• Nenhum resultado encontrado

2. CAPÍTULO 2: Os Materiais Educativos

2.3. Análise dos materiais para os processos de Educação Ambiental crítica

2.3.1. Percurso metodológico para a análise dos materiais

A construção do nosso olhar para a análise dos materiais foi pautada na perspectiva da complexidade da Educação Ambiental crítica e sua característica de multireferencialidade. Para alcançar o objetivo proposto, adotamos a metodologia da analise textual qualitativa que, segundo Moraes (2005), pode ser entendida como um processo simultâneo de aprendizagem e comunicação, processo que envolve um mergulho profundo e uma impregnação intensa em elementos linguísticos relativos aos fenômenos investigados, pressupondo ao mesmo tempo uma reconstrução de modos discursivos implicados nos textos analisados. Os pilares da participação e cidadania, do diálogo de saberes, da sustentabilidade, da diversidade e da visão sistêmica, dialogados durante o caminho educativo da pesquisa, nos pautou na avaliação dos materiais.

Como instrumento de orientação para a análise, elaboramos um roteiro com base em elementos que consideramos essenciais no trabalho educativo e de acordo com as orientações de Carvalho (2006) e Carvalho et al. (1996). As/os autoras/es propõem que a práxis educativa relacionada às questões ambientais deve retratar as dimensões da natureza dos conhecimentos, dos valores éticos e estéticos e da participação política. Portanto, estas três dimensões foram buscadas na investigação e o roteiro foi composto de dois níveis: o das dimensões e o dos elementos que as compõem, chamados aqui de parâmetros. A partir da definição das dimensões a serem analisadas e do referencial teórico utilizado neste trabalho, foi possível traçar quais elementos inerentes à questão

ambiental em forma de questões que pudessem indicar como estas três dimensões estavam trabalhadas em cada uma das unidades de análise (Quadro 3).

Quadro 3. Roteiro de análise dos materiais escolhidos

Dimensão Parâmetros

Conhecimentos

1. Quais conteúdos e conceitos são abordados no material? 2. O título do material se aplica ao conteúdo abordado?

3. Como é abordado e representado o conceito de Bacia Hidrográfica? 4. As informações sobre a temática abordada apresenta uma relação com o

ecossistema e/ou bioma do entorno que traga uma visão sistêmica e contextualizada?

5. De que natureza são os conhecimentos/saberes abordados no material? Quais áreas/disciplinas envolvem? O material promove à articulação destes diferentes campos do saber, que criem possibilidades de se trabalhar a educação ambiental nas diferentes dimensões da biodiversidade?

6. O Material é destinado a qual público? As informações e linguagem estão adequadas ao público?

7. Apresentam modalidades de atividades didáticas? Tais como: Texto descritivo; Cartões com perguntas; Roteiros; Atividades; Jogos e dinâmicas.

8. Os objetivos do material ficam explícitos? Se sim, quais são os objetivos? Valores éticos e

estéticos

9. As ilustrações trazem características antropomórficas?

10. São apresentadas as inter-relações existentes entre a presença/influência humana e a bacia hidrográfica? Se sim, como a presença/influência humana é retratada?

11. Quais conteúdos/aspectos do material contribuem para sensibilização e construção de valores e práticas para a conservação e/ou manejo adequado do ambiente?

em relação à temática em questão? Participação

política

13. O material aborda as diferenças sobre o acesso e uso dos recursos naturais e sobre conflitos socioambientais que são gerados por essas diferenças? 14. A responsabilização pelos problemas ambientais e a busca de soluções são

atribuídas a quem? Há referência a responsabilidades compartilhadas entre os atores envolvidos no uso e conservação e/ou conflitos socioambientais trazidos no material?

15. Há no material a discussão sobre a legislação relacionada ao conteúdo ambiental?

16. Qual é o papel que se atribui à educação na solução dos problemas socioambientais?

17. O processo de elaboração participativa aparece no material?

18. Tendo a elaboração participativa, o material promove trabalhos participativos?

19. O material inclui orientações para a avaliação do mesmo?

Em uma análise semelhante, porém em livros didáticos do ensino formal, Marpica (2008) em sua dissertação de mestrado pontuou parâmetros e observou quais tendências11 os livros apresentavam. No nosso caso, por serem materiais elaborados em processos participativos e coletivos, baseados em relações dialógicas, optamos por não pontuar com notas os critérios avaliados, preferindo uma análise qualitativa e descritiva, para dar a oportunidade de avaliar aspectos positivos e negativos, dentro de uma mesma questão avaliada. Para cada uma destas dimensões foram verificados alguns elementos que compunham cada uma delas, pois entendemos que, de modo explícito ou implícito, ao se referir às questões ambientais, todos estes elementos aparecem no discurso, sendo enunciadas explicitamente ou através das áreas de silêncio e trazem significados distintos à prática educativa.

       11

Foram utilizadas quatro tendências para avaliar cada parâmetro no âmbito das dimensões estabelecidas. As tendências conservadora, pragmática e crítica utilizadas foram adaptadas da tese de doutorado de Silva (2007), e a tendência silenciosa foi baseada no conceito que Grün (1996) define como áreas de silêncio do currículo (MARPICA, 2008).

Tomamos o roteiro elaborado por Marpica (2008) como base para elaboração do nosso, porém adaptando-o com questões mais relacionadas ao contexto dos materiais escolhidos. Algumas perguntas foram propostas a partir de parâmetros definidos em outras pesquisas (DEL ÁLAMO et al. ,1999) e outros foram definidos por nós a partir de questionamentos pessoais e do grupo de pesquisa a que pertencemos como, por exemplo, a questão do antropomorfismo e da biodiversidade. O roteiro foi usado tanto para os materiais impressos quanto para os audiovisuais. A comunicação dos resultados obtidos no processo de análise deve expressar com clareza os sentidos lidos no corpus. Moraes (2005) e Navarro e Díaz (1995) defendem que esta comunicação, quando de qualidade, deve ser composta pela descrição do corpus e pela interpretação dos resultados obtidos. Para comunicar os sentidos lidos em todos os níveis de fragmentação do corpus, desconstruímos as tabelas por dimensões e discutimos por parâmetro o que observamos, de modo a explicitar os sentidos lidos na análise e, a partir da reflexão sobre ela, buscar superar a descrição das interpretações para alcançar níveis de teorização. A figura 8, a seguir, traz as fotos das capas dos materiais e as respectivas letras utilizadas como forma de facilitar a escrita da análise.