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2.3 Poder Judiciário

51 PERELMAN, Chaím Ético e Direito, p.161-2.

O Estado Democrático de Direito implica na função política do Judiciário, e a luta pelo seu aperfeiçoamento envolve, além da questão material, uma conscientização da expressão social, na busca do respeito aos direitos humanos.

A justiça deve ser vista sob o prisma social. A índole justa é revestida de um desejo firme e eficaz de agir com justiça. Os conflitos de interesses surgem, quando ocorre participação melhor ou maior de uns do que de outros. O senso de justiça é a capacidade de entender, aplicar e agir a partir da concepção de justiça (pública), que caracteriza os termos eqüitativos da cooperação social. As autoridades devem agir de boa-fé e serem reconhecidas dessa forma. O princípio da liberdade deverá ter a prioridade sobre qualquer outro, mas sempre associado à igualdade de oportunidades, que levará à redução das desigualdades.52

A adequação e a proporcionalidade dos atos públicos devem estar presentes quanto ao fim objetivado pelo direito, realizando as metas constitucionais. A ponderação é exigência básica quando se fala em solução justa de conflitos. A materialização de valores jurídicos de um povo corresponde à própria consciência e vontade geral dele, não obstante o

pluralismo jurídico num mesmo âmbito social.

A justiça, tanto material quanto axiológica, instaura-se como princípio fundamental, quando efetivamente eficiente. O processo de pensamento, que amplia a Justiça aos excluídos, busca na figura do juiz, por exemplo, um reequilíbrio da igualdade quando uma das partes é comprovadamente mais pobre.

A finalidade não é fazer uma justiça ‘mais pobre’, mas torná-la acessível a todos, inclusive aos pobres. E, se é verdade que a igualdade de tódos perante a lei, igualdade efetiva - não apenas formal- é o ideal básico de nossa época, o enfoque de acesso à justiça só poderá conduzir a um produto jurídico de muito maior ‘beleza’ -ou melhor qualidade- do que aquele de que dispomos atualmente.53

5i RAWLS. John. Unia teoria da justiça.

A demora da prestação jurisdicional, referida anteriormente, nega a justiça e é uma barreira ao seu próprio acesso, além de estimular a violação de muitos direitos, que resulta, ainda, no afastamento de vários valores constitucionais do cidadão que não acredita mais na força constitucional. A Justiça mais célere gozará de melhor receptividade da sociedade, servindo melhor ao fim a que se destina. A demora angustia as pessoas, sendo maior o prejuízo para quem é pobre, e como a resistência econômica é estreita, fica insuportável a espera. É mais um direito violado, vez que o princípio da inafastabilidade diz respeito à tutela jurisdicional frente a um direito material. O próprio respeito ao Poder Judiciário está embutido no comportamento temporal do processo.

A segurança jurídica permite maior desenvolvimento e civilização de um povo. Entretanto, só haverá maior justiça quando os conflitos sociais forem resolvidos em conformidade com os ditames constitucionais, numa freqüência constante e precisa. Ao se ressaltar a base deste estudo, observa-se que os princípios constitucionais são básicos numa ordem jurídica durante todos os procedimentos jurídicos. São pilares de refugio dos valores humanos na aplicação de uma correta solução, com equilíbrio e legitimidade para a sociedade. E também questão de consciência ética.

A paz social é elementar na convivência dos cidadãos, sendo possibilitada pelo direito objetivo advindo da soberania. Isso se deve ao constante interesse estatal que deve ocorrer na observância de direitos que o próprio Estado prescreveu, diante do caráter público da norma jurídica.

O Poder Judiciário como um todo deve saber interpretar e compreender as aspirações de um povo, com vistas a melhor aplicar o direito, reduzindo as desigualdades sociais e buscando promover o bem comum, eliminando quaisquer formas de discriminação. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, deve ser garantia de estabilidade, comprometida com os fundamentos do Estado Democrático de Direito.

A partir do momento em que é deferida a concessão da gratuidade jurídica integral, o cidadão tem o direito de usufruir legalmente de todas as prerrogativas atribuídas e valorizadas nas terminologias integra/e jurídica, advindas da força constitucional. Entretanto, o benefício da justiça gratuita pode ser revogado, quando provada a inexistência dos requisitos econômicos que autorizaram primeiramente a sua concessão. Dessa revogação cabe apelação. Se o pedido for deferido no curso da ação, admitir-se-á o agravo de instrumento. O mandado de segurança também será cabível, para dar efeito suspensivo à apelação ou ao agravo, dando garantia da gratuidade no curso do processo.

Nos últimos anos, a legislação brasileira sofreu várias modificações, algumas diretamente ligadas à promulgação da Constituição Federal, outras anteriormente aventadas e iniciadas. Dentre as normas constitucionais que asseguram o acesso à Justiça, além da assistência jurídica integral e gratuita aos carentes (artigos 5o, inciso LXXIV e 134), pode-se ressaltar: a) a justiça de paz, preceituada no seu artigo 98, que é um instrumento salutar se se analisar o seu lado conciliatório e a sua utilidade pública na resolução de pequenos conflitos, ajudará no melhor andamento do Judiciário, não o sobrecarregando; b) princípio da isonomia ou da igualdade processual; c) princípio da indecliriabilidade da jurisdição (artigo 5o, inciso XXXV); d) princípio do devido processo legal (artigo 5o, inciso LIV); e) princípio do contraditório (artigo 5o, inciso LV); f) princípio do juiz natural (artigo 5o, incisos XXXVII e LIII); g) princípio da imparcialidade do juiz; h) princípio da ampla defesa (artigo 5o, inciso LV); i) princípio da licitude das provas (artigo 5o, inciso LVI); j) princípio da publicidade dos atos processuais (artigo 5o, inciso LX) e o princípio da publicidade dos julgamentos (artigo 93, inciso IX); k) princípio da necessária fundamentação das decisões (artigo 93, inciso IX), 1) princípio do duplo grau de jurisdição; m) princípio da necessária representação por advogado (artigo 133); etc.

Acrescentar-se-á a Lei n.° 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é dedicada basicamente ao acesso à Justiça, com mecanismos legais necessários à efetividade dos direitos materiais (embora não se tenha integralmente da maneira estabelecida, até a presente data), além do Código de Defesa do Consumidor, datado de 11 de setembro de 1990 (Lei n.° 8.078), que também é um avanço na proteção do consumidor e seu acesso à Justiça. Há, ainda, outras inovações, como a própria reforma do Código de Processo Civil Brasileiro, os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, os amparos na justiça criminal e nas leis trabalhistas, como a de n.° 5.584 de 1970 e suas alterações (por exemplo, a alteração feita pela Lei n.° 7.510 de 1986). A Lei n.° 5.584 dispõe sobre “normas de Direito Processual do Trabalho, altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, disciplina a concessão e prestação de assistência judiciária na Justiça do Trabalho e dá outras providências”. São garantias ao cidadão desprovido de recursos financeiros. Devem ser aplicadas, para que a Justiça se garanta e assuma o lugar digno de sua missão, que é de confiança, respeito e solução na vida de todo aquele que vier a precisar de sua ação.

O Direito e a justiça deverão estar entrelaçados, procurando o legislador justo formular regras que sejam vinculadas a interesses sociais, cuja execução prime pela realização dos valores e dos fins que correspondem às aspirações de toda comunidade. O homem deve usar a imprecisa técnica social para alcançar, com determinados meios, os fins tidos como bons. Além da legislação, existem outras espécies de técnica social com seus respectivos meios, como a educação e a política de informação prática em geral, que podem ajudar e valorizar o verdadeiro ingresso à cidadania. A ética explanada é de suma importância na consubstanciação da justiça, dependendo, por vezes, de pura luta política e solidária.