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PERFIL CONCEITUAL DE SUBSTÂNCIA E SUAS POSSIBILIDADES DE USO

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CAPÍTULO 1: PERFIL CONCEITUAL E A HETEROGENEIDADE DE IDEIAS EM

1.2 PERFIL CONCEITUAL DE SUBSTÂNCIA E SUAS POSSIBILIDADES DE USO

Sobre o conceito de substância Silva (2011) e Silva e Amaral (2013), propõem um perfil composto por cinco zonas utilizando, para tanto, a metodologia própria do programa de pesquisa que leva em consideração os compromissos epistemológicos e ontológicos5 e envolve o levantamento de ideias presentes em fontes secundárias de história da ciência, concepções de estudantes obtidas a partir da aplicação de questionário e entrevista. Os dados foram interpretados a partir de diferentes categorias construídas, agrupando-se respostas semelhantes que os estudantes deram aos instrumentos aplicados e à análise da literatura em Ensino de Ciências e de História da Química.

Cada zona do perfil conceitual de substância proposto representa modos de pensar que podem estar associados a determinados contextos e, ao conhecer essas diferentes concepções, o professor poderá planejar o ensino de modo mais eficiente (AMARAL; MORTIMER, 2011; SILVA; 2011; SILVA; AMARAL, 2013). Desse modo, “ele terá conhecimento de que possíveis concepções podem emergir durante a aula e saber situá-las em contextos adequados” (SILVA; AMARAL, 2013 p. 69). As zonas do perfil conceitual de substância proposto são: zona generalista; zona essencialista; zona substancialista; zona racionalista e zona relacional. Em trabalho subsequente, Silva e Amaral (no prelo) propõem uma modificação para uma das zonas do perfil, a zona essencialista, que passará a chamar-se zona utilitarista/pragmática.

Na zona generalista, incluem-se as concepções que consideram substâncias como algo palpável, real, sem apresentar qualquer esforço de sistematização ou diferenciação entre substâncias, materiais e elementos (SILVA, AMARAL, 2013), são concepções que evidenciam as totalidades em detrimento das partes (SILVA; AMARAL, no prelo). Um exemplo representativo de formas de falar, citado pelos autores é: “Substância é tudo aquilo que está em nossa volta. Quase tudo o que

vemos no mundo é uma substância química”, tratando-se, portanto, de uma

generalização.

Sabino e Amaral (2015) afirmam que, no modo de pensar relacionado a essa zona, prevalecem ideias intuitivas associadas à uma noção vaga de que a substância encontra-se em tudo, sem haver distinção. As autoras, ao investigarem a emergência das zonas do perfil conceitual de substância na fala de estudantes em diferentes atividades, observaram que a zona generalista apareceu com maior frequência em atividades realizadas nas primeiras aulas e quando discutiam aspectos microscópicos do conceito, o que resultou de dois fatores: a emergência de ideias intuitivas/ingênuas dos estudantes e a sua dificuldade de compreender os aspectos microscópicos, levando-os a expressarem suas ideias de forma demasiado vaga. A generalização, no caso dos ácidos/bases, pode estar relacionada a dizer que a acidez/basicidade ou que ácido/base é o próprio material a que se refere, não havendo distinção entre material, produto, meio, substância.

De acordo com Silva e Amaral (no prelo), a zona utilitarista/pragmática reúne concepções em que a substância aparece como essência das coisas, associando substâncias a aplicações, nas quais elas adquirem importância na nossa vida, sem que, necessariamente, haja suporte científico para essas considerações.

Uma possível aproximação ocorreria por meio de modos de pensar e formas de falar que remetam ao estudo dos ácidos/bases a partir dos benefícios/malefícios aos seres humanos ou da sua importância na vida e no meio ambiente, a exemplo dos problemas causados pela ingestão excessiva de alimentos com acidez elevada, a acidez/ basicidade não controlada de mares e rios, o contato com produtos ácidos que podem causar queimaduras e/ou irritação. Quer dizer, determinado produto/ substância é ácido/base se reflete de tal maneira na vida das pessoas e/ou no ambiente, diferenciando-o de outras entidades a partir de seus “efeitos” positivos ou negativos.

Concepções de substância que estão associadas as suas diversas propriedades, que são materializadas e ganham o status de uma característica intrínseca dos materiais, são incluídas na zona substancialista (SILVA, 2011; SILVA; AMARAL, 2013). De acordo com Silva e Amaral (no prelo), nessa zona já são identificadas formas de falar que se relacionam com ideias científicas, como a

compreensão da existência de compostos, no entanto, as propriedades físicas e químicas são manifestadas também nos seus constituintes.

Ao transferir as propriedades das substâncias para seus constituintes, por exemplo, quando uma substância é extraída de uma fonte natural e processada para ser utilizada em um medicamento, acredita-se que as propriedades das substâncias são modificadas (SILVA; AMARAL, 2013; SABINO; AMARAL, 2015). A partir dessa zona, podemos analisar concepções sobre ácidos/bases que incluam ideias como: uma substância/material/produto é ácido; a substância ácida corrói; ácidos possuem sabor azedo; isto implica que “a substância não apresenta propriedades, mas ela é a própria propriedade dos materiais” (SILVA; AMARAL, 2013, p. 65).

A zona racionalista inclui concepções que representam os níveis macro e microscópico para conceitualização de substância. No nível macroscópico, temos a caracterização das diversas substâncias pelas propriedades, consideradas como fatores determinantes na identificação de diferentes substâncias, de forma que são consideradas inalteráveis e únicas para cada uma delas (SILVA, 2011; SILVA; AMARAL, 2013). Os autores exemplificam esse pensamento a partir de um exemplo relacionado aos ácidos: podemos observar esse pensamento quando a propriedade ácida é atribuída ao cloreto de hidrogênio, no entanto, a acidez só pode ser verificada quando a substância interage com a água. É possível reconhecer uma hierarquia, onde as substâncias ácidas podem compor as diferentes misturas.

Para os ácidos, o nível macroscópico se coloca como uma transição entre as zonas substancialista e racionalista, já que, em ambas, há menção às propriedades. Não há, inicialmente, como distinguir se o modo de falar do sujeito sobre as propriedades está relacionado a uma compreensão do senso comum ou baseado em concepções cientificas. Na visão microscópica relacionada à zona racionalista, podem ser incluídas ideias de que os ácidos são caracterizados a partir da presença de determinados elementos químicos e/ou configuração química (como a presença de par de elétrons não ligados, por exemplo). Diferenciar tipos de ácidos a partir da sua constituição, diferenciar substâncias que são caracterizadas como ácidos de Arrhenius, Brönsted-Lowry ou Lewis, a partir do que propõe cada teoria/modelo.

A zona relacional inclui um nível de compreensão mais complexo, no qual as relações das substâncias entre si, com o meio e a energia são determinantes para a conceitualização. As propriedades são vistas como um jogo relacional e não como

parâmetros completamente definidos (SILVA; 2011; SILVA; AMARAL, 2013). A afirmação de que “para um químico do século XVIII, por exemplo, a concepção de que uma substância com propriedades ácidas, em determinadas condições, pode se comportar como uma base seria considerada totalmente errada” (SILVA; AMARAL, 2013, p. 67) nos dá pistas de como analisar as concepções de ácidos a partir da referida zona.

Não é possível caracterizar uma substância como ácida, a não ser que a mesma esteja em interação com outra, que se comporte como base. Ainda, segundo Silva e Amaral (2013), a mesma substância pode ter o que chamados de comportamento ácido ou básico a depender do meio em que se encontra, com qual(is) substância(s) interage, corroborando o que colocam Campos e Silva (1999):

[...] é preciso considerar que, devido à noção de relatividade no comportamento das espécies químicas, a rigor ácidos e bases, concebidos como “conjunto de substâncias com propriedades químicas semelhantes”, não existem. O que há é um modo de se comportar quimicamente: comportamento ácido e comportamento básico. Assim, diante do sódio metálico, a amônia comporta-se como ácido, formando íon amideto. Porém, diante da água, a amônia comporta-se como base, formando íon amônio. Apenas aquelas espécies que apresentam esses comportamentos em grau muito acentuado se aproximariam do conceito estabelecido para função. (CAMPOS; SILVA, 1999, p. 19)

A aproximação entre as zonas do perfil conceitual de substância e as concepções de ácido/base pode apontar para uma ampliação dos perfis conceituais, inicialmente propostos para ontoconceitos, em direção à compreensão de conceitos subjacentes. Ainda, o perfil pode ser utilizado para organizar as diferentes formas de falar e modos de pensar em categorias relacionadas às zonas propostas. Essa relação poderá levar a uma melhor compreensão acerca dos diferentes contextos, grupos ou comunidades em que o conceito ganha sentido.

Para esta tese, os modos de pensar sobre o conceito ácido/base terão como embasamento a seguinte classificação: zona generalista, para visões em que a acidez/basicidade é o próprio componente ou quando não há distinção entre o que se entende por substância ácida/básica, elemento ácido/básico, meio ácido/básico, produto ácido/básico ou solução ácida/básica; zona utilitarista/pragmática, quando os ácidos/bases são tomados de modo funcional/utilitarista, estando presentes ou ajudando em situações/atividades corriqueiras do cotidiano, bem como sinônimo de algo material. Relacionam os ácidos aos malefícios/benefícios para o ser humano;

zona substancialista, quando o indivíduo não distingue aspectos macroscópicos de

microscópicos na caracterização dos ácidos/bases ou transfere a propriedade ácida/ básica para os constituintes das substâncias; zona racionalista, que apresenta uma

visão macroscópica de ácido, quando se define substâncias ácidas/básicas a partir das propriedades físicas, químicas ou organolépticas, e uma visão microscópica de ácido, quando apresenta a noção de que os ácidos são caracterizados a partir da presença de determinados elementos químicos e/ou configuração eletrônica (um par de elétrons não ligados, por exemplo). Diferenciam-se tipos de ácidos a partir da sua constituição; e zona relacional, que demonstra a visão articulada das propriedades das substâncias, uma tal consciência de que ao falar de acidez/basicidade, devemos sempre considerar a interação com o meio ou comportamento de uma determinada substância diante de outra(s). Distingue as diferentes teorias ácido/base. No capítulo 4, abordaremos o conceito de CoP (comunidades de prática), antes, apresentamos, brevemente, algumas concepções e teorias ácido/base.

CAPÍTULO 2: CONCEPÇÕES E TEORIAS DO CONCEITO DE ÁCIDO/BASE E A

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