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Percepção do que constitui a prática docente na visão

5 O ENTRELAÇAMENTO ENTRE O CONHECER, AGIR E SENTIR NA PRÁTICA

5.1 Achados da pesquisa de campo: questionário aplicado aos docentes

5.1.1 Percepção do que constitui a prática docente na visão

A percepção do que constitui a prática docente na visão dos respondentes ao questionário englobaram os seguintes questionamentos: Como você descreve a prática docente hoje? O que é ser professor? Que situações dificultam o ser professor? Que situações tornam o ser professor uma profissão prazerosa? O que fortalece o ser docente, sobretudo em sala de aula?

Na percepção de como os professores compreendem a constituição do que é a prática docente, as situações que dificultam esta prática e o que a torna prazerosa identificou-se alguns paradoxos. Alguns professores afirmam ser uma experiência prazerosa, gratificante, mas ao mesmo tempo revelam um desencanto com o ser professor. Segundo o docente A15 respondente, “é uma experiência muito gratificante ser professor, pois nos realizamos quando percebemos um aluno aprendendo, mas é muito difícil ser professor com tantos problemas que a escola tem enfrentado”. O docente C, ressalta que “ser professor é uma profissão desafiadora, cheio de alto

15 Por razões éticas e para preservar a identidade dos professores que responderam ao questionário, não foi apresentado o nome de cada respondente. Para identificá-los, foram usadas as expressões docente ou professor A, B, C, D, E, F e assim sucessivamente.

e baixos, uma aventura extremamente burocrática e cansativa”. Na visão o docente F, o ser professor “é uma experiência marcada muitas alegrias, mas o professor não é valorizado e reconhecido e suas atividades são inúmeras e muito mais do que a sala de aula, quase não tem tempo para si mesmo”. Ainda neste sentido, merece destaque a resposta do docente J, ao destacar que embora seja uma grande profissão, “a ação do professor fica muito condicionada a preenchimento de formulários, diários, correção de provas e outras burocracias do cargo que exerce”.

Vale ressaltar que dos dez professores, sete usaram a expressão experiência, indicando o ser professor, a prática docente como uma experiência. Os demais usaram a palavra profissão ou situação. Na sua totalidade, as respostas afirmaram ser a prática docente desafiadora e permeada de dificuldades. As palavras dificuldades e desafiadora apareceram em todas as respostas. As principais situações desafiadoras citadas foram: baixos salários; salas numerosas; desinteresse dos alunos; indisciplina; carência de recursos pedagógicos; excesso de burocracia; falta de afetividade entre professor e aluno; a visão quantitativa do Estado; excesso de atividades e projetos, falta de tempo, entre outros. Foi possível notar que a indisciplina, falta de tempo e o excesso de burocracia foram as questões mais repetidas entre os docentes, com ênfase nas duas últimas.

Nas palavras do docente G, “ser professor é ser capaz de orientar a aprendizagem, ser incentivador do aluno para que ele possa ver novos horizontes”. Para o docente F, “é um desafio ser professor diante dos baixos salários e da desvalorização do professor e do excesso de atividades que compõe esta profissão”, o docente A lembrou do aspecto da realidade da escola ao afirmar que “é extremamente difícil ser professor com sala tão numerosas marcadas pela indisciplina e falta de recursos para um trabalho de qualidade”. Na afirmação do docente I, “a omissão da família e falta de investimento do governo dificultam o trabalho do professor”.

No aspecto do ser professor, muitos demonstraram um aspecto pragmatista de suas práticas com respostas curtas e diretas como por exemplo: é ser instrutor; orientador da aprendizagem, aquele que repassa conteúdos; um profissional técnico; um instrutor moral dos alunos em sua disciplina, facilitador da aprendizagem; um faz de tudo. Apenas duas respostas usaram a expressão formador ligada a ideia de formação da pessoa. No dizer do docente A, “o professor é um instrutor de alunos e sua prática consiste em repassar conteúdos e valores”. Já o docente H, referiu-se ao ser professor afirmando que é “um profissional técnico de ensino”. Um terceiro docente, o docente J, entende o ser professor como aspecto formativo ao afirmar que “ser professor é estar disposto a educar sempre, instruir e estimular o saber que procura

contribuir para a formação de uma pessoa”.

Ao responderem sobre o que torna a prática docente prazerosa e fortalece o professor, a afetividade e proximidade com o aluno sobressaiu em todas as respostas. Foi apontado também que ver o aluno progredir e se envolver na aprendizagem de forma interessada e não somente pela recompensa da nota, cria no professor uma motivação para o trabalho. Outras respostas também são importantes delimitadores desta percepção sobre o que fortalece o professor, como por exemplo, na maioria das respostas ficou evidente que o gosto por lecionar e o interesse dos alunos motivam os professores. Ainda merecem destaque respostas bastante interessantes como o “brilho nos olhos dos alunos quando aprendeu alguma coisa”; “o reconhecimento dos alunos, a perseverança e a esperança diante dos desafios educacionais”, dito pelos professores J e F, respectivamente

Na visão do docente A respondente, “estar próximo do aluno e conviver com ele diariamente fortalece a prática educativa, mesmo com tantos alunos e pouco tempo na sala de aula” o mesmo ainda destacou “sem afeto e respeito pelo aluno a profissão do professor não tem sentido”. O docente E, ressalta que “a maior motivação para um professor é ver que seu aluno está aprendendo e crescendo com o que está sendo ensinado”. Para o docente G, fez uma afirmação importante com as seguintes palavras “me sinto motivado quando vejo interesse nos alunos e me empolgo com as aulas”.

O conjunto destas respostas quanto à percepção do docente de si mesmo sugere revelar que os docentes vivem um encanto e ao mesmo tempo uma situação de desencanto e desânimo com suas práticas. Este desencanto deve ser associado à questão do tempo e ao excesso de atividades burocráticas na sala de aula e fora dela e ao fato de verem pouco progresso em suas práticas no que diz respeito a aprendizagem. As respostas revelam que os docentes não têm tempo e que este fato traz cansaço e dificulta a aproximação e convivência com os alunos. Neste sentido, o tempo para fazer experiência é substituído pela necessidade de “transmitir conteúdos”, aplicar avaliações, corrigir atividades, “fechar notas” e controlar a indisciplina, em sala quase sempre numerosas.

É possível ainda perceber que além do excesso de atividades que se impõe sobre a experiência do momento, da convivência, das narrativas, da conversa informal, do diálogo que aproxima e do sentir entre docente e aluno, ainda impera a ideia do racional, do conteúdismo, contrariando muitas afirmações dos respondentes que disseram acreditar que a beleza da docência está em ver o crescimento do aluno, sua empolgação e entusiasmo em aprender.

percepções, suas experiências, a partir da identificação de respostas curtas com ideias contraditórias e confusas em alguns momentos e em outros, ausência de narrativas sobre suas práticas, limitando-se a estereótipos ou clichês que são corriqueiros para traduzir a prática docente. Este fato pode revelar uma resistência ao instrumento da pesquisa, numa atitude negativa de insegurança de se expor ou ainda, em uma questão mais séria e questionadora, pode traduzir um emudecimento dos docentes diante de tantos desencantos presentes no cotidiano escolar, que resistem em narrar suas experiências.