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Processo de Recolha dos Dados

No documento Confusão : a dimensão do subdiagnóstico (páginas 92-97)

CAPÍTULO 3 ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

3.2 DESENHO DO ESTUDO

3.2.5 Processo de Recolha dos Dados

Sabendo que a recolha dos dados deve ser um processo sistemático, de forma a obter-se a informação necessária para dar consecução ao trabalho da investigação, fez-se uso de três técnicas de recolha de dados. Pretendeu-se, assim, responder de forma objectiva ao problema em estudo.

A estratégia para a recolha destes dados será explicada de seguida.

3.2.5.1 Estratégias para a recolha dos dados

A recolha de dados para este trabalho e para o trabalho da Incidência de Confusão ocorreu no mesmo período temporal. A recolha dos dados teve início no Bloco Central dos HUC e terminou no Bloco de Celas. A organização da recolha dos dados a nível dos serviços teve em conta a disponibilidade manifestada pelo Enfermeiro Chefe de cada serviço.

Quando se obtinha, na Escala da Confusão NEECHAM, um score inferior a 25, o que significa que o sujeito se apresentava confuso, procedia-se à imediata análise documental do Processo clínico do doente em causa.

Depois finalizava-se a recolha dos dados, como já foi referenciado anteriormente, colocando-se uma questão ao enfermeiro responsável pelo doente.

3.2.5.2 Técnica de recolha dos dados

3.2.5.2.1 Análise documental ao Processo Clínico

Segundo Gil (87), a maioria dos procedimentos para a colheita de dados têm em comum o facto de serem aplicados directamente às pessoas. Porém, não são apenas estas as fontes de informação.

Os investigadores em enfermagem são contemplados por um conjunto de documentos passíveis de serem utilizados na investigação. Estes documentos, sendo uma importante fonte de dados, têm algumas vantagens como: serem uma fonte natural da informação e permitirem a eliminação do problema de “tendenciosidade” das respostas.

O Processo clínico do doente confuso foi, neste estudo, a maior fonte de dados. Para tal, analisou-se cada processo na sua totalidade e, desta forma, os dados foram extraídos dos Registos clínicos para o formulário.

Qualquer Processo clínico do doente, na sua generalidade, tem um amontoado de informação desde os diagnósticos médicos, à história clínica, passando por prescrições até ao Processo de enfermagem, onde se encontram os planos de cuidados e as notas de enfermagem. O investigador viu-se na necessidade de organizar as sucessivas operações de recolha de dados. Tendo então por base o “modelo de pré-análise”, organizou e sistematizou os dados recolhidos ao longo da análise documental aos Registos clínicos. Este processo lógico permitiu, assim, que esta análise fosse uma etapa rigorosa e exaustiva.

Considera-se que o facto de o investigador desempenhar funções de enfermeiro na instituição onde a colheita de dados foi realizada, foi uma mais-valia, dada a sua familiarização com os documentos do Processo clínico dos doentes deste hospital. Da análise documental aos registos clínicos da amostra resultaram 111 formulários que constituíram o Corpus deste estudo. Posteriormente, este foi explorado com base na técnica de Análise de conteúdo.

3.2.5.2.2 Entrevista ao Enfermeiro

A entrevista é uma técnica de colheita de dados frequentemente utilizada na metodologia científica. Ela caracteriza-se por ser uma forma de comunicação verbal que se estabelece entre o investigador e os participantes e que, neste caso específico teve por objectivo “servir como complemento a outros métodos, tanto para explorar resultados não esperados, como para validar os resultados obtidos (…) ou para ir mais em profundidade” (84 p. 246). Neste sentido, foi efectuada uma questão direccionada ao enfermeiro responsável pelo doente confuso, com a intenção de conhecer a percepção

referente ao estado mental do doente e assim se confirmar ou ampliar os dados obtidos pela análise documental aos Processos clínicos.

A mesma questão foi sempre aplicada a todos os enfermeiros responsáveis pelo doente diagnosticado como confuso. A resposta dada pelo enfermeiro era de imediato transcrita para o formulário, tendo sido utilizada a técnica de Análise de Conteúdo para a exploração e tratamento desses dados.

3.2.5.2.3 Análise de Conteúdo

O processo de análise dos dados recolhidos baseou-se na técnica de Análise de conteúdo, referenciada por Bardin(88). Esta técnica resulta de “…um conjunto de instrumentos metodológicos (…) que se aplicam a “discursos” extremamente diversificados” (88 p. 7).

De acordo com a mesma autora, este processo de análise compreende três fases: a pré- análise, a exploração e o tratamento.

 A pré-análise foi a fase de constituição e organização do corpus de análise. Esta teve início com a transcrição da informação extraída dos documentos dos Processos clínicos para o formulário, de cada elemento confuso da amostra.

 A exploração do corpus de análise ocorreu pela categorização de todo o material recolhido. Para a respectiva categorização, estabeleceu-se um sistema de categorias tendo por base um modelo de análise, estabelecido a priori. A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE® - Versão 1) é a base deste modelo de análise.

O processo de selecção das categorias, tendo por base este modelo, foi estabelecido e organizado após a recolha dos dados, tendo em conta as dimensões em estudo:

 Focos de atenção que permitem caracterizar o estado do doente a partir dos quais se identifica o problema e se infere o diagnóstico de confusão ou o próprio status do diagnóstico de confusão; deste modo, a partir da informação extraída, estabeleceu-se um sistema de temas, categorias e subcategorias e sub-subcategorias.

 As Intervenções de enfermagem implementadas aos doentes identificados como confusos. Assim, partindo-se do quadro teórico referente às dimensões em estudo

e tendo por base a CIPE® (versão 1), organizou-se também um sistema de temas, categorias e subcategoria.

A organização dos temas referentes aos Focos de atenção e às Intervenções de enfermagem foram categorizados e subcategorizados, tendo em conta não só o modelo de estrutura desta classificação, mas também os objectivos do estudo.

A metodologia de organização do corpus de análise dentro dos temas estabelecidos teve como critério o valor semântico. A noção de tema implica “uma unidade de significado complexa, de comprimento variável, a sua validade não é de ordem linguística, (…) podem constituir um tema tanto uma afirmação como uma alusão (…)” (88 p. 99).

Dado o aspecto complexo deste procedimento, partimos previamente das unidades de contexto, para posteriormente estabelecer as unidades de registo. O procedimento da codificação dos dados recolhidos implicou a transformação sistemática e a agregação em unidades de registo, sendo esta a unidade base, a partir da qual, se categorizou, para que posteriormente a sua contagem frequencial fosse possível.

Como forma de se ultrapassar a limitação da análise temática, toda actividade taxonómica foi marcadamente circunscrita pelas definições presentes na CIPE® (versão 1) dentro de cada Foco e dentro de cada intervenção. A utilização da CIPE® (versão 1), como terminologia da prática de enfermagem, auxiliou o investigador na clarificação temática, levando a uma maior validade das unidades de registo utilizadas.

A estrutura de organização das categorias dentro das dimensões dos Focos de atenção em enfermagem, apresentam-se no capítulo que se segue (Capítulo 4) e, entende-se como Foco, uma “área de atenção relevante para a enfermagem” (12 p. 33).

A mesma estruturação das categorias e subcategorias foi seguida para as Intervenções de enfermagem e, entende-se Intervenção de enfermagem como sendo “a acção realizada em resposta a um diagnóstico de enfermagem, com a finalidade de produzir um resultado de enfermagem” (89 p. xix) .

Para dar visibilidade à Análise de conteúdo realizada, tomemos como exemplo a frase extraída do formulário 45 – “O doente encontra-se agitado e verborreico, com discurso incoerente/imperceptível.” Esta frase corresponde à unidade de contexto e daqui se extraiu a respectiva unidade de registo: “…verborreico, com discurso incoerente/imperceptível” (ID45h). Esta unidade de registo foi depois classificada

dentro da subcategoria Capacidade para comunicar, que por sua vez, corresponde a um nível mais abstracto, mais concretamente, à categoria Capacidade (Anexo IV).

O sistema de categorização, com o objectivo de garantir a fidelidade e a validade da análise realizada, obedeceu a regras que lhe são básicas, tais como:

 A “exclusão mútua”, ou seja, cada unidade de registo só foi colocada numa só categoria;

 A homogeneidade, o que significa que “diferentes níveis de análise devem ser separados em outras tantas análise sucessivas” (88 p. 114). Foi cumprida na organização dos temas em subcategorias;

 A pertinência - todo o processo de organização dos temas e categorias, teve em conta o quadro teórico referente às dimensões em estudo. Por outro lado, o uso da CIPE® (versão 1), como linguagem classificada, facilitou o sistema de categorização, bem como a intenção da investigação;

 A objectividade e a fidelidade foram conseguidas, suprimindo toda a sua subjectividade através do uso do modelo de análise. A utilização da CIPE® (versão1) como modelo semântico permitiu um estabelecimento preciso dos temas, categorias e suas subcategorias;

 A produtividade - o sistema de categorias definido promoveu apurar resultados e também conjecturar hipóteses.

No que se refere à enumeração, dentro de cada formulário, de cada elemento da amostra, cada unidade de registo subcategorizada só foi contabilizada uma vez, independentemente do número de ocorrência dentro de cada elemento da amostra. Assim, o que se considera significativo é a regularidade quantitativa de aparição no total da amostra. Deste modo, a importância de uma categoria aumenta com a frequência de aparição.

Pegando então num outro exemplo, localizado no formulário 35, foram extraídas as respectivas unidades de registo: “Doente muito pouco colaborante…” (ID35e), “Doente pouco colaborante, refugiando-se no leito.” (ID35e1), “Não Colaborante…” (ID35e2); Visto que estes dados se situam dento da mesma subcategoria e, consequentemente, dento da mesma categoria, só foram notificados uma vez. Para

operacionalizar este aspecto, elaborou-se uma base de dados, onde os dados de cada formulário foram introduzidos per si.

A análise é portanto temática, frequencial e quantitativa. A abordagem quantitativa dos dados vai de encontro ao tipo de estudo que se pretende, ou seja, uma abordagem descritiva e que permita testar as associações previstas nas hipóteses previamente formuladas.

Análise de Conteúdo à Entrevista

A técnica de Análise de conteúdo à questão aberta fundamenta-se na mesma metodologia. Assim, os temas também se basearam na CIPE® (versão 1) e a organização das categorias utilizadas para o efeito, teve o mesmo raciocínio que o apresentado dentro dos Focos de atenção. Contudo, neste caso foram necessárias menos categorias.

No que se refere à codificação da informação, bem como à enumeração das unidades de registo, os procedimentos metodológicos foram exactamente os mesmos.

No documento Confusão : a dimensão do subdiagnóstico (páginas 92-97)

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