• Nenhum resultado encontrado

35

O trabalho foi desenvolvido nos municípios de Araponga e Divino, localizados na mesorregião Zona da Mata de Minas Gerais, em propriedades de agricultura familiar que adotam sistemas agroflorestais e orgânicos de produção, dando sequência aos trabalhados desenvolvidos no âmbito dos projetos de pesquisa em interface com a extensão, iniciados a partir da implementação dos projetos “Vacas para o Café: fechando o ciclo de produção orgânica de café”, e “Produção animal integrada a sistemas de produção agroecológicos e orgânicos na agricultura familiar” (apoiado pela FAPEMIG). Este trabalho também é resultante das ações do projeto Redes Nacionais de Pesquisa em Agrobiodiversidade e Sustentabilidade Agropecuária – REPENSA - Rede interinstitucional da cadeia produtiva do leite agroecológico, através do Edital MCT/CNPq/MEC/CAPES/CT AGRO/CT HIDRO/FAPS/EMBRAPA Nº 22/2010 do CNPq.

Para a construção da presente proposta, foi realizado um estudo etnográfico da produção de bovinos nas propriedades familiares agroecológicas. Esta metodologia é uma especialidade da antropologia, embora hoje ela seja usada sem restrições por praticantes de diversas áreas, em todos os tipos de cenários de pesquisa, que tem como premissa a análise de um objeto por vivência direta da realidade onde este se insere (Angrosino, 2009).

A opção pela metodologia qualitativa e, mais especificamente, pela pesquisa etnográfica, foi devido ao fato de permitirem “entender o entendimento do outro” (GEERTZ, 1997). E essa compreensão do “entendimento do outro” é premissa fundamental na construção do conhecimento. Dessa forma, essa metodologia foi adotada por se mostrar mais adequada ao objetivo aqui proposto, que é, em outras palavras, buscar o “entendimento” dos/as agricultores/as familiares sobre as formas de manejo e alimentação dos animais nas propriedades e seus significados.

As ações do trabalho foram orientadas pelos pressupostos teórico- metodológicos da pesquisa-ação (Tripp, 2005), sendo buscada, a partir da prática, a reflexão e a produção de um novo conhecimento, permitindo uma nova compreensão da realidade e a qualificação para uma intervenção diferenciada nesta realidade.

As coletas de dados ocorreram em um ambiente de construção do conhecimento agroecológico, envolvendo as dimensões ambiental, social, econômica, cultural e política da agricultura familiar da região. Buscou-se tratar os

36

aspectos relativos à vida das famílias de modo integrado, em uma perspectiva sistêmica, e não a partir de temas ou assuntos isolados. Assim, a metodologia utilizada incluiu a participação de grupos de agricultores e esteve sempre buscando uma continuidade lógica e uma integração entre os vários momentos em que se apresentam novos conhecimentos.

O trabalho compreendeu dois componentes metodológicos (quantitativo e qualitativo), os quais, longe de serem excludentes, complementam-se e foram imprescindíveis para o cumprimento dos objetivos pretendidos. O componente quantitativo compreendeu a avaliação bromatológica de amostras dos principais alimentos utilizados pelos/as agricultores/as para a suplementação dos animais, principalmente no período da seca, cujos procedimentos metodológicos serão descritos mais adiante. Nessa etapa, apesar de serem incluídas variáveis qualitativas, as mesmas foram trabalhadas de forma quantitativa.

A opção teórico-metodológica adotada para construção do componente qualitativo da pesquisa partiu do princípio orientado por Paulo Freire (1992), que enfatiza o respeito pelas demandas e significados da comunidade local. Sendo assim, a metodologia participativa foi eleita, uma vez que permite o diálogo e o contato direto com a realidade social do grupo em torno das questões abordadas no trabalho.

Foram priorizadas técnicas participativas num processo dialógico, integrando os vários sujeitos envolvidos na pesquisa. A escolha dessas técnicas permite construir uma linguagem particular a partir de diferentes significados e sentidos, sobre questões relativas às representações locais sobre práticas de produção animal e sistemas agroecológicos, atribuídos pela/as famílias. Permite identificar quão efetivamente os/as participantes são motivados/as para o tema central e categorias derivadas. Permite também avaliar a interação e comunicação entre sujeitos e grupos sociais diferenciados e a efetividade do intercâmbio técnico- institucional entre Universidade e agricultura familiar em transição agroecológica.

As técnicas do Diagnóstico Rural Participativo (DRP) se apresentaram como pertinentes dado seu caráter incentivador da participação individual, dialógico, reflexivo e com possibilidade de transformar a realidade. A experiência satisfatória já ocorrida na aplicação dessas técnicas é um aspecto que contribuiu para a opção por este encaminhamento teórico-metodológico.

37

O DRP não é um método para simplesmente coletar informações, já que possibilita que o/a próprio/a informante aponte os aspectos e questões que devem ser analisados e aprofundados pelo/a pesquisador/a. O DRP possui um conjunto de ferramentas úteis no mapeamento de uma realidade social e avaliação de um problema, proporcionando que a população local analise de sua própria realidade (Verdejo, 2006).

Nesse trabalho, as técnicas do DRP utilizadas foram a Caminhada Transversal e a entrevista semi-estruturada.

As entrevistas semiestruturadas com os/as agricultores/as foram utilizadas para a construção de dados sobre as práticas de produção animal, incluindo o manejo nutricional dos mesmos. As entrevistas envolveram as seguintes temáticas: composição do rebanho e características gerais de manejo sanitário e reprodutivo do rebanho (ANEXO A); características da produção leiteira na propriedade (ANEXO B); alimentação dos animais (ANEXO C) e critérios para aquisição/venda/troca de animais (ANEXO D). A observação participante perpassou todos os momentos de construção dos dados, sendo concebida como uma atitude do/a pesquisador/a frente ao objeto e local de estudo.

Após a realização das etapas acima descritas, foi feita a sistematização de todo o material coletado. Este procedimento permitiu compreender e tratar de forma qualitativa a realidade que se encontra em cada situação particular. (Holliday, 2006).

A análise de conteúdo foi o método utilizado para tratamento e análise das informações coletadas. Segundo Badin (1977), a análise de conteúdo pode ser definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Este método permite compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo e significados, estando estes explícitos ou ocultos. Busca reduzir o amplo volume de informações contido em uma comunicação, a algumas características particulares ou categorias conceituais, permitindo, desta forma, passar dos elementos descritivos à interpretação ou investigação da compreensão dos atores sociais no contexto cultural em que produzem a informação (Chizzotti, 1995).

O trabalho foi desenvolvido mediante autorização da Comissão de Ética no Uso de Animais – CEUA da UFV, protocolo número 89/2013, aprovado em 10/12/2013 (ANEXO E) e do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos –

38

CEP da UFV, parecer número 534.986, aprovado em 19 de fevereiro de 2014 (ANEXO F).