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2.5 Áreas verdes e bem-estar

2.5.2 Percepção e espaço vivenciado

Houaiss (2001) define percepção como sendo a capacidade de apreender por meio dos sentidos ou da mente. Percepção segundo Merleau Ponty (2011) é uma interpretação provisória e dinâmica, que se encontra em constante transformação. A diferença entre o ver e o olhar perceptivo relaciona-se ao fato de a percepção encontrar-se atrelada a um conjunto de experiências do observador. Neste sentido, James (2001) esclarece que a percepção do espaço é tecida por processos de discernimento, de associação e de seleção.

Magalhães (2001) afirma que o ato criativo de um arquiteto deve ser precedido da percepção do espaço a ser modificado com base em experiências e conhecimentos anteriores do observador. A percepção, segundo esta autora, depende também de códigos ideológicos e éticos, aliados ao conhecimento que a pessoa tem do processo de formação e evolução do espaço. Sendo assim, uma

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paisagem é percebida de diferentes formas pelos observadores e seu significado “depende da capacidade que o observador tem de a ’ler’ como objeto sincreticamente ecológico, físico e cultural” (MAGALHÃES, 2001, p. 295). Pode-se concluir, então, que nada é vivenciado em si mesmo, mas sempre relacionado a ambientes de experiências passadas (LYNCH, 1997).

A paisagem revela a evolução do planeta e as transformações da história da humanidade cuja realidade ambiental abriga diferentes contextos que são pertinentes às dimensões do concreto e do imaginário, como também dos aspectos míticos e pragmáticos (GUIMARÃES, 2007). A sociedade moderna, ao estabelecer ideais contrários como natureza e máquina, floresta e cidade, natural e artificial, provocou uma cisão entre o ser humano e a natureza conforme observa Wilson (2002), que fundamentado por ideias do geógrafo Y Fu Tuan, destaca o desequilíbrio contido no mundo moderno. Ao perceber o ambiente de forma restrita em relação ao meio natural, o homem dissocia-se do ambiente em que vive, deixando de compreender a questão ambiental que envolve uma relação entre sociedade e natureza. Entretanto, na medida em que avança o contato com o meio natural, o espírito humano torna-se cada vez mais comprometido com o seu espaço, assumindo uma visão naturalista, própria de um instinto "biophilico" inerente ao homem (WILSON, 2002).

A humanidade não é exaltada por estar muito acima de outros seres vivos, mas, sim, pelo fato de conhecê-los bem e de compreender que "todos somos parte de um", elevando o próprio conceito de vida. A hipótese da Biophilia sugere uma ligação instintiva entre o ser humano e o ambiente natural que se torna evidente quando observamos pessoas em cidades muito povoadas buscarem contato com a natureza na tentativa de restabelecerem conexão com o ambiente natural (WILSON, 2002). Kaplan e Kaplan (1983) consideram que, apesar da dificuldade em se apontarem as evidências dos benefícios do contato com a natureza, há indícios de sua importância para o bem-estar das pessoas. Em estudos, como os de Lynch (1997), Kaplan e Kaplan (1989) e Ulrich (1979, 1986), ambientes naturais foram destacados como preferidos por permitirem aos seus usuários certo envolvimento e familiaridade com a natureza.

A visão de Merleau Ponty (2011) sob a noção de espacialidade é determinante para análise da relação entre usuário e espaço, pois não se refere apenas a objetos exteriores ou a sensações espaciais, próprios de uma

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espacialidade de posição, mas também a uma espacialidade de situação, ou seja, quando o espaço se revela conforme a ação do sujeito que está nele contido. Neste sentido, vale conferir a definição de espaço proposta por Santos como sendo “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistema de objetos e sistema de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a historia se dá” (SANTOS, 2006, p. 63).

Este autor distingue paisagem de espaço, definindo paisagem como um conjunto de formas, que expressam heranças representativas das relações entre o homem e a natureza, sendo, portanto, transtemporal ao unir objetos do passado e do presente em uma construção transversal, e espaço como sendo sempre um presente, uma construção horizontal e única, onde os objetos estão sujeitos à mudança de funções, de significação e de valor sistêmico, transformando-se permanentemente.

Tuan (1983), ao analisar relações estabelecidas entre sujeito e espaço vivenciado, diferencia “espaço” de “lugar” observando que o espaço aberto não possui significado definido enquanto o espaço fechado e humanizado caracteriza-se como lugar - “um centro calmo de valores estabelecidos”. O "espaço" torna-se um "lugar" na medida em que assume um significado e uma função (TUAN, 1983, p. 61), considerando-se que espaço e sujeito se inter-relacionam de forma dinâmica e contínua. Nessa perspectiva, Lynch (1997) defende que uma imagem claramente reconhecida do entorno promove o equilíbrio do indivíduo que, tendo uma boa imagem do ambiente vivenciado, adquire segurança emocional. É esclarecedor o conceito de “topofilia” proposto por Tuan (1980) ao abordar questões sobre percepção e atitudes do ser humano em relação ao meio ambiente, capaz de traduzir a ligação afetiva estabelecida entre as pessoas e o lugar experimentado. O significado de percepção integra, portanto, aspectos relacionados à atitude humana, segurança, simbolismo, condicionamento social e conforto (LOMBARDO, 1985).

As imagens ambientais são resultados da relação entre o observador e seu ambiente. Por milhares de gerações a mente humana evoluiu e amadureceu culturalmente influenciada pelo acúmulo de modificações no ambiente planejado. Entretanto, com o aumento da capacidade de influenciar o meio em que vive, em busca de suprir suas necessidades, o homem torna a paisagem cada vez mais desumana em razão de inúmeros impactos e transformações ambientais (ODUM, 1977; KAPLAN et al., 1998).

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Monteiro (2007) observa em sua pesquisa que, embora haja grande aceitação do verde por parte da população, muito pouco é revelado sobre o conhecimento real de seus benefícios, limitados à beleza e à sombra, ignorando-se outros referentes à qualidade ambiental no que diz respeito à diversidade da fauna e flora, bem como à qualidade do ar. Todos os estudos confirmam que o ambiente físico exerce efeito sobre a percepção de quem o vivencia. Quanto à percepção ambiental, entretanto, é importante associar ciências como a psicologia, a sociologia e a ecologia a fim de se construir uma base que permita avaliar expectativas e sensações do usuário em relação ao espaço vivenciado, dando-se ênfase aos múltiplos fatores que influenciam a qualidade do meio ambiente. Considerando-se fatores socioculturais, a percepção ambiental amplia o conhecimento e a compreensão do meio ambiente pelo homem.