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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NEEMIAS VASQUES DA JUSTA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

NEEMIAS VASQUES DA JUSTA

TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO NO PROJETO CIDADE CRIANÇA

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TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO NO PROJETO CIDADE CRIANÇA

Monografia apresentada ao Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau em Bacharel em Administração.

Orientadora: Profa. Dra. Kílvia Souza Ferreira

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Agradeço a Deus, por ter me dado condições de realizar um sonho: cursar Administração na Universidade Federal do Ceará (UFC). Reconheço que, se não fosse o Senhor Jesus Cristo em minha vida, eu não teria chegado até aqui.

Agradeço também aos meus pais, Alfredo e Carminha, e ao meu irmão, Silas. A minha família é a minha base. Eles me apoiaram todos esses anos e sem eles, não teria conseguido chegar até essa monografia. Eles me sustentaram e me deram forças quando precisei.

Agradeço também à minha orientadora Kilvia Souza Ferreira, professora que tive a oportunidade de ser monitor, por suas valorosas contribuições e orientações para esse trabalho. Agradeço à minha banca e a todos os professores que tive aqui nessa universidade. Todos foram incríveis!

Agradeço ao meu pastor Hilquias Benício, que concordou com a realização do trabalho no Projeto Cidade Criança, além de todos os envolvidos no projeto, que foram muito gentis e disponibilizaram muito do seu tempo para me ajudar, especialmente a Tamar Pacheco e a Carine.

Agradeço aos meus amigos, que são muitos: da igreja, da faculdade, da infância, da vida! Posso esquecer algum, mas todos foram muito importantes para que eu chegasse até aqui.

Agradeço à UFC, por ter me acolhido nesses quatro anos. Aqui consegui ver que, de fato, a minha universidade é uma das melhores do país! Consegui ver que o ensino, pesquisa e extensão da UFC tem um diferencial que não se encontra em lugar nenhum do estado do Ceará. Tive a honra de ser aluno dessa magnífica instituição, realizando um sonho de criança. Abro a boca com orgulho para dizer que estudei nesse lugar tão especial e amado por mim.

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O Terceiro Setor cresceu no país ao longo dos últimos 30 anos, tornando-se um grande aliado do Estado na implementação dos objetivos constitucionais e das políticas públicas, especialmente em relação à população mais carente do país. Como problema de pesquisa: como o Terceiro Setor atua na sociedade, apresentando o caso prático do Projeto Cidade Criança. O objetivo principal desse estudo é fazer uma revisão teórica da literatura disponível sobre o assunto, tendo como objeto de estudo o citado projeto. São objetivos específicos: verificar o Estatuto Social da Associação Assistencial Evangélica da Assembleia de Deus (AAEAD), realizando um estudo comparativo com a doutrina e a legislação; verificar os indicadores ligados à área financeira, a fim de apurar a eficiência em relação ao uso dos recursos e analisar a atuação do projeto e seus impactos na vida dos participantes e da área em que moram. Foram realizadas uma pesquisa bibliográfica para auxiliar na construção da teoria e uma pesquisa documental, de campo e um estudo de caso para auxiliar na construção da parte prática do projeto. Conclui-se nesse trabalho a influência positiva do projeto na vida dos seus participantes, a qual foi constatada por meio das pesquisas e entrevistas realizadas. Dessa forma, é necessária uma maior atenção do Poder Público ao Terceiro Setor, pois o mesmo atua em áreas que o Estado muitas vezes não consegue alcançar com efetividade.

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The Third Sector has grown through the last 30 years, becoming a great ally of the State on implementing the constitutional objectives and the public policies, particularly with regard to the most needy population. As a research problem: how the Third Sector works in society, presenting the practical case of the Projeto Cidade Criança. The main objective of this study is to make a theoretical review of the lecture avaliable on the subject, taking as object of study the mentioned project. Specifics objectives are: to verify the Bylaws of the Associação Assistencial Evangélica da Assembleia de Deus (AAEAD) conducting a comparative study with doctrine and legislation; to verify the indicators related to the financial area, in order to determine the efficiency in relation to the use of resources and to analyze the project's performance and its impacts on the life of the participants and the area in which they live. A bibliographical research was done to assist in the construction of the theory and a documentary field research and a case study to assist in the construction of the practical part of the project. The positive influence of the project on the life of its participants was verified in this study, which was verified through the researches and interviews carried out. Thus, greater attention is needed from the State to the Third Sector, since it acts in areas that the State often can not reach effectively.

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AAEAD Associação Assistencial Evangélica da Assembleia de Deus ABONG Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais ADCIDADE Assembleia de Deus em Cidade dos Funcionários

CEMPRE Cadastro Central de Empresas

CMAS Conselho Municipal de Assistência Social CNPJ Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

FASFIL Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IPEA Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada ONG Organização Não Governamental

OS Organizações Sociais

OSCIPs Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público SEFAZ Secretaria da Fazenda

SESC Serviço Social do Comércio

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1 INTRODUÇÃO ... 10

2 O TERCEIRO SETOR ... 13

2.1 Origem, histórico e conceitos do Terceiro Setor ... 13

2.2 O Terceiro Setor no Brasil ... 15

2.3 Aspectos jurídicos gerais das entidades do Terceiro Setor ... 17

2.4 Aspectos jurídicos específicos das entidades do Terceiro Setor: Constituição, Atuação, Finalidades e Distinção ... 18

2.5 Marketing, finanças e RH para o Terceiro Setor ... 23

3 METODOLOGIA ... 26

4 HISTÓRIA DO PROJETO CIDADE CRIANÇA ... 28

4.1 Análise do Estatuto Social da AAEAD ... 28

4.2 A atuação e o impacto do projeto ... 30

4.3 Aspectos apresentados pelos entrevistados sobre o projeto ... 32

4.3.1 Criação ... 32

4.3.2 Viabilidade econômica e indicadores financeiros ... 34

4.3.3 Dificuldades ... 36

4.3.4 Relação do projeto com o Poder Público ... 37

4.3.5 Percepção dos egressos sobre o projeto ... 37

5 CONCLUSÕES ... 40

REFERÊNCIAS ... 42

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS FUNCIONÁRIOS E EX-FUNCIONÁRIOS DO PROJETO ... 45

APÊNDICE B – ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS EGRESSOS DO PROJETO ... 46

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1 INTRODUÇÃO

Quando se fala em Responsabilidade Social, Froes e Melo Neto (1999) definem como um compromisso da empresa com a sociedade e a humanidade. Assim, a empresa estaria restituindo à sociedade, por meio de ações sociais, os recursos obtidos para o seu crescimento, de forma que se busque a solução dos problemas sociais que a atingem.

Goldstein (2007) traz o Terceiro Setor como um conjunto de instituições privadas, sem finalidades lucrativas e direcionadas pela solidariedade e promoção dos direitos e benefícios coletivos.

A partir dos anos 1990, o Terceiro Setor passou a contar com o apoio, de forma mais organizada, do setor empresarial, por meio de programas, projetos, fundações e institutos. Apoio esse financeiro e por meio de outros recursos. O mercado passa a ver essa oportunidade de concretizar seus investimentos nesta grande área chamada Responsabilidade Social (SCARPELLI, 2004).

Da leitura de alguns livros e artigos científicos não foram verificados a Responsabilidade Social e o Terceiro Setor como restritos às organizações empresariais, mas como ações das organizações em geral. Resende (2012) afirma também que Organização Não Governamental (ONG) não significa Terceiro Setor, mas qualquer organização composta por pessoas, que não seja do governo. Na verdade, as Organizações Não Governamentais fazem parte do Terceiro Setor, enquanto o mesmo está ligado ao conceito de Responsabilidade Social

Essa monografia nasce do desejo de apresentar algo relevante, que fosse além das temáticas apresentadas em sala de aula e apresentasse algo da vivência do autor. Tratar sobre o Terceiro Setor, explorando um projeto social - o qual vi iniciar - é um grande desafio.

Assim, essa monografia tem como objetivo geral expor a teoria sobre o Terceiro Setor, utilizando um estudo de caso com vistas à experiência do Projeto Cidade Criança, ONG mantida pela Assembleia de Deus em Cidade dos Funcionários (ADCidade) – organização religiosa – e por voluntários.

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Sapiranga, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aproximado de 0,3378, conforme dados da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2015)1.

Como objetivos específicos:

 Verificar o Estatuto Social da Associação Assistencial Evangélica da Assembleia de Deus (AAEAD), realizando um estudo comparativo com a doutrina e a legislação;

 Verificar os indicadores ligados à área financeira, a fim de apurar a eficiência em relação ao uso dos recursos;

 Analisar a atuação do projeto e seus impactos na vida dos participantes e da área em que moram.

A metodologia aplicada envolve algumas divisões clássicas, para facilitar o entendimento. Do ponto de vista da natureza, classificamos a pesquisa como aplicada, por gerar conhecimentos práticos para resolver problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais. Do ponto de vista dos fins/objetivos, a pesquisa é exploratória, pois sua finalidade é conhecer melhor o assunto que vamos investigar, especialmente por meio de pesquisas bibliográficas e estudo de caso. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, será utilizada a pesquisa bibliográfica (por meio de materiais já publicados, como livros, artigos científicos, monografias, dissertações, entre outros), bem como será uma pesquisa documental (utilizando contratos, relatórios da organização, documentos oficiais, entre outros) (FREITAS; PRODANOV, 2013).

Haverá uma pesquisa de campo (por meio da observação de fatos e fenômenos, como de fato acontecem, na coleta de dados por meio de entrevistas e no registro de variáveis relevantes) e o estudo de caso (onde se coletam e analisam informações sobre um indivíduo, grupo, família ou comunidade, para estudar algum aspecto desejado, conforme o assunto da pesquisa). Do ponto de vista da forma da abordagem do problema, a abordagem usada foi a quantitativa (onde traduzimos algumas informações em números, para facilitar a análise) (FREITAS; PRODANOV, 2013).

Assim, o trabalho está dividido basicamente em algumas seções: introdução, revisão da teoria, metodologia, apresentação do projeto social explorado, e conclusões.

Na revisão da teoria, a primeira seção foi dividida em origem, histórico e conceitos do Terceiro Setor; a segunda seção abordou o Terceiro Setor no Brasil; a terceira seção abordou

1 Disponível em:

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os aspectos jurídicos gerais das entidades do Terceiro Setor; a quarta seção abordou os aspectos jurídicos específicos das entidades do Terceiro Setor: constituição, atuação, finalidades e distinção e a quinta subseção aborda o marketing, finanças e recursos humanos (RH) para o Terceiro Setor.

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2 O TERCEIRO SETOR

Nesta seção, abordaremos a teoria sobre o Terceiro Setor, trazendo sua origem, histórico e conceitos, aspectos jurídicos e as entidades do Terceiro Setor, associações, fundações, organizações sociais e organizações da sociedade civil de interesse público e a função social e o Terceiro Setor.

2.1 ORIGEM, HISTÓRICO E CONCEITOS DO TERCEIRO SETOR

É importante trazer alguns aspectos introdutórios sobre o Terceiro Setor, para que se possa entender como esse setor está estruturado atualmente.

Em 1543, em Santos/SP, que um fidalgo português, chamado Braz Cubas, foi nomeado feitor e fiscal, fundando a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, considerada a primeira entidade sem fins lucrativos criada no Brasil (funciona até os dias de hoje) (TEIXEIRA, 2011).

Teixeira (2011) afirma que por centenas de anos o Brasil passa por vários ciclos e momentos, onde surge a necessidade de se estabelecer uma ordem jurídica visando ao bem comum, ao cumprimento da lei e das normas, de forma igualitária. Daí vêm as Constituições Federais que se sucederam no Brasil. A história avança e as Constituições acompanham o desenvolvimento do Estado em três fases diferentes: Liberal, Social e Democrático.

Para Teixeira (2011), no Estado Liberal as funções do Estado estavam limitadas e restritas, o que é característica da liberdade e igualdade do indivíduo frente ao Estado. Tendo por característica o individualismo, grandes injustiças foram geradas pela desigualdade social existente desde o século XIX, o que levava a uma atuação mais presente do Estado, ampliando as liberdades conquistadas para um grupo maior de pessoas.

Dessa maneira, nasce o Estado Social, como afirma Sundfeld apud Teixeira (2011) onde o Estado atua de forma positiva para gerar desenvolvimento (mudança social) e a realização da justiça social.

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Para Melo Neto e Froes (2001), o aumento dos desassistidos e excluídos está ligado à baixa qualidade e aos altos custos dos serviços prestados pelo Estado.

Tem-se o Estado Democrático, que se vale de mecanismos capazes de concretizar o que traz a Constituição, garantindo e efetivando os direitos fundamentais, que já são mais amplos, dadas as mudanças nas constituições com o tempo. Além da quantidade, o rol de direitos aumentou qualitativamente, de forma que o Estado não era mais capaz de cumprir tudo o que constitucionalmente era atribuído para si. (TEIXEIRA, 2011)

Dessa forma, o auxílio das entidades de direito privado sem fins lucrativos é essencial para o Estado atingir os objetivos constitucionais e seus desdobramentos. Há uma repartição da responsabilidade da assistência social e outros direitos sociais. (TEIXEIRA, 2011). Nas

palavras de Melo Neto e Froes (2001) “os movimentos sociais, as ONG’s, as igrejas e os

cidadãos mobilizaram-se para criar uma nova ordem social”.

Para podermos entender o conceito de Terceiro Setor, precisamos entender os

conceitos de Primeiro e Segundo Setores, afinal, só há sentido em ter um “Terceiro Setor” se

houvessem esses dois anteriormente. Araújo (2009) afirma que os três setores, embora distintos, movimentam a economia, trabalhando para a evolução da sociedade.

Araújo (2009) afirma que o Estado está no Primeiro Setor, exercendo suas múltiplas atividades, por meio de seus órgãos e entidades, a fim de cumprir suas funções essenciais. As empresas privadas ocupam o Segundo Setor, exercendo suas funções a fim de obter lucros que irão remunerar os que investiram algum capital. Ioschpe apud Araújo (2009) fala que o Terceiro Setor é o conjunto de organizações sem fins lucrativos, cujo aspecto principal é a participação voluntária, fora do ambiente de governo, dando suporte às ações de caridade, filantropia e mecenato, objetivando garantir o direito de cidadania social. Santos (2012) afirma que o Terceiro Setor atua junto aos menos favorecidos, que não recebem os serviços do Primeiro Setor e não tem condições financeiras para contratar os serviços do Segundo Setor.

Santos (2012) afirma que o termo Terceiro Setor foi usado a primeira vez na década de 1970, nos Estados Unidos e a partir dos anos 1980, passou a ser usado também por pesquisadores europeus. No Brasil, o termo passou a ser usado no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, entre os teóricos da reforma do Estado. Seus primeiros focos de atuação seriam uma reação ao autoritarismo do Estado, buscando a reestruturação da democracia.

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A partir da Reforma do Aparelho do Estado, em 1995, passou-se a perceber mais a importância do Terceiro Setor, onde os governos passaram a olhar com mais atenção essa estrutura social (SANTOS, 2012).

2.2 O TERCEIRO SETOR NO BRASIL

Os últimos dados divulgados oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) a respeito do número de organizações do Terceiro Setor – e outras informações relevantes sobre o tema – foram divulgadas em 2010, no estudo chamado Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil (FASFIL, 2012). O estudo foi realizado em parceria com a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE).

A pesquisa foi realizada com base no Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), do IBGE. Apesar de antigo, pois data de 2010, é o estudo oficial mais recente que traz dados importantes sobre o tamanho do Terceiro Setor no Brasil.

Conforme a pesquisa, existiam em 2010, no Brasil, 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos. Um número relevante, se levarmos em conta que o CEMPRE conta com 5,6 milhões de entidades cadastradas. Ou seja, a cada 100 entidades no país, 5 fazem parte do Terceiro Setor.

Em relação à localização, cerca de 44% das FASFIL estão na Região Sudeste, enquanto no Nordeste estão cerca de 23% e na Região Sul, aproximadamente 21% das FASFIL. Os outros 11% estão divididos entre as Regiões Norte e Centro-Oeste.

Quanto ao ano da fundação, observa-se uma explosão de entidades fundadas nos anos 1990, cerca de 31% das que haviam em funcionamento no país em 2010. Outro dado relevante é que, entre 2001 e 2010, foram fundadas cerca de 40% das entidades que haviam em funcionamento no país em 2010, o que denota um crescimento acelerado do Terceiro Setor no início do século XXI, provavelmente devido a disseminação desse modelo de organização, como resposta as desigualdades sociais do país.

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28% desse total. Cabe ressaltar que a influência religiosa é maior, pois boa parte das ONGs assistenciais, de saúde e educacionais têm origem religiosa.

A pesquisa mostrou ainda o número de pessoas que trabalham nessas entidades: cerca de 2,1 milhões de trabalhadores registrados. Destaque para o Estado de São Paulo, que reunia 35% desse total. Outro dado relevante é o número de mulheres nas FASFIL: aproximadamente 62%, enquanto o de homens é quase 38%. Sobre o nível de instrução, cerca de 33% tinham nível superior completo, maior que a média de escolaridade das organizações encontradas no CEMPRE, na época.

A pesquisa trouxe números sobre o porte das ONGs: pouco mais de 70% delas não tinha um empregado formalizado na época. Esse dado pode ser explicado, em parte, pela forte presença de trabalhadores voluntários. Quase 90% delas tinha menos de cinco trabalhadores formalizados, o que mostra o porte relativamente pequeno de tais organizações.

A média salarial dos funcionários das ONGs era de 3,3 salários mínimos, em 2010. Esse valor era equiparado a média salarial das organizações cadastradas no CEMPRE, de 3,2 salários mínimos, em 2010. Um dado relevante da pesquisa mostrou que as mulheres ganhavam, em média, 75% do salário do homem.

Algumas tendências e conclusões foram tiradas desse estudo, que apesar de antigo, é o estudo oficial mais recente que traz dados importantes sobre o tamanho do Terceiro Setor no Brasil. Entre as observações, temos:

 Há uma enorme diversidade de áreas de atuação das ONGs no Brasil;

 A distribuição das FASFIL tende a acompanhar a distribuição da população;

 Forte predominância das mulheres entre os empregados;

 Forte presença de pessoas com nível superior de escolaridade;

 Após um grande crescimento do Terceiro Setor nos anos 1990 e 2000, existia uma tendência de estabilização do crescimento, com taxas menores.

Uma importante pesquisa foi realizada em 2014, produzida pela Fundação Itaú Social2. A pesquisa aborda o tema voluntários no Brasil, fator fundamental para o

funcionamento das ONGs. Entre os principais resultados, podemos destacar:

 72% dos participantes nunca participaram de trabalhos voluntários (número bastante alto);

 Perfil dos voluntários: 51% homens e 49% mulheres;

2Disponível em: <https://d13q7w9s0p5d73.cloudfront.net/uploads/itau/document/file/614/a082e3a3-993a

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 Os maiores motivos para a não participação em trabalhos voluntários são: falta de tempo e falta de convite;

 A maior parte das pessoas que atua em trabalhos voluntários pertence as classes A e B, tem nível superior completo e entre 35 e 59 anos;

 43% dos entrevistados topariam atuar em qualquer área do voluntariado;

 77% dos entrevistados vê a necessidade de ajudar as pessoas que precisam é o maior fator para participar de ações de voluntariado;

 Quase 80% dos entrevistados não sabe onde encontrar informações sobre voluntariado (o que nos leva a entender que falta divulgação por parte de ONGs e demais entidades do Terceiro Setor)

2.3 ASPECTOS JURÍDICOS GERAIS DAS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR

O Terceiro Setor conta com a legislação constitucional e infraconstitucional para garantir a sua existência. A nível constitucional, o artigo 5º traz vários incisos garantindo a liberdade de associação entre pessoas e a nível infraconstitucional, o Código Civil (Lei nº 10.406/02) traz as regras para se constituir uma associação (TEIXEIRA, 2011).

Tachizawa (2007) traz cinco passos para a fundação de uma Organização Não-Governamental (ONG):

1. Convocar uma reunião com os interessados, mostrando os objetivos, importância e necessidade da entidade. Dividir tarefas e responsabilidades, além de formar uma Comissão de Redação do Estatuto Social, cujo resultado será debatido e analisado, até ser aprovado na Assembleia Geral.

2. Após a redação da proposta do Estatuto, é feita uma Assembleia Geral, a qual fundará a entidade. Deverá haver um livro de presença e um livro de atas, os quais serão assinados. Na Assembleia, principalmente o Estatuto será debatido.

3. O debate do Estatuto levará a possíveis alterações e finalmente a aprovação. Nome e sigla da entidade, sede, foro, finalidades, objetivos, responsabilidades, modificação do estatuto, entre outros itens, devem estar contidos na redação final.

4. Seguindo o que diz o Estatuto, há a eleição da diretoria e posse dos eleitos nos cargos. 5. Registro legal, em Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

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Segundo o Código Civil brasileiro, as organizações do Terceiro Setor (que são pessoas jurídicas de direito privado) podem ser constituídas como Associações ou Fundações, conforme o artigo 44:

São pessoas jurídicas de direito privado: I – as associações;

II – as sociedades; III – as fundações;

IV – as organizações religiosas; V – os partidos políticos;

VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada.

Nessa monografia, iremos tratar das Associações e Fundações, presentes no Código Civil brasileiro e das Organizações Sociais (OS) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), resultado de uma maior descentralização estatal durante os anos 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso, como ensina Araújo (2009).

2.4 ASPECTOS JURÍDICOS ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR: CONSTITUIÇÃO, ATUAÇÃO, FINALIDADES E DISTINÇÃO

Tartuce (2017) afirma que o conceito de associação do Código Civil está em total

sintonia com o princípio da simplicidade: “Constituem-se as associações pela união de

pessoas que se organizem para fins não econômicos”, em seu art. 53. Fins não econômicos significando não lucrativos. Por serem compostas por pessoas, assim como as sociedades, as associações são uma espécie de corporação. Já que não há o objetivo do lucro, não há direitos e obrigações recíprocos entre os associados. Podem haver direitos e deveres entre associados e associações.

Paes (2018) divide as associações em três tipos, de acordo com sua finalidade: altruística (beneficente), egoística (literária, esportiva ou recreativa) e econômica não lucrativa (de socorro mútuo).

Após o registro da associação (que é obrigatório), a mesma passa a ter aptidões para ser sujeito de direitos e deveres no ordenamento civil. Ela tem identidade diferente dos seus membros, como toda pessoa jurídica (TARTUCE, 2017).

Existem algumas cláusulas contratuais vinculantes que estão no ato constitutivo da associação (estatuto), que devem trazer, conforme ensina Paes (2018) os seguintes itens:

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 Fins e sede da associação;

 Requisitos necessários para admissão;

 Exclusão e demissão dos associados;

 Direitos e deveres dos componentes;

 Fontes financeiras para a manutenção da associação;

 Forma de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos;

 Representação da entidade em juízo e fora de juízo;

 Possibilidade de mudança no estatuto;

 Responsabilidade subsidiária dos associados em relação a associação;

 Motivos para dissolução da entidade, trazendo o destino do patrimônio social.

É constituída por escrito e não pode adotar forma mercantil, pois não possui intuito especulativo (PAES, 2018).

Tartuce (2017) afirma ainda que os associados terão direitos iguais, em regra geral, podendo o estatuto, de forma eventual, criar categorias especiais.

As associações são a forma jurídica mais utilizada e menos burocrática para a criação de pessoas jurídicas sem finalidades lucrativas, a exemplo das ONGs (TEIXEIRA, 2011).

Paes (2018) afirma que a associação pode ser caracterizada como de interesse social, quando ela age conforme uma missão de relevância para toda a sociedade, por meio dos seus objetivos, podendo ser ela acompanhada e fiscalizada pelo Ministério Público.

Uma outra forma de pessoa jurídica de direito privado são as fundações: um conjunto de bens destinados à consecução de fins sociais e determinados, tendo um papel valoroso e de muita relevância dentro do contexto social inserido, sendo um forte instrumento para que as pessoas possam prestar serviços sociais e de utilidade pública aos que necessitam, conforme as palavras de Paes (2018).

Tartuce (2017) afirma que as fundações que o Código Civil trata são diferentes das fundações públicas (autarquias) do Direito Administrativo. Para serem criadas, precisam-se dos seguintes elementos: afetação de bens livres, especificação dos fins, previsão da forma de administrá-los e elaboração dos estatutos baseados nos seus objetivos e submetidos à apreciação do Ministério Público que os fiscalizará.

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Sobre a criação de uma fundação, Araújo (2009) nos afirma que basta que uma pessoa o deseje e destine um patrimônio para esse objetivo, o que pode acontecer até por vontade contida em testamento (ou por escritura pública).

Tartuce (2017, p.120) fala que o Código Civil, no artigo 62, ampliou as finalidades das

fundações, que o autor chama de “fins nobres”, pela Lei 13.151/15:

I –assistência social;

II –cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;

III –educação; IV –saúde;

V –segurança alimentar e nutricional;

VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do

desenvolvimento sustentável;

VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos

técnicos e científicos;

VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;

IX – atividades religiosas.

Caso a finalidade de uma fundação se torne ilícita, imoral ou inviável, ou se a mesma não atender as demandas sociais para que foi criada, a sua dissolução administrativa pode ocorrer, sendo efetivada pelo Ministério Público (TARTUCE, 2017).

Paes (2018) afirma que a maior diferença entre fundações e associações é a importância dada aos elementos. Nas fundações, o que diferencia é o patrimônio e nas associações, o que diferencia são as pessoas. Outra diferença está no modo de formação: nas associações, o processo de criação é concretizado na ata e nas fundações o processo de criação depende de vontade que o instituidor expressa, seja no testamento ou na escritura pública.

Ribeiro apud Paes (2018) cita outras duas diferenças importantes: o velamento nas associações é feito pelos sócios e nas fundações pelo Ministério Público e nas relações entre criadores e entidades, já que nas associações o fundador permanece como sócio ou associado enquanto nas fundações os instituidores se desligam após a criação da entidade.

Di Pietro (2017) afirma que as Organizações Sociais (OS) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) poderiam ser incluídas no conceito de serviços sociais autônomos, dadas suas características centrais. Quanto as mesmas têm vínculo com o Poder Público, são chamadas de entidades paraestatais, no sentido em que a expressão é empregada por Celso Antônio Bandeira de Mello.

Araújo (2009) traz as Organizações Sociais como consequência da reforma

administrativa ocorrida no Brasil a partir dos anos 1990. O título de “Organização Social” é

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concede, não sendo assim uma nova modalidade ou categoria de organização do Terceiro Setor. As Organizações Sociais são constituídas como associações ou fundações. As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) surgiram também a partir da reforma do Estado, sendo um outro título dado a organizações do Terceiro Setor, a partir de um termo de parceria entre o setor público e o setor privado.

Teixeira (2011) aponta as Organizações Sociais como uma denominação de uma qualificação (título ou certificação) dada pelo Poder Executivo, nas três esferas políticas, para entidades sem fins lucrativos que preencham os requisitos legais e que sua finalidade seja atuar junto ao ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura, saúde, dentre outras previsões legais específicas. O preenchimento dos requisitos legais se dá conforme a lei que as criou.

Di Pietro (2017, p. 536) traz uma definição das Organizações Sociais (OS) que mostra as principais características desse tipo de qualificação:

Organização Social é a qualificação jurídica dada a pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, instituída por inciativa de particulares, e que recebe delegação do Poder Público, mediante contrato de gestão, para desempenhar serviço público de natureza social.

As Organizações Sociais têm o caráter voluntário e de transformação social, o que está ligado intimamente ao conceito de Terceiro Setor (ARAÚJO, 2009).

Esse título permite uma maior aproximação do Poder Público com as entidades sem fins lucrativos, sendo parte da gestão dos serviços transferida para a iniciativa privada, para as entidades que obtêm tal título. Essa qualificação se configura como um modelo de gestão, o qual tem os entes políticos como reguladores das atividades, através da fiscalização e avaliação das ações desenvolvidas pelas Organizações Sociais (TEIXEIRA, 2011).

Araújo (2009) afirma que as Organizações Sociais surgiram com a promulgação da Lei Federal nº 9.637 de 1998, que incorporou um novo conceito e forma de ação e colaboração entre o Estado e as entidades sem fins lucrativos, o Contrato de Gestão. Embora o

Contrato de Gestão se possa chamar “Convênio”, suas características são as mesmas de um

contrato: têm as obrigações de ambos, onde o Estado participa com os recursos e indica parte dos membros do Conselho de Administração da organização.

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Teixeira (2011) aponta as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) como uma qualificação (título ou certificação) dada pelo Ministério da Justiça ou entes políticas estaduais ou municipais a organizações do Terceiro Setor que cumprirem requisitos de normas jurídicas que normatizem a área. São as leis nº 9.790/99, nº 10.539/02 e nº 10.637/02 que normatizam o assunto.

Tachizawa (2007) aponta a criação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) na data de 30 de junho de 1999, quando o então presidente da República regulamentou a Lei nº 9.790 - por meio do Decreto nª 3.100 – que aborda a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado e sem fins lucrativos como OSCIPs, nascendo e sendo disciplinado o Termo de Parceria (trata do acordo de cooperação).

Dessa forma, foi aberto um caminho mais moderno às entidades do Terceiro Setor, já que se adequou as necessidades sociais da época e se livrou de certas amarras burocráticas. O Estado reconhece a existência de uma esfera de atuação que não é pública na sua origem, mas o é na sua atuação, pública, mas não estatal (TACHIZAWA, 2007).

Termo de Parceria, segundo a Lei nº 9.790/99, em seu artigo 9º, é:

Instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse público previstas no art. 3º.

As OSCIPs, como outras entidades quaisquer, têm Estatuto, que segue normas e requisitos legais, para além de evitar posturas, fraudes ou ações, se adequarem a legislação pertinente (TACHIZAWA, 2007).

Durante ou ao final do Termo de Parceria, uma Comissão de Avaliação irá analisar os resultados alcançados, baseado nos indicadores de desempenho que foram estabelecidos no programa de trabalho da OSCIP. Será feito um relatório para a verificação dos indicadores, que é enviado ao órgão estatal parceiro. Assim, será indicada ou não a continuidade da parceria. Outro aspecto importante é que se os requisitos legais para a outorga do título de OSCIP forem cumpridos, o agente do Poder Público terá que conceder a qualificação desejada, pois o ato de outorga é vinculado. A perda poderá acontecer caso a entidade não cumpra alguma das previsões legais, por meio de processo administrativo (Lei nº 9.784/99) com direito ao contraditório e ampla defesa (TEIXEIRA, 2011).

Di Pietro (2017) aponta algumas importantes diferenças entre as Organizações Sociais e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público:

(24)

 Para receber o título de Organização Social, é necessário a entidade firmar contrato de gestão com o Estado, enquanto para ser OSCIP basta preencher os requisitos estabelecidos na Lei nº 9.790/14 (não é necessário celebrar o termo de parceria com o Estado);

 As Organizações Sociais utilizam o contrato de gestão como instrumento de celebração de acordo, enquanto as OSCIPs utilizam o termo de parceria. Ambos estão previstos na legislação correspondente.

Assim, percebe-se que a legislação é bem clara quanto à forma de constituição, atuação, finalidades e distinção em relação às entidades do Terceiro Setor.

2.5 MARKETING, FINANÇAS E RH PARA O TERCEIRO SETOR

Esse tema é de escassa literatura, com poucas publicações específicas de autores importantes dessas áreas.

Segundo Alves Junior (2010), as organizações do Terceiro Setor estão buscando novas ferramentas de gestão que ajudarão no cumprimento da missão. De forma semelhante às empresas, essas organizações sociais procuram usar processos que contribuam para uma melhor gestão dos recursos: humanos, financeiros, materiais, entre outros.

Armstrong e Kotler (2015) afirmam que nos últimos anos o marketing se tornou parte importante das estratégias de várias organizações sem fins lucrativos, sendo que, nos Estados Unidos, há uma forte competição entre essas organizações por novos membros e recursos, e o marketing tem papel fundamental nesse processo de atração.

O conceito de marketing social está ligado a disseminação de ideias, causas ou comportamentos, usando as ferramentas do marketing tradicional. O início se dá com a

aplicação dos “4 Ps” (Produto, preço, ponto de distribuição e promoção). Sendo o produto do

marketing social, a ideia, causa ou comportamento que se quer vender, promover, disseminar. Esse produto deve estar associado a uma promoção, a um preço e a um ponto de distribuição (RHEINHEIMER; SCHEUNEMANN, 2013).

O marketing social está completo quando existem profissionais capacitados a desenvolverem campanhas direcionadas a um certo mercado e produto social (RHEINHEIMER; SCHEUNEMANN, 2013).

Tachizawa (2007) traz diferentes possíveis fontes de obtenção de recursos financeiros:

(25)

 Órgãos do governo;

 Doações individuais;

 Empresas;

 Outras.

Adulis apud Tachizawa (2007) afirma que a captação de recursos financeiros é um dos grandes desafios enfrentados pelas organizações do Terceiro Setor.

Tachizawa (2007) traz o relacionamento entre organizações e doadores como um dos grandes fatores de sucesso nas atividades de obtenção de recursos financeiros. Os potenciais doadores são instituições ou pessoas que geralmente têm valores semelhantes, compartilhando de opiniões e sentimentos. Dessa forma, um adequado plano de comunicação ajuda nesse processo (como dito anteriormente).

Tachizawa (2007) sugere a utilização do fluxo de caixa como instrumento de planejamento e controle financeiro, sendo essa uma forma eficaz de verificação do movimento financeiro da organização, evidenciando um resultado positivo ou negativo no caixa da instituição. Esse fluxo de caixa pode ser elaborado através de planilhas eletrônicas ou em um Livro Caixa.

Magnus (2007) destaca o fluxo de caixa, o controle bancário, contas a receber e contas a pagar como os principais métodos usados para controle financeiro numa organização. O fluxo de caixa deve ser moldado às necessidades da organização, sendo apresentado de forma simples, em que qualquer um consiga interpretar os dados alí contidos, para tomada de decisão. O controle bancário é essencial para a organização saber quanto recebe em depósitos em conta, valores pagos em cheque, saques, entre outras atividades realizadas por meio da conta bancária da organização. O contas a receber permite que se minimizem os atrasos e os não-recebimentos e permite um maior controle sobre o acompanhamento dos valores a receber. Além disso, permite maior tranquilidade para futuros desembolsos. Um bom controle do contas a pagar permite gerenciar melhor os recursos necessários para o cumprimento das obrigações da organização, evitando atrasos nos pagamentos e permitindo uma maior organização maior sobre os recursos disponíveis.

(26)

Para se ter uma maior produtividade, é preciso atenção especial à formulação de políticas e diretrizes voltadas as principais áreas da gestão de pessoas: recrutamento, seleção, contratação, treinamento, desenvolvimento e realização profissional (TACHIZAWA, 2007).

Garay (2011) afirma que um grande desafio da gestão de pessoas no contexto das organizações do Terceiro Setor é lidar com a resistência dos trabalhadores à incorporação de ferramentas de gestão mais eficientes, típicas do setor privado. Isso leva a mudanças culturais na organização e a revisão dos valores, sendo um processo delicado.

Outro forte desafio, segundo Garay (2011) é administrar a força de trabalho voluntária, sendo necessário dar um papel estratégico a esse grupo.

(27)

3 METODOLOGIA

Severino (2007, p. 102) define Método Científico como “um conjunto de

procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais

constantes entre os fenômenos”.

Já Freitas e Prodanov (2013, p.14) afirmam que a Metodologia “examina, descreve e

avalia métodos e técnicas de pesquisa que possibilitam a coleta e o processamento de informações, visando ao encaminhamento e à resolução de problemas e/ou questões de

investigação”.

A metodologia aplicada aqui envolve algumas divisões clássicas, para facilitar o entendimento. Cabe ressaltar que, geralmente, há uma mistura de tipos de pesquisa (como de fato houve nesse trabalho).

Freitas e Prodanov (2013) afirmam que o resultado da pesquisa científica serve para aumentar o conhecimento humano, sendo que na vida acadêmica a pesquisa desperta o exercício de verificação e análise dos problemas e trabalhos sugeridos ou propostos pelos professores.

Conforme Freitas e Prodanov (2013) podem existir vários tipos de pesquisa, onde cada tipo tem um núcleo comum de procedimentos, mas possuem características particulares.

Do ponto de vista da natureza, classificamos a pesquisa como aplicada, por gerar conhecimentos práticos para resolver problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais (FREITAS; PRODANOV, 2013).

Do ponto de vista dos fins/objetivos, a pesquisa é exploratória, pois sua finalidade é conhecer melhor o assunto que vamos investigar, especialmente por meio de pesquisas bibliográficas e estudo de caso (FREITAS; PRODANOV, 2013).

Severino (2007) afirma que a pesquisa bibliográfica utiliza documentos impressos (como livros, artigos, entre outros) decorrentes de pesquisas passadas, sendo os dados pesquisados já trabalhados por outros autores ou pesquisadores.

O estudo de caso é uma situação que representa casos semelhantes, sendo um caso representativo entre todos estes (SEVERINO, 2007)

(28)

de variáveis relevantes) e o estudo de caso (onde se coletam e analisam informações sobre um indivíduo, grupo, família ou comunidade, para estudar algum aspecto desejado, conforme o assunto da pesquisa) (FREITAS; PRODANOV, 2013).

Sobre a pesquisa documental, afirmam Lakatos e Marconi (2003) que nesta, a fonte da coleta de informações está limitada a documentos, na forma escrita ou não-escrita, formando o que se chama de fontes primárias. Entre as principais fontes de documentos, temos: arquivos públicos, arquivos particulares e fontes estatísticas.

Pesquisa de campo é usada para conseguir informações sobre um problema que se procura resposta, para conseguir informações sobre uma hipótese que se queira comprovar ou sobre novos fenômenos e suas relações entre si (LAKATOS; MARCONI, 2003).

A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas com os funcionários, ex-funcionários e egressos do projeto. Foram elaboradas questões específicas sobre o projeto, para a compreensão de aspectos como origem, funcionamento, atuação e influência. A escolha dos entrevistados se deu por critérios de conveniência. Com os funcionários e ex-funcionários, as entrevistas foram feitas pessoalmente, na sede do Projeto Cidade Criança. Com os egressos, as entrevistas foram feitas via WhatsApp.

(29)

4 HISTÓRIA DO PROJETO CIDADE CRIANÇA

Para descrever a história do Projeto Cidade Criança, é necessário explicar que ele faz parte da Associação Assistencial Evangélica da Assembleia de Deus (AAEAD), que foi fundada em 1994, conforme Estatuto Social anexado. Dessa forma, o projeto não tem CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) próprio, mas é um “braço” da associação, que tem CNPJ, é classificada juridicamente como associação (de acordo com os critérios trazidos no Código Civil), está registrada no CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social, da prefeitura de Fortaleza), atuando através do Projeto Cidade Criança na comunidade da Sapiranga, em Fortaleza.

4.1 ANÁLISE DO ESTATUTO SOCIAL DA AAEAD

Segundo Pierre (2016), Estatuto Social é o “ato constitutivo para legalizar a existência

jurídica”.

No quadro a seguir, foram elencadas as cláusulas contratuais vinculantes que devem estar no Estatuto Social, conforme Paes (2018). Foi analisado se o Estatuto Social da AAEAD continha cada uma das cláusulas.

Quadro 01: Análise do Estatuto Social da AAEAD conforme a doutrina

Cláusula Está presente no Estatuto? Detalhe

Denominação Sim Associação Assistencial

Evangélica da Assembleia de Deus – AAEAD

Fins e sede da associação Sim Av. Conselheiro Gomes de Freitas, 3188 – Cidade dos Funcionários - Fortaleza – Ceará. Assistência social, promover atividades de esportes, lazer, cultura, suporte educacional e na saúde, combater a pobreza, criar projetos de cunho social, etc.

Requisitos necessários para admissão

Sim Ser um dos fundadores da

associação, ser indicado pelos fundadores, instituições que queiram fazer parcerias, etc.

Exclusão e demissão dos associados;

Sim Será excluído aquele que for

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associação ou ferir o Regimento Interno

Direitos e deveres dos

componentes Sim Deveres: trabalhar em prol da instituição, participar das assembleias, cumprir o Regimento Interno, etc. Direitos: participar das assembleias e votar, propor programas e projetos, etc. Fontes financeiras para a

manutenção da associação

Sim Receitas: contribuições

mensais de pessoas físicas e jurídicas, doações e subvenções recebidas pelos entes administrativos, receitas operacionais e patrimoniais, etc.

Forma de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos

Sim Conselho: membros da

Diretoria da ADCidade, controle a partir das diretrizes fixadas. Diretoria: presidente, vice-presidente, tesoureiros e diretores. Conselho Fiscal: membros eleitos pelo Conselho.

Representação da entidade em juízo e fora de juízo

Sim Cabe ao presidente da

associação Possibilidade de mudança no

estatuto

Sim A Diretoria envia aos

membros associados o anteprojeto

Responsabilidade subsidiária dos associados em relação a associação

Sim Os associados não

respondem subsidiária, nem solidariamente pelas obrigações da Associação Motivos para dissolução da

entidade, trazendo o destino do patrimônio social.

Sim O seu patrimônio deverá

reverter em benefício de entidade que atue na promoção social, com registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) ou de órgão equivalente que o substitua, nos termos da legislação brasileira

Constituída por escrito Sim Está anexado a essa

monografia Fonte: Elaborado pelo autor, (2018).

(31)

4.2 A ATUAÇÃO E O IMPACTO DO PROJETO

Nesse subtópico, entraremos nos detalhes da atuação e do impacto do Projeto Cidade Criança, a partir de algumas fontes: entrevista com a atual diretora do projeto, com a assistente social do projeto, com o ex-presidente do projeto, com egressos do projeto e análise do documento intitulado Proposta de Ação Administrativo-Pedagógica do Projeto Cidade Criança, cedido gentilmente pela direção.

O Projeto Cidade Criança atua no bairro Sapiranga, local com IDH aproximado de 0,3378, conforme dados da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2015). Objetiva trabalhar quatro áreas essenciais para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente:

 Área Socioemocional: Refere-se ao desenvolvimento social e emocional;

 Área Cognitiva: O projeto oferece atividades que auxiliam a obter sucesso na escola formal, além de ampliar seus repertórios intelectuais, habilidades e competências;

 Área Física: Através da maturação orgânica e neurológica do indivíduo, por meio de atividades físicas, alimentação balanceada, jogos, entre outras ações;

 Área Espiritual: Através da educação cristã, as crianças aprendem os caminhos que devem seguir, tendo uma comunhão diária com Jesus Cristo, o que leva a profundas transformações interiores que refletem exteriormente.

O público-alvo do projeto é a população que está em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação, fragilização de vínculos afetivo-relacionais e discriminações de toda forma.

O foco é o atendimento a crianças e adolescentes na faixa etária de 3 a 18 anos da comunidade da Sapiranga. O atendimento é diário, totalizando quase 500 crianças atendidas atualmente, de cerca de 330 famílias diferentes. Ao longo dos dez anos de atividades, já passaram 678 crianças e adolescentes pelo projeto. O número parece baixo, mas a intenção do projeto é receber a criança (o mais nova possível) e atendê-la até os 18 anos. O trabalho objetiva uma maior qualidade em relação a quantidade.

(32)

A missão do projeto é “Criar condições para que crianças e adolescentes, desde cedo,

se desenvolvam integralmente e acreditem na vida como fonte renovadora, capaz de trazer a si mesmo a certeza de uma existência feliz e plena de significado”.

A visão não foi identificada na proposta administrativo-pedagógica do projeto. Os valores que norteiam a ação do projeto são:

 Integridade;

 Excelência;

 Mordomia;

 Dignidade.

Desdobrando as ações do projeto previstas na Proposta de Ação Administrativo-Pedagógica do Projeto Cidade Criança, podemos definir sua atuação junto a essas perspectivas a seguir:

 Autoconhecimento: através de ações de recreação, trabalhos em grupo, reforço escolar, aulas de música, educação cristã, educação física, arte, orientação psicológica, médica e odontológica. Todas essas ações envolvem a família, através de encontros programados para a discussão dos temas ligados ao autoconhecimento/desenvolvimento dos alunos.

 Relacionamento Familiar: O diálogo é aberto entre o projeto, pais e crianças, o que se entende como fator essencial para uma educação bem-sucedida. Assim, o projeto mantém espaços para que a família tenha acesso ao corpo técnico, direção, supervisão, orientação pedagógica e aos profissionais da saúde envolvidos.

 Relacionamento com a Comunidade: A criança é estimulada a assumir uma postura participativa em relação aos eventos pertinentes ao projeto e a comunidade, sendo convidado a ser um agente de transformação e defensor dos princípios humanitários e fraternos.

 Liberdade e Responsabilidade: O projeto busca orientar as crianças usarem a sua liberdade individual, respeitando princípios para o bem individual e coletivo. Dessa forma, não há uma postura autoritária e repressora em relação à criança, mas de motivação a assumir responsabilidades, dentro da sua liberdade como indivíduo.

(33)

estimuladas a ter consciência dos seus deveres de defender a democracia, igualdade de oportunidades, respeito às leis do país e a ética na vida e nos negócios.

 Orientação Intelectual e Cultural: É política da instituição oferecer o conhecimento do mundo globalizado, onde a criança veja as modernas relações de trabalho e a necessidade de atualização. No seu cotidiano, estão presentes várias disciplinas que trabalham esses pontos, assim como é desenvolvido o hábito da leitura.

 Saúde Física e Mental: Através de atividades físicas, a prática esportiva é instrumento fundamental para a promoção da saúde física, intelectual e socioemocional infantil.

 Liderança e Autoconfiança: O conhecimento gera autoconfiança e segurança em sua vida pessoal, desenvolvendo responsabilidades pessoais e coletivas para tomar decisões e fazer escolhas, mostrando habilidades no relacionamento interpessoal.

 Religião: O projeto crê na existência de um Deus soberano, promovendo o respeito a todas as religiões, escolhendo alunos de todas as crenças e fés, promovendo um clima de solidariedade e fraternidade.

O ano letivo do projeto compreende dois períodos de doze horas semanais, funcionando 48 semanas por ano. Os alunos devem ter frequência mínima de 80% nas atividades. Compreende também exames de saúde, estudo de caso da criança, atividades extracurriculares e contato complementar que são visitas domiciliares, oferecendo apoio e encorajamento. O ano letivo é interrompido em Julho, para período de férias.

4.3 ASPECTOS APRESENTADOS PELOS ENTREVISTADOS SOBRE O

PROJETO

(34)

4.3.1 Criação

Conforme a fala do ex-presidente, em 2007, o pastor Antonio José Azevedo Pereira, pastor presidente da igreja evangélica ADCidade na época (igreja onde nasceu a AAEAD), teve a ideia de criar um projeto social que atuasse junto a crianças e adolescentes carentes. Após a indicação de um amigo, o pastor fez entrou em contato com uma ONG americana que atua no Brasil, chamada Compassion. A parceria com essa ONG foi firmada em 2007

O bairro da Sapiranga foi o local escolhido pela igreja já ter o terreno para a construção do imóvel, além de possuir uma forte vulnerabilidade social.

A escolha do público-alvo crianças e adolescentes se deu devido à proposta da parceira Compassion (que trabalha junto a ONGs que atuam com crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos), a alta demanda de necessidades do público dessa faixa etária e pela priorização da Política de Assistência Social brasileira.

Todo o projeto foi elaborado e criado em apenas 4 meses, o que se mostrou uma dificuldade e uma responsabilidade: construir um equipamento novo e adequado para esse público-alvo em pouco tempo.

(35)

Fonte: Fanpage do Projeto Cidade Criança, (2018).

Há pouco apoio do Poder Público. A construção do prédio foi possível por meio das doações de pessoas físicas, empresas de amigos dos fundadores e doação da própria igreja ADCidade. A manutenção fica por conta das doações de pessoas físicas, doações da ADCidade e de associados da Compassion.

4.3.2 Viabilidade econômica e indicadores financeiros

O projeto é mantido através de parcerias com a Compassion do Brasil (Organização Não Governamental internacional que financia projetos através do apadrinhamento de crianças e adolescentes em um programa de desenvolvimento integral), o Serviço Social do Comércio (SESC), através do programa Mesa Brasil (programa de Segurança Alimentar e Nutricional), pessoas e empresas da sociedade civil que fazem doações de forma voluntária, a igreja evangélica ADCidade e o programa “Sua Nota Vale Dinheiro”, da Sefaz (Secretaria da

Fazenda do Ceará). O programa permite que ONGs troquem notas fiscais por valores monetários.

Conforme entrevista com a diretora do projeto, a Compassion do Brasil tem parceiros em todo o mundo, pessoas físicas que apadrinham crianças em projetos sociais. O padrinho envia um valor mensal de aproximadamente R$ 71,51 por criança (esse valor é doado em dólar, podendo alterar devido a cotação da moeda americana). Caso a criança não seja apadrinhada, a própria instituição envia o valor de R$ 46,55 por criança. Esse recurso é utilizado com a criança em sua alimentação, compra de material, passeios e atividades curriculares, além de uma pequena parte ajudar no custeio das despesas em geral. A cada dois anos a Compassion do Brasil envia um representante ao projeto para realizar a auditoria nas contas da instituição, o que garante a utilização eficiente dos recursos financeiros envolvidos.

A seguir temos os valores relacionados aos recursos financeiros enviados pela Compassion do Brasil, receitas e despesas, relativas ao ano de 2017. Do ano de 2016 havia um saldo positivo de R$ 23.976,65.

Tabela 01: Balanço Financeiro dos valores doados em 2017 pela Compassion do Brasil

Mês Entrada Saída

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Abril R$ 30.896,21 R$ 36.481,40 Maio R$ 32.607,78 R$ 34.190,96 Junho R$ 33.672,43 R$ 47.073,88 Julho R$ 35.028,42 R$ 13.855,92 Agosto R$ 33.504,58 R$ 49.821,72 Setembro R$ 35.139,04 R$ 38.335,61 Outubro R$ 31.947,32 R$ 40.646,58 Novembro R$ 33.119,59 R$ 35.393,28 Dezembro R$ 49.289,86 R$ 49.431,25 Total R$409.894,07 R$450.260,88 Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Como dito anteriormente, outra forma de arrecadação de recursos financeiros é por meio da igreja evangélica ADCidade. Conforme entrevista com a assistente social, a igreja

criou uma ação chamada “Amigo da Criança”, na qual o patrocinador contribui com R$ 30,00

mensais, apadrinhando uma criança do projeto. Esse valor é utilizado nas despesas em gerais: alimentação dos funcionários, manutenção de máquinas e equipamentos, compra de materiais e utensílios, pagamento de encargos, reformas, manutenção da estrutura administrativa, entre outras despesas.

Em 2017, a receita da ação “Amigo da Criança” foi de R$ 15.180,00, valor destinado

integralmente ao Projeto Cidade Criança. Atualmente são 96 pessoas cadastradas na ação e a instituição busca meios de aumentar esse número, para depender menos dos recursos financeiros repassados pela Compassion do Brasil.

Conforme entrevista com a diretora do projeto, outra forma de arrecadação de recursos é por meio do programa Mesa Brasil, programa de Segurança Alimentar e Nutricional, do SESC.

Conforme o site do SESC3, o Mesa Brasil “é uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício”. Assim, “o Mesa Brasil SESC busca onde sobra e entrega onde falta”.

Dessa forma, o Projeto Cidade Criança recebe doações através do Mesa Brasil com uma certa periodicidade. Embora não seja a maior fonte de arrecadação de recursos, as doações são importantes para a manutenção do projeto.

Segundo a diretora do projeto, outra fonte de recursos financeiros é o projeto “Sua

Nota Vale Dinheiro”, da Sefaz-CE.

(37)

Segundo o site da Sefaz-CE4, o projeto “Sua Nota Vale Dinheiro” é uma campanha da

Sefaz-CE que permite a troca de cupons fiscais por valores. A ONG acumula determinado valor em cupons fiscais e recebe em troca 0,5% desse total arrecadado. Dessa forma, o comércio no estado do Ceará é estimulado, assim como a emissão dos cupons fiscais, o que reforça a arrecadação tributária estadual.

A diretora afirmou na entrevista que “cada visita a Sefaz-CE para a troca dos cupons fiscais rende em média trezentos reais”. São feitas de três a quatro visitas anuais, o que gera em média R$ 1.200,00 anuais.

4.3.3 Dificuldades

De acordo com a diretora do projeto, “cerca de 70% das famílias que têm filhos no projeto são desestruturadas (pais usuários de drogas, envolvidos com o tráfico, famílias criadas apenas pela mãe, com total ausência do pai, entre outros motivos)”. Assim, muitas vezes as famílias da região não se interessam pelo projeto. A equipe do projeto tenta chamar a atenção das famílias para a importância e os benefícios em participar. A violência no entorno e o envolvimento de muitos dos familiares das crianças nas guerras de facções e no tráfico de drogas tem levado ao aumento da evasão. Com a diminuição das crianças participantes, há a perda de recursos financeiros essenciais para a manutenção do projeto (via doações). As crianças geralmente levam comportamentos ruins de casa e isso reflete no convívio com as outras crianças e com os funcionários do projeto.

Uma forte percepção tida pelos responsáveis pelo projeto é a ausência de confiança dos beneficiários no Poder Público e nas instituições públicas em geral. É comum a ausência de esperança e de perspectivas em relação a um futuro diferente.

Uma demanda atual é a necessidade de contratação/atuação de um psicólogo para o atendimento de demandas específicas do projeto. As dificuldades financeiras e a dificuldade de encontrar bons profissionais no mercado, dispostos a trabalhar no Terceiro Setor, tem atrapalhado essa busca.

A disputa com o mercado também é uma forte dificuldade. Os profissionais buscam melhores salários e possibilidades de crescimento na carreira, o que dificilmente se encontra no Terceiro Setor, ainda em fase de maturação no país. Drucker (1999) fala que um grande

4 Disponível em <

(38)

desafio para as organizações do Terceiro Setor é manter acesa a chama pela causa que leva alguém a trabalhar numa ONG.

Uma outra dificuldade encontrada é a estrutura pequena para o atendimento de quase 500 crianças. Se todas fossem atendidas no mesmo horário, não haveria lugar para todos.

4.3.4 Relação do projeto com o Poder Público

Na criação e construção do Projeto Cidade Criança não foram utilizados recursos públicos. No passado havia um repasse financeiro por parte da Prefeitura de Fortaleza, o que foi descontinuado.

Conforme entrevista com a assistente social, atualmente existe a obtenção de alimentos junto ao programa Mesa Brasil, do SESC. A parceria é possível devido a inscrição junto ao CMAS e a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). A Secretaria realiza ainda a fiscalização e eventuais exigências junto ao projeto. Outra relação é através do

programa “Sua nota vale dinheiro”, da Sefaz. O programa permite que ONGs troquem notas fiscais por valores monetários. Assim, a Sefaz-CE tenta aumentar a arrecadação tributária, com uma maior emissão de notas fiscais.

A relação com o Poder Público se dá também através da obtenção de certificações, alvarás e outros documentos necessários ao funcionamento da organização. O ideal seria uma relação mais próxima com o Poder Público, defendem os entrevistados. Ainda assim, não sentem falta dessa aproximação, pela ausência de suporte do Estado.

4.3.5 Percepção dos egressos sobre o projeto

Foram realizadas entrevistas com cinco egressos do projeto, a fim de verificar sua percepção de um modo geral sobre o projeto. Foi perguntado como o egresso chegou ao projeto, o impacto do projeto na sua vida e de sua família e como está sua vida hoje, após a saída do projeto. Esses egressos foram escolhidos por terem participado desde o início do projeto, tendo participado de todo o programa e por critérios de conveniência.

O egresso 01- 19 anos, estudante universitário do curso de Fisioterapia - afirmou que chegou ao projeto por meio de sua mãe. Quando ela soube que haveria um projeto social na região em que moravam, logo quis que ele participasse, para que o jovem preenchesse seu

tempo e “se tornasse uma pessoa melhor”. No projeto, ele “se tornou uma pessoa melhor” e

(39)

projeto o ensinou a superar seus obstáculos, além de ajudar no desenvolvimento de talentos, como jogar futebol e comunicar-se com as pessoas. Sua família é muito grata por tudo o que ele viveu ali. O jovem tem realizado seus sonhos e se sente um jovem realizado, atualmente.

O egresso 02 – 19 anos, técnico em informática - informou que chegou ao projeto por

sua mãe, que soube que haveria um projeto social em que as crianças “passariam o dia se divertindo e aprendendo sobre a Bíblia”. O egresso afirma que era muito tímido e no projeto aprendeu a trabalhar essa timidez, por meio dos novos amigos que fez. Também aprendeu muitos ensinamentos bíblicos para a sua vida. Com o passar do tempo, as muitas atividades cotidianas fizeram o jovem diminuir sua participação no projeto, ainda assim ele é grato por tudo o que foi feito por ele. Hoje o rapaz está casado, já tendo sua própria família e sua casa, levando em consideração que foi um dos primeiros participantes.

O egresso 03 – 18 anos, jovem aprendiz em um supermercado - afirma que seus pais o levaram ao projeto quando ele tinha oito anos, pois sabiam que seria bom para o jovem. O entrevistado relata que o carinho e a atenção com que os professores do projeto o tratavam foi marcante em sua vida. Outro ponto de influência importante foi na área financeira, pois o padrinho do rapaz no projeto enviava presentes e até valores em dinheiro para as necessidades da família. Hoje o entrevistado vê a influência positiva que tantas pessoas deixaram em sua vida. Lá ele aprendeu a batalhar pelos seus sonhos, independente do local em que vive ou da falta de recursos. Aprendeu também que sempre existirão boas pessoas para ajudar. O rapaz tem trabalho fixo, participa de uma igreja evangélica, atua no grupo do teatro da igreja e pretende cursar psicologia próximo ano.

O egresso 04 – 19 anos, estudante no ensino médio e entregador em uma farmácia -

chegou ao projeto por meio de sua mãe. Lá ele aprendeu “muitas coisas boas” para a sua vida

e ensinamentos que nunca esqueceu. Atualmente sua vida está muito bem encaminhada. A egressa 05 - 18 anos, repositora em um supermercado - foi inscrita pela mãe aos oito

anos, quando soube que haveria um projeto social próximo de casa. O projeto a “muitas coisas importantes”, entre elas o amor de Deus por sua vida. O projeto tem tirado muitas crianças da rua em sua comunidade e seus sobrinhos estão participando, tendo a mesma oportunidade que a egressa teve. Atualmente, a jovem tem um bom emprego, ajuda nas despesas de casa, quer fazer faculdade e casar em breve. A jovem consegue ver que cada palestra, conselho, cada devocional feito, valeu a pena, pois influenciou quem ela se tornou.

(40)

relacionaram e atualmente estão no mercado de trabalho ou em busca de colocação no mesmo. Existe ainda a influência na comunidade onde moram, pois o local é bastante assolado pelo tráfico de drogas e pela violência, sendo o projeto uma alternativa para que as crianças não entrem nesse rumo.

Lembrando Melo Neto e Froes (2001), que afirmam que o aumento dos desassistidos e excluídos está ligado à baixa qualidade e aos altos custos dos serviços prestados pelo Estado, os egressos de uma forma geral não confiam muito nos serviços e nas instituições do Estado.

(41)

5 CONCLUSÕES

O objetivo principal dessa monografia era fazer uma revisão literária da teoria sobre o Terceiro Setor, utilizando o caso prático do Projeto Cidade Criança.

Era importante essa revisão literária devido a importância da atuação do Terceiro Setor junto a sociedade. O Projeto Cidade Criança foi estudado por ser um programa revelante dentro da sua área de atuação e localização.

Entende-se que esse objetivo foi alcançado. Foi mostrado ainda o Estatuto Social da associação criadora do Projeto Cidade Criança, os indicadores financeiros foram analisados e os impactos do projeto na vida dos egressos foram retratados.

Pude ver que a principal contribuição dessa monografia é mostrar a influência positiva do projeto na vida dos seus participantes, das suas famílias e da região em que vivem. Como dito pelos egressos, várias transformações aconteceram e inferimos das entrevistas que esses jovens escaparam da influência do tráfico de drogas e da violência na região, fatores extremamente marcantes dentro da comunidade da Sapiranga.

Sobre os funcionários e envolvidos no projeto, pude ver a felicidade e amor com que tais pessoas trabalham, muitas vezes abdicando de possibilidades de maior crescimento em suas carreiras. Drucker (1999) fala da importância de se manter acesa a paixão pelo trabalho dentro de uma ONG e foi percebido que essa paixão continua acesa, dada a motivação que dos funcionários e envolvidos no projeto: a possibilidade de mudar a vida de centenas de famílias, através da educação, da saúde, da esperança de um futuro melhor e da pessoa de Jesus Cristo.

Uma limitação encontrada no trabalho foi a ausência de indicadores financeiros para a

realização de comparações com o que foi encontrado no projeto. Não existe um “modelo ideal” ou um “modelo comparativo” que possa ser utilizado para comparar e analisar se os

recursos financeiros estão sendo bem utilizados. Por exemplo: uma criança deve custar “x”

reais por mês a uma ONG. Por não existir esse modelo, a análise é mais subjetiva do que objetiva.

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Figura 01: Projeto Cidade Criança

Referências

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