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CAPÍTULO IV: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO

4.2.1. Percepções da adultez

O que significa ser adulto?

As percepções espontâneas dos jovens relativamente a esta questão parecem ir no mesmo sentido dos resultados encontrados na primeira fase do estudo, ou seja, são sobretudo dimensões internas e psicológicas do ser adulto a serem salientados pelos jovens. Verificou-se, assim, que o elemento mais típico desta definição é o

sentido de responsabilidade (os mesmos resultados foram encontrados na primeira

fase do estudo). Esta é considerada uma dimensão de maturidade psicológica, contudo dada a incidência desta resposta, decidiu-se mantê-la como uma categoria independente de modo a destacar a sua importância. Para a maioria dos sujeitos, a idade adulta é representada, assim, pela presença desta característica, que assinala ter um maior controlo sobre a própria vida e um certo distanciamento em relação ao proteccionismo parental. Desta forma, o sentido de responsabilidade surge do processo de autonomização, em que os sujeitos assumem atitudes ou realizam acções de acordo com as suas necessidades e desejos, confrontando-se com os problemas de forma independente e assumindo a sua resolução. Neste estudo não foi possível verificar se a responsabilidade é uma condição necessária para aceder a determinados papéis de adulto ou se surge como consequência dessas experiências, uma vez que esta percepção surgiu de modo generalizado e independente da experimentação de papéis de adulto (profissional, conjugal, parental, emancipação da residência parental), assim como de outras variáveis sócio-demográficas como o sexo e do nível educacional, sugerindo assim a presença de uma percepção geracional.

Aspectos associados ao processo de autonomização e de maturidade

psicológica foram também frequentemente assinalados pelos sujeitos. Nesta categoria

englobam-se aspectos como o processo de individuação, a independência emocional, a consolidação da identidade, a auto-regulação do comportamento, o desenvolvimento moral e a capacidade para tomar decisões autonomamente. Tal como a categoria anterior, esta surge como independente da experiência de realização de tarefas normativas de entrada na idade adulta e do nível educacional. Verificou-se, no entanto, que varia em função do sexo, em que os rapazes parecem valorizar mais estes aspectos na definição da idade adulta do que as raparigas. O facto de alguns autores (Gilligan, 1982; Lopez, 1988; Grotevant & Cooper, 1985; in Ferreira & Ferreira, 2001) apontarem que os rapazes geralmente atingem a autonomia pela separação e que as raparigas fazem-no preservando as suas relações de vinculação, pode ajudar a compreender tais diferenças. Com efeito, uma vez que nesta categoria, os processos

Discussão dos Resultados e Conclusão

143 de maturidade psicológica são essencialmente salientados em termos de separação em relação às figuras parentais, os nossos resultados vão de encontro à literatura. Esta diferença de género não foi assinalada para a dimensão de independência e maturidade emocional do QMA. Na verdade, apesar de nesta categoria se incluirem aspectos que se encontram presentes na dimensão de independência e maturidade emocional (nomeadamente em termos independência emocional e instrumental, controlo emocional e desenvolvimento moral), esta revela-se mais abrangente, contendo outros elementos de desenvolvimento psicológico (e.g., a consolidação da identidade e o desenvolvimento de competências de resolução de problemas (coping)). É de assinalar ainda que a dimensão de independência e maturidade emocional incui itens de independência financeira que não fazem parte desta categoria. Deste modo, é compreensível que os resultados da primeira e segunda fase sejam distintos.

A categoria de independência económica foi ocasionalmente referida pelos jovens como um aspecto definidor da idade adulta. Esta refere-se à capacidade do indivíduo para ser auto-suficiente economicamente, sendo também destacados aspectos que se relacionam com a integração no mundo do trabalho e a estabilidade económica. Estes aspectos já haviam sido destacados na primeira fase do estudo, constituindo marcadores valorizados na definição da adultez. Curiosamente, esta categoria é igualmente referida, quer por estudantes, quer por trabalhadores, verificando-se assim, que a autonomia financeira é um aspecto que continua a ser percepcionada como bastante importante, depois da integração profissional. Este resultado poder-se-á dever, por um lado, à consciência das dificuldades de independência financeira, associados a condições laborais precárias, ou por outro lado, à percepção da importância desta transição para se sentir plenamente adulto, não só em termos de estatuto social, como também pelas oportunidades que proporciona. A valorização da independência financeira surge também como independente do nível educacional. Parece ser um indicador que esta conquista é pertinente, embora problemática, quer para os jovens de nível educacional elevado, quer para os jovens de nível educacional mais baixo. Não se registaram diferenças significativas em função das restantes transições, nem em função do sexo dos participantes, reforçando o seu aspecto transversal a diversas condições.

É apenas residualmente mencionado pelos sujeitos que ser adulto se encontra associado a determinados direitos e obrigações sociais (cidadania e deveres sociais), como votar, pagar impostos, respeitar as normas sociais e poder participar plenamente

na vida social para alcançar um bem comum. Da mesma forma, somente para alguns jovens, ser adulto significa realizar as transições familiares tradicionais, como casar e ter filhos e construir assim a sua própria família, deixando um legado para o futuro.

Verifica-se assim que, com excepção da transição profissional, para a maioria dos jovens a idade adulta se encontra dissociada de dimensões sociais, tradicionalmente apontadas como marcadores de entrada na idade adulta. Tal como Arnett (1998, 2000) constatou, são essencialmente aspectos individualistas de maturidade a serem percepcionados como relevantes na concepção da adultez. Estes resultados que parecem apoiar os dados encontrados na primeira fase do estudo, sustentam também a adequabilidade do instrumento de Arnett (2001) para a sociedade Portuguesa.

É de realçar, contudo, que neste estudo surgiram conteúdos e categorias, que embora residuais, não se encontram presentes nos marcadores de adultez de Arnett, e que poderão ser pertinentes no seio da cultura portuguesa. Por exemplo aspectos associados à cidadania, à importância da experiência de vida, à transmissão de valores e às desvantagens/perdas percebidas pela entrada nesta fase da vida, poderão constituir critérios de adultez para os jovens portugueses.