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Para realizarmos uma leitura intersemiótica entre vídeo e letra de música é preciso atentar para a proposta de leitura abordada na tradução intersemiótica principal como expõe Diniz (1994), nos valeremos além do conceito de tradutor intersemiótico, proposto por Medeiros (2014), no uso do conceito triádico de signo proposto por Charles Sanders Peirce que define a natureza do signo como representação, algo que se encontra no lugar de outra coisa. E esta forma de representação acontece através de três níveis de abstração, ocorrendo por semelhança, por contiguidade ou por convenção. E este elemento, o signo pode representar não só um desses níveis de abstração, mas os três em simultâneo.

Estas três partes que compõem a pirâmide semiótica são o que chama de referente ou objeto, o elemento ao qual estamos nos referimos , em seguida temos o significante ou a representação, parte que corresponde ao aspecto sensível do signo e por último, o significado ou interpretante, elemento que se constitui pela compreensão que temos da mensagem transmitida.

Diante da complexidade da teoria de Pierce, utilizaremos um recorte desse conjunto de conceitos e nos centraremos na abordagem de duas unidades em especial, a semiose e a fenomenologia. E para entendermos tais constituintes da Semiótica, utilizaremos as definições de Severo (2008) que coloca:

Peirce concebia o cont ato com a realidade como uma experiência de produção e interpretação de signos. [...] A interpretaç ão e produç ão de signos, para P eirce, é que vão nos proporcionar vivenciar o mundo e a natureza. Para sistematizar essa sua proposição, Peirc e diz que toda e qualquer experiência de interação com os fenômenos do mundo (outros indivíduos e natureza) se dá em três categorias fenomenológicas [...] (SEVERO, 2008, s. p.).

O trecho citado nos permite observar o processo de organização dos conceitos de Pierce em relação ao contato entre signo e realidade. Quanto às categorias citadas pelo estudioso, podemos descrevê-las através das seguintes nomenclaturas: primeiridade, secundidade e terceiridade; A primeira delas diz respeito à primeira impressão ou sentimento apreendido de determinado objeto. A secundidade corresponde à categoria do contato direto do individuo com aquele objeto fruto de observação. O terceiro item é a junção entre o primeiro e o segundo, ou seja, a inter- relação da primeiridade e da secundidade. Temos assim a aproximação de duas características, o sentimento e a razão, raciocínio: Uma camada de inteligibilidade, representação e interpretação do signo (ALVES; MORAES, 2012).

Estas três categorias acima mencionadas apresentam-se como formas de entendimento do mundo que nos cerca e segundo Peirce elas ocorrem no processo chamado de semiose, termo que define a relação de representação que o signo mantém com o objeto, fato este que leva a mente do indivíduo que realiza a interpretação a construir um novo signo para traduzir o primeiro, sendo assim ele torna-se tríadico por reunir os três momentos de interpretação também recebe a característica de interpretante e significante. Sobre este processo Pierce explica que as experiências vividas deixam suas impressões e aprendizado via interpretação dos signos por nós depreendidos e a exposição que fazemos de nós mesmos se dá através de signos que criamos em outro processo por ele definido como semiósico e que possui caráter infinito (ALVES; MORAES, 2012).

O elo entre vídeo e leitura plurilíngue de textos é um encontro intersemiótico que viabilizamos através da sala de aula intercompreensiva, onde o professor-

pesquisador utilizando-se dos recursos audiovisuais promove a aprendizagem da compreensão de várias línguas da mesma família. E essa junção de linguagens, uma como auxiliar para descobrimento da outra é o foco da proposta didática que foi realizada, e para tal fim utilizamos os conceitos de construção e entendimento do signo propostos Pierce através das leituras de seus estudiosos, o que nos proporciona subsídios para lidarmos com a tradução de linguagens diferentes.

Diante destas considerações observamos nosso papel, enquanto leitores intersemióticos que somos, é de justamente estabelecer um elo entre o imagético do videoclipe e o conteúdo existente na letra da canção, a poesia do texto escrito em nosso árduo caminho na busca pelos significados. Sendo assim a tradução intersemiótica nos possibilita usar seus direcionamentos para estudarmos as linguagens que utilizamos na aula guiada pela didática da intercompreensão de línguas românicas como caminho pedagógico. É neste momento onde atuamos, utilizando esses conceitos organizacionais da semiótica como proposta teórica para podemos avaliar o corpus coletado.

CAPÍTULO 3

PERCURSO METODOLÓGICO

Com o objetivo de apresentar o percurso metodológico que deu vida à nossa pesquisa, desenvolveremos cinco subtópicos para descrevê-lo, a saber: 1) caracterização/tipologia da pesquisa, quando apresentaremos as características da pesquisa que realizamos, de acordo com os objetivos gerais e específicos, assim como o grupo-alvo da pesquisa e a razão para selecioná-lo, dentre outras características. 2) A descrição do ambiente e do público-alvo da pesquisa dá sequência à metodologia, na qual apresentamos a composição do grupo que estudamos e que nos ajudou como participantes, atuantes na ação pedagógica que realizamos.

O funcionamento e a estruturação do curso-piloto que realizamos em uma universidade pública da cidade de Campina Grande-PB é a segunda parte deste subcapítulo; elemento de suma importância para que déssemos seguimento à pesquisa. O subtópico seguinte, o terceiro, é o corpus coletado através das intervenções realizadas no curso-piloto Ateliê de leitura. Foi a partir dessa proposta que pudemos construir a segunda parte de nosso corpus, constando dos resultados da realização do curso de leitura e a intercompreensão de línguas parentes. O Ateliê de

leitura possibilitou gravações em áudio e em vídeo das aulas ministradas, assim como

atividades (exercícios) escritas elaboradas para este fim, realizadas pelos alunos ao longo do curso que nos apontaram significativos resultados da experiência com a ILR.

Ainda neste espaço, descreveremos também as canções utilizadas nas aulas, bem como as atividades que desenvolvemos para trabalhá-las. Na continuidade, apresentamos a classificação da pesquisa, momento no qual classificamos a pesquisa; em seguida, temos a descrição do ambiente e do público-alvo da pesquisa, quando descrevemos o ambiente da pesquisa-ação que realizamos, isto é, a sala de aula e os estudantes do curso Ateliê de leitura. Por último, temos o processo de

descrição e apresentação das atividades, apreciação dos questionários e das

notificações do professor/pesquisador acerca da experiência vivenciada no curso. Tal

item é a apresentação prévia do corpus da pesquisa, concluindo as etapas dos procedimentos metodológicos para a realização desta pesquisa.