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PRÁTICAS DECLARADAS

5.1 Perfil dos comensais de um restaurante por peso

5.1.5 PERFIL DOS APLICADOS

O grupo dos Aplicados foi composto na maior parte por comensais do sexo feminino, semelhante aos aplicados de Léon e colaboradores (2004), os quais declararam também se preocupar com uma alimentação equilibrada, com a saúde, com a prática de regimes e com as informações nutricionais dos rótulos dos alimentos. Embora as preocupações evidentes nesse

grupo, citadas anteriormente, os Aplicados foram associados a problemas de saúde

declarados, os quais foram relacionados à alimentação no presente estudo. Corrêa (2002) aborda esse fato relacionando o gênero, refletindo sobre a maior expectativa de vida entre as mulheres, contrastando com a maior morbidade feminina, em comparação ao sexo masculino. Algumas hipóteses sugeridas pela autora referem ao fato de que as mulheres informam mais sobre os seus sintomas, utilizam mais remédios e serviços de saúde, apresentam maior incidência de problemas de saúde reprodutiva, bem como a questão da construção da feminilidade, a qual está relacionada às mulheres apresentarem sintomas muito vagos e maior preocupação preventiva, recorrendo mais aos serviços médicos que os homens.

Nesse contexto, cabe salientar a atualidade deste tema, por exemplo, pela emergência de programas mundiais (Estratégia global para a Promoção da Alimentação Saudável e Atividade Física) e documentos nacionais (Guia alimentar para a população brasileira), os quais preconizam os objetivos propostos pela Política Nacional de Alimentação e Nutrição

(PNAN) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), disponibilizados pelo Ministério da

Saúde (2005). Esse quadro demonstra uma preocupação dos órgãos oficiais e uma tendência de estimular a população em geral pelas questões de alimentação saudável.

Esse quadro também foi verificado por Batalha et al (2005), constatando que os consumidores entrevistados em seu estudo elegeram a qualidade nutricional como o atributo mais importante na compra dos alimentos para serem consumidos durante a semana. Isso foi evidenciado por grande parte da população estudada estar preocupada com a forma física e com uma vida saudável. Dessa forma, destacou-se essa questão ao citar as diferenças entre os

gêneros no comportamento de escolha dos alimentos. As mulheres são consideradas mais preocupadas com os aspectos relacionados à saúde proporcionada pelos alimentos do que os homens. Isso pode ser justificado pelo fato histórico-cultural delas normalmente assumirem a responsabilidade de gerir a despensa dos lares brasileiros, de manter a família nutrida e saudável e de se preocuparem com a alimentação das crianças. Além disso, constatou-se que as mulheres estudadas preocupam-se em modificar seus hábitos alimentares e fazer mais esportes, constituindo a grande maioria do perfil C citado anteriormente.

Além disso, a questão da estética corporal, que também foi evidenciada nos Aplicados

do presente estudo, é marcante no comportamento atual da população em geral, com destaque especial entre os indivíduos do sexo feminino (GERMOV & WILLIAMS, 2004). Ressaltando

os relatos de Lambert et al (2005), citado anteriormente, sobre a busca da humanidade pela

sobrevivência ao longo da história em situação de escassez, sempre levou os indivíduos para o consumo de alimentos mais energéticos. Entretanto, ao se depararem com a abundância alimentar nos dias atuais, os autores referem Fischler (1990), que aponta para o paradoxo dos indivíduos buscando um modelo alimentar ideal, representado pelo comer menos, objetivando a magreza corporal. Assim, verificou-se o aumento pelo consumo de produtos alimentares

diet e light, desde o final da década de 1980, para propiciar-lhes saciedade com a ingestão de alimentos considerados mais leves (Lambert, 1987 e Lambert, 1997 apud Lambert et al, 200529).

Neste sentido, as preocupações estéticas e dietéticas, caracterizando o modelo do corpo magro, principalmente entre as mulheres, é uma evidência no mundo globalizado demonstrada nos modelos difundidos pela mídia (LAMBERT et al, 2005). Esse contexto é abordado por Fischler (1990, p.297), quando diz que as sociedades modernas estão se tornando lipofóbicas, ou seja, adquirindo aversão à gordura. O autor ressalva que a cultura de massa divulga a imagem de corpos esbeltos, como modelos desejados e prescritos. Por outro lado, as ciências médicas, se engajam na luta contra a gordura para a prevenção de doenças que afetam mais aos homens que às mulheres. Apesar disso, a obsessão pela magreza é predominante entre o sexo feminino, o que têm levado aos distúrbios do comportamento alimentar, como a anorexia, a bulimia, dentre outros (FISCHLER, 1990; NUNES et al, 2001; ALVARENGA, 2004; CONTI et al, 2005;ALVES, 2006). Assim, pode-se dizer que a cultura

29 Lambert, JL. L’evolution dês modèles de consommation alimentaire em France. Paris: Lavoisier Tec&Doc;

1987

______. Evolution dês habitudes alimentaires et conséquences sur lês stratégies industrielles. In: La conservation dês aliments, 9èmes rencontres scientifiques et techniques, Agoral. Nancy: Lavoisier; 1997. p.49-61.

de massa e a sociedade têm os discursos médicos e dietéticos bastante interiorizados, pregando o culto à magreza corporal. Diante disso, os Aplicados do presente estudo caracterizam esse quadro, pela representação do sexo feminino e pela preocupação com a saúde e com a estética corporal.

Da mesma forma, conforme já referido, Abdala (2003)30 ressalta a contraposição imposta entre o prazer em comer e a preocupação emergente com a saúde e a estética. Esses últimos fatores, caracterizados pela restrição alimentar, são bastante divulgados pela mídia, influindo no comportamento alimentar dos indivíduos. A saúde e a estética corporal são destacadas pela indisciplina alimentar das pessoas que realizam refeições fora de casa, principalmente em serviços por peso e similares, devido à disponibilidade de grande oferta nos bufês, que induz os indivíduos a realizarem misturas inusitadas de alimentos relacionadas ao aumento de peso corporal e problemas de saúde. Nesse contexto, destaca-se Germov e Williams (2004) na discussão sobre o ideal de magreza corporal e consumo alimentar diferenciado, os quais estão relacionados ao sexo feminino. Os autores delinearam as influências históricas, estruturais e culturais do ideal de magreza corporal o papel da mulher em reforça-lo ou rejeita-lo, sinalizando estratégias para o desafio das práticas alimentares e a questão corporal.