4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.4 Contribuições Estratégicas da Área de Compras/ Suprimentos
4.4.4 Redução de influências dos outros elos da cadeia de suprimentos
O diretor de Suprimentos de um dos hospitais não pertencentes à operadora, citou como contribuição o “equilíbrio de forças” da cadeia de suprimentos da saúde, ou “uma redução das influências dos outros elos da cadeia de suprimentos que possam fragilizar o hospital”.
O entrevistado foi um dos poucos a citar a contribuição da sua área com relação à cadeia de suprimentos da saúde. Segundo ele, na cadeia de suprimentos existem algumas relações que fragilizam o hospital, como:
1) a dependência do hospital na indicação de pacientes pelo médico;
2) a influência dos fornecedores junto aos médicos, incentivando a compra de seus produtos;
3) as tentativas das fontes pagadoras fecharem contratos diretamente com os fornecedores, tirando o hospital da intermediação.
Com relação à dependência na indicação dos médicos, o diretor de suprimentos disse que cabe à área de Suprimentos conduzir as atividades de forma que fortaleça a marca do hospital, oferecendo um nível de serviço diferenciado, fazendo que o próprio paciente opte pelo hospital, e não somente o médico:
“Hoje 70% das internações são provenientes das indicações dos médicos. Ou seja, existe uma relação de dependência do hospital pela indicação de pacientes pelos médicos, que o hospital pretende minimizar, investindo em sua marca e em seus diferenciais.” (Gestor de Compras/Suprimentos)
Sobre a influência do fornecedor sobre os médicos, o entrevistado disse: “o hospital precisa ter boas práticas de compras que reduzam decisões baseadas na influência do fornecedor diretamente aos médicos.” (Gestor de Compras/Suprimentos)
Com relação às fontes pagadoras, o diretor de suprimentos vê a área como encarregada de ter uma influência política junto aos fornecedores de forma que a relação entre eles esteja protegida de qualquer negociação direta da fonte pagadora com o fornecedor.
Baseando-se nestas afirmativas, podem-se esquematizar as relações da cadeia de valor que fragilizam o hospital:
Figura 4 - Relações da Cadeia de Valor que Fragilizam o Hospital Hospital Fornecedor Médicos Fonte Pagadora Pacientes 1. Médicos são responsáveis pela indicação de pacientes. 2. Influência que os fornecedores fazem sobre os médicos, com
relação à compra de materiais e medicamentos. 3. A fonte pagadora procura negociar preços diretamente com o fornecedor.
Relações da Cadeia de Valor da Saúde que Fragilizam o Hospital
Hospital Fornecedor Médicos Fonte Pagadora Pacientes 1. Médicos são responsáveis pela indicação de pacientes. 2. Influência que os fornecedores fazem sobre os médicos, com
relação à compra de materiais e medicamentos. 3. A fonte pagadora procura negociar preços diretamente com o fornecedor.
Relações da Cadeia de Valor da Saúde que Fragilizam o Hospital
Fonte: Elaboração da autora.
Abaixo, encontram-se os objetivos da área de Suprimentos para equilibrar as forças descritas cima.
Figura 5 - Objetivos da Área de Suprimentos para Equilibrar as Relações da Cadeia de Valor Hospital Fornecedor Médicos Fonte Pagadora Pacientes 1. Oferecer um nível de serviço diferenciado para
que o próprio paciente
escolha o hospital 2. Ter boas práticas de compras que reduzam as decisões baseadas
na influência do fornecedor aos
médicos
3. Influência política junto aos fornecedores para que a relação esteja protegida contra a intermediação direta da fonte pagadora
Objetivos da Área de Suprimentos
Hospital Fornecedor Médicos
Fonte Pagadora Pacientes
1. Oferecer um nível de serviço diferenciado para
que o próprio paciente
escolha o hospital 2. Ter boas práticas de compras que reduzam as decisões baseadas
na influência do fornecedor aos
médicos
3. Influência política junto aos fornecedores para que a relação esteja protegida contra a intermediação direta da fonte pagadora
Objetivos da Área de Suprimentos
Fonte: Elaboração da autora.
A necessidade de “equilibrar as forças”, descrita pelo entrevistado, denota uma visão mais corretiva que colaborativa entre os elos da cadeia de suprimentos, pois mostra que o hospital
necessita proteger seus interesses, frente às relações que o prejudicam. Assim, nota-se a existência de interesses conflitantes na cadeia de valor da saúde, o que se torna um impeditivo para integração coordenada entre seus elos. Ao invés de haver um comportamento cooperativo entre os elos da cadeia de valor, o hospital está preocupado em proteger seus próprios interesses, demonstrando a fragmentação na cadeia de valor.
4.5 A Padronização
Não era intenção estudar o tema da padronização em detalhe, mas verificar a lógica para a escolha dos produtos, a quem cabe a decisão, que fatores são levados em consideração na seleção destes insumos, e outros aspectos capazes de elucidar a influência da gestão de suprimentos/compras na seleção destes insumos.
Todos os hospitais da amostra possuem uma comissão de padronização de materiais e medicamentos. Todos os entrevistados citaram a participação de médicos, farmacêuticos, enfermeiros, CCIH e compras nas comissões. Em todos os casos, quem coordena a iniciativa de padronização é a diretoria clínica. Existem diferenças quanto ao envolvimento dos médicos nestas comissões. Em um hospital, a maioria dos médicos foi consultada, em outros, a participação na comissão é feita voluntariamente.
Os hospitais da amostra diferem quanto ao critério de seleção dos materiais e medicamentos. Enquanto em alguns prevalece o critério preço X qualidade, em outros prevalece o que a maioria dos médicos de referência do hospital utiliza. Pode haver uma relação entre a utilização do critério de custo na padronização e o fato do hospital ser ou não da rede própria de um plano de saúde. Os hospitais não pertencentes à rede própria de plano de saúde não enfatizaram o custo como critério de seleção, como fez, por exemplo, um dos hospitais pertencentes a uma operadora.
A padronização consiste na redução de variabilidade dos itens e dos fornecedores, e todos os hospitais têm a flexibilidade de, nos casos em que se justifique, acatar a decisão do médico. Entretanto, o como processo de requisição de medicamentos e materiais não padronizados é
mais lento, no caso de medicamentos, os médicos acabam utilizando os medicamentos padronizados. O mesmo não ocorre com os materiais.