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Comecei o processo de entalhe com o coração. Eu pensava que as emoções são a força que mobiliza. Assim segui. Escolhi entalhar em pedaços de mdf de 40 x 60 cm. E na primeira matriz eu me preocupei apenas com a figura. Não entalhei um fundo. Por isso mesmo, o coração é uma matriz que possui o fundo liso. Daí em diante, não tenho mais certeza da ordem. Mas depois que comecei com o coração, parti para os outros órgãos, já imaginando que seriam mais interessantes se fossem sete matrizes do mesmo tamanho. E antes de entalhar o coração, fiz um desenho mais realista da figura do coração retirado da ilustração de um livro didático de Biologia.

Figura 25. LIMA, Silvia. Caderno de Artista. 2017. Colagem sobre o Atlas de Anatomia Humana vol I de

Werner Spalteholz, edição de 1959. Fotografia R. Pfutzenreuter.

As páginas do Livro de Anatomia, em que interferi, possuem coladas as figuras do coração, retirado de um livro didático e meu desenho do coração, feito a grafite em 2015. Lembro que a Marta Strambi, professora do Instituto de Artes, ao ver meu desenho, sugeriu que eu fizesse um labirinto, imaginei que eu faria um labirinto de emoções. E as linhas circulares do coração tomaram minha atenção mais do que eu imaginava. Por isso segui entalhando o coração, com curvas, linhas circulares e pontos.

Figura 26. LIMA, Silvia. Coração série Órgãos. 2015. Dimensão 40x60 cm. Xilogravura azul claro sobre papel

E o mesmo fiz com o cérebro, assemelhando-se a um código. A partir deste momento, a matriz chamou mais a atenção do que a figura do cérebro. Então resolvi entalhar também o fundo. Fiquei interessada nas texturas do entalhe, mais do que na própria figura. Por isso, quando a professora Marta sugeriu que eu imprimisse as matrizes numa sobreposição, fiquei muito incomodada, pois não suportava sobrepor as linhas e vê-las interromperem a passagem uma da outra.

Figura 27. LIMA, Silvia. Cérebro série Órgãos. 2015. Dimensão 60x40 cm. Xilogravura azul claro

sobre papel alta alvura branco 220g. Fotografia R. Pfutzenreuter..

Continuei entalhando os pulmões. Eu já tinha estabelecido que entalharia os sete órgãos vitais. E segui com os pulmões depois do cérebro, porque pensei que a respiração vinha depois das emoções e das ideias; afinal, precisamos respirar. Trocar as energias internas

através do ar que entra pelos pulmões, são absorvidas através do sangue, provocam nosso relaxamento e ao mesmo tempo, nossa mobilização.

Figura 28. Pulmões série Órgãos. 2015. Dimensões 40x60 cm. Xilogravura azul claro

Daí, segui entalhando o útero. Pois, este órgão não apenas representa a criação como me caracteriza enquanto ser do sexo feminino. Em continuidade, entalhei o pâncreas, que representa a elaboração das energias e o processo. Senti-me em continuidade com a produção. Depois fui ao fígado, que representa a grandiosidade e a magnitude. E finalmente, entalhei os rins; com suas sinuosidades e ramificações, pensando na irrigação do nosso corpo bem como na irrigação da natureza.

Figura 29. LIMA, Silvia. Útero série Órgãos. 2015. Dimensões: 60x40cm. Xilogravura em branco sobre

Figura 30. LIMA, Silvia. Rins série Órgãos. 2015. Dimensões 60x40cm. Xilogravura sobre papel alta

Fui ao laboratório de gravura do IA tirar as provas e experimentei uma diversidade de papéis e cores. Usei papel canson azul, papel japonês de 9g, papel offset preto (que reagiu com a tinta branca, deixando-a lilás), papel craft (que dava uma aparência mais rústica ao trabalho) e papel alta alvura branco de 220g. Naquele momento, apenas experimentei as cores vermelha, marrom, laranja, branco e azul. Acabei optando pela cor vermelha e o papel alta alvura. Afinal, eu queria enfatizar a vida, a circulação do sangue, a troca de energias e a produção.

Na mesma época em que fiz as matrizes e as impressões dos órgãos, experimentei trabalhar com cologravura e utilizando o mesmo tema dos órgãos fiz uma variedade de matrizes colando pedaços de algodão grosso de calças jeans velhas, em pedaços de papelão de caixas, recortando ainda pedaços de embalagem de leite tetrapak e colando-os em cima. Com cologravura, não cheguei a fazer todos os sete órgãos. Algumas matrizes de cologravura podem ser obervadas empilhadas na mesa branca abaixo, mostrada na imagem.

Observando a figura 31, acima, à direita encontram-se várias matrizes de cologravura,

acima está uma do coração, abaixo desta está uma do fígado. Acima destas matrizes está a colagem sobre a tampa de uma caixa de mdf com a mão retirada de um livro de anatomia sobre papel cartão Vermelho. Abaixo ao lado esquerdo, aparece o fundo da mesma caixa de mdf com a colagem de papel cartão vermelho e sobre ele a digitalização do pedaço de topo que foi utilizado para vários desenhos posteriormente. Acima está uma matriz dos rins em mdf e acima uma matriz de cologravura com papel alumínio. No alto ao lado esquerdo, está uma das provas de serigrafia do coração.

Também experimentei linóleo, que foi bem mais macio de entalhar. Fiz poucas experiências com linóleo, que também não chamou muito minha atenção, a única experiência com linóleo de que gostei foi quando utilizei três pedaços do mesmo tamanho, fiz um pulmão em uma, uma máscara em outra e o pulmão dentro da máscara na terceira. Experimentei imprimir cada pedaço com uma cor diferente. Foram tonalidades de vermelho mais para o laranja, vermelho carmim e a tonalidade de vermelho mais para o marrom. Explorei as mais diversas tonalidades de vermelho, laranja e marrom; pois sempre me faziam lembrar do sangue que corre nas nossas veias e na terra; sendo o laranja um tom intermediário, de secreções, de excrementos, de pus e de limpeza do sangue e do corpo. Na figura a seguir, pode ser observada a impressão de duas dessas matrizes lado a lado. Uma da máscara e outra do pulmão.

Figura 32. LIMA, Silvia. Respiração3 série Linóleo. 2016. Dimensão 63x30 cm. Linoleogravura.

Fotografia R. Pfutzenreuter.

Figura 33. LIMA, Silvia. Respiração 2 Série linóleo 2016. Dimensão 44x32 cm. linoleogravura.

Então, fui recortar papel de 180g para fazer matrizes dos órgãos, revelando na mesa de luz e preparando as telas serigráficas. Em serigrafia fiz o coração, o útero, o pâncreas e os pulmões. Logo, surgiu a ideia de imprimir com tinta serigráfica misturando base transparente a fim de conseguir sobrepor as imagens de modo que as linhas continuassem sendo visualizadas sem interrupção, porque as interrupções realmente me incomodavam. Consegui produzir dois tipos de sobreposição de imagens serigráficas de que gostei: a do coração com o feto. Fiz em tons de laranja e vermelho e tons de vermelho e marrom. Gostei mais da primeira. E não cheguei a imprimir muitas cópias. Mas foram provas serigráficas que ficaram muito bonitas.

Figuras 34 e 35. LIMA, Silvia. Coração de mãe 1 e 2 Série serigrafia. Dimensão 60x40cm. serigrafia em tons

Experimentei uma sobreposição mais simbólica com os pulmões, sobrepondo uma ave, que gosta tanto do ar quanto gostamos de respirar. A ideia foi ótima, porém a conclusão não ficou tão boa quanto eu gostaria. Então, fiz poucas cópias e deixei-as de lado. Conforme se observa na figura a seguir.

Os pedaços de toco de madeira tipuna, de cerca de um metro de altura, que estavam esquecidos no jardim de casa, começaram a me incomodar. Passei bastante tempo pensando nisso, até que consegui que um amigo, cuja família vive em Porto Ferreira, que conhecia um madeireiro por lá, cortasse pedaços de topo para mim. O que eu não conseguia fazer em Campinas, devido a leis florestais e a má vontade de todas as madeireiras em que estive. Bom, enviei pela rodoviária até Porto Ferreira o toco de madeira, que voltou em oito pedaços. Alguns estavam mais estragados, outros, eu tentei lixar para preparar para o entalhe. Seja como for, deram origem a cinco matrizes de topo entalhadas, referentes às células: hemácias, renais, pancreáticas, esperma e óvulo, e do fígado. Conforme demonstro num trabalho de colagem dentro de uma pequena caixa. O que só ficou como experiência, mas pensei em chamar de Caixa de Pandora.

Figura 36. LIMA, Silvia. Caixa de pandora Série colagem em caixas. 2017. Colagem sobre caixa de

mdf de 15x15 cm e cinco pedaços de mdf circulares de 3cm de raio.

Comecei a entalhar em alguns pedaços de topo. Porém, não estava satisfeita com os desenhos. Logo, resolvi digitalizar o pedaço de topo no scanner de mesa que tinha em casa. Digitalizei um pedaço e comecei a desenhar. Os desenhos começaram a sair um melhor do que o outro. Agora, como o pedaço de topo de árvore é circular; deixei de entalhar os órgãos para entalhar as células. Então, fui pesquisar o formato das diferentes células do corpo humano. E descobri que há uma grande variedade. Escolhi algumas que existem dentro dos órgãos que eu já tinha escolhido.

Figura 37. LIMA, Silvia. Caixa de Água e Terra série Caixas. 2017.

Dimensões 30x30x6 cm. Xilogravuras em papel japonês 9g coladas sobre papel cartão marrom colados dos dois lados de caixa de mdf. Fotografia da artista.

Figura 38. LIMA, Silvia. Caixa de Água e Terra série Caixas. 2017.

Dimensões 30x30x6 cm. Xilogravura em papel japonês 9g colado sobre papel cartão marrom colado dentro da tampa de caixa de mdf. Dentro está

a matriz de topo de cujos lados foram impressas as figuras. Fotografia da artista.

Repeti estes desenhos sobre a digitalização do pedaço de topo inúmeras vezes. Comecei fazendo sobre os pedaços de topo e continuei fazendo em papel vegetal. Agora, utilizando grafite e caneta nanquim. Comprei caneta nanquim de outras cores além de preta. Utilizei vermelho, azul, verde. Fui desenhando e colorindo os mesmos desenhos. Porém não colori todos. Ficaram como experiências que pensei em aproveitar para fazer matrizes e gravar na mesa de luz, preparando-as para uma série de serigrafias. Planejei uma série, porém concluí em apenas duas; que realmente gostei de fazer.

Figura 39. LIMA, Silvia. Carrocel série Serigrafia. 2017. Dimensões 21x30 cm. Serigrafia em três

Figura 40. LIMA, Silvia. Giramundo. Série Serigrafia 2017. Dimensões 21x30 cm. Serigrafia nas cores

marrom, bege e preto sobre papel vegetal 200g. P/A Fotografia da artista.

Junto com esta série de células serigráficas, fiz mais uma série de desenhos e tive minhas primeiras experiências com xilogravura de topo. Utilizei o mesmo pedaço e entalhei dos dois lados. Não ficaram muito boas. Então, a professora Luise Weiss, viu meus entalhes e sugeriu que eu fosse ao atelier do Officina, na Vila Mariana para aprimorar o uso dos buris. Segui seu conselho, porém somente um ano depois.

Neste tempo, resolvi reunir as matrizes xilográficas dos órgãos com a produção de uma linguagem imagética que elaborei a partir dos desenhos das células. Só que agora, utilizei EVA. Desenhei e recortei algumas células, cujos desenhos achei mais interessantes. A partir daí, à medida em que eu recortava os pedaços de EVA, ia montando novas figuras, que tinham surgido do desenho das células, estes passaram a caracterizar outras coisas, não apenas as

células. Fui realmente brincando com as figuras, os pedaços de EVA e as células. Montei uma série de carimbos. Fiz várias impressões sobre papel canson branco, sempre utilizando as cores vermelha, laranja e marrom. Algumas montagens ficaram muito interessantes. Carimbei várias figuras e guardei.

Figura 41. LIMA, Silvia. Brincadeira pulmonar série Carimbos 2017.

Dimensões 21x30 cm. Estampagem em Vermelho sobre papel canson branco 180g. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Figura 42. LIMA, Silvia. Brincadeira pulmonar série Carimbos 2017.

Dimensões 21x30 cm. Estampagem em Vermelho sobre papel canson branco 180g. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Então, a professora Luise sugeriu que eu reunisse as matrizes dos órgãos com os carimbos. E indicou que eu utilizasse o trabalho de impressão do Reginaldo, que no momento fazia impressões de alguns trabalhos dela. Fui até o atelier da professora num sábado e conversei com o Reginaldo sobre como faria para reunir as impressões. Então, lembro de que ele comentou que não daria para imprimir juntos matrizes de mdf e carimbos de EVA, mesmo que este EVA estivesse colado sobre pedaços de mdf, porque o material não aguentaria a força da prensa.

Por isso, voltei para casa, carimbei pedaços de mdf cortados em tiras, como se fossem linhas escritas. Entalhei estas tiras e levei para imprimir na gravura da Escola de Comunicação e Artes da USP, com a ajuda da Luise, que pediu licença para eu utilizar o espaço. Teve que ser na ECA, porque no laboratório de gravura da Unicamp não havia uma prensa grande o suficiente para reunir as matrizes e imprimir no tamanho de uma folha de 66x82 cm, conforme o tamanho de papel que tive que utilizar. Também devo acrescentar o planejamento de comprar o papel adequado em dois pacotes de 100 folhas de papel alta alvura 220g. Na figura a seguir mostro três das tiras carimbadas e entalhadas para imprimir juntamente com as matrizes dos órgãos.

Figura 43. LIMA, Silvia. Tiras celulares 2018. Dimensões 5x60 cm. Estampagem sobre

pedaços de mdf com entalhe. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Combinei com o Valdir, impressor que trabalha na ECA, de me ajudar a fazer o trabalho. Fui lá todos os dias, durante dez dias no mês de julho, para aproveitar um momento em que o Valdir pudesse me ajudar e eu não atrapalhasse os alunos da Faculdade de Artes Plásticas da USP. Acompanhei todo o processo de preparação do registro (que, aliás, eu tinha desenhado em folhas grandes de papel vegetal 200g).

Na figura, a seguir, está o desenho de uma das folhas de papel vegetal que serviu de registro para as impressões. Nele desenhei com lápis grafite e usei caneta nanquim preta e vermelha. Note-se que inicialmente eu pretendia nomear cada um dos pôsteres de acordo com o título que dei a cada peça do trabalho. Porém, mesmo deixando espaço para acrescentar o

texto em serigrafia, conforme eu pretendia, decidi não acrescentar uma vez que pareceu belo o suficiente, depois das excelentes impressões que ficaram das matrizes de xilogravura.

Figura 44. LIMA, Silvia. Fluidez 2018. Registro

desenhado em papel vegetal 200g com grafite e caneta nanqum preta e vermelha.

O papel vegetal era colocado embaixo do vidro, que ficava na mesa da prensa, e acima dele eram acertadas as matrizes. Ficando sempre niveladas, o que às vezes dava muito trabalho; uma vez que eu não tive a preocupação anterior de nivelar os pedaços de madeira. Usamos muito papelão para acertar a altura, testamos antes de fazer a impressão. E só então cada matriz era entintada: vermelho, os órgãos e marrom, as tiras com o código elaborado.

Detalhe: eu tinha perdido as matrizes do cérebro, dos rins e do fígado; talvez na mudança de casa que realizamos neste período. Então, ainda tive que imprimir novamente do

mesmo jeito. Embora tenham ficado um pouco diferentes das primeiras matrizes. Assim, pensando na importância das mãos neste trabalho de embate com a matéria; principalmente, no meu processo de entalhe da matéria dura, resolvi desenhar e entalhar as mãos. Tiradas do desenho das minhas próprias mãos e similar aos ossos das mãos, o que foi observado no Atlas de Anatomia. Desta vez, fiz questão de tirar o fundo das figuras. Porém, depois de impresso, notei que os traços irregulares que desenhavam o fundo das figuras, ficaram muito interessantes, dando um aspecto ancestral ao trabalho. Justamente, o que eu buscava devido à minha admiração pela arte rupestre brasileira, que datam de milhares de anos. O conjunto ficou muito bonito.

Cheguei a testar algumas matrizes coloridas que eu tinha produzido anteriormente, porém não ficaram tão bonitas como a escrita hieroglífica que eu criei. Conforme pode ser observado na figura a seguir, em que utilizei as três matrizes dos rins: uma vermelha, uma azul e uma amarela, para imprimir os rins coloridos. Considerei que esta impressão não tinha ficado tão bonita quanto as outras que eram somente vermelhas.

Figura 45. LIMA,Silvia. Rins colorido série Cartografia do corpo humano 2018. Dimensões 62x88cm.

Xilogravura nas cores marrom, preto, azul, amarelo e vermelho sobre papel alta alvura branco 220g.Impressão Valdir Teixeira. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Logo, somadas às matrizes dos sete órgãos, eu tinha ainda a das mãos e a última com todas as tiras do código criado. Por isso denominei este poster de Codificação.

Figura 46. LIMA, Silvia. Codificação série Cartografia do corpo humano 2018. Dimensões 62x88 cm.

Xilogravura em marrom sobre papel alta alvura branco 220g. Impressão Valdir Teixeira. Fotografia R.Pfutzenreuter.

Deste modo, concluí a série que chamei de Cartografia do corpo humano, com pôsteres grandes semelhantes a mapas; que_ inicialmente, eram para ser um livro_ possuíam em comum a localização dos órgãos do corpo humano, ou talvez, a localização de uma simbologia do corpo e da vida.

Figura 47 LIMA, Silvia. Magnitude série Cartografia do corpo humano 2018. Dimensões 64x88 cm.

Xilogravura em vermelho e marrom sobre papel alta alvura branco 220g. Impressão Valdir Teixeira. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Na realidade, a gravura, em especial a xilogravura de topo, foi o que mais desenvolvi neste projeto; o qual, em meu mergulho interior, levou ao uso específico dos buris e ao estudo da gravura como ocorria na baixa Idade Média, com o trabalho das guildas. Detalho, portanto, meu processo enfatizando o uso de determinadas técnicas e instrumentos.

Figura 48. LIMA, Silvia. Bellatrix série Estelar 2018. Dimensões 32 cm diâmetro. Matriz de topo entalhada em

madeira tipuna a buril quadrado, plano, facetado e onglete. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Este trabalho de poéticas da criação foi aprofundado com a produção de gravuras. Dentro desta técnica, tive um grande aprendizado acompanhando o gravador Luiz Carlos Officina, cuja paciência e bondade foram capazes de me ensinar bastante.

Com o impressor Valdir, pude observar como para realizar um projeto grande é necessário um bom planejamento, partindo da altura dos pedaços de madeira, bem como o tipo de madeira, até mesmo o tipo e tamanho de papel e o tamanho da prensa. Foram aprendizados possíveis graças à convivência com um impressor profissional, que prestou todo o auxílio necessário.

Informo que, como a impressão computadorizada surgiu com a vantagem de aumentar o número de cópias do trabalho realizado, foi esta a opção que utilizei ao imprimir as cópias da tese de doutorado. Ainda assim, as cópias de gravura realizadas por impressor foram

poucas, cerca de dez para cada conjunto de matrizes e menos ainda quando realizei provas de artista ou experimentei outras matrizes.

Meu trabalho assumiu a busca do ancestral, sai do externo para o interno e, olha mais profundamente, quanto de nós existe fora e quanto o conhecimento do ancestral abre novas perspectivas e possibilidades de realização do contemporâneo; talvez até mesmo descobrindo soluções para problemas atuais que não tinham sido cogitadas. Afinal, o homem que não conhece sua história não possui futuro.

Figura 49. LIMA, Silvia. Concepção série Cartografia do corpo humano 2018. Dimensões: 66x82 cm.

Xilogravura nas cores Vermelho e marrom sobre papel alta alvura branco 220g. Impressão Valdir Teixeira. Fotografia R. Pfutzenreuter.

Relato a partir daqui meu processo no atelier de gravura de Luiz Carlos Officina13, onde descobri sobre os buris, como utilizá-los e seu contexto de uso, que foi o da baixa Idade Média.

Os buris continuam a ser utilizados na gravação de metais de joias, que é o trabalho do ourives; no entanto, utilizo o buril para gravar em madeira; pois conforme aprendi com Luiz Carlos, o buril pode ser usado na madeira de topo assim como na madeira de fio, tudo depende do cuidado ao utilizar a ferramenta.

Figuras 50 e 51. Luiz Carlos Officina empunhando o buril e demonstrando a empunhadura medieval no seu

ateliê em 2018. Fotografia da autora.

13 ATELIER DO OFFICINA

No ano de 2000, Officina iniciou a montagem do seu Atelier situado na Vila Mariana – SP, que abrange uma área total de aproximadamente 300 m2. Foi gradativamente aumentando a área construída e dotando-a dos

equipamentos e ferramentais necessários para a execução de todas as técnicas de gravura (prensas elétricas de

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