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CAPÍTULO II – CRISE DO CAPITAL E A CONTRARREFORMA DO ESTADO NO BRASIL: IMPACTOS PARA OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

4 A DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL: A PROMESSA DA PRIORIDADE ABSOLUTA NO ATENDIMENTO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA

4.4 O percurso formal do atendimento ao adolescente em conflito com a lei no Município de Fortaleza-CE

Ao praticar ato infracional, o adolescente deve ser conduzido à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde será ouvido pela autoridade policial, tendo seu processo encaminhado, de forma aleatória, para uma das cinco varas da infância e da juventude existentes na Capital e posteriormente encaminhado para a Unidade de Recepção, no caso de Fortaleza, a Unidade Luís Barros Montenegro, que tem como objetivo acolher, até o prazo de 24 horas, o adolescente que aguarda apresentação ao Ministério Público. Durante audiência, participam o juiz de direito, o Ministério Público, o defensor público, o adolescente e seus responsáveis.

É nesse momento que o juiz avalia a medida a ser aplicada, sendo escolhida de acordo com a gravidade do ato e a possibilidade de ser cumprida pelo socioeducando. As medidas socioeducativas são: advertência (admoestação verbal); obrigação de reparar o dano (restituição da coisa, ressarcimento do dano ou compensação do prejuízo à vítima); prestação de serviços à comunidade55 (realização de tarefas gratuitas junto a entidades com prazo máximo de seis meses); liberdade assistida (aplicada quando for considerada mais adequada

54O FAT é um fundo vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, sendo de natureza contábil-financeira, e

que objetiva custear o Programa do Seguro-Desemprego, o Abono Salarial e o financiamento de programas de desenvolvimento econômico. O fundo tem como fonte principal de recursos o Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP). Disponível em: <http://www.mte.gov.br/fat/historico.asp>. Acesso em: 11 out. 2012.

55Dentre as instituições para as quais os adolescentes são encaminhados para prestar o referido serviço, estão:

para o acompanhamento, auxílio e orientação do adolescente, tendo prazo mínimo de seis meses); semiliberdade (pode ser aplicado como medida inicial ou como meio de transição para o meio aberto); internação (aplicada quando o ato infracional foi cometido mediante grave ameaça ou violência) ou ainda qualquer uma prevista no artigo 101, I a VI do ECA (1990). Ressalta-se que o ECA orienta, caso possível, a aplicação de medida em meio aberto.

Quando a autoridade competente determina que o adolescente irá cumprir medida em meio aberto, poderá ser aplicada advertência, obrigação de reparar o dano, Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), onde esse deverá desempenhar tarefa para qual fora designado e com prazo máximo de seis meses, ou poderá ser aplicada a Liberdade Assistida (LA), com foco na educação e profissionalização, sendo avaliado semestralmente até o período de sua liberação pelo Juiz da Infância e da Juventude, com base em relatórios semestrais enviados pela equipe técnica responsável pelo seu acompanhamento no órgão competente.

No caso de aplicada a liberdade assistida, o juiz define se o adolescente deverá ser conduzido para o programa de Liberdade Assistida Municipalizado (LAM), executada pelo município, ou para o de Liberdade Assistida Comunitária (LAC), executada pela Pastoral do Menor, ligada à Igreja Católica56.

A liberdade assistida é uma medida socioeducativa aplicada quando se tem a finalidade de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente em conflito com a lei, tendo como prazo mínimo seis meses. A equipe técnica designada para seu acompanhamento tem como compromisso a realização de ações que promovam socialmente o adolescente e seu núcleo familiar, inserindo-o em programa de auxílio e assistência social, quando necessário. Nesse processo, a equipe deve promover a inserção do adolescente em instituição de ensino regular, realizar acompanhamento do seu desempenho escolar, bem como inserir no mercado de trabalho o socioeducando por meio da profissionalização.

Segundo orientação da 5ª Vara da Infância e da Juventude, para o cumprimento efetivo da medida socioeducativa de liberdade assistida, o socioeducando deve cumprir as seguintes exigências: comparecer aos atendimentos agendados com a equipe técnica; providenciar documentação civil; estar inserido ou providenciar inserção em instituição de ensino regular; estar engajado em curso profissionalizante ou no mercado formal de trabalho; não fazer uso de substâncias ilícitas; não cometer novos atos infracionais; possuir bom

56Enquanto a LAM atende em todo o Município de Fortaleza, a LAC atua apenas em quatro bairros específicos

da Capital – Pirambu, Tancredo Neves, Jardim Iracema e Bom Jardim – absorvendo um menor quantitativo de socioeducandos.

relacionamento familiar e comunitário; recolher-se no horário estabelecido57; e não estar acompanhado com pessoas reconhecidas como envolvidas na prática de atos ilícitos.

No Brasil, o número total de adolescentes incluídos nas medidas socioeducativas de internação, semiliberdade e na condição de internação provisória no ano de 2009 totalizava 16.940 adolescentes. Desse montante, 11.901 estavam cumprindo medida socioeducativa de internação, 3.471 estavam na internação provisória e 1.568 estavam em medida socioeducativa de semiliberdade58.

Segundo Rocha (2002 apud CONANDA, 2006), o Brasil contava com 9.555 adolescentes privados de liberdade (internação e internação provisória) na faixa entre 16 e 18 anos. O destaque está no aspecto social e econômico desse segmento: 51% não frequentavam a escola; 90% não completaram o ensino fundamental; 49% não estavam inseridos no mercado de trabalho; e 12,7% estavam inseridos em famílias sem renda mensal.

De acordo com o Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei,59 edição de 2010, elaborado pela Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA), revelou-se que o estado que tinha maior número de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação e em internação provisória era São Paulo, seguido de Pernambuco, ocupando o Ceará o sexto lugar.

Compartilhamos com a observação de Volpi (2006) quanto à desqualificação dada aos adolescentes e jovens que praticaram e praticam atos ilícitos e as impossibilidades desses compartilharem dos mesmos direitos de um cidadão:

Os adolescentes em conflito com a lei, [...], não encontram eco para a defesa dos seus direitos pois, pela condição de terem praticado um ato infracional, são desqualificados enquanto adolescentes. A segurança é entendida como a fórmula mágica de “proteger a sociedade (entenda-se, as pessoas e o seu patrimônio) da violência produzida por desajustados sociais que precisam ser afastados do convívio social, recuperado e reincluídos”. É difícil, para o senso comum, juntar a idéia de segurança e cidadania. Reconhecer no agressor um cidadão parece ser um exercício difícil e, para alguns, inapropriado. (P. 09).

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O horário do adolescente retornar para sua residência é determinado pelo juiz, podendo esse variar entre 20 e 22 horas. Em caso de adolescentes que estudem no período noturno, é orientado pela equipe técnica da liberdade assistida o uso de fardamento ou material escolar que identifique que está retornando de atividade escolar para casa.

58Os dados tiveram como fonte o documento intitulado: “Levantamento nacional do atendimento socioeducativo

ao adolescente em conflito com a lei”, ano 2010, elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos.

59Informamos que a coleta de dados do referido documento foi realizada no período de 20/12/2009 a 22/02/2010,

produzindo informações quantitativas sobre a execução da internação provisória e das medidas socioeducativas de internação e semiliberdade do País.

5. O PROGRAMA DE LIBERDADE ASSISTIDA MUNICIPALIZADA EM

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