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como uma das vias da “democratização do ensino superior”, alegação presente tanto na produção acadêmica, apresentada no Capítulo

1.2 Percurso teórico-metodológico

Tendo em vista maior entendimento do tema de pesquisa, coletamos elementos para sua compreensão e empenhamo-nos em “ultrapassar a aparência em favor da conquista da essência” (EVANGELISTA, 2012a, p. 67). Realizamos um balanço de produção e uma análise documental tendo como norte apreender as características da formação inicial de professores da Educação Básica, em nível superior na modalidade a distância, realizada no período de nossa investigação (2003-2014). Trabalhamos também com alguns dados quantitativos, para captar a abrangência do sistema UAB.

Este caminho se fez necessário por concordamos com autores que entendem os documentos como expressão da realidade e do momento histórico, ocultando-os e revelando-os simultaneamente (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005; EVANGELISTA, 2012a). Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 427) assinalam que, ao mesmo tempo, são “produtos e produtores de orientações políticas”. Proporcionam elementos para apreensão da realidade, oferecendo “pistas, sinais, vestígios” que conduzem ao entendimento não apenas da aparência da fonte em si mesma, “mas dos projetos históricos ali presentes” (EVANGELISTA, 2012a, p. 58-59). Ressalve-se que, por serem

expressões de um momento histórico, os conteúdos dos materiais elidem, em geral, suas determinações históricas, pois os seus “sentidos não são dados nos documentos, são produzidos; estão aquém e além das palavras que os compõem” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 427). Se estes textos são expressões da história, propagam, também, os antagonismos da relação capital-trabalho, suas relações de classes e as contradições próprias do sistema capitalista. Para Evangelista (2012a, p. 52), neles estão presentes, “não apenas diretrizes para a educação, mas [...] interesses, projetam [...], [...] intervenções sociais”.

A racionalidade contida nos documentos é de extrema importância, pois nos permite compreender a concepção de professor presente nas políticas de formação inicial de professores na modalidade EaD. Partimos da perspectiva de Gramsci (1982) que entende os intelectuais como responsáveis pela elaboração e propagação de ideias e valores de sua classe social, nos campos político, social e econômico.

Os professores são considerados intelectuais orgânicos quando atuam na direção de manter o projeto capitalista, quanto numa perspectiva divergente de projeto de educação e sociedade. Sendo assim, é necessário entender como a classe burguesa projeta a concepção de professor a ser formado na modalidade EaD e por que esta modalidade vem sendo indicada como preferencial para sua formação. Segundo Evangelista e Triches (2012a, p. 279) a hegemonia da classe burguesa, “entre outras estratégias, é construída pela capacidade que a burguesia tem de fazer migrar seus interesses de classe para as mentes das classes subalternas. E aqui a escolarização, em todos os níveis é central”. E nela o professor, obviamente. Compreender a formação inicial do professor da Educação Básica, via EaD, é importante, posto que formará a classe trabalhadora e poderá ser mediador do projeto político hegemônico, burguês, ou contra-hegemônico, próprio da classe trabalhadora.

Em relação à análise documental, coletamos fontes que, em sua

maioria, foram produzidas no período entre 2003 e 201417; duas são

17 BRASIL. MEC. SEED. Indicadores de qualidade para cursos de graduação a distância (1998c); BRASIL. MEC. SESU. SEMTEC. INEP. CAPES. Relatório da Comissão assessora para educação superior a distância (2002a);

BRASIL. SEED. Referenciais de qualidade para educação superior a distância (2003); BRASIL. MEC. SESU. GRUPO DE TRABALHO EAD NO ENSINO SUPERIOR/GTEADES. Ações estratégicas em educação superior a distância

em Âmbito nacional (2004); BRASIL. MEC. Programa Pró-licenciatura:

anteriores a este recorte temporal18. A seleção deu-se por entendermos

que houve continuidade da política de Fernando Henrique Cardoso para a formação de professores e não uma ruptura. Em relação a essa continuidade, Leher (2004, p. 870) afirma que “o governo de Lula da Silva, apesar da sua especificidade esquerdista, e por estar envolto por uma aura de esquerda, pode dar nova forma à agenda neoliberal, tornando-a mais opaca e difícil de ser analisada e combatida”. Silva Júnior e Sguissard (2005, p. 9) comungam desta perspectiva:

Nenhuma grande ruptura; antes, a quase continuidade das teses defendidas e postas em prática pelo governo anterior, mais uma vez no mesmo diapasão das teses defendidas pelos organismos financeiros multilaterais, mas de incisiva intervenção no campo das políticas sociais públicas dos países, seja do centro seja da periferia ou semiperiferia.

Em relação ao balanço de produção, buscamos averiguar a produção acadêmica brasileira referente ao tema EaD, formação inicial de professores em nível superior e políticas educacionais no período de 2007 a 2014. Esta data se justifica, pois consideramos a dissertação de Júlia Malanchen (2007), As políticas de formação inicial a distância de professores no Brasil: democratização ou mistificação?, defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que abarcou os anos de 1995 a 2006, período referente aos mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2001) e Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2006). Nossa investigação centrou-se, então, no período imediatamente posterior, 2008-2014, dando continuidade à investigação de Malanchen (2007).

A coleta de dados quantitativos expressa a abrangência do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) no que tange à formação de professores em nível superior. Para tanto, pesquisamos no site do painel de controle do MEC (BRASIL, 2014b) os seguintes dados:

Aberta do Brasil (2005e); BRASIL. MEC. SEED. Referenciais de qualidade para educação superior a distância (2007d).

18 BRASIL. MEC. SEED. Indicadores de qualidade para cursos de graduação a distância (1998c) e Relatório da Comissão assessora para educação superior a distância (2002a).

número de IES integrantes, polos, matrículas de cursos de graduação e licenciaturas em cada estado brasileiro e no Distrito Federal. Estes números permitiram verificar a evolução do sistema desde sua criação (2005) até os dias atuais. Dados mais gerais foram coligidos no Censo EAD.br (ABED, 2012) da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), número de cursos em EaD nas IES e qualificação profissional (cursos livres e corporativos). Nos Microdados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)

(BRASIL, 2010b; 2011b; 2012d) obtivemos o número de cursos de

licenciaturas nas modalidades presencial e a distância, sendo isoladas algumas variáveis como: Nível Acadêmico – apenas graduação; Grau Acadêmico – apenas licenciatura. Recorremos também às Sinopses (BRASIL, 2009a; 2011), ao Resumo Técnico do INEP (BRASIL, 2009c; 2009b) e à tabela de divulgação dos dados do Censo do ensino superior 2012 (BRASIL, 2012b). No Censo verificamos o número de matrículas em licenciaturas na modalidade EaD, com o objetivo de captar a expansão da modalidade no período pesquisado.

As referências para o trabalho com as fontes coletadas relacionadas às políticas educacionais foram Evangelista (2012a) e Shiroma, Campos e Garcia (2005). Os autores de base para pensarmos o problema de estudo no que diz respeito à condição estrutural do capital foi Marx (1996) e Mészáros (2008; 2011). Os autores que ajudaram a pensar em relação aos indicadores (quantitativos e qualitativos) definidos nas políticas educacionais em nível mundial foram Popkewitz e Lindblad (2001). Ramos (2013) contribuiu para verificarmos como é tratado o termo qualidade no corpus documental. No que diz respeito à relação do Brasil com o contexto mundial, os autores que contribuíram foram Dale (2004), com o conceito de Agenda Globalmente Estruturada para a Educação (AGEE), e Fontes (2010) com o conceito de capital- imperialismo.

Na problemática vinculada à formação dos professores lançamos mão do pensamento de Gramsci (1982). Shiroma, Moraes e Evangelista (2002), Maués (2008), Freitas (2007), Barreto (2004; 2010), Malanchen (2007), Evangelista e Triches (2012a), Triches (2010) e Ramos (2011) contribuíram para entender os fundamentos da formação docente e do processo formativo na EaD. Neves (2013) possibilitou a compreensão da concepção de intelectual orgânico e da nova pedagogia da hegemonia. Nas discussões relacionadas ao ensino superior nos apoiamos em Mancebo, Bittar e Chaves (2012), Silva Júnior e Sguissard (2012), Segenreich, Morosini e Franco (2012) e Chaves, Amaral e Cabrito (2012).