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Para começar, introduziremos a área que engloba a base geral da pesquisa linguística neste trabalho: a Dialetologia e Etnolinguística. De modo geral, Podemos definir a Dialetologia como o campo da ciência linguística que estuda as variações na linguagem delimitadas no espaço geográfico e nos agrupamentos sociais dos diferentes sistemas linguísticos ou dialetos, que caracterizam as diversificações de uma língua, restritas ao espaço geográfico que ocupa. Seu campo de estudos, portanto, será os falares regionais com suas delimitações geográficas, caracterizadas por diferenças próprias na fonética, no léxico, na gramática, etc.

Para Câmara Jr. (1979, p. 94-95), a dialetologia é “o estudo do arrolamento, sistematização e interpretação dos traços linguísticos dos dialetos”. Apresenta duas técnicas para o desenvolvimento da dialetologia: a da Geografia Linguística, que busca a distribuição geográfica de cada traço linguístico dialetal, consolidados nos atlas linguísticos, e a da “descrição dos falares por meio de monografias dedicadas a uma dada região” compondo gramáticas e glossários regionais.

Para Dubois (1978, p. 185), a dialetologia tem a tarefa de descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que uma língua se diversifica no espaço, e de estabelecer- lhe os limites. Ele enfoca também dois aspectos na dialetologia: a) a descrição dos diferentes sistemas ou dialetos em que se diversifica uma língua; b) o estabelecimento dos limites de um

espaço geográfico de uma fala que pode ser tomada isoladamente sem se preocupar com os falares vizinhos ou com os que pertençam à mesma família linguística.

Mais do que qualquer outra área da linguística, a Dialetologia e Etnolinguística, por sua natureza interdisciplinar, tende a fixar-se num reduzido elenco de princípios gerais, teóricos, abstratos, em benefício de uma extrema flexibilidade de métodos, de uma enorme variedade de processos para solução dos problemas concretos que se lhe ofereçam no campo da pesquisa prática.

Ao introduzirmos este estudo em âmbito teórico, julgamos necessário contextualizá-lo incluindo nas ciências do léxico e, assim, prestar alguns esclarecimentos sobre o que vem a ser o léxico. Antes mesmo de entrarmos na discussão teórica propriamente dita, consideramos conveniente ressalvarmos o uso do termo “léxico’’ quando queremos nos reportar à Lexicologia, visto que esta ciência mantém uma relação direta como o repertório da língua geral e sentirmos que muitos estudiosos assim consideram a relação entre léxico e a ciência que a ele se dedica, por isso é comum a utilização do termo léxico por Lexicologia. Entretanto achamos conveniente fazer a separação entre léxico e a ciência que a ele dedica maior atenção: a Lexicologia.

Para alguns estudiosos do ramo, o léxico trata-se do saber partilhado que está na consciência dos falantes de uma determinada língua e sua constituição acontece por meio do acervo vocabular de um grupo sócio-histórico-cultural. É através da língua, sobretudo, do léxico, como alega Blikstein (2003, p.17), que podemos perceber e construir a realidade que nos cerca. Partindo desse patamar da língua, os falantes e ouvintes partilham valores, crenças, hábitos e costumes de uma comunidade, bem como inovações tecnológicas e as transformações socioeconômicas de uma determinada sociedade ou área de conhecimento.

Já pelo olhar de Biderman (2001, p. 13), além da questão cognitiva da realidade inerente ao léxico, este tem uma relação com o processo de nomeação. Ela explica ainda que o léxico é gerado por meio de atos sucessivos de cognição da realidade e da categorização da experiência que se cristaliza em signos linguísticos que designamos de palavras. De forma mais ampla, podemos considerar o léxico de uma língua como patrimônio vocabular de uma comunidade linguística, construído ao longo de sua história.

Sempre temos de advertir que o léxico vive em constante expansão, pois a cada momento as mudanças socioculturais e, sobretudo, o desenvolvimento científico e tecnológico fazem com que os repertórios dos signos sejam expandidos, para designar a realidade que ora se apresenta em cada comunidade linguística. O falante sente a necessidade de nomear suas

invenções e desenvolver novas noções, fato corriqueiro nas ciências do léxico, especialmente, no âmbito de pesquisa da Terminografia e da Terminologia.

Nessa esteira do léxico, é importante ressaltar a unidade lexical, a qual Pottier (1972, p. 26) denomina lexia, que trata-se de unidade lexical memorizada, podendo aparecer na língua por meio de formas simples, composta, complexa ou textual. Conforme ainda o autor citado, as lexias se estruturam a partir do(s) lexema(s), parte da lexia responsável pelo conceito e essencial para existência do conceito de lexia e de gramema, encontrada não em toda lexia, indicando a função dessa. Enquanto que, para Barbosa (1996, p. 34), a unidade padrão lexical é o lexema. O léxico pode ser encarado, pelo menos, sob duas faces: quanto à sua estrutura mórfica e quanto ao seu conteúdo semântico. Quanto à sua estrutura temos lexias simples e lexias complexas, sendo a primeira formada de apenas uma forma livre e a segunda composta de mais de uma forma livre, ou por uma forma livre combinada a uma forma presa. Tanto para a organização de obras lexicográficas e/ou terminográficas como para a pesquisa gramatical, o estudo das lexias complexas tem sido motivo de pesquisa. Na perspectiva da gramática, as lexias complexas são analisadas com o fim de descobrir os mecanismos sintáticos e semânticos que entram em jogo para a formação de tais estruturas. No caso da compilação de unidades lexicais em obras destinadas a dar informações lexicais aos usuários da língua, sobremaneira, a delimitação e classificação de tais lexias são utilizadas para elencarmos critérios de entradas e sub-entradas destas lexias complexas na obra em pesquisa.

O entendimento das lexias complexas e sua delimitação devem, consequentemente, ser observados pelo ponto de vista sintático, semântico e pragmático, pois na maioria das vezes, ao observamos apenas os aspectos fonológico e morfológico, acreditando-se tratar de uma mesma lexia, no entanto, ao observamos seu contexto em uso, é que podemos compreender que trata- se de uma lexia diferente. Esta se constitui uma das formas de delimitarmos tais lexias.

Um outro aspecto que vem a corroborar com a existência ou não da lexia complexa é a recorrência de uso da mesma e, que muitas vezes, ganham um significado completamente arbitrário a seus constituintes. Para considerarmos uma lexia complexa é preciso observar se esse uso já se cristalizou entre os usuários e se não se trata de um grupo léxico que foi criado no momento da interlocução. Esta discussão remete-nos a uma reflexão sobre que ciência(s) ou disciplina(s) poderia(m) ter como objeto de estudo o lexema ou a lexia. Em se tratando de língua geral, como já vimos anteriormente, a ciência que procura fazer um estudo sobre tais unidades é a Lexicologia e é sobre ela que discorreremos a seguir.

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