• Nenhum resultado encontrado

A UNIVERSIDADE, OS CURSOS, AS FORMADORAS E OS LICENCIANDOS: UMA CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA

2. O perfil das formadoras entrevistadas

Os dados mostram que os perfis das quatro professoras entrevistadas apresentam alguns pontos comuns, tanto na formação quanto no desempenho de atividades profissionais. As quatro professoras são pedagogas, formadas em universidades públicas (federal e estadual), duas delas começaram a exercer o magistério como professoras do primeiro segmento do ensino fundamental. As outras duas iniciaram suas atividades profissionais lecionando em cursos de magistério nível médio. Três delas trabalharam na Secretaria de Educação do Estado do Amapá, onde desempenharam funções técnico-pedagógicas. Elas

exercem cargos efetivos na cadeira de Didática na Universidade, com contrato de trabalho de 40 horas semanais, em regime de dedicação exclusiva. No momento, as quatro professoras não estão desenvolvendo pesquisa, por isso a carga horária de trabalho está sendo integralmente dedicada às atividades de ensino15. Uma visão mais detalhada das trajetórias destas professoras pode ser encontrada a seguir no Quadro 2.

Quadro 2

Perfil profissional dos professores formadores

Professores Perfil

AMF

Solteita, 33 anos, graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, numa Universidade Federal; iniciou suas atividades profissionais em 1994, em instituição privada, como professora de 1ª a 4ª série do ensino fundamental; trabalhou durante 5 anos como professora e 1 ano como coordenadora pedagógica das séries iniciais; iniciou carreira no magistério publico estadual a partir do ano de 1995, como professora de matemática, atuando no segundo segmento do ensino fundamental (5ª a 8ª série), trabalhando posteriormente como orientadora educacional, na rede estadual de ensino, tendo ainda desempenhado atividade técnico-pedagógica durante 2 anos na Secretaria Estadual de Educação do Estado do Amapá. Foi professora substituta na UNIFAP durante 2 anos, aprovada em concurso para a cadeira de Didática, tornou-se professora efetiva da instituição há 2 anos.

ACA

Casada, 37 anos, graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, em Universidade Estadual. Possui especialização em administração escolar. Atuou 2 anos como professora na rede estadual de ensino, no curso de magistério (nível médio), trabalhou também na Secretaria de Educação do Estado do Amapá, na Divisão Técnico-pedagógica. É professora efetiva da UNIFAP, na cadeira de Didática, desde 1994.

MG Casada, 34 anos, graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, com habilitação em administração

escolar, em Universidade Estadual . Iniciou suas atividades profissionais como professora no curso de magistério (nível médio). É professora efetiva da UNIFAP desde 1997, na cadeira de Didática.

NG

Casada, 51 anos, graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, em Universidade Federal, é especialista em Sociologia da Educação, e em magistério pela Fundação Getulio Vargas-FGV. Iniciou carreira profissional como professora de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, posteriormente passou a trabalhar com as disciplinas pedagógicas (Sociologia da Educação e Didática) em curso de magistério (nível médio). Em 1986 começou a atuar nas Licenciaturas como professora das disciplinas Didática, Pratica de Ensino e Sociologia da Educação. No período 1999 a 2001 cursou e concluiu mestrado em educação em uma Universidade Federal do Estado de São Paulo.É professora efetiva da UNIFAP desde 1993, na cadeira de didática.

Assim como se percebe pontos em comum na formação e na carreira das professoras, também é possível constatar diferenças marcantes em relação aos mesmos quesitos. Quanto à formação profissional, por exemplo, somente uma das professoras cursou pós-graduação stricto sensu, as outras três cursaram especializações lato sensu. Mas, se por um lado, as professoras não possuem títulos de mestrado e de doutorado, por outro lado, elas têm bastante experiência no magistério e em funções técnico-pedagógicas no ensino fundamental e médio, o que lhes proporciona uma bagagem de saberes que foi construída no desempenho das

funções profissionais, saberes “fundados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio. Esses saberes brotam da experiência e são por ela validados. Eles incorporam-se à vivência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber fazer e de saber ser” (Tardif, Lessard & Lahaye, 1991, p. 220).

Alguns estudos sobre a vida profissional dos professores, tais como os de Cavaco (1995), Huberman (2000), Nóvoa (2000), Chakur (2001), têm revelado que existem fases ou estágios de desenvolvimento profissional de acordo com a idade e o tempo de carreira no magistério. Por isso, é importante considerar a diferença de faixa etária e de tempo de exercício docente entre as professoras entrevistadas, uma vez que tais diferenças são marcantes na forma de ser e estar na profissão.

Michaël Huberman, pesquisador suíço, que vem estudando há vários anos o ciclo de vida profissional dos professores, afirma que estudos empíricos iniciados na década de 1970 em países como a França, os Estados Unidos, a Inglaterra e o Canadá, por exemplo, têm contribuído para uma melhor compreensão da carreira profissional dos professores, bem como dos determinantes destas carreiras. Este autor afirma que estudos empíricos revelam a existência de uma seqüência de desenvolvimento profissional que atravessa não apenas a carreira de indivíduos diferentes, dentro de uma mesma profissão, mas também as carreiras de pessoas no exercício de diferentes profissões. Alerta, ainda, que o desenvolvimento de uma carreira é um processo e não uma série de acontecimentos e que este processo, para alguns indivíduos, pode parecer linear, mas para outros existem patamares, regressões, momentos de arranque, de descontinuidade.

O estudo da carreira profissional, segundo Huberman (2000), comporta ao mesmo tempo uma abordagem psicológica e sociológica, porque se trata de estudar o percurso de uma pessoa dentro de uma organização social, buscando compreender como as características dessa pessoa exercem influência sobre a organização sendo, ao mesmo tempo, influenciada por ela. Para este autor, o contato inicial com a profissão se dá de forma muito semelhante, pois várias pesquisas descrevem a fase inicial na carreira (os três primeiros anos) como um estágio de sobrevivência e de descoberta. O aspecto da sobrevivência faz emergir o sentimento de choque com a realidade e o aspecto da descoberta está ligado ao entusiasmo inicial, à experimentação e aos sentimentos de responsabilidade. O autor indica a existência de perfis que apresentam apenas um desses componentes, mas, em geral, os dois aspectos

ocorrem paralelamente e é o aspecto da descoberta que permite suportar o aspecto da sobrevivência.

A exploração da fase inicial desemboca, segundo o pesquisador, no estágio da estabilização (segunda fase) e da tomada de responsabilidade, que se traduz num sentimento de afirmação, de pertencimento a um grupo de profissionais e independência pessoal. Nesta fase (entre 4 e 6 anos de carreira) surge um sentimento de competência pedagógica crescente, na qual o indivíduo passa a preocupar-se mais com os objetivos pedagógicos do que consigo mesmo, o que lhe permite agir de maneira mais eficaz, utilizando-se de melhores recursos técnicos, pois o domínio da situação no plano pedagógico traz a sensação de libertação e de segurança.

A partir da fase de estabilização (entre 7 e 25 anos de carreira), os percursos individuais já não são tão unívocos como nas fases iniciais. Nesta terceira fase, há uma bifurcação no percurso do desenvolvimento profissional. Mas a pista principal segue com maior freqüência no sentido de uma experimentação, uma diversificação de modos de avaliação, do material didático, das formas de agrupar os alunos, das seqüências do programa, etc. Outros se colocariam em questionamento embora não exista uma consciência muito clara do tipo de diversificação nem do que é que está sendo posto em questão. Pôr-se em questão é uma fase com múltiplas facetas. Para uns é a monotonia da vida cotidiana em situação de sala de aula, ano após ano, que provoca o questionamento, para outros, este questionamento é provocado pelo desencanto, subseqüente a fracassos de experiências ou de reformas nas quais as pessoas participaram ativamente. Estima-se que esta fase situa-se no meio da carreira entre o 15º e o 25º ano de ensino.

Entre 25 e 35 anos de carreira surge a serenidade e o distanciamento afetivo em alguns e