o objectivo de saber, se a distribuição do Sexo e dos Serviços de internamento difere nos dois grupos de doentes em causa (doentes com Percepção do Enfermeiro, sobre a sua condição de Confusão e doentes sem Percepção do Enfermeiro, sobre a sua condição de confusão) aplicou-se o teste χ2.

TABELA 53 – TESTE χ2: PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO PARA O SEXO E SERVIÇO DE INTERNAMENTO Teste χ2

χ2 df p-value

Sexo 0,848 1 0,357

Serviço 16,673 10 0,082

O resultado do teste χ2 não permite afirmar a existência de uma relação significativa entre o atributo Sexo e a Percepção do Enfermeiro (χ2=0,848 e p= 0,357).

Tal também se verifica com o atributo Serviço de internamento, pois o resultado apurado pelo teste χ2 não permite afirmar a existência de relação significativa entre a Percepção do Enfermeiro e o Serviço do internamento (χ2=16,673 e p=0,082).

Com o objectivo de validar H6 que pretende analisar a relação entre a Percepção do Enfermeiro e a Documentação do Problema procedeu-se ao cálculo do valor p a partir do teste χ2.

 H6 – A Percepção do Enfermeiro, sobre a condição do doente confuso, está

relacionada com a Documentação do Problema.

TABELA 54 – TESTE χ2: PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO PARA A DOCUMENTAÇÃO DO PROBLEMA

Teste χ2

χ2 df p-value

Documentação do Problema

7, 041 1 0,008

Pelo teste χ2 aplicado, verifica-se que a Percepção do Enfermeiro está significativamente relacionada com a Documentação do Problema (χ2=7,041 e p=0,008).

TABELA 55– TABELA DE CONTINGÊNCIA: PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO E A DOCUMENTAÇÃO DO PROBLEMA

Documentação do Problema

Não Sim Total

Percepção do Enfermeiro Não n % 9 25 34 26,5 73,5 100 Sim n % 6 71 77 7,8 92,2 100 Total 15 96 111 13,5 86,5 100

Na análise à tabela de contingência regista-se que dos 34 doentes confusos não percepcionados pelos enfermeiros, 73,5% (n=25) destes tinham Documentação do Problema. Por outro lado, regista-se 6 doentes que foram percepcionados pelos enfermeiros como estando mentalmente confusos, no entanto não apresentavam o problema documentado.

No documento Confusão : a dimensão do subdiagnóstico (páginas 127-135)

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