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5. RELATOS DE PROFESSORES FRENTE À INCLUSÃO DE ALUNOS

5.3 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES

No que diz respeito a concepção de deficiência intelectual, apenas um relato de uma professora deixa explícito que a mesma, não reconhece bem o que seria a deficiência intelectual e se ela tinha realmente esse público na sua sala de aula.Para confirmar essa colocação referida, ela declara:

Eu acho que tenho alunos deficientes mentais na minha sala de EJA à noite, mas eu não tenho muita certeza, pois nunca chegou nenhum

laudo médico informando sobre a deficiência real desses alunos, acho que no total são dois alunos deficientes mentais. (P1)

Diante do exposto, fica evidente que a professora não tem convicção do que é a deficiência intelectual, por isso a mesma fica insegura de afirmar que existem alunos na sua sala de EJA, que são deficientes intelectuais. Já os outros dois professores fazem uma colocação bem afirmativa e convicta sobre a quantidade de alunos com deficiência.

Eu tenho três alunos com deficiência intelectual na minha sala, por isso é necessário muita atenção no momento da aula. (P4).

Dentro da minha concepção sobre deficiência mental, eu tenho sim alunos com essa deficiência, não que a escola tenha recebido algum documento médico informando sobre o caso, mas professor apesar de não ser médico, pode enxergar esse tipo de deficiência no aluno de longe.(P3)

Só um professor fez sua colocação de forma bem objetiva e direta, de forma que não houve muito o que ser analisado.

Sim(P2)

Esses dados evidenciam que os professores têm um conhecimento sobre deficiência intelectual, porém não de forma abrangente, alguns professores se baseiam apenas pelo modelo médico. Isso faz com que muitos não se pronunciem diante do assunto. De acordo com Glat (1996), o posicionamento da grande parte dos professores está intrinsecamente baseado no modelo clínico, que permeia a educação especial e estigmatiza qualitativamente a pessoa com deficiência intelectual de outras pessoas na mesma faixa etária ou grupo social.

Ainda falando sobre concepções, os professores relataram sobre o que seria a modalidade EJA. Segundo um professor a concepção dele sobre o que seria EJA era:

Uma modalidade de ensino que abre espaço para o exercício da cidadania (P4).

Essa concepção traz á tona as conceituações sobre essa modalidade de ensino, sendo assim é possível entender que a idéia da educação de jovens e adultos não estar ligada apenas a um exercício para aprendizagem formal, mas vai além , é uma modalidade que leva ao aluno a ser um cidadão pleno, com direitos e deveres dentro da sociedade.Isso é explanado por Pérez Gómez (1997 apud Soares, 2001 p.205) que diz:

A ênfase não deve situar-se nem na assimilação da cultura privilegiada, seus conhecimentos e seus métodos, nem na preparação para as exigências do mundo do trabalho, e sim no enriquecimento do indivíduo, constituído como sujeitos de suas experiências, pensamentos, desejos e afetos.

Uma outra resposta já traz uma concepção diferenciada e contraditória a anterior, em que um professor afirma:

A educação de jovens e adultos só existe porque estamos numa sociedade capitalista em que é exigido um mínimo de educação para conseguir algo melhor na vida, mas o jovem / adulto com deficiência numa sala à noite, é só para cumprir um horário social, esse aluno não tem condições de ser inserido no mercado de trabalho. (P3)

É possível perceber nessa resposta, um pouco de discriminação em relação ao aluno com deficiência, ao mesmo tempo em que afirma que o aluno da modalidade de EJA precisa estudar para trabalhar, ela afirma que o aluno com deficiência dessa modalidade não tem condições de trabalhar, devido a sua deficiência.

Os relatos de outras professoras é o seguinte:

A modalidade de EJA é caracterizada por acontecer a noite, para que pela manhã esse aluno possa trabalhar, mas no caso dos deficientes mentais , isso fica mais difícil ( P2)

Esse aluno já perdeu muita aula no decorrer da sua vida, sendo assim ele precisa estudar, pra correr atrás do prejuízo. Já os alunos com deficiência intelectual só participam das aulas, para cumprir um dever das políticas públicas voltadas para ele. (P4)

Esses dados também demonstram que os professores ainda não se sentem muito a vontade para falar sobre a modalidade de EJA e por isso possuem opiniões contraditórias e confusas em relação ao assunto.

Na questão relativa a inclusão dos alunos com deficiência intelectual nas salas regulares de EJA , a maioria das respondentes disse que era necessário primeiro que esses alunos tivessem um aprendizado nas escolas especiais e depois fossem inseridos nas salas regulares. Vejamos alguns relatos:

Eu acho bom, mas era melhor que no início eles tivessem estudado em alguma escola especial, para acompanhar direito os outros

alunos da sala. (P2)

O ideal seria que isso ocorresse com todos os alunos especiais, mas infelizmente não é bem isso que ocorre nas escolas, ainda existe muito ensino só para os alunos especiais, que por um lado também é bom, pois ajuda ao aluno com deficiência a se desenvolver melhor e se adaptar ao processo de aprendizagem nas salas regulares. (P1) Aqui na escola nós ajudamos nossos alunos no processo de inclusão, por isso eles são preparados nas salas especiais, participando de oficinas com os outros alunos da sala regular, para a partir do desenvolvimento dele na sala especial ele ter a possibilidade de estudar na sala regular.(P3)

É possível perceber com essas explanações, que os professores admitem ser essa inserção do aluno especial nas escolas regulares gratificante, todavia esse aluno precisaria passar por um ensino especial e daí sim ser inserido na escola regular, a escola especial funcionaria como um treinamento para a escolarização de fato.

Isso pode ser explicado baseado na concepção de integração que segue o modelo médico, em que, o modelo médico procura deixar a pessoa com deficiência preparada para poder participar da sociedade, o indivíduo é preparado para se adaptar ao convívio social e caso o sujeito não se adapte a esse convívio ele é retirado, deixando de ser inserido na sociedade em geral. Sassaki (1997 apud SAAD 2003, p.59) explica que:

Aplicada à educação, alguns alunos com deficiência começaram participando de classes especiais em escolas comuns,

compartilhando do convívio geral apenas em algumas atividades extra curriculares.

Apenas um relato de um professor demonstra que a inclusão do aluno com deficiência na escola regular seria um fator importante para sua aprendizagem.

Uma possibilidade a mais de inserção de seres humanos no processo educativo com mais chance de sucesso. (P4)

Esse professor acredita na possibilidade da inclusão do aluno com deficiência intelectual na sala regular de EJA, sem que seja preciso uma preparação anterior, e diz ainda que essa inserção na sala regular traz mais sucesso para esse alunado.

Nesse mesmo percurso sobre a inclusão, os professores responderam sobre suas dificuldades e também facilidades em incluir esse aluno com deficiência intelectual nas salas regulares de EJA.

Assim dizem P2 e P4:

A principal dificuldade, que eu acredito ser a pior é quando os pais não ajudam no processo educacional de seus filhos. A família é o lugar aonde ele vai se sentir mais seguro para estudar, e principalmente numa escola regular. A facilidade, nesse processo, é a ajuda da escola, os professores dessa instituição se mostram muito esforçados para a inclusão dos alunos com deficiência (P2).

A dificuldade maior é em relação à vinculação do processo educativo com a família e a assistência necessária do âmbito da saúde. (P4)

Essa desvinculação da família se dá muitas vezes porque a família não aceita a condição intelectual do filho, resultando assim numa negação constante em relação a vida diferenciada do filho. Isso é explicado por Amaral (1995, p.86) que diz:

A deficiência significando perda resulta em sofrimento tanto para a família como para a pessoa. Os mecanismos de defesa camuflam o problema sem levá-lo à aceitação plena, que é diferente de

Um relato sobre a importância da família na vida desse alunado diz que: A presença da família deve ser constante, os familiares devem servir de instrumento entre o professor e o educando. (P3)

Isso mostra a importância da família no processo educacional e que os professores têm consciência desse papel tão importante na vida do aluno jovem/ adulto ou não com deficiência ou não. O apoio da família é a base para esse aluno seguir em frente em todas as etapas da sua vida.

Já os outros dois professores relataram que sua maior dificuldade estar relacionado a sua formação, essa resposta mescla com uma das perguntas feitas em relação a formação do professor, para lidar com alunos da modalidade de EJA com deficiência intelectual.

Relataram assim P1 e P4:

O relacionamento que temos com nossos alunos ajuda no processo de aprendizagem, mas a maior dificuldade é em relação ao preparo do professor e da escola como um todo para receber os alunos especiais. (P1)

Minha principal dificuldade estar relacionado a minha formação, sou formada em Letras e quando passei no concurso ninguém me informou que iria lidar com alunos deficientes mentais, eu tive que procurar me aperfeiçoar para que meus alunos especiais tivessem acesso a uma educação de qualidade (P4)

Nessa mesma linha de pensamento, em relação a formação dos professores os professores dizem o seguinte :

A resposta é a seguinte: O preparo é diário, ou melhor, dizendo , é necessário estudo constante e dedicação por parte do professor. (P1)

A formação deveria ser abrangente e o professor deve ter uma visão integral do ser humano. (P2)

Tenho especialização em psicopedagogia e acho que todos os professores deveriam ter essa formação, pois faz com que o professor entenda o processo de aprendizagem dos alunos e mais ainda, é possível o professor entender sobre suas dificuldades, e por

isso o profissional passa a entender o processo dos alunos com deficiência com mais facilidade. (P3)

Essa questão da formação de professores, que deve ser contínua e de qualidade em que esse profissional pode e deve sempre procurar se aperfeiçoar, é trazida por Fonseca (1995 p.225) que diz:

(...) toda a formação do professorado se deve orientar para uma permanente interação e reciprocidade entre a formação inicial e a formação em exercício. Estabelecer um sistema, ou um modelo de formação, com caráter de permanente atualização é, (...) de importância vital, quer no plano científico, quer no plano pedagógico.

Ou seja, é necessário que esse professor no exercício de sua profissão, procure sempre se atualizar e se dedicar sempre, procurando especializações que o ajude a compreender melhor seu aluno na sala de aula.

No momento em que foi perguntado sobre a questão de desenvolvimento dos alunos com deficiência, se era melhor o aprendizado juntamente com os alunos ditos normais. Os professores relataram:

O convívio abre novas possibilidades de cooperação e aceitação (P1)

Acredito que esse aprendizado dos alunos com deficiência juntamente com os alunos ditos normais é muito bom, pois ajuda a esses alunos a conviver com a diversidade, sendo assim ajuda um pouco no desenvolvimento do indivíduo. (P2)

Esse convívio dos alunos deficientes com os alunos normais, apesar de ser um pouco confuso, ajuda ao aluno com deficiência se desenvolver e até entender o processo de inserção social. (P3) Acredito ser de suma importância essa interação dos alunos especiais com os alunos normais, pois fortalece a idéia da

A partir dessas opiniões colhidas, nota-se que os professores consideram que o desenvolvimento cognitivo desse aluno melhora a partir do momento que eles convivem com os alunos ditos normais, pois eles percebem na prática, a diversidade, que inclusive eles encontram na sociedade como um todo, por esse motivo pode-se dizer que eles já possuem um conhecimento sobre a sociedade no geral e percebem que o mundo não tem pessoas só iguais a ele, pelo contrário, o que o mundo possui é exatamente essa diversidade de pessoas, de maneiras, de jeitos, de atitudes, comportamentos diferenciados e é isso que caracteriza a sociedade em que vivemos. O mais interessante, é que esse aluno percebe que é possível conviver com a diversidade. Isso é algo que, não é compreendido pelo aluno deficiente quando o mesmo estuda em escolas especiais, pois não há um confronto com a diferença, ele estuda o tempo todo com alunos iguais a ele e por isso, não tem como perceber o outro.

Ao serem perguntados sobre o atendimento educacional especializado para esse aluno nas salas regulares de EJA, muitos professores elaboram respostas sucintas e vagas, não trazendo, portanto subsídios para um maior conhecimento ou esclarecimento sobre esse atendimento desenvolvido com esse aluno.

Assim relataram:

Sim, na medida do possível, esse aluno é atendido de forma especial. (P1)

O aluno só possui atendimento especial se o professor que lida com ele na sala de aula, tiver essa bagagem especial. (P2)

Todo o processo educativo consiste numa ação efetuada por profissionais que possuem um suporte teórico e prático. (P3)

Sim, todo o processo desse aluno é especializado. (P4)

Fica claro que o atendimento educacional especializado estar voltado plenamente para o professor e para sua formação. Se esse profissional for bem preparado seu processo de aprendizagem será especializado, porém se for um profissional que não sabe lidar com alunos especiais, esse aluno não terá um atendimento especial e consequentemente não terá um bom desenvolvimento acadêmico.

Nesse mesmo panorama foi perguntado aos professores, se esses alunos tinham acesso a mesma atividade dos outros alunos ditos normais, ou se eram atividades voltadas para eles.

Apenas um professor relatou o seguinte:

Atividades diversificadas produzem melhores resultados (P3) Os outros professores responderam de forma bem objetiva e sucinta:

Às vezes (P2)

Na medida do possível (P1) Sim (P4)

Devido a essas respostas, não houve um aprofundamento maior sobre o assunto.

E por último foi perguntado aos professores como era a sua relação com os alunos com deficiência intelectual nas salas regulares de EJA e como era a relação entre eles. Assim relataram P1 e P2:

Relativamente boa, entre eu e eles. (P1)

É uma relação de amizade, isso é perceptível, eles são muito amorosos (P2).

Pela análise dos relatos, afirma-se que todas as indagações surgiram de forma natural, ou seja, em nenhum momento os professores se sentiram pressionados a informarem aquilo que não era a verdade encontrada naquele momento.

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