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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3 Percepções sobre a Área de Compras/Suprimentos

4.3 1 Percepção da Alta Administração

“É estratégica porque o hospital, do ponto de vista do seu financiamento, depende muito da questão da margem que ele tem da comercialização de materiais e medicamentos” (Diretor da alta administração do hospital 1)

“A área é bem operacional, embora em algumas situações ela seja estratégica” (Diretor da alta administração do hospital 2)

Apenas 2 executivos da alta administração dos hospitais da amostra foram entrevistados. A opinião deles, com relação ao caráter estratégico ou operacional da área, varia. O entrevistado do hospital 1 levantou o a questão do financiamento para justificar este caráter estratégico. A

entrevistada do hospital 2 justifica o caráter estratégico com base nas negociações, onde se conseguem o melhor preço e o melhor produto.

As contribuições estratégicas serão vistas num capítulo à parte; o importante aqui é lembrar que o reconhecimento da alta administração é um fator primordial para que a área de Compras possa ter uma atuação estratégica (VAN WEELE, 2005 p. 92). Nota-se que as percepções variam. O diretor executivo do hospital 1 relacionou o caráter estratégico da área de Suprimentos à importância que as margens de comercialização de materiais e medicamento representam na receita do hospital. O mesmo não foi relatado pelo hospital 2, possivelmente porque a receita do hospital 2 não provém das margens de comercialização de materiais e medicamentos, por se tratar de um hospital de propriedade de uma operadora de saúde.

4.3.2 Percepção dos Gestores de Suprimentos

“Há dois anos atrás foi proposto que a área de Suprimentos tivesse um cargo corporativo. (...) Antes ficava na área de operações e infra-estrutura. Então, havia uma diretoria que cuidava de todos os aspectos de hospitalidade, nutrição, serviços ao cliente, todas as questões operacionais do hospital, no que diz respeito às funções não assistenciais ou administrativas. Mas, a área de saúde depende muito da comercialização de MAT e MED (materiais e medicamentos), e aí percebeu-se que essa função de suprimentos tinha um aspecto mais estratégico. E, por este motivo, houve a proposta de se ter um diretor corporativo com experiência nesta área para formular estratégias de relacionamento com fornecedores e de toda a cadeia de suprimentos.” (Gestor de Compras/Suprimentos do hospital 1)

“A área é mais operacional – ligada a curto prazo. A contribuição é grande, mas poderia ser maior. Participando dos projetos, dando mais sugestões, hoje, eu sou um facilitador, mas falta uma abertura maior. Falta promover projetos, agir de forma mais participativa. Hoje recebemos um projeto pronto(...) Acho que falta você estar mais ligado à administração, vendo sempre o foco (da organização). Porque se você vai fazer um orçamento, você vai entrar numa indústria, a área de Compras vai participar de todo o processo(...) Isto ainda

está muito novo no hospital. As decisões ainda são tomadas pela diretoria, pela administração(...) Está mudando, mas a área de Compras em hospital ainda tem um pouco de operacional.” (Gestor de Compras/Suprimentos do hospital 2)

“É estratégica porque proporciona um diferencial competitivo no mercado, que é ter custos mais competitivos e preços mais competitivos.” (Gestor de Compras/Suprimentos do hospital 3)

“A área é muito mais estratégica que operacional. Foco no longo prazo, com ganhos pensados além da necessidade do dia. A área possui muitos projetos que visam a longo prazo, a uma operação mais econômica.” (Gestor de Compras/Suprimentos do hospital 4) Apenas o entrevistado do hospital 2 caracteriza a área como mais operacional. Os demais entrevistados vêem a sua área como estratégica, ou seja, como uma área que contribui para os objetivos da organização. É interessante notar como as falas dos entrevistados e a posição da área na estrutura organizacional parecem estar de fato relacionadas, conforme exposto por Harding e Harding (1991). Segundo esta autora, quanto maior o posicionamento na estrutura organizacional, maior o reconhecimento estratégico da área de Compras. Tal fato fica evidente pelos casos da amostra onde, no hospital onde a área de se encontra num nível mais inferior na hierarquia, seu coordenador revelou um caráter mais operacional da área, enquanto os demais, que respondem diretamente para o maior cargo executivo, enfatizaram o caráter estratégico da área.

4.3.3 Percepção dos Médicos

“Para o médico, aparentemente, a área de Compras não existe, ele jamais se relaciona com ela. Ele não tem a mínima idéia de toda a logística que está por trás do processo. O médico requisita o material e na hora do procedimento o material está lá.” (Diretor Clínico)

“Os médicos que estão na assistência não pensam em nada que está por trás do que ele está fazendo. É difícil ele pensar que existe uma padronização, uma rotina de padronização, onde

o hospital tenta garantir fornecedores adequados, qualidade assegurada.” (Gestor de Compras/Suprimentos)

“Na realidade, a primeira impressão dos médicos é não saber como funciona, e não ter preocupação com tal funcionamento. O médico está focado no atendimento, aquele atendimento gera uma necessidade, ele prescreve ou solicita o medicamento/material que atenda àquela necessidade e com o qual ele esteja habituado a trabalhar.” (Diretor Clínico) Com relação à visão dos médicos, percebe-se que eles se focam na assistência prestada ao paciente e, geralmente, não se atentam aos processos que ocorrem por trás do atendimento ao paciente. A partir da análise das falas podem-se levantar as seguintes constatações:

• Em geral, o médico não se relaciona com a área de Compras;

• Ele não tem idéia da logística ou dos processos que estejam por trás do que ele está fazendo;

• Ele não sabe como funciona e não se preocupa em saber como são os processos de compras.

Isto reforça o distanciamento entre a linha de frente do hospital, composta pelos profissionais que detêm o conhecimento técnico e o corpo administrativo, e a falta de integração entre eles.