• Nenhum resultado encontrado

4.3 Aspectos apresentados pelos entrevistados sobre o projeto

4.3.5 Percepção dos egressos sobre o projeto

Foram realizadas entrevistas com cinco egressos do projeto, a fim de verificar sua percepção de um modo geral sobre o projeto. Foi perguntado como o egresso chegou ao projeto, o impacto do projeto na sua vida e de sua família e como está sua vida hoje, após a saída do projeto. Esses egressos foram escolhidos por terem participado desde o início do projeto, tendo participado de todo o programa e por critérios de conveniência.

O egresso 01- 19 anos, estudante universitário do curso de Fisioterapia - afirmou que chegou ao projeto por meio de sua mãe. Quando ela soube que haveria um projeto social na região em que moravam, logo quis que ele participasse, para que o jovem preenchesse seu tempo e “se tornasse uma pessoa melhor”. No projeto, ele “se tornou uma pessoa melhor” e fez novas amizades, embora tenha perdido algumas para a criminalidade e as drogas. O

projeto o ensinou a superar seus obstáculos, além de ajudar no desenvolvimento de talentos, como jogar futebol e comunicar-se com as pessoas. Sua família é muito grata por tudo o que ele viveu ali. O jovem tem realizado seus sonhos e se sente um jovem realizado, atualmente.

O egresso 02 – 19 anos, técnico em informática - informou que chegou ao projeto por sua mãe, que soube que haveria um projeto social em que as crianças “passariam o dia se divertindo e aprendendo sobre a Bíblia”. O egresso afirma que era muito tímido e no projeto aprendeu a trabalhar essa timidez, por meio dos novos amigos que fez. Também aprendeu muitos ensinamentos bíblicos para a sua vida. Com o passar do tempo, as muitas atividades cotidianas fizeram o jovem diminuir sua participação no projeto, ainda assim ele é grato por tudo o que foi feito por ele. Hoje o rapaz está casado, já tendo sua própria família e sua casa, levando em consideração que foi um dos primeiros participantes.

O egresso 03 – 18 anos, jovem aprendiz em um supermercado - afirma que seus pais o levaram ao projeto quando ele tinha oito anos, pois sabiam que seria bom para o jovem. O entrevistado relata que o carinho e a atenção com que os professores do projeto o tratavam foi marcante em sua vida. Outro ponto de influência importante foi na área financeira, pois o padrinho do rapaz no projeto enviava presentes e até valores em dinheiro para as necessidades da família. Hoje o entrevistado vê a influência positiva que tantas pessoas deixaram em sua vida. Lá ele aprendeu a batalhar pelos seus sonhos, independente do local em que vive ou da falta de recursos. Aprendeu também que sempre existirão boas pessoas para ajudar. O rapaz tem trabalho fixo, participa de uma igreja evangélica, atua no grupo do teatro da igreja e pretende cursar psicologia próximo ano.

O egresso 04 – 19 anos, estudante no ensino médio e entregador em uma farmácia - chegou ao projeto por meio de sua mãe. Lá ele aprendeu “muitas coisas boas” para a sua vida e ensinamentos que nunca esqueceu. Atualmente sua vida está muito bem encaminhada.

A egressa 05 - 18 anos, repositora em um supermercado - foi inscrita pela mãe aos oito anos, quando soube que haveria um projeto social próximo de casa. O projeto a “muitas coisas importantes”, entre elas o amor de Deus por sua vida. O projeto tem tirado muitas crianças da rua em sua comunidade e seus sobrinhos estão participando, tendo a mesma oportunidade que a egressa teve. Atualmente, a jovem tem um bom emprego, ajuda nas despesas de casa, quer fazer faculdade e casar em breve. A jovem consegue ver que cada palestra, conselho, cada devocional feito, valeu a pena, pois influenciou quem ela se tornou.

Verificou-se que os egressos têm uma história muito semelhante: chegaram ao projeto através da família (normalmente a mãe), o projeto trouxe vários impactos positivos, como novas amizades, desenvolvimento pessoal e a influência positiva das pessoas com quem se

relacionaram e atualmente estão no mercado de trabalho ou em busca de colocação no mesmo. Existe ainda a influência na comunidade onde moram, pois o local é bastante assolado pelo tráfico de drogas e pela violência, sendo o projeto uma alternativa para que as crianças não entrem nesse rumo.

Lembrando Melo Neto e Froes (2001), que afirmam que o aumento dos desassistidos e excluídos está ligado à baixa qualidade e aos altos custos dos serviços prestados pelo Estado, os egressos de uma forma geral não confiam muito nos serviços e nas instituições do Estado.

Conforme Alves Junior (2010) percebe-se que o Terceiro Setor tem atuado fortemente na atuação para uma forte transformação social.

5 CONCLUSÕES

O objetivo principal dessa monografia era fazer uma revisão literária da teoria sobre o Terceiro Setor, utilizando o caso prático do Projeto Cidade Criança.

Era importante essa revisão literária devido a importância da atuação do Terceiro Setor junto a sociedade. O Projeto Cidade Criança foi estudado por ser um programa revelante dentro da sua área de atuação e localização.

Entende-se que esse objetivo foi alcançado. Foi mostrado ainda o Estatuto Social da associação criadora do Projeto Cidade Criança, os indicadores financeiros foram analisados e os impactos do projeto na vida dos egressos foram retratados.

Pude ver que a principal contribuição dessa monografia é mostrar a influência positiva do projeto na vida dos seus participantes, das suas famílias e da região em que vivem. Como dito pelos egressos, várias transformações aconteceram e inferimos das entrevistas que esses jovens escaparam da influência do tráfico de drogas e da violência na região, fatores extremamente marcantes dentro da comunidade da Sapiranga.

Sobre os funcionários e envolvidos no projeto, pude ver a felicidade e amor com que tais pessoas trabalham, muitas vezes abdicando de possibilidades de maior crescimento em suas carreiras. Drucker (1999) fala da importância de se manter acesa a paixão pelo trabalho dentro de uma ONG e foi percebido que essa paixão continua acesa, dada a motivação que dos funcionários e envolvidos no projeto: a possibilidade de mudar a vida de centenas de famílias, através da educação, da saúde, da esperança de um futuro melhor e da pessoa de Jesus Cristo.

Uma limitação encontrada no trabalho foi a ausência de indicadores financeiros para a realização de comparações com o que foi encontrado no projeto. Não existe um “modelo ideal” ou um “modelo comparativo” que possa ser utilizado para comparar e analisar se os recursos financeiros estão sendo bem utilizados. Por exemplo: uma criança deve custar “x” reais por mês a uma ONG. Por não existir esse modelo, a análise é mais subjetiva do que objetiva.

A outra limitação encontrada no trabalho foi a ausência de dados relevantes sobre o Terceiro Setor por órgãos oficiais. A última pesquisa importante do IBGE sobre o setor no país foi em 2007, onze anos atrás. Isso mostra um certo desprezo em relação ao tema por parte

dos órgãos oficiais.

Uma sugestão seria a realização de mais trabalhos sobre o Terceiro Setor, a fim de que a sociedade pudesse perceber a importância do tema e pudesse haver um maior envolvimento de todos: sociedade e Poder Público (pois o citado setor atua em áreas que o Estado muitas vezes não consegue alcançar com efetividade).

A inclusão de conteúdos ligados ao Terceiro Setor nos estudos dos ambientes acadêmicos pode incentivar a construção de mais material literário sobre o assunto, o que seria importante para todos os envolvidos na área.

REFERÊNCIAS

ALVES JUNIOR, Maiso Dias. Sustentabilidade das organizações sem fins lucrativos: evidências e experiências no Terceiro Setor: um novo paradigma de gestão. Fortaleza: Premius, 2010.

ARAÚJO, Osório Cavalcante. Contabilidade para organizações do terceiro setor. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.

ARMSTRONG, Gary; KOTLER, PHILIP. Princípios de marketing. 15ª ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.

BRASIL. Lei nº 9637, de 15 de maio de 1998. . Brasília, Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9637.htm>. Acesso em: 21 abr. 2018.

BRASIL. Lei nº 9790, de 23 de março de 1999. . Brasília, Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9790.htm>. Acesso em: 21 abr. 2018.

Brasil em Síntese. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. Disponível em: <

https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: 06 de fevereiro de 2018.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 30ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

DRUCKER, Peter F. Administração de organizações sem fins lucrativos. 5ª ed. São Paulo: Pioneira, 1999.

Fortaleza Dados Abertos. Fortaleza: Prefeitura de Fortaleza, 2015. Disponível em:

http://dados.fortaleza.ce.gov.br/catalogo/dataset/desenvolvimento-humano-por-bairro-de- fortaleza/. Acesso em: 06 de fevereiro de 2018.

FREITAS, Ernani César de; PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho científico: método e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2ª ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

FROES, César; MELO NETO, Francisco Paulo de. Responsabilidade social e cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. 1ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Pesquisa sobre voluntários no Brasil. 2014. Disponível em: <https://d13q7w9s0p5d73.cloudfront.net/uploads/itau/document/file/614/a082e3a3-993a- 4bd4-a29e-9e1eb82ee0f7.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2018.

GARAY, Sara Maria Costa. A Gestão de Pessoas em Organizações Sem Fins Lucrativos: Principais Dilemas e Desafios. 2011. Disponível em:

<https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos11/57814809.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2018. GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. Responsabilidade Social - Das Grandes Corporações ao Terceiro Setor. 1ª ed. São Paulo: Ética, 2007.

IBGE; IPEA. As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MAGNUS, Cristina de Oliveira. Controle interno financeiro em uma entidade sem fins lucrativos. 2007. 50 f. Monografia (Especialização) - Curso de Ciências Contábeis, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. Disponível em: <http://tcc.bu.ufsc.br/Contabeis293891.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2018.

PAES, José Eduardo Sabo. Fundações, associações e entidades de interesse social: aspectos jurídicos, administrativos, contábeis, trabalhistas e tributários. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

PIERRE, Martim. Dicionário Jurídico 2016: terminologia jurídica e forense, brocardos latinos. 8ª ed. Niterói: Ímpetus, 2016.

RESENDE, Tomás de Aquino. Roteiro do Terceiro Setor – Associações e Fundações. 4ª ed. Minas Gerais: Prax, 2012.

.

RHEINHEIMER, Ivone; SCHEUNEMANN, Arno Vorpagel. Administração do terceiro setor. Curitiba: InterSaberes, 2013.

SCARPELLI, Maria Beatriz Gouvêa. Terceiro Setor e Responsabilidade Social. 2004. 123 f. TCC (Graduação) - Curso de Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. Disponível em: <http://tcc.bu.ufsc.br/Ssocial287658.PDF>. Acesso em: 06 de fevereiro de 2018.

SEFAZ-CE. Regulamento da campanha Sua Nota Vale Dinheiro. Disponível em <

http://www.sefaz.ce.gov.br/Content/aplicacao/internet/suanota/legislacao/regulamentosuanota valedinheirov062015.pdf> . Acesso em 25 de maio de 2018.

SESC. O Mesa Brasil SESC. Disponível em

http://www.sesc.com.br/portal/site/mesabrasilsesc/quemsomos/ . Acesos em 25 de maio de 2018.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.

TACHIZAWA, Takeshy. Organizações não governamentais e Terceiro setor: criação de ONGs e estratégias de atuação. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume Único. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

TEIXEIRA, Josenir. O terceiro setor em perspectiva: da estrutura à função social. Belo Horizonte: Fórum, 2011.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS FUNCIONÁRIOS E EX- FUNCIONÁRIOS DO PROJETO

1. Como se deu a criação do Projeto Cidade Criança?

2. Como o Projeto Cidade Criança se mantém financeiramente?

3. Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelo Projeto Cidade Criança? 4. Qual a relação do Projeto Cidade Criança com o Poder Público?

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

APÊNDICE B – ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS EGRESSOS DO PROJETO

1. Qual a sua idade, nível de escolaridade e profissão? 2. Como foi a sua chegada até o Projeto Cidade Criança?

3. Quais os impactos do Projeto Cidade Criança na sua vida e de sua família? 4. Como está a sua vida hoje, após a saída do Projeto Cidade Criança?

Documentos relacionados